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Capítulo 2 Identificação, papel social e relevo diegético das personagens femininas da

2.3 Personagens femininas com designação categorial

2.3.2 Categoria relacional

2.3.2.2 Relação de trabalho

Sem qualquer designação onomástica e apenas designadas pela sua função profissional ou ocupacional aparecem inúmeras personagens femininas machadianas e queirosianas, quase sempre com o relevo diegético de figurantes, até porque prescindir de uma apelação retira figuratividade a uma personagem. Com a designação relacional de função de religiosa encontramos várias personagens femininas em Eça, mas não em Machado. Assim, surgem n‘O

Crime a ―freira que tinha morrido de amores‖ (p. 225), uma madre (p. 225), uma velha mestra

de Amélia (p. 225), a escrivã do convento (p. 225), a mestra de cantochão (p. 225) e as freiras de Santa Joana de Aveiro (p. 225); n‘A Tragédia, as canonisas (p. 47); n‘Os Maias, a madre superiora do convento ao pé de Tours (p. 515), as mestras do convento (p. 515) e duas irmãs de caridade (p. 64); n‘A Ilustre Casa, uma monja (p. 418); e n‘A Relíquia, uma irmã da caridade (p.

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84), uma carmelita (p. 100), duas religiosas (p. 89), e a confraria de mulheres devotas que faziam um vinho forte de Tharses (p. 193):

Fora nos jardins do convento, onde havia lindos lilases, que a mamã se separara dela numa paixão de lágrimas; e ao lado esperava, para a consolar decerto, um sujeito muito grave, de bigodes encerados, a quem a madre superiora falava com veneração. (p. 515, sublinhado nosso)

Referida na condição de professora surge em Dom Casmurro ―uma professora do Rio Grande‖:

Uma professora do Rio Grande, que foi connosco, ficou de companhia a Capitu, ensinado a língua materna a Ezequiel, que aprenderia o resto nas escolas do país. (p. 297, sublinhado nosso)

Designada como enfermeira conta-se n‘A Tragédia uma personagem feminina ligada diegeticamente a Victor (p. 350) e n‘Os Maias encontramos duas enfermeiras que cuidavam do napolitano (p. 42). Ilustramos apenas a partir do primeiro romance supracitado, até porque, como podemos constatar, se professora está ausente em Eça, enfermeira está-o em Machado:

Durante vinte e cinco noites, Timóteo e Clorinda não se deitaram e no dia em que Victor pôde dar o seu primeiro passeio, em volta do quarto, apoiado à enfermeira […]. (p. 350, sublinhado nosso)

A Correspondência refere ―poetisas‖ para designar, aparentemente, todas as mulheres

que se dedicam à lírica: ―Mas é a verdade, meu Bento! Vê quantos preferem ser injuriados a serem ignorados! (Homenzinhos de letras, poetisas, dentistas, etc.)‖ (p. 221, sublinhado nosso).

Já n‘Os Maias aparece uma personagem secundária designada como ―secretária da Legação da Rússia‖ ou ―secretariazinha da Rússia‖:

Era a propósito da secretária da Legação da Rússia, com quem ele encontrara nessa manhã o conde conversando ao Calhariz. Ega achava-a deliciosa, com o seu corpinho nervoso e ondeado, os seus grandes olhos garços… E o conde que a admirava também, gabava-lhe sobretudo o espírito, a instrução. (p. 403, sublinhado nosso)

A designação de proprietária, com as variantes ―patroas‖ e ―dona‖, e quase sempre com o estatuto de figurante, surge em vários romances queirosianos. Assim, aparecem n‘O Primo ―as patroas‖ (p. 74); n‘Os Maias, duas matronas, donas de casa de hóspedes (p. 711); e n‘A Capital, a dona do Hotel (p. 385). N‘O Primo, temos ainda com o relevo de personagem secundária a patroa do ―Paraíso‖, que aluga casas (p. 201). Ilustramos apenas a partir do último romance citado, uma vez que não encontramos paralelo em Machado:

Uma voz adocicada, cheia de ss melífluos, ciciou baixo. Luísa ouviu vagamente: - Sossegadinhos, suas chavezinhas…

153 - Quem é?

