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5 RESULTADOS

5.4 Relação entre variáveis indicadoras de qualidade e elementos que condicionam o

Considerando a variável referente ao fator 1 (satisfação com o atendimento do profissional), a média (desvio-padrão) do IMC foi 28,4 ± 5,3Kg/m2 nos usuários satisfeitos com o atendimento do profissional, e 28,6 ± 4,8 naqueles não satisfeitos, P=0,882.

A tabela 23 confirma essa ausência de relação entre o IMC e a satisfação com o atendimento do profissional. Também não há relação entre essa satisfação e a atividade física de lazer ou o consumo de álcool. Todavia, aparece uma relação paradoxal entre o fato de estar satisfeito com o atendimento do profissional e não seguir uma dieta para perder peso.

Tabela 23 – Associação entre a variável referente ao fator 1 e os elementos que condicionam o controle da pressão arterial e da glicemia apresentado pelos usuários diabéticos

Opinião sobre o atendimento do profissional

Considerando a variável referente ao fator 2 (medição da cintura em alguma consulta), a média (desvio-padrão) do IMC foi 28,2 ± 5,2 Kg/m2 nos usuários que tiveram a cintura aferida em alguma consulta, e 28,6 ± 5,4 naqueles que não foi realizado o referido procedimento, P=0,311.

A tabela 24 confirma essa ausência de relação, e mostra, ademais, que não há relação entre medição da cintura em alguma consulta e os elementos que condicionam o controle da pressão arterial e da glicemia nos diabéticos.

Tabela 24 – Associação entre a variável referente ao fator 2 e os elementos que condicionam o controle da pressão arterial e da glicemia apresentado pelos usuários diabéticos

Fonte: A autora

Considerando a variável referente ao fator 3 (satisfação com a explicação da receita), a média (desvio-padrão) do IMC foi 28,5 ± 5,5 Kg/m2 nos usuários satisfeitos com explicação dada sobre a receita, 28,9 ± 5,0 nos insatisfeitos e 26,3 ± 4,1 nos que não lembram de ter recebido explicação, P= 0,111.

A tabela 25 confirma essa ausência de relação, e mostra, ademais, que não há relação entre satisfação com a explicação da receita e os elementos que condicionam o controle da pressão arterial e da glicemia nos diabéticos.

Medição da cintura em alguma consulta

Tabela 25 – Associação entre a variável referente ao fator 3 e os elementos que condicionam o controle da pressão arterial e da glicemia apresentado pelos usuários diabéticos

Opinião sobre a explicação da receita

Total Valor de p Satisfeito Insatisfeito Não lembra ter

recebido orientação, e 27,6 ± 5,1 naqueles que não a receberam, P<0,001.

A tabela 26 confirma a relação significativa entre a orientação sobre atividade física e o IMC, no mesmo sentido paradoxal, ou seja, uma proporção maior de sobrepeso/obeso entre os usuários que receberam essa orientação. Todavia, existem relações entre orientação sobre atividade física e o fato de praticar atividade física de lazer e de seguir uma dieta para perder peso, que apontam para possível benefício dessa variável indicadora de qualidade da atenção.

Tabela 26 – Associação entre a variável referente ao fator 4 e os elementos que condicionam o controle da pressão arterial e da glicemia apresentado pelos usuários diabéticos

Orientação sobre atividade física que condicionam o controle da pressão arterial e da glicemia com a variável referente ao fator 4, recebimento de orientações sobre atividade física.

5.5 Relação entre variáveis indicadoras de qualidade e tabagismo

Nenhuma relação aparece entre as variáveis referentes aos quatro fatores da ACP e o tabagismo, tanto entre usuários hipertensos quanto diabéticos (tabelas 27 a 34).

Tabela 27 – Associação entre a variável referente ao fator 1 e o tabagismo em usuários hipertensos Opinião sobre o atendimento do profissional

Tabela 28 – Associação entre a variável referente ao fator 2 e o tabagismo em usuários hipertensos

Tabela 29 – Associação entre a variável referente ao fator 3 e o tabagismo em usuários hipertensos

Fonte: A autora

Tabela 30 – Associação entre a variável referente ao fator 4 e o tabagismo em usuários hipertensos Orientação sobre atividade física

Tabela 31 – Associação entre a variável referente ao fator 1 e o tabagismo em usuários diabéticos Opinião sobre o atendimento do profissional Satisfeito Insatisfeito Não lembra ter

recebido

Tabela 32 – Associação entre a variável referente ao fator 2 e o tabagismo em usuários diabéticos Medição da cintura em alguma consulta

Sim Não

Total Valor de p

N % N % N %

Sim, fumo atualmente 34 12,5 67 13,6 101 13,2 Fumei no passado, mas parei de fumar 118 43,2 186 37,7 304 39,6

