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Pelo fato de ter sido o Instituto Histórico de Paris concebido para ser uma instituição científica, acreditava-se poder constituir uma comunidade de estudiosos que, apesar de plural, fosse apartidária. Seus propósitos, porém, não bastavam. O Instituto Histórico enfrentou a resistência do Ministério da Instrução Pública em conceder-lhe o apoio necessário para a operacionalização de suas atividades. A desconfiança do governo por conta da conformação tão diversa, as constantes crises financeiras e os descontentamentos gerados pela personalidade controladora de Monglave, o secretário-perpétuo, resultaram em uma longa luta pela sobrevivência, legitimidade e reconhecimento. Consciente da influência exercida pelas academias e sociedades que, numa época em que o ensino superior era quase inexistente, animavam e dirigiam a vida intelectual (Knibiehler, 1973), o Ministério da Instrução Pública implementou uma política de controle. A relação com o Instituto Histórico de Paris foi, de início, marcada pela tensão, provavelmente por se tratar de uma iniciativa particular, que recebia como membros representantes da oposição política.

Após a Revolução de Jullho, duas interpretações políticas deram origem aos partidários do Movimento, mais à esquerda, e da Resistência, conservador, “os descontentes e os satisfeitos” (Ponteil, 1949, p. 131). De acordo com Seigel (1992, p. 16), o Partido do Movimento “ocupava a esquerda política, requeria direitos políticos amplos, liberdade de expressão, de imprensa e de associação, e ação vigorosa contra os odiados ministros de Bourbon”. A maior parte dos representantes do governo identificava-se com o Partido da Resistência que,

mais conservador, resistia à mudança e preferia restrições ao debate e à organização política, um eleitorado mais restrito e nenhuma aventura

externa. (...) O Partido da Resistência conduzia uma política aberta aos poderes mais altos da vida social. Sua visão de burguesia refletia a imagem prerrevolucionária da elite urbana tradicional ocupando um lugar especial em uma sociedade hierarquicamente estruturada ( ibdem).

Era no seio do Partido da Resistência que se encontravam alguns dos grandes nomes da Monarquia de Julho: nobres liberais, como o duque Victor de Broglie ou o conde Mole, grandes burgueses como André Dupin, universitários como Guizot e Victor Cousin. Todos aderiram ao que seria, por vários anos, a ideologia orleanista, expressa de maneira marcante sob o regime de Luís Filipe pelos redatores do Journal des Débats. Eram essencialmente os liberais, partidários de uma elite de nascença, de fortuna e de inteligência. De acordo com Rémond (1985), os homens que assumiram o ministério em 1831 e que iriam guiar os destinos políticos do país durante 17 anos exerceram uma política continuamente conservadora: “seu pensamento é de limitar as consequências de 1830, de estabilizar seus resultados; sua preocupação constante está em manter e conservar” 44 (Rémond, op. cit, p. 85).

A vitória do partido da Resistência, mais conservador, sobre o Partido do Movimento, durante a década de 1830, estabeleceu um processo que “deu lugar a uma política de reconciliação cada vez mais desenvolvida entre a Monarquia de Julho e os representantes do Velho Regime na década de 1840” (Seigel, op. cit., p. 16). Desse modo, além de aliar-se novamente à aristocracia, convinha ao liberalismo moderado francês de 1830 apoiar-se num regime que assimilou dos anos de 1815, segundo o qual “a maioria dos burgueses liberais se satisfazia com menos que seu programa completo em troca de uma garantia contra o jacobinismo, a democracia ou os fatores que poderiam produzi-lo” (Hobsbawm, 1996, p. 52).

De acordo com Hobsbawm (op. cit., p. 80),

Repetidas vezes veremos moderados reformadores da classe média mobilizando as massas contra a resistência obstinada ou a contra- revolução. Veremos as massas indo além dos objetivos dos moderados rumo às suas próprias revoluções sociais, e os moderados, por sua vez, dividindo-se em um grupo conservador, daí em diante fazendo causa comum com os reacionários, e um grupo de esquerda determinado a perseguir o resto dos objetivos moderados, ainda não alcançados, com o auxílio das massas, mesmo com o risco de perder o controle sobre elas.