- É a patroa. (p. 201, sublinhado nosso)

Como proprietária e condiscípula aparece em Iaiá Garcia uma antiga condiscípula de Estela, fundadora de um estabelecimento de ensino:

Uma antiga condiscípula de Estela, residente no norte de São Paulo, aceitava a proposta que esta lhe fizera, de ir dirigir-lhe o estabelecimento de educação que ali fundara desde alguns meses. (p. 174, sublinhado nosso)

As Memórias Póstumas de Brás Cubas apresenta quitandeiras, figuras tipicamente

populares e ainda hoje muito presentes nas ruas do Rio de Janeiro: ―Eu nada peço, a não ser dinheiro; dinheiro sim, porque é necessário comer, e as casas de pasto não fiam. Nem as quitandeiras.‖ (pp. 118-119, sublinhado nosso).

Designada como lojista surge uma personagem feminina n‘A Tragédia:

O pátio abria, por uma porta lateral, para uma loja de retroseiro, e decerto, a mãe, uma boa criatura, fresca e alegre, que era a lojista que Timóteo conhecia, se descuidara um momento, e o pequerruchinho ia atravessar pelo pátio fora… (p. 39, sublinhado nosso)

N‘A Correspondência aparece uma hospedeira quando Fradique está na Palestina: ―[…] a hospedeira que nos acolhe, atirando, para passarmos, um tapete ante o limiar da sua morada […].‖ (p. 189, sublinhado nosso).

N‘A Relíquia há uma ramalheteira do Egito:

Eu conhecera Topsius em Malta, uma fresca manhã, estando a comprar violetas a uma ramalheteira que tinha já nos olhos grandes um langor muçulmano […]. (p. 72, sublinhado nosso)

Temos n‘Os Maias a governanta de Pedro da Maia e Maria Monforte (p. 48), e n‘A Capital, a da casa onde vivia Concha (p. 326). Ilustramos com um passo do último romance citado, já que não encontramos caso paralelo em Machado: ―A governanta, que se declarou comovida, levou Artur para um quarto, e ali, durante vinte minutos, foi-lhe mostrando dívidas da Concha […] …‖ (p. 326, sublinhado nosso).

Outra função muito presente nos romances machadianos e queirosianos é a de ama, como reflexo de uma realidade sociológica burguesa e aristocrática oitocentista: nas camadas de elite as mães, e os pais muito mais, tinham uma relação distante em relação aos filhos. Isso sucedeu com o próprio Eça376. As crianças ficavam ao encargo de amas, que, como mulheres do

povo, não tinham importância social para os seus patrões. Assim, aparecem em Esaú e Jacó as amas dos filhos de Natividade (pp. 20-21); n‘O Primo, uma ama vestida de lavradeira (p. 263); n‘A Tragédia, uma ama (p. 26), a de Victor (p. 33) e uma velha ama (p. 206); n‘Os Maias, ―uma

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ama‖ (p. 342), uma que estava na estação (p. 368) e a aia italiana de Maria Eduarda (p. 514); n‘A Correspondência, as aias de Varia Lobrinska (p. 98); n‘A Cidade, a aia de Sra. D. Angelina Fafes (p. 13); n‘A Capital, a ama do filho de D. Galateia (p. 127), e uma inglesa (p. 310); e n‘O

Conde d’Abranhos, a do filho do Conde que dá título ao romance (p. 124). N‘Os Maias conta-se

ainda como personagem secundária a ama de Carlos da Maia (p. 49). Transcrevemos o passo de

Esaú e Jacó, onde tais personagens são apresentadas: ―As amas, apesar de os distinguirem entre

si, não deixavam de querer mal uma à outra, pelo motivo da semelhança dos ―seus filhos de criação.‖ (pp. 20-21, sublinhado nosso). Apresentamos ainda um excerto d‘Os Maias: ―- Como se chama ele? - Carlos Eduardo – murmurou a ama.‖ (p. 49, sublinhado nosso).

Como ama e amante encontramos n‘O Primo a ama que vive com o Couceiro: ―E tudo o Couceiro, o que está com a ama.‖ (p. 155, sublinhado nosso).