Nunca Fumei 121 44,3 241 48,8 362 47,2 0,319

Fonte: A autora

Tabela 33 – Associação entre a variável referente ao fator 3 e o tabagismo em usuários diabéticos Opinião sobre a explicação da receita

Total Valor de p Satisfeito Insatisfeito Não lembra ter

recebido explicações

N % N % N % N %

Sim, fumo

atualmente 74 12,4 12 10,0 6 20,0 92 12,3

Fumei no passado, mas parei de fumar

230 38,6 59 49,2 13 43,3 302 40,5

Nunca fumei 292 49,0 49 40,8 11 36,7 352 47,2 0,140

Fonte: A autora

Tabela 34 – Associação entre a variável referente ao fator 4 e o tabagismo em usuários diabéticos Orientação sobre atividade física

Satisfeito Insatisfeito

Total Valor de p

N % N % N %

Sim, fumo atualmente 53 11,6 51 15,1 104 13,1 Fumei no passado, mas parei de fumar 179 39,1 140 41,4 319 40,1

Nunca fumei 226 49,3 147 43,5 373 46,9 0,171

Fonte: A autora

6 DISCUSSÃO

A análise aqui conduzida mostrou que, no que diz respeito ao controle da glicemia, não há relação com a qualidade da atenção, medida através das 4 fatores/variáveis selecionadas, nos usuários diabéticos. No tocante ao controle da pressão arterial, ou não tem relação entre qualidade da atenção e controle da pressão arterial ou existem relações paradoxais (ou seja, variáveis que parecem indicar uma melhor qualidade de atenção estão relacionadas com controle ruim). No que dizem respeito aos elementos que condicionam o controle da pressão arterial e a glicemia, só observamos relações com fator 4 - "orientação sobre atividade física". A variável IMC confirma a relação significativa com orientação sobre atividade física, no sentido paradoxal, ou seja, é mais alto o IMC quando os usuários dizem ter recebido orientações sobre atividade física. Quanto ao tabagismo, não se verificou nenhuma relação com as variáveis indicadoras de qualidade.

No tocante a associação entre controle da glicemia e a qualidade da assistência prestada, em concordância com presente estudo, estudo transversal realizado na cidade de Porto Alegre/RS por Gonçalves et al. (2013) evidenciou por meio do PCATool-Brasil que não há diferença significativa quanto ao controle glicêmico, entre serviços de APS com altos escores, que demonstram maior atenção à prevenção das complicações da DM e melhor cuidado com doenças de maior complexidade, ou seja, com melhor qualidade de assistência a saúde dos diabéticos e os demais serviços de saúde.

Trindade (2007) em estudo com hipertensos em nível de atenção primária em saúde na cidade de Porto Alegre/RS evidenciou através de análise multivariada que não há diferença estatisticamente significativa quanto ao controle da hipertensão arterial, entre serviços com melhor qualidade do processo de atenção integral ao hipertenso e os demais serviços de saúde.

Resultado semelhante ao estudo em questão, no que se refere à inexistência de associação entre qualidade da atenção e controle da pressão arterial.

No estudo em pauta, a única relação significativa observada é entre a variável referente ao fator 4 - orientação sobre atividade física e o melhor controle da PA em usuários hipertensos. Outros autores também encontraram associações semelhantes. Santos e Cabral (2014) destacam associação entre a orientação da prática regular de atividade física e os possíveis benefícios metabólicos para usuários adeptos a esta prática, tais como, aumento do volume sistólico, aumento da potência aeróbica, aumento da ventilação pulmonar, melhora do perfil lipídico, diminuição da pressão arterial, melhora da sensibilidade à insulina e diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho submáximo.

Vale lembrar que, na nossa análise "Orientação sobre atividade física" é a variável que tem maior carga no fator 4 da ACP, representado por quatro variáveis semelhantes nos dois tipos de formulários (usuários hipertenso e diabético): pergunta sobre atividade física, orientação sobre atividade física, pergunta sobre fumo e álcool. Com base nestes resultados o fator 4 indica a preocupação dos profissionais com o estilo de vida do doente. Neste sentido, este fator apresenta uma conotação de estabelecer a corresponsabilidade do usuário no sucesso do tratamento, assim como pode ser entendido pelo usuário hipertenso e diabético como fator importante para o controle de sua doença.

A variável IMC apresenta uma relação significativa com orientação sobre atividade física, no sentido paradoxal, uma vez que usuários que dizem ter recebido orientações sobre atividade física possuem IMC elevado. Os resultados são comparáveis ao de Ferreira et al.

(2003), em estudo realizado em São Caetano do sul- SP, com mulheres fisicamente ativas, foi demonstrado que o grupo que recebeu apenas orientação à atividade física não houve diferenças significativas no peso e adiposidade corporal quando comparados com o período pré-intervenção.

