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A RELAÇÃO ENTRE ESCOLA E COMUNIDADE NO MODELO DE GESTÃO COMPARTILHADA

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.3 A RELAÇÃO ENTRE ESCOLA E COMUNIDADE NO MODELO DE GESTÃO COMPARTILHADA

A escola, cujo modelo segue os moldes da gestão compartilhada ou democrática, se preocupa com a interação comunidade-escola, assim, em sua grande maioria os projetos, atividades e ações sociais desenvolvidas buscam estreitar esse laço de confiança e parceria. O interesse dever ser mútuo. Não basta que a escola se esforce para abrir suas portas à comunidade, é necessário que ela também faça um trabalho de motivação e conscientização que convide e incentive a comunidade a participar e deixe claro que essa participação também é um dever de cidadania que deve ser praticado por pais, professores, família e comunidade em geral.

Nos relatos coletados de pais e docentes, ficou clara a motivação de todos nos projetos e atividades da escola. Cada qual com o seu objetivo principal, sua forma de avaliar a ação, mas todos dispostos e engajados com o benefício comum: a escola.

Os professores se sentem livres para propor ações que estimulem a criatividade dos alunos, tudo dentro do contexto social vivido por eles, e se sentem satisfeitos de seus trabalhos quando conseguem atingir a comunidade escolar em sua totalidade:

O meu foco era trabalhar com aluno onde ninguém mais acreditava nele. Eu sempre gostei disso. Eu sou a primeira a escolher assim e sempre fiz questão de deixar com que as turmas me escolham, eu acredito muito nisso. O que é que sobra? Eu pego assim, porque o que sobra é mais desafiante. E eu gosto muito do desafio. Trabalhar com aquilo que todo mundo diz que não vai valer nada, é daqueles que eu gosto. Eu gosto daqueles “Cão-peta”, não é? (risos) Eu gosto da turma onde realmente a questão da auto-estima eles não tem mais, estrutura familiar também não, então isso tudo eu encontrei dentro da aceleração (D6).

Verifica-se no relato da professora que o modelo de gestão compartilhada aumenta a sua motivação para trabalhar com alunos mais difíceis e a aceitar a realidade social da comunidade onde a escola está inserida. Isso auxilia na melhora do rendimento qualitativo e quantitativo desse aluno, pois a professora deixa claro em seu discurso que trabalha, em alguns momentos, com alunos que ninguém mais acreditava, mas se sente motivada e desafiada a obter resultados bons e conseguir ajudar esse aluno a alcançar um desempenho escolar melhor.

O incentivo à criatividade de alunos e docentes, somada à liberdade de criar, traz cada vez mais a figura do professor para perto da comunidade. Retira-se o docente daquele patamar do mestre detentor de todo o conhecimento, e coloca-o na condição de facilitador e companheiro no desenvolvimento educacional e pessoal do aluno:

Eu tento transmitir isso para os meninos de 4ª a 5ª série, por exemplo, eu tento passar isso para um menino de 11, 12 anos, mesmo que ele não queria, ele não está ali ligando, mas quando ele for fazer ele vai lembrar daquilo. Porque mesmo em casa, tem muitos que nem conversam com os pais, os pais nem orientam os filhos, então se um dia ele chegar... Se for um traficante, se chegar a mexer com drogas, é como a gente orienta aqui, se um dia você for fazer uso de drogas, for fazer uma coisa errada, você vai estar entrando sabendo as conseqüências disso, você vai estar entrando sabendo o que está fazendo, o que vai acontecer com você. Você não está entrando sem saber o que é a droga. Você já tem um conhecimento (D5).

Essa liberdade e os laços de amizade formados entre professores e direção permite, dentro de um modelo democrático que permite a prática da interdisciplinaridade, ou seja, a junção de vários conteúdos ministrados com um mesmo foco. Assim, é possível ao aluno aprender de forma prática as relações entre matemática e ciências, por exemplo, entendendo como cada matéria é importante para o aprendizado da outra:

Na preparação para as provas, por exemplo, a gente faz uma gincana compartilhada, em que a gente reúne as 3 turmas, e a gente trabalha sempre as 3 juntas, e as avaliações, uma das avaliações é uma prova compartilhada, a gente pega um texto e elabora todas as áreas em cima daquele texto.... “Transdisciplinar”. Exatamente, engloba tudo. Todas as disciplinas, então a avaliação deles, a primeira nota é essa, a compartilhada. E depois a gente dá uma específica, mas a gente está sempre trabalhando juntas. Inclusive o nosso conselho de classe é muito rápido, porque a gente compartilha o dia todo, então não precisa ficar estendendo muito. Foi um projeto bom, nas outras escolas que eu trabalhei, a gente não fazia isso, ficava cada um na sua salinha. Quando eu vim para cá, as meninas fizeram a proposta, eu gostei. (D2).

Do ponto de vista dos pais, esses percebem que a mesma liberdade dada aos docentes, no processo criativo de projetos e ações, é oferecida a eles também quando são chamados a se manifestarem e contribuírem nos projetos da escola. Isso faz com que a participação seja valorizada, além de fortalecer a relação construída entre a escola e os seus membros:

Porque a escola deixa a gente a vontade, a gente pode dar opinião no que está bom e no que está errado. Eles sempre mantêm a gente informado do que se passa aqui, e isso me motiva mais. E os meus filhos melhoraram muito depois que vieram para cá (D3).

Além disso, essa proximidade entre pais e professores tem se mostrado uma poderosa arma contra a evasão escolar e o crescimento da violência e do uso de drogas. Essa interação mais próxima, cujo carro-chefe é a ação social facilita esse contato dos professores que, naquele momento, são apresentados aos pais de forma mais amigável, sem o manto do educador, o que beneficia um contato mais estreito com a realidade daquele aluno.

3.4 Benefícios da participação efetiva da comunidade escolar no modelo de gestão