Com a designação de criada e o relevo de figurante aparece em Helena ―uma preta velha‖, criada do pai de Helena (p. 115); em Quincas Borba, ―uma criadinha‖ de D. Fernanda (p. 265); n‘O Crime, a do padre José Miguéis (p. 99), a do cónego Dias (p. 103), a dos tios de Amaro (p. 145), a do cónego Campos (p. 381) e a personagem coletiva ―as criadas‖ (p. 115); n‘O Primo, a ―rapariguita vesga‖, criada do conselheiro (p. 339), a do Bilro (p. 32), a que trabalha numa casa vizinha à de Julião (p. 208) e as personagens coletivas ―as criadinhas de dentro‖ (p. 220) e as companheiras de trabalho de Juliana (p. 74); n‘A Tragédia, a criada dos pais de Victor (p. 33), ―uma criadita‖ (p. 41) e ―a criada‖ (p. 48); n‘Os Maias, as criadas portuguesas de Afonso da Maia e de D. Maria Eduarda Runa (p. 19), uma criada (p. 26), a francesa de Maria Monforte (p. 43), a italiana de Maria Monforte (p. 48), as das irmãs Silveira (p. 82), a de Raquel Cohen (p. 135), a do Ramalhete (p. 287), a do Cruges (p. 224), a escocesa da condessa de Gouvarinho (p. 144), uma criada (p. 223), a de Sr. Cohen (p. 287), a de Miss Jones (p. 305), ―uma criadita‖ de Maria Eduarda e da mãe (p. 520), a femme de chambre de Maria Eduarda (p. 162) e a criada de Vilaça (p. 638); n‘A Ilustre Casa, a criada de D. Ana Lucena (p. 307), a de Gouveia (p. 307), uma de Graça Ramires e Barrolo (p. 345) e a personagem coletiva as criadas da casa de Graça Ramires e Barrolo (p. 347); n‘A Correspondência, a criada transmontana de D. Paulina Soriana (p. 176); n‘A

Cidade, uma moça, criada de Jacinto em Tormes (p. 147) e a personagem coletiva ―um bando

alvoraçado de mulheres‖, criadas de Jacinto em Tormes (p. 144); n‘A Capital, a criada das tias de Artur (p. 114), duas criadas das tias de Artur (p. 120), uma criada (p. 223), ―criadas que iam à fonte‖ (p. 137), criada no Hotel Espanhol (p. 317), uma velha que servia Artur (p. 325), a que se tinha tornado íntima de Concha (p. 329) e as de D. Joana Coutinho (p. 257); e n‘O Conde

d’Abranhos, as criadas em casa de D. Laura Amado (p. 69). A par destas aparecem com o relevo

de personagens secundárias a criada de Sofia e Palha (p. 164) em Quincas Borba; a de D. Josefa (p. 519) n‘O Crime; e a rapariguita sardenta, que é criada de Sebastião (p. 390) n‘O Primo. Ilustramos com um passo retirado de Helena: ―A porta abriu-se e apareceu uma preta velha trazendo nas mãos uma bandeja. A criada estacou a meio caminho.‖ (p. 115, sublinhado nosso). Os três passos seguintes são retirados, respetivamente, de Quincas Borba, d‘O Crime e d‘O

155 De repente, a criada, que estava na outra sala, ouvindo rumor de alguma

coisa que se quebrava, correu à de visitas, e viu a ama sozinha de pé. - Não é nada – disse-lhe esta.

- Pareceu-me que ouvi… (p. 164, sublinhado nosso)

Ao outro dia cedo, a sr.ª D. Josefa Dias que entrara, havia pouco, da missa, ficou muito surpreendida, ouvindo a criada que lavava as escadas dizer de baixo:

- Está aqui o senhor padre Amaro, sr.ª D. Josefa! (p. 519, sublinhado nosso)

- O Sr. Sebastião? – perguntava Luísa à rapariguita sardenta, que correra a abrir a porta.

E ia entrando pelo corredor.

- Na sala – disse a pequena. (p. 390, sublinhado nosso)

Com os estatutos de criada e amante temos n‘O Primo a criada e amante do conselheiro Acácio:

Citava muito. Era autor. E sem família, num terceiro andar da Rua do Ferregial, amancebado com a criada, ocupava-se de economia política: tinha composto os Elementos Genéricos da Ciência da Riqueza e Sua

Distibuição […]. (p. 35, sublinhado nosso)

O Crime apresenta a criada e rececionista do Dr. Gouveia:

- O senhor doutor está? Perguntou ele quase alegre, à criada que no pátio estendia a roupa ao sol.