É importante considerar ainda neste contexto, que resultado paradoxal do presente estudo pode ser justificado pelo fato de que se orienta com maior frequência para atividade física as pessoas com sobrepeso e obesidade.

Por outro lado, ainda referente aos elementos que condicionam o controle da pressão arterial e da glicemia, o nosso estudo indica associação positiva entre o fator 4- orientação sobre atividade física e as variáveis “prática de atividade física” e “segue dieta para perder peso”, resultados semelhantes tanto para usuários hipertensos quanto para usuários diabéticos.

Este resultado aponta para um possível benefício da variável indicadora de qualidade na atenção (fator 4-orientação sobre atividade física). Resultado contrário com nosso estudo, estudo de Fernandes et al. (2005) indica que mudanças no estilo de vida, tais como prática de atividade física e uma dieta saudável, são fatores que influenciam diretamente na prevenção e tratamento do DM tipo 2.

Desta forma, a partir dos resultados encontrados, para uma atenção de saúde de qualidade aos usuários hipertensos e diabéticos é necessário que os profissionais responsáveis pela atenção, incorporem novas abordagens, capazes de motivar o doente a adotar hábitos e estilos de vida saudável. É necessário que estes usuários sejam mais sensibilizados e comprometidos com as intervenções planejadas, assim como concordem com o tratamento planejado. Esta interação, sem dúvida, contribuirá para que sejam alcançados melhores resultados clínicos e metabólicos para estes usuários.

Neste sentido, Guimarães e Takayanagui (2002) sugerem a necessidade de as equipes de saúde reverem suas práticas de educação em saúde no tratamento do Diabetes Mellitus tipo 2, valorizando também as orientações relativas a mudanças de estilo de vida dos pacientes.

No nosso estudo, outra variável indicadora de qualidade que apresentou relações com o controle clínico-metabólico dos usuários é a satisfação com o atendimento do profissional.

São frequentes os estudos que referem que há uma relação direta entre adequado estado de saúde e o grau de satisfação com o tratamento e/ou serviço de saúde, especialmente no contexto das DCNT (ANARELLA et al., 2004; PASLEY et al., 2005). Mendes et al.

(2010) e Moreira Júnior et al. (2010) evidenciaram que quanto mais satisfeitos com seu tratamento, melhor o controle glicêmico apresentado, especialmente naqueles diabéticos que não estavam em uso de insulina. Porém no estudo em pauta, essas relações se davam num sentido paradoxal, onde o controle se achava pior em pessoas satisfeitas do que em pessoas insatisfeitas com a atenção.

Em concordância com nosso estudo, resultado semelhante foi encontrado por Fenton (2012) por meio de estudo transversal de base populacional realizado nos Estados Unidos, a maior satisfação do paciente foi associada a uma menor utilização dos serviços de emergência, porém com uma maior frequência de internamento e aumento da mortalidade.

Desta forma, assim como no nosso estudo a satisfação do usuário esta relacionada diretamente ao controle inadequado da saúde do mesmo.

O resultado encontrado no presente estudo pode ter sido decorrente de uma conduta passiva/indiferente por parte dos usuários frente à necessidade de busca de estratégias para atingir metas clínicas e metabólicas. Associa-se a este fato, a prática ineficiente também por parte dos profissionais de saúde, responsáveis pelo acompanhamento destes usuários, mantendo-se indiferentes na busca da obtenção dos parâmetros preconizados para: o controle da PA ou da glicemia, a manutenção do peso ideal e dos demais parâmetros clínicos (segue dieta, IMC e atividade física) dos seus doentes, contribuindo assim, para manutenção deste estado de satisfação dos usuários.

É importante salientar que, os aspectos que influenciam na produção de satisfação e insatisfação são muitos, e estes estão sempre variando entre os estudos. Reis et al., (1990) referem que vários fatores afetam a percepção do paciente, e entre eles destacam-se as experiências anteriores de cuidados médicos recebidos, em que condições elas ocorreram e o seu estado atual de saúde. Achados de Lemme et al. (1991) e Wess (1988), indicam aspectos relacionados à relação médico-paciente, bem como à comunicação estabelecida entre eles,

como determinantes da satisfação; assim, pacientes de médicos que mostram interesse, simpatia, desejo de ajudar, entre outras coisas, têm maior grau de satisfação

Neste sentido, Esperidião e Trad (2005) citam vários autores que encontraram como resultados de seus estudos altas taxas de satisfação, fenômeno também conhecido como efeito de “elevação” das taxas de satisfação que leva pesquisadores a questionar a validade desses estudos. Somando-se a isto, Vaitsman e Andrade (2005) pontuam que, na maioria dos estudos realizados, quem utiliza os serviços, sejam eles chamados de pacientes ou usuários, são muito pouco críticos em relação à sua qualidade.