44 Os autores Jardin e Tudesq compartilham esta noção de liberalismo conservador do regime de

julho. Cf. Andre JARDIN e Andre-Jean TUDESQ, A. J. La France des notables: l’évolution générale 1815- 1848. Paris: éditions du Seuil, 1973 ; pp. 136-171.

A relação entre Instituto Histórico de Paris e o governo ganha sentido se remetida a esse contexto político. A obra de reconstrução da memória dirigida pelo “voluntarismo historiador de julho” (Pire, 2002), que se estendia à pesquisa, ao estudo e à classificação e proteção dos arquivos, correspondia a objetivos políticos de “reconciliação”. Caberia ao saber histórico relativizar a importância da ruptura revolucionária da qual nasceu o Regime de Julho. A “monarquia burguesa”, por meio dos historiadores-políticos, conferia à história um sentido político vital para a sua legitimação. Após 1830, o olhar do historiador, outrora preocupado em demonstrar a importância da luta de classes nos acontecimentos históricos, centrava seu interesse na organização do regime estabelecido. Nesse contexto, a história era o conhecimento que devia explicar o passado, legitimar o presente e indicar o futuro.

Diante deste cenário, convinha ao IHP ressaltar que seu projeto era “pacífico” e que suas atividades produziriam contribuições “úteis”, voltadas para o bem comum.

Chamaremos a nós todos os espíritos que têm algum ponto de contato com os estudos históricos. Contrairemos, interna e externamente, uma aliança direta, de homem útil a homem útil; respeitaremos todas as nuanças de posição, e apresentaremos o raro fenômeno de uma sociedade que, sem acepção de partido, de escola ou de sistema, confunde em um mesmo objetivo de utilidade pública, o saber e o zelo de homens pertencentes à todas as opiniões conhecidas. O princípio de onde partimos para chegar a esta fusão é a troca entre todos das vantagens dos trabalhos de cada um, e da comunidade de todas as pesquisas, de todos os fatos, de todas as verdades úteis, para avaliá-las primeiro, para propagá-

las em seguida, de comum acordo, em todas as classes da sociedade, em todos os países do mundo. Esse pensamento é o único que preside a

criação do Instituto Histórico; nossa tendência foi o que ela devia ser, toda pacífica, toda de bem individual e geral. Que não nos seja proposta outra coisa! Diremos que isso não nos diz respeito!” [grifos nossos] (Monglave, relatório sobre os Trabalhos do IHP desde sua fundação, Journal de l’Institut Historique, 1837, p. 52).

Esclarecida sua “tendência pacífica”, o IHP recebeu a aprovação de dois importantes historiadores, ministros de Luís Filipe: Thiers e Guizot. O primeiro, então Ministro do Comércio e dos Trabalhos Públicos, escreveu em 21 de novembro de 1833: “Eu li com muito interesse o projeto que por vós me foi enviado e que consiste em fundar um instituto histórico com o objetivo de constatar e avançar o progresso da ciência da história, e eu fiquei surpreso com a utilidade e a grandeza do projeto”45. Guizot, Ministro da Instrução

Pública, em seu relatório ao rei, de 31 de dezembro de 1833 (Moniteur du 13 janvier 1834), manifestou-se nos seguintes termos:

A necessidade de colocar termo a esses esforços começa a se sentir vivamente, pois algumas pessoas formaram recentemente uma sociedade para tentar concentrar e coordenar as pesquisas de todos os homens que se dediquem a esse gênero de trabalho. Eu espero que essa sociedade não tenha feito em vão apelo aos amigos da ciência, eu me associo aos seus esforços.

Como ministro da Instrução Pública, François Guizot pôde intervir em três áreas fundamentais para implementar sua idéia segundo a qual o “grande mistério das sociedades modernas é o governo dos espíritos” (apud Mélonio, 1998, p. 214): criou a Academia de Ciências Morais e Políticas, elaborou um projeto educativo bem estruturado, e promoveu a criação de uma importante infraestutura cultural estatal, ou como afirma Rosanvallon, “uma rede densa de aparelhos destinados à gerir o senso comum” (1985, p. 225). Segundo esse autor, a nova ação do Estado se caracterizava ao mesmo tempo como um “instrumento tradicional de coerção e dispositivo produtor de hegemonia”. Além do papel fundamental que exerceu sobre o desenvolvimento dos estudos históricos, o incentivo dado por Guizot às sociedades científicas locais tinha por objetivo contribuir para o fortalecimento intelectual das classes abastadas, uma vez que a instrução elementar se expandia nas classes populares, é o que se pode concluir do seguinte comentário:

No momento em que a instrução popular se expande em toda parte, e que os esforços dos quais ela é objeto conduzem, nas classes numerosas que se dedicam ao trabalho manual, a um movimento de espírito enérgico, é muito importante que as classes abastadas, que se entregam ao trabalho intelectual, não se deixem levar pela indiferença e pela apatia. Mais a instrução elementar se tornará geral e ativa, mais é necessário que os altos estudos, os grandes trabalhos científicos, estejam igualmente em progresso. Se o movimento intelectual vai sempre crescente nas massas enquanto a inércia reina nas altas esferas da sociedade, resultaria cedo ou tarde uma perigosa perturbação (Guizot, Circulaire aux membres des sociétés savantes établies dans les départements, Paris, 30 de julho, Rapports au Roi et pièces, 1835 apud Rosanvallon, op. cit., pp. 227 e 228).

A propósito da criação de uma inspeção geral dos monumentos históricos, Guizot escreveu ao Rei: “Faltava à ciência um centro de direção que regularizasse boas intenções manifestas sobre quase todos os pontos da França; era preciso a impulsão partida da própria autoridade superior, e que o ministro do Interior imprime uma direção esclarecida ao zelo

das autoridades locais” (Mémoires, t. II, p. 387, apud Rosanvallon, op. cit., p. 230). O controle exercido pelo governo era voltado às sociedades e academias, assim como ao corpo docente, que tinha menos autonomia ainda.

O governo procurou estimular as sociedades científicas de várias maneiras, colocando-as em contato umas com as outras, facilitando a troca de suas publicações e votando subvenções em seu favor. Submetidas à tutela do governo, as academias e a imprensa tornaram-se importantes aliadas da nova ordem. Mas a tutela das sociedades científicas seria praticada não apenas por Guizot, outros ministros da Instrução Pública também o fizeram ao longo da Monarquia de Julho.

O Ministério da Instrução Pública permaneceu vigilante com relação às atividades promovidas pelo IHP que, por sua vez, estava sempre pronto a responder às solicitações que lhe eram enviadas, ou a fazer os ajustes que lhe eram exigidos. Quando o Instituto decidiu oferecer cursos públicos, a prática não era comum fora do âmbito universitário, por isso teve de recorrer ao ministro da Instrução Pública. Mas também não se tratava de uma iniciativa inédita, o movimento republicano já havia proposto a instrução do povo por meio de cursos públicos46, o que reforçava a cautela do governo com relação a essa proposta. A decisão de formar comissões para organizar os cursos foi tomada na décima assembléia geral, em 30 de outubro de 1834, mas a autorização para o seu início só foi concedida, com certa relutância, em 1838. A diversidade política que o Instituto abrigava certamente aguçou a cautela do ministro que, temendo a influência de membros mais comprometidos com a política, condicionou a aprovação dos cursos à apresentação de esclarecimentos detalhados sobre sua proposta de funcionamento. Na sessão de 03 de março de 1838, o secretário perpétuo anunciou a visita de Navarre, inspetor da Academia de Paris, escolhido pelo ministro para realizar essa investigação. Navarre, afirma Monglave, “que parece motivado pelas melhores intenções, pede somente os nomes e as titulações dos professores que se propõem a fazer os cursos e as matérias que neles serão tratadas”. Logo em seguida, os membros do IHP votaram os regulamentos referentes aos cursos públicos, entre os quais um artigo chama particularmente a atenção: “A discussão está proibida; os cursos não serão seguidos de nehuma conferência”. O secretário perpétuo afirmou que esse artigo foi

46 A Associação livre para a instrução do povo, que teve origem na Associação politécnica, foi

dissolvida em 1832, mas renasceu em janeiro de 1833, com o objetivo de educar os franceses por meio de cursos públicos. Cf. Félix PONTEIL. La Monarchie Parlementaire. Paris: Armand Colin, 1949.

