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Pesquisadores caracterizam a experiência do fluxo como um estado experiencial específico que é tão desejável que os usuários estimam repetir a experiência novamente (FINNERAN; ZHANG, 2005). Em complemento a isso, Guo, Liu e Liu (2016) sugerem que o fluxo é uma experiência positiva e pode levar a um julgamento de pós-avaliação relacionado à satisfação com os ambientes mediados por computadores ou por outras tecnologias, inclusive, levando à repetição do comportamento (FINNERAN; ZHANG, 2005; ZHOU; LI; LIU, 2010). Em reforço a tal ideia, Hoffman e Novak (2009) e Zhou (2013) afirmam que o comportamento do usuário pode ser afetado por motivações intrínsecas, que é o caso da experiência do fluxo, pois representa uma experiência ótima.

A experiência do fluxo tem sido investigada na área de sistemas de informações, com base no pressuposto de que as experiências de imersão total e absorção do indivíduo em relação à determinada atividade podem gerar maior prazer, encantamento ou diversão, o que, por sua vez, pode levar à continuidade de uso de uma tecnologia (DAVIS; BAGOZZI; WARSHAW, 1992; AGARWAL; KARAHANNA, 2000; DENG et al., 2010). Além do mais, Novak, Hoffman e Yung (2000) examinaram o efeito da experiência do fluxo sobre o comportamento do consumidor em ambientes on-line e foi descoberto que a experiência do fluxo está fortemente relacionada às visitas repetidas ao ambiente on-line (virtual).

Portanto, as implicações teóricas e práticas de compreender o efeito da experiência do fluxo sobre a continuidade de uso de tecnologias têm sido promissoras (MAHNKE; BENLIAN; HESS, 2014). Nesta linha de pensamento, pesquisadores sugerem que a experiência do fluxo seja um importante estado psicológico no qual o usuário está profundamente envolvido com um sistema de informações ou tecnologia, que, por sua vez, pode aumentar a sua continuidade de uso (HAMARI; KOIVISTO, 2014; HAMARI et al., 2016).

Alguns pesquisadores têm identificado que a experiência do fluxo vem se caracterizando como um fator essencial no comportamento do consumidor, associado à continuidade de uso (DENG et al., 2010; MATTINGLY; LEWANDOWSKI Jr., 2013). Suportado por alguns estudos, verifica-se que a experiência do fluxo apresenta uma associação positiva em relação a continuidade de uso (HAUSMAN; SIEKPE, 2009; ZHOU, 2011; ZHOU; LIU, 2014; SUH et al., 2017), observando-se que o princípio básico intrínseco à experiência do fluxo, desde que positiva e satisfatória, é a continuidade de uso (GAO; BAI, 2014).

Zhou (2015), com o intuito em identificar os antecedentes da continuidade de uso das redes sociais por parte dos usuários de telefone móvel, aplicou uma pesquisa com 230 usuários Chineses. Os resultados demostraram que o tamanho de referência da rede, a utilidade percebida, o risco percebido, a preocupação com a privacidade, bem como a experiência do fluxo são considerados antecedentes e atuam como facilitadores da continuidade de uso.

Lee et al. (2017) aplicaram um estudo com 460 universitários, usuários de uma rede social, no qual apontaram que a qualidade do serviço e o valor hedônico têm um impacto positivo sobre a experiência de fluxo, que a qualidade da informação e do serviço e que o valor hedônico influenciaram a qualidade do relacionamento do usuário com a rede social. E, sendo assim, a experiência do fluxo e a qualidade do relacionamento durante o uso das redes sociais afetaram a continuidade de uso das mesmas.

Da mesma forma Guo, Liu e Liu (2016), com base na Teoria de Usos e Gratificações, aplicaram uma pesquisa na China, porém, no contexto de redes sociais governamentais,

analisando a experiência do fluxo como variável mediadora entre os fatores de gratificação e a continuidade de uso. E, mais uma vez, resultados indicaram que a experiência do fluxo tem influência positiva e direta sobre a continuidade de uso das redes. Além do mais, o estudo demonstra que entre os determinantes da continuidade de uso de uma rede social governamental, a experiência do fluxo de seus usuários é algo muito importante. Diante disso, apresenta-se a sexta hipótese de pesquisa:

H6: A experiência do fluxo tem relação positiva e direta sobre a continuidade de uso da rede social por parte do usuário.

2.11 RELAÇÃO ENTRE SENSO DE PERTENCIMENTO E A CONTINUIDADE DE USO

Um indivíduo é propenso a ter um forte sentimento de pertencimento quando, além de se envolver em seu ambiente, ele também se sente como parte integrante deste ambiente (HAGERTY, et al., 1992; COSTEN; WALLER; WOZENCROFT, 2013). O sentimento de pertencimento a um grupo social pode significar que quanto mais um indivíduo se considera um membro deste grupo, será mais provável que ele desenvolva uma percepção positiva em relação ao grupo e, inclusive, que passe a ter a intenção de continuar sendo um membro deste grupo social ao longo do tempo (HEW et al., 2017).