- Está na consulta, sr. Joãozinho, faça favor de entrar. (p. 577, sublinhado nosso)

Como servente encontramos, n‘Os Maias, a figurante ―a servente‖: ―E, enquanto não vinha a tipóia fechada que a servente correra a chamar […].‖(p. 648, sublinhado nosso). Com a categoria de servente associada à de mãe surge n‘A Capital a seguinte personagem:

Uma noite que o Cenáculo discutia furiosamente Lutero e a Reforma, sentiram-se ao fundo da escada os gritos do filho da servente, espancado por futricas. (p. 104, sublinhado nosso)

Já com a designação de cozinheira, e com o relevo de figurante surge n‘O Primo a de D. Felicidade (p. 87); n‘A Tragédia, a de Genoveva (p. 43); n‘Os Maias, ―a cozinheira‖ (p. 294), a alemã (p. 300), a preta da tia Vilar (p. 399), a alsaciana (p. 534); e n‘A Capital, a cozinheira da casa onde vivia Concha (p. 326). Ilustramos com o excerto d‘A Tragédia:

Era avara, qualidade preciosa numa casa desarranjada e, ao arrumar as contas da cozinheira, discutia com ela até aos últimos reais, no verificar os preços. (p. 43, sublinhado nosso)

156 E através do Rossio, andando mais devagar, recordavam outros

desaparecimentos: a D. Maria da Cunha, coitada, que acabara hidrópica; o D. Diogo, casado por fim com a cozinheira; o bom Sequeira, morto uma noite numa tipóia, ao sair dos cavalinhos… (pp. 709-710, sublinhado nosso)

Como sopeira e figurante temos n‘O Primo a seguinte personagem:

Tinha além disso muitas relações, infinitas condescendências: celibatários maduros iam entender-se com ela, para o confortozinho de uma sopeira gordita e nova […]. (p. 221, sublinhado nosso)

Já designadas apenas como atriz surgem bastantes personagens femininas em romances queirosianos, mas não em Machado. Deste modo, com o relevo de figurante, temos n‘O Primo uma ―actrizita do Ginásio‖ que vivia com Ernestinho (p. 37); n‘A Tragédia, a ―actriz gorda do Príncipe Real‖ (p. 18), a atriz que desempenha o papel de rainha gorda na peça de teatro (p. 14) e ―cinco mulheres enxovalhadas‖ na peça de teatro (p. 19); n‘Os Maias, n‘A Relíquia, as atrizes (p. 113, p. 273); e n‘A Capital, a rapariguita atriz (p. 232), e a personagem coletiva ―as actrizes‖ (p. 150). Ilustramos com um passo do último romance supracitado, uma vez que não há paralelo em Machado: ―- Você percebe, Savedra, a rapariguita tem talento, é necessário animá-la. Vai ter um papel na Princesa Juska…‖ (p. 232, sublinhado nosso). À função de atriz acresce a de amante n‘Os Maias, uma personagem feminina que atua no Príncipe Real, ex-amante de Dâmaso Salcede:

Depois gozou uma tragédia: uma actriz do Príncipe Real, uma montanha de carne, apaixonada por ele, numa noite de ciúme e de genebra, engoliu uma caixa de fósforos; naturalmente daí a horas estava boa, tendo vomitado abominavelmente sobre o colete do Dâmaso, que chorava ao lado – mas desde então este homem de amor julgou-se fatal! (p. 197, sublinhado nosso)

Com o relevo de figurante aparecem n‘A Tragédia várias dançarinas (p. 15); n‘A

Correspondência, ―uma almée‖ (p. 50) e as almées (p. 50); n‘A Cidade, as dançarinas do Moulin

Rouge (p. 104); e n‘A Capital, as cancanistas francesas no Casino (p. 94) e as dançarinas (p. 139). Ilustre-se com um passo do segundo romance suprarreferido: ―Já por sobre a turba atirava, aos brados, o nome de Fradique – quando topei com ele olhando placidamente uma almée que dançava…‖ (p. 50, sublinhado nosso).

