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Perdoai-nos, nobre Mauler, por ter vindo Atrapalhar neste lugar as tuas meditações,

Os complexos pensamentos de vosso imenso espírito, Mas nós estamos perdidos:

Em torno de nós, o caos, e sobre nossas cabeças, Um zênite ameaçador de pensamentos desconhecidos. O que pretendeis fazer de nós?

Foste vós, Mauler, quem nos derrubou. Que projeto tendes agora, que fareis?

Entram os criadores em grande agitação. Eles também estão muito pálidos.

OSCRIADORES:

Maldito Mauler, é aqui então que te escondes? Paga nossos bois ao invés de fazer penitência. Dá o dinheiro, salva tua alma.

Ah! Se não tivesses aliviado tanto os nossos bolsos, Não terias a necessidade de aliviar aqui

A tua consciência. Mauler, paga-nos o gado!

GRAHAM, tomando a frente :

Mauler, em poucas palavras,

Relatarei o combate memorável

Que, durante sete horas, desde a aurora, agigantou-se E a todos nos precipitou no abismo!

MAULER:

Oh! Eternos combates! Em nada são diferentes Desde os tempos antigos onde os homens

Com uma barra de ferro rachavam-se as cabeças!

GRAHAM:

Recordai que estávamos à vossa mercê. Pelos contratos que nos obrigavam

A entregar de imediato as conservas prometidas, Por vós fomos forçados, Mauler, a comprar gado, Que vos pertencia. Era vosso todo o gado.

Quando, ao meio-dia, partistes, Slift apertou Ainda mais forte a nossa garganta; com voz dura, Subiu os preços a noventa e cinco.

O Banco Nacional gritou: “Alto”.

O ancião venerável, assumindo seus deveres, Lançou, chorando, gado canadense,

No mercado perturbado. Viram-se os preços

Oscilarem, hesitantes, Mas Slift, tomado de loucura, Mal viu esses bois vindo ao longe,

E sobre eles atirou-se; e a noventa e cinco Comprou-os todos, como um bêbado sedento Que ao mar esvaziou sem se satisfazer E lambe avidamente cada gota que encontra. Este espetáculo atroz apavorou o ancião. Que não ficou só por muito tempo; Loew e Lévi, E Wallox e Brigham, firmas de grande renome,

Acorreram todos em ajuda, comprometendo suas casas, E hipotecando até o último lápis

Para trazer de Quebec, da Argentina, Em três dias, o que existisse de gado; Prometiam até o gado por nascer,

E tudo o que de longe parecesse um boi, Um vitelo ou um porco, eles iriam trazer.

Mas Slift gritou: “Três dias não, agora, Eu quero para hoje”, e os preços subiram.

Institutos de crédito, bancos, com olhos marejados, Lançaram-se um a um nesta última batalha.

Eles precisavam entregar, isto é, comprar.

Lévi, em um espasmo, golpeia um corretor na barriga, E Brigham arranca a barba aos gritos:

“Noventa e seis”... Naquele instante, se por um acaso Um elefante se arriscasse pelo interior da Bolsa, Seria esmagado como um morango no chão. Até os simples contínuos, tomados de desespero, Lutavam a dentadas, obstinados, mudos,

Em tudo semelhantes aos antigos corcéis Mordendo, na batalha, os cavalos inimigos. Ouviu-se nesse dia os jovens estagiários, Célebres, é sabido, por sua indiferença,

Rangerem os dentes. E nós comprávamos sempre: Nós precisávamos comprar. Slift então gritou: “Cem”! Poderia ouvir-se um alfinete cair.

E em silêncio também os bancos desmoronaram, Como definha uma esponja espremida,

Casas até então sólidas e poderosas, Parando de pagar, paravam de viver.

Lévi, o velho Lévi disse então em voz baixa, Mas alto o bastante para que todos ouvissem: Para pagar-lhes tomem então nossas fábricas, Porque não mais podemos honrar os contratos. E viu-se, um a um, os fabricantes apáticos

Depositarem a vossos pés suas fábricas fechadas, Inúteis portanto, e então se retirarem.

Os corretores, os agentes fechando suas escrivaninhas. E como contratos nulos não impõem compras,

Sob nossos olhos, de imediato, a carne de boi,

Que nos píncaros se encontrava, baixou, em um suspiro, Vertiginosamente. De cotação em cotação

Os preços caíram e rolaram até os negros abismos,

Como a água que cai na cascata, de rocha em rocha E somente em trinta a queda parou.

Aí está o que tornou o contrato sem valor Apertastes muito forte, fomos estrangulados E de que adianta estrangular um cadáver?

MAULER:

Foi assim então, Slift, que travaste a batalha Que deixei a teus cuidados!

SLIFT:

Corte-me a cabeça!

MAULER:

E de que me serve tua cabeça?

Dá-me o chapéu, ele ao menos vale vinte e cinco centavos. O que fazer, diga-me,

Com esse gado que ninguém é obrigado a comprar?

OSCRIADORES:

Sem querer perder a paciência, Nós queremos que nos digas Como, quando e com que dinheiro Nos pagarás o gado comprado, E que não foi ainda acertado.

MAULER:

Agora mesmo. Com esse chapéu e este sapato: Dez milhões o chapéu,

O sapato, entrego por cinco.

Só um. Do outro eu preciso. Estão satisfeitos?

OSCRIADORES:

Há pouco tempo, quando levamos às estações De nosso longínquo Missouri

Com muito sacrifício, os vívidos vitelos, E os jovens bois de pêlos reluzentes Engordados com tanto cuidado, Toda a família nos gritava de longe Com a voz embargada pelo trabalho duro - E a voz ainda nos alcançava

“Ei, rapazes, não bebam todo o dinheiro, Pois os preços do gado vão subir, esperamos” E agora, o que faremos,

Como voltar para nossa terra?

E que diremos a eles, mostrando o lombo vazio E nossos bolsos também?

Como, neste estado, Mauler, voltar para casa?

O HOMEM DE ANTES, entrando – Mauler está? Uma correspondência

para ele, de Nova Iorque.

MAULER – Eu costumava ser esse Mauler, a quem mandavam cartas

desse tipo.(Ele abre a carta e lê de canto) “Escrevemos a você recentemente, caro Pierpoint, para que comprasse carne. Agora, ao contrário, nós aconselhamos a fazer um acordo com os criadores para reduzir o rebanho, para que os preços voltem a subir. Neste caso, nós estaremos de bom grado à sua disposição. Caro Pierpoint, nós lhe forneceremos amanhã mais detalhes. Seus amigos de Nova Iorque.” Não, Não, isso não é possível.

GRAHAM – O que não é possível?

MAULER – Tenho amigos em Nova Iorque que, pelo que dizem,

conhecem um meio de sair desta, Mas para mim, é impraticável. Julguem vocês mesmos.

Ele estende-lhes a carta. Como tudo de agora em diante Me parece diferente.

Abandonai, amigos, esta caça fatigante;

Seus bens, compreendei, estão para sempre perdidos; Mas nossa pobreza não é, entendei,

Não ter fartura de bens terrestres,

Nem todos aqui em baixo poderiam ser ricos. Nossa pobreza é termos perdido

O sentido dos valores mais elevados.

MEYERS – Quem são esses amigos de Nova Iorque? MAULER – Morgan, Rockfeller...

GRAHAM – Mas então é Wall Street?

Um murmúrio percorre o ambiente.

MAULER:

Em nós a consciência,

Cuja voz está a tal ponto asfixiada...

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