proposto devido à experiência de desordens causadas pelas conferências nos cursos do Ateneu Real. A autorização só foi concedida no mês de dezembro de 1838, mas excetuava Auguste Savagner, ex-aluno da École des Chartes, professor de história na Universidade, que pretendia ministrar o curso sobre a “História geral dos Gaules desde a conquista romana até Saint-Louis”. A permissão lhe foi negada com o argumento de que Savagner havia incorrido em julgamento universitário e censura disciplinar, talvez por ter aprovado “de maneira escandalosa” (Gérbod, 1965, p. 165) a revolta dos Canuts47. Conforme o dicionário Larousse, Auguste Savagner48, literato e professor, nasceu em 1808 em Cassel, onde seu pai trabalhava na adminsitração quando a Westfália estava submetida à soberania da França. Estudou na Escola Normal e ocupou várias funções na Instrução Pública; foi professor de história no Colégio de Lyon em 1831 e em 1834 no Colégio de Nantes, e depois passou a lecionar na Universidade. Em Paris, Savagner participou das agitações políticas de 1848 e se tornou capitão da guarda nacional, e morreu em novembro de 1849. A crise desencadeada com as greves dos “canuts” em 1831 e 1834 foi atribuída pelo governo à influência de idéias socialistas e republicanas. Além disso, de modo geral, houve um grande avanço do movimento republicano nos primeiros anos da Monarquia de Julho. Auguste Savagner era republicano e foi acusado de ter apoiado a revolta dos “canuts”; por isso, era um membro do Instituto que representava a oposição política.

O regime de 1830 foi constantemente ameaçado por levantantes legitimistas, republicanos, pela agitação operária, tentativas de assassinato e golpes bonapartistas, além dos problemas sociais e da epidemia de coléra (março de 1832) que ajudaram a compor o quadro que estendeu a revolução de 1830 até 1834 ou 1835. Maurice Agulhon (1988) pondera que a Monarquia de Julho, instalada com a Revolução de 1830, foi um regime

47

Revolta de Canuts – insurreição dos operários da seda ocorrida em Lyon em 1831 e 1834.

48 Maria Alice de Oliveira Faria se refere ao General Savagner. É certo que Savagner (pai) também

foi membro do IHP, pois seu nome encontra-se entre os presentes na assembléia geral de 30 de novembro de 1838, mas foi Auguste Savagner, o professor de história que se envolveu efetivamente nas atividades e cuja proposta de oferecer um curso público no IHP não foi aprovada pelo governo.

Auguste Savagner, literato e professor, que nasceu em 1808 e faleceu em 1849, esteve entre os combatentes da Revolução de Julho. Savagner foi aceito como professor agregado de história e de geografia no Colégio de Lyon em 1831. Em 1834 assumiu o mesmo cargo no Colégio de Nantes e, em 1836, em Dijon. De acordo com as informações do Dictionnaire Larousse, dois anos mais tarde, Savagner perdeu estes cargos devido a suas opiniões republicanas. Em Paris, publicou várias obras e colaborou no Dictionnaire de la

conversation, Encyclopédie des gens du monde, Encyclopedie catholique, etc. No IHP foi vice-presidente da

liberal, antirreligioso e laico. As agitações sociais que perturbaram o governo de Luís Filipe, marcadas pelas greves em Lyon, dos trabalhadores do setor têxtil, em 1831 e 1832, inicialmente, e depois em 1834, acenderam a oposição política, e o atentado contra o rei, cometido em 28 de julho de 1835, levou o governo a tomar uma série de medidas repressivas, envolvendo a censura da imprensa e o controle das associações. Assim, embora o “espírito” de 1830 seja normalmente sintetizado pelos termos de burguesia repressiva ou conservadora, Agulhon considera que em 1830 a liberdade foi um pouco mais que uma bandeira, o que houve foi uma regressão desse liberalismo, com a lei de 1834 sobre o controle das associações e com as leis de setembro de 183549 sobre a imprensa.

Isto posto, torna-se compreensível a cautela do governo com relação ao IHP. Além daqueles que por suas posições políticas, antigas ou atuais, inspiravam certo receio, a sociedade recebeu como membro o responsável por duas tentativas de golpe de Estado contra o governo de Luís Filipe, um “conspirador nato” (Ponteil, op. cit., p. 168), Luís Napoleão Bonaparte. Ele passou a juventude exilado na Alemanha e na Suíça. Com a morte do único filho de Napoleão Bonaparte, em 1832, Luís Napoleão Bonaparte tornou-se a principal figura do bonapartismo e pretendente ao trono francês. Em 1836, tentou sem sucesso voltar ao poder amotinando a guarnição de Estrasburgo contra a monarquia de Luís Filipe. Derrotado, refugiou-se no Reino Unido. Em 1840, levantou-se novamente contra o governo francês na desastrada “Conspiração de Bolonha”, quando foi condenado à prisão perpétua na fortaleza de Ham. Em 1846 fugiu para Londres, de onde voltaria à França para participar dos próximos acontecimentos políticos, em 184850.