Em Dom Casmurro encontramos as cantoras (p. 213); n‘A Tragédia e n‘A Capital, as coristas (p. 14), e as ―pequenas dos coros‖ (p. 150); n‘O Primo, as cantoras (p. 130); n‘Os Maias, a segunda dama (p. 140) e uma senhora de Málaga (p. 659). Vejam-se dois exemplos, o primeiro retirado de n‘A Capital: ―- E depois, menino, estando-se de dentro com as actrizes, com as pequenas dos coros, apanha-se do bom, e grátis…‖ (p. 150, sublinhado nosso). O segundo retirado de Dom Casmurro:

157 - Esquece. A Europa dizem que é tão bonita, e a Itália principalmente.

Não é de lá que vêm as cantoras? Você esquece-me, Bentinho. E não haverá outro meio? Dona Glória está morta para que você saia do seminário. (p. 213, sublinhado nosso)

Associado ao papel social de cantora surge o de concubina n‘A Ilustre Casa, uma corista de S. Carlos que tem um caso com o ministro do Reino:

O pai de Gonçalo, ora regenerador, ora histórico, vivia em Lisboa no Hotel Universal, gastando as solas pelas escadarias do Banco Hipotecário e pelo lajedo da Arcada, até que um ministro do Reino, cuja concubina, corista de S. Carlos, ele fascinara, o nomeou […] governador civil de Oliveira. (pp. 76-77, sublinhado nosso)

Com a função profissional de tocadora de música e figurante encontramos n‘A Relíquia várias raparigas que tocavam harpa e outras que tocavam tamborino:

Atrás dele, raparigas, pulando compassadamente sobre a ponta ligeira das sandálias, feriam com dolência harpas leves; outras, rolando sobre si, batiam de alto os tamborinos – e as suas manilhas de prata brilhavam no pó que os seus pés levantavam, sob a roda das túnicas enfunadas… (p. 137, sublinhado nosso)

N‘A Tragédia, são circenses e com o relevo diegético de figurantes ―uma amazona do antigo circo de Salitre‖ (p. 280) e uma volteadora (p. 335). A primeira surge no seguinte passo: ―E contou longamente o caso dos seus amores com uma amazona do antigo circo do Salitre, «uma fera!» ‖(p. 280, sublinhado nosso).

Como parteira e figurante surge n‘O Crime a parteira do filho do Guedes (p. 989) e n‘O

Conde d’Abranhos, a de D. Virgínia (p. 129). Ilustramos apenas com o primeiro caso, já que não

encontramos caso paralelo em Machado: ―Mas foi toda uma atrapalhação para fazer as unções: a parteira comovida não atinava a desapertar os laçarotes do chambre […].‖ (p. 989, sublinhado nosso).

Como mulher que fazia abortos e figurante temos n‘O Primo a velha da Travessa da Palha:

Uma mulher com filhos está inútil para tudo, está atada de pés e mãos! Não há prazer na vida. É estar ali a aturá-los… Credo! Eu? Que Deus não me castigue, mas se tivesse essa desgraça parece-me que ia ter com a velha da Travessa da Palha! (p. 171, sublinhado nosso)

Designada como curandeira e figurante aparece n‘O Primo uma mulher de virtude:

Mas porque se não resolvia a Sr.ª Juliana a ir à mulher de virtude? Era a saúde certa. Morava ao Poço dos Negros; tinha orações e unguentos para tudo. (p. 70, sublinhado nosso)

Referida enquanto lavadeira e figurante surge em Esaú e Jacó e n‘O Crime a personagem coletiva ―as lavadeiras‖ (p.5 e p. 303, respetivamente). N‘O Primo, encontramos a lavadeira de

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Luísa e Jorge (p. 12), uma lavadeira que tinha sido desonrada por um fidalgo (p. 192) e a vizinha de Juliana (p. 73). Como se vê, Machado e Eça comungam estas personagens, modelizam uma profissão que muitas mulheres do povo tinham de abraçar por condições económicas no século XIX. Vejam-se dois casos retirados de Esaú e Jacó e d‘O Primo:

A manhã trazia certo movimento; mulheres, homens, crianças que desciam ou subiam, lavadeiras e soldados, algum empregado, algum lojista, algum padre […]. (p. 5, sublinhado nosso)