O senso de pertencimento pressupõe que o indivíduo tenha características semelhantes ou complementares a outros indivíduos do grupo social, o que permite que uma pessoa se sinta parte deste mesmo grupo (HAGERTY et al., 1996; CHAI; KIM, 2012). Sendo assim, o senso de pertencimento é uma forma de se verificar como uma pessoa socialmente integrada ao grupo se sente em relação a ele e aos seus outros membros (STEINKAMP; KELLY, 1987; COSTEN; WALLER; WOZENCROFT, 2013). Para Costen, Waller e Wozencroft (2013), a conexão social e o senso de pertencimento influenciam a retenção, ou permanência, dos indivíduos a um grupo social ou comunidade em específica.

No entanto, um sentimento de pertencimento também existe entre os membros das comunidades virtuais, apesar da eventual falta de interação social mais estreita entre os membros, que são basicamente um grupo de estranhos ou de indivíduos, sem necessariamente, muita proximidade (BAGOZZI; DHOLAKIA, 2002; BLANCHARD; MARKUS, 2004). Justamente por isso, o sentido de pertencer a uma comunidade virtual pode gerar a motivação destes usuários de uma rede social a participar e a permanecer participando da rede (YOO; SUH; LEE, 2002). E quanto mais um indivíduo se considera um membro de uma comunidade

virtual, mais provável que ele desenvolva uma percepção positiva em relação à comunidade a qual pertence e, consequentemente, seja propenso a continuar participando desta comunidade virtual (JIN et al., 2007).

De acordo com Teo et al. (2003), o sentimento de pertencimento foi identificado como um dos fatores que encorajou o envolvimento contínuo de usuários em comunidades virtuais ou redes sociais, como, por exemplo, Facebook, Twitter, Tumblr, Foursquare, TripAdvisor, Instagram e YouTube, entre outras (CASALE; FIORAVANTI, 2018). Desta forma, o senso de pertencimento é considerado um componente vital para a continuidade de uso em redes sociais (TEO et al., 2003; SAWHNEY; VERONA; PRANDELLI, 2005; LU; PHANG; YU, 2011; ZHAO et al., 2012; COSTEN; WALLER; WOZENCROFT, 2013; LIN; FAN; WALLACE, 2013; LIN; FAN; CHAU, 2014; HEW et al., 2017).

No contexto das redes sociais, observa-se que os usuários do Facebook se expressam por meio de seus perfis, conhecendo pessoas e desenvolvendo uma identidade compartilhada com seus contatos e amigos (LIN; FAN, 2013), criando relacionamentos e laços sociais (POWELL; GRAY, 2013). Portanto, quando os usuários têm um senso mais forte em pertencer a uma rede social e se sentem pertencentes, isso os motivará a continuar usando a rede social em questão (LIN; FAN; CHAU, 2014).

Ampliando o debate, Jin et al. (2007) realizaram uma pesquisa com 240 usuários de uma comunidade virtual da China e identificaram o senso de pertencimento como sendo o fator que leva o usuário, de fato, à continuidade de uso desta comunidade virtual. Em decorrência disso, os sites de comunidades virtuais devem buscar melhorar o sentimento de pertencimento dos membros da comunidade virtual, reforçando à sua continuidade de uso.

Hew et al. (2017), por sua vez, realizaram um estudo para identificar a continuidade de uso dos usuários de uma rede social, sendo estimulados a criarem e a compartilharem conteúdos entre eles sobre suas experiências de viagens. Os resultados também demonstraram uma relação positiva entre o senso de pertencimento e a continuidade de uso da rede social. A justificativa para esta descoberta é que quando os viajantes sentem um sentimento de pertença a redes sociais ligadas a viagens e turismo, eles estão mais dispostos a compartilhar conhecimento, informações e experiências sobre os destinos de viagem, publicando fotos (imagens) ou fazendo comentários sobre suas experiências.

Já Lin, Fan e Chau (2014), buscaram identificar qual o impacto do senso de pertencimento sobre a continuidade de uso no contexto das redes sociais (Facebook), e identificaram que o senso de pertencimento é um forte determinante da continuidade de uso. Esta descoberta confirmou que os usuários da rede social avaliam a qualidade do sistema

e o valor percebido a partir de sua experiência com a rede social e que estas avaliações contribuem para o desenvolvimento de um sentimento de pertença à rede social. Em última análise, o sentimento de pertença influencia significativamente a intenção de continuidade de uso da rede social. Para tanto, a sétima hipótese de pesquisa formulada é a de que:

H7: O senso de pertencimento tem relação positiva e direta sobre a continuidade de uso da rede social.