• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 Avaliação das unidades de conservação do sistema

6.6 Relação com a comunidade

As relações entre UC e comunidades são razoáveis, conforme TABELA 11, e as UC que possuem conselho consultivo vivem uma relação mais harmônica com as comunidades de seu interior ou entorno. As situações predominantemente conflituosas são exclusivas às UC que não possuem conselho, tendo ocorrido em três respostas.

TABELA 11 Relação com a comunidade em função da existência ou não de conselho consultivo nas UC do SEAP com gerentes.

Relação com a comunidade Possui

conselho Boa Média Ruim Índice*

Sim (25 UC) 18 7 0 0,86

Não (28 UC) 12 13 3 0,66

Total 30 20 3 -

O detalhamento da relação com a comunidade, por categoria de UC do SEAP, é apresentado na TABELA 12. Algumas categorias que têm na relação com a comunidade um de seus principais pilares não estão atingindo seus objetivos, as Áreas de Proteção Ambiental (APAs), por exemplo, que são criadas voltadas às comunidades que englobam, ainda enfrentam muitos problemas com as comunidades.

TABELA 12 Relação com a comunidade por categoria, consideradas as UC do SEAP com gerentes.

Relação com a comunidade

Categoria Boa Média Ruim Índice

MoNat 1 0 0 1,00 REDeS 1 0 0 1,00 EstEco 6 1 0 0,93 Parque 18 10 1 0,79 APA 4 4 1 0,67 FlorEsta 0 1 0 0,50 RVS 0 2 0 0,50 ReBio 0 2 1 0,33

O estado de Minas Gerais, segundo resultados desta pesquisa, possui UC com e sem conselho, na proporção de e 48% (26) e 52% (28) respectivamente, conforme TABELA 13, que é substancialmente melhor do que a situação nacional mencionada por Drummond et al. (2006) em trabalho, no qual as UC Federais apresentaram proporção de 26,4% (73 UC) e 73,6% (204 UC) com e sem conselho, respectivamente. Contudo, apesar da maior quantidade de conselhos estabelecidos pelas UC de Minas Gerais, em relação às UC Federais, aquela ainda é baixa frente sua importância na participação popular na gestão destas. Some-se a isto o fato de que dentre as 26 UC que possuem conselho, em

31% (8) delas os mesmos não são atuantes ou o são parcialmente. Como esta é uma ferramenta de mediação e minimização de conflitos entre UC e comunidades, a falta de participação social nos conselhos de gestão das UC é um ponto de fragilidade na gestão do sistema em Minas Gerais.

TABELA 13 Existência de conselho consultivo versus tempo desde a posse e forma de atuação nas UC do SEAP com gerentes.

Conselho

Formado Empossado em Atuação efetiva Número de UC

Sim 7 Não 3 Até 1 ano Parcialmente 2 Sim 4 De 1 a 2 anos Parcialmente 2 Sim 5 De 2 a 4 anos Não 1 Sim De 4 a 10 anos Sim 2 26 Não 28

Fator importante para que o conselho mantenha-se atuante e em evolução é sua capacitação que deve ser contínua. Entre as UC de Minas Gerais que possuem conselho, 12 (44%) estão em processo de capacitação, 10 (37%) não estão sendo capacitados e 5 (18,5%) o são parcialmente, obviamente estes dois últimos não contribuindo para a evolução da gestão da UC (Figura 14). Entre as UC que não possuem conselho, 16 (55%) estão em formação e 13 (45%) não, contudo dentre deste grupo 73% possui espaço de participação e diálogo com a comunidade, o que é uma situação favorável face à minimização de potenciais conflitos com a sociedade do entorno da unidade.

FIGURA 14 Avaliação da existência de capacitação dos conselhos nas UC do SEAP com gerentes em Minas Gerais.

Os conselhos foram concebidos para estabelecer um canal permanente de diálogo entre UC e a sociedade. Porém, a simples existência ou reunião do conselho não altera a realidade da UC e sua relação com a comunidade de forma concreta. O conselho só se torna útil se mediar os conflitos existentes e fomentar ações que impactem positivamente estas relações. Dois tipos de ações desta natureza foram identificados neste trabalho e serão aqui discutidas: contratação de pessoal, inicialmente discutida no item Recursos Humanos, e turismo, este último a ser discutido no tópico a seguir.

A contratação de pessoas da região, com vínculos, conhecimentos e atividades na área, traz vários benefícios: gerar oportunidades de trabalho na região, alternativas a atividades degradantes, identificação da população com a UC, aplicação dos conhecimentos das pessoas locais na gestão da UC, entre outros. Estas pessoas, invariavelmente, são identificadas na medida em que o gerente vai conhecendo a realidade local e estabelecendo contatos nas comunidades. Estas características do trabalho com as UC devem ser confrontadas com o princípio da moralidade que prima pelos concursos públicos. Processos seletivos tradicionais geralmente beneficiam pessoas que não são das comunidades afetadas pela UC, comprometendo todos os benefícios citados e promovendo uma espécie de “injustiça social estatal”.

As falas a seguir expressam a opinião de dois experientes e competentes gerentes do SEAP, à frente de duas UC consideradas referência em gestão:

10 5 12 0 5 10 15

Nós tivemos um problema sério com um funcionário de uma empresa terceirizada que veio de outra cidade pra cá. A pessoa não se adaptava de forma nenhuma e criou problemas aqui dentro, eu pedi pra trocar... Agora se eu contrato o Joaquim que está aqui do lado, vizinho nosso, ou o filho do seu José que ta aqui do lado, que é um garoto que gosta de trabalhar, gosta do parque, é outra coisa, ele é daqui... E até a própria visão que a comunidade tem, poxa, o Parque tá dando recurso pro entorno... É o ex-caçador que tem que vir trabalhar aqui dentro do parque, ele já sabe as manhas todinhas, ele conhece todo mundo, ele sabe quais são os macetezinhos, ele é uma ferramenta fantástica pra dentro da UC, e a própria visão, você faz um trabalho social, então a comunidade ‘poxa, o IEF ta ó, legal, ta dando recurso aqui pra gente, ta contratando gente da terra’... Você começou a dar importância pra essas pessoas, então elas começam a trabalhar de uma forma maravilhosa.

... pra pegar aquele pessoal do entorno mesmo, porque eu tenho pessoal dos quatro pontos do entorno, então isso é importante demais, porque você cria um vínculo da família do cara com a unidade.