[…] esteve a olhar muito amorosamente o seu pé pequeno, branco como leite, com veias azuis, pensando numa infinidade de coisinhas:- em meias de seda que queria comprar, no farnel que faria a Jorge para a jornada, em três guardanapos que a lavadeira perdera… (p. 12, sublinhado nosso)

Com o relevo diegético de figurante surgem várias costureiras ou modistas, ou não fossem elas o reflexo de uma classe social que servia a mulher burguesa oitocentista, o que é válido para Machado e Eça. Assim, surge em Helena a modista de Eugénia (p. 77); em Quincas

Borba, a costureira da mulher do moço da Rua dos Inválidos (p. 141); em Esaú e Jacó, a de

Natividade (p. 39); n‘A Tragédia, a personagem coletiva ―as costureiras‖ (p. 119); n‘Os Maias, a modista (p. 24), ―raparigas sérias‖, qualificadas como costureiras sendo uma delas filha de um tal Simões (p. 637), e as modistas (p. 453); n‘A Ilustre Casa, a costureira do Silva (p. 449); n‘A

Capital, a modista de Concha (p. 348), e as modistas (p. 287); e n‘O Conde, a costureira de

roupa branca da virtuosa dama (p. 108). Ao lado destas, encontramos ainda em Quincas Borba a personagem secundária uma das costureiras que fizeram os vestidos de luto de Sofia e Maria Benedita (p. 146). Ilustramos com um passo de Quincas Borba e outro d‘O Conde:

Uma das costureiras dobrou a costura, arrecadou apressadamente retalhos, tesouras, carretéis de linha, de retrós. Era tarde, ia-se embora. -Dondon, espera um bocado que eu vou também. (p. 146, sublinhado nosso)

O luxo, que promove a prosperidade industrial, é tão refinado, que custam contos de réis as robes de chambre do Sr. Duque de Morny e a dívida de uma virtuosa dama, à sua costureira de roupa branca, ultrapassa a soma fabulosa de noventa e seis mil cruzados! (p. 108, sublinhado nosso)

Com o relevo diegético de figurante surge a engomadeira. Contam-se n‘Os Maias ―uma engomadeira‖ (p. 103), e a de Maria Eduarda (p. 374); e n‘O Conde d’Abranhos, a engomadeira em casa de Adelaide Gervásio (p. 93). Deixamos um excerto retirado do primeiro romance supracitado para ver como estas personagens surgem no tecido narrativo:

Carlos até fizera anunciar o consultório nos jornais; quando viu, porém, o seu nome em letras grossas, entre o de uma engomadeira à Boa Hora e um reclamo de casa de hóspedes – encarregou o Vilaça de retirar o anúncio. (p. 103, sublinhado nosso)

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N‘A Capital, com o relevo de personagem secundária, surge a estanqueira grávida: ―Não se conteve, entrou num estanco próximo, comprou fósforos, charutos, - e perguntou negligentemente à estanqueira, quem vivia ali naquela casa.‖ (p. 281, sublinhado nosso).

Também personagem secundária, figura n‘A Capital uma vivandeira. Esta função, isto é, mulher que vende mantimentos em feiras, não surge associada a nenhuma personagem feminina machadiana, daí apenas apresentarmos um passo de Eça:

Encontraram o Melchior abancado com uma vivandeira magrinha, que parecia prudente e metódica: e os dois amigos, depois de se terem a um canto, consultado sobre os fundos, decidiram uma ceia, num gabinete. (p. 374. Sublinhado nosso)

Com o papel social de carvoeira, grávida e mãe encontramos n‘O Primo a figurante uma carvoeira, que está grávida e é mãe de três crianças:

Da loja, por baixo da casa Azevedo, veio a carvoeira, enorme de gravidez bestial, o cabelo esguedelhado em repas secas, a cara oleosa e enfarruscada, com três pequenos meio nus, quase negros, chorões e hirsutos, que se lhe penduravam da saia de chita. (p. 28, sublinhado nosso)

Como padeira, mãe, vizinha e amiga e com o relevo diegético de figurante surge no mesmo romance a mãe de Sebastião, que fora padeira e que é amiga da mãe de Jorge:

A inclinação de Sebastião era pela música. Sua mãe, por conselhos da mãe de Jorge, sua vizinha e sua íntima, tomou-lhe um mestre de piano; logo desde as primeiras lições, a que ela assistia com enfeites de veludo vermelho e cheia de jóias […]. (p. 118, sublinhado nosso)