49

Sobre as leis de setembro de 1835, cf. Félix PONTEIL. Les institutions de la France de 1814 à

1870, Paris: PUF, 1966. O terceiro texto da lei previa impedir as discussões sobre o rei, a dinastia, a

monarquia constitucional. A partir de então tornam-se passíveis de duras penas: a provocação, seguida ou não de efeito, a ofensa ao rei cometida pela imprensa quando ela tem por objetivo excitar o ódio ou o desprezo de sua pessoa ou de sua autoridade constitucional; o ataque contra o princípio ou a forma de governo estabelecido; quando ela tem por objetivo excitar a destruição ou a mudança do governo; a adesão pública a toda outra forma de governo, fosse atribuindo direitos ao trono da França aos Bourbons, ou aos Bonaparte ou a qualquer outro que não fosse Luís Filipe. A caução exigida dos gerentes de jornais e escritos periódicos foi fixada a um nível muito elevado. Desenhos, gravuras, litografias, medalhas, estampas e emblemas não podiam ser publicados, expostos ou postos a venda sem a autorização do ministro do Interior, em Paris, e dos prefeitos nos departamentos.

50 Luís Napoleão Bonaparte foi eleito Presidente da República Francesa em 10 de dezembro de 1848.

Em 2 de dezembro de 1851 deu um golpe de Estado, com a proclamação do estado de sítio, dissolução da Assembléia, restabelecimento do sufráfio universal. Em 20 de dezembro, o príncipe Napoleão, por 7.350.000 votos contra 646.000, foi eleito por dois anos e recebeu todos os poderes para promulgar uma nova

Pode-se notar que não era fácil assegurar a requerida neutralidade movimentando-se em torno dessas agitações, e fazendo parte delas, ainda que indiretamente, na figura de seus membros. Diante desse contexto, todos os anos os membros do IHP necessitavam obter nova autorização para oferecerem seus cursos. É o que indicam as correspondências de M. Salvandy e do inspetor geral da Academia de Paris, M. Rousselle, enviadas ao presidente do Instituto Histórico:

Paris, 23 de novembro de 1842. “Senhor,

M. o Ministro tendo recebido um pedido de autorização, formado pelo Instituto Histórico, para a abertura de sete cursos públicos, durante o ano escolar 1842-1843, na casa que essa Sociedade ocupa na rua Saint- Guillaume, 9, eu tenho a honra de vos informar que, por decisão tomada em 18 desse mês, em conselho real, sua Excelência acordou, para cada um desses cursos, as autorizações individuais pedidas em favor dos membros do Instituto Histórico logo em seguida nomeados, e que cada um deles já havia obtido no último ano, a saber:

História da poesia antiga, por Fresse-Montval.

História da literatura e da legislação, comparadas, M. Cellier de Fayet. História da filosofia, desde Descartes até nossos dias, M. Robert (du Var). Hieróglifos egípcios e religiões antigas, M. De Brière.

Fisiologia, M. Dr. Maigne. História da França, M. Henri Prat.

Curso de direito público francês, história das instituições políticas e religiosas, por Dufey de l’Yonne.

Em consequência, nada se opõe a que esses diferentes cursos sejam abertos no local ordinário das sessões, à época que me foi indicada pelo administrador-tesoureiro de vossa Sociedade, em sua carta de ontem. Aprove, senhor, a certeza de minha distinta consideração

O inspetor geral administrador da Academia de Paris, “Rousselle”.

Paris, 16 de janeiro de 1847.

Senhor presidente, recebi a carta que me foi endereçada pela comissão administrativa do Instituto Histórico, para me dar conhecimento e me pedir aprovação para os cursos públicos e gratuitos que devem ser professados nesse ano no seio dessa companhia científica. Tomei conhecimento, senhor presidente, do programa dos cursos em questão, e me apresso em vos informar que eu o aprovo. Receba, senhor presidente,