Figura n‘A Cidade com o relevo de personagem secundária a porteira do prédio onde morava Madame Colombe que também é esposa:

Rolei pelos degraus, com o fragor e a incoerência de uma pedra, até ao cubículo da porteira e do seu homem que jogavam as cartas em ditosa pachorra, como se tão pavoroso abalo não tivesse desmantelado o Universo! (pp. 79-80, sublinhado nosso)

Aparece uma barqueira n‘Os Maias com o relevo de figurante, caso único na obra queirosiana e sem paralelo em Machado. Isto sucede porque este ofício era sobretudo ocupado por homens, já que requer força física para remar: ―E o marquês, esplêndido, com abraços de primo a todos os fidalgotes de Lamego, e apaixonado por uma barqueira…‖ (p. 472, sublinhado nosso).

Como carpideira e figurante aparecem, n‘A Correspondência, a personagem coletiva as carpideiras da Palestina: ―[…] e ainda as procissões nupciais, e as danças lentas ao rufo-rufo das pandeiretas, e as carpideiras em torno aos sepulcros caiados […].‖ (p. 189, sublinhado nosso).

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Sempre com o relevo diegético de figurante encontramos ainda outras profissões do povo associadas a personagens femininas que se designam como tal. Assim, como vendedora ambulante encontramos, n‘Os Maias, as saloias, que vendiam hortaliças (p. 224), a mulher da água fresca (p. 317) e a personagem coletiva ―três varinas‖ (p. 706); n‘A Tragédia, a mulher da fruta (p. 340); n‘A Ilustre Casa, uma mulher da Costa, peixeira (p. 94); n‘A Relíquia, uma velha que vendia canas-de açúcar (p. 76), uma velha que vendia fruta (p. 157) e a personagem coletiva ―um bando de raparigas, que apregoavam pães ázimos‖ (p. 156); n‘A Cidade, uma velha vendedora de ovos (p. 133); e n‘A Capital, a rapariguita que vendia água na estação (p. 97) e outra rapariga que vendia ovos-moles e mexilhões na estação (p. 94). Ilustramos a partir da personagem feminina que surge n‘A Tragédia, uma vez que não encontramos paralelo em Machado: ―No entanto, estavam ambos nervosos. Um toque de campainha deu-lhes um sobressalto; olharam-se com palpitações. Era apenas a mulher da fruta.‖ (p. 340, sublinhado nosso).

Como mulher que comprava ossos aparece, n‘O Primo, uma velha: ―Joana, à porta, conversava com a velha que comprava ossos […].‖ (p. 377, sublinhado nosso).

Ainda nesse romance encontramos uma personagem feminina figurante com ―virtude para fazer casamentos‖: ―O homem é de ao pé de Tui, e diz que na terra dele há uma mulher que tem uma virtude para fazer casamentos que é uma coisa milagrosa…‖ (p. 191, sublinhado nosso).

Com o papel de caseira e figurante surge n‘O Crime a da quinta da Ricoça (p. 857) e n‘A

Correspondência, a personagem coletiva ―as caseiras de aldeia‖ (p. 198). Ilustramos com um

passo retirado do primeiro romance supracitado:

Ao outro dia desceu à quinta a ver os caseiros. […] Encontrou uma mulher, alta e lúgubre como um cipreste, carregada de luto: um grande lenço negro tingido, muito puxado para a testa, dava-lhe um ar de farrico; e a sua voz gemebunda tinha uma tristeza de dobre a finados. (p. 857, sublinhado nosso)

Com a designação de trabalhadora do campo e figurante encontramos n‘O Crime um bando de mulheres que batiam a ramagem das oliveiras (p. 331); n‘Os Maias, a pastora do Tirol (p. 293), e as personagens coletivas ―as lavradeiras‖ (p. 382) e ―as ceifeiras‖ (p. 598); n‘A

Relíquia, as personagens coletivas as mulheres de Canãa, que pisavam a uva (p. 111), as

raparigas, que pisavam entre duas pedras os grãos de centeio (p. 133), as mulheres diligentes que sacudiam tapetes e joeiravam o trigo (p. 139), as mulheres, que fiavam tapetes ou atavam

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