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2.1 Ecoturismo como segmento do turismo

2.1.4 A relação turismo e meio ambiente

Para a atividade turística, o meio ambiente consiste em um dos principais recursos atrativos.

A relação do turismo com o meio ambiente passou a acontecer a partir de meados do século XX, justamente quando o turismo começou a se desenvolver massivamente no mundo todo e também no Brasil. Na visão de Blasco (1996), na década de 1950, tal relação era vista ainda como de coexistência, ou seja, não se concebiam interferências ou influências entre ambos. Na década de 1960, com o advento do turismo de massa, começava a ser notada a pressão da atividade sobre as áreas naturais. Apenas nos anos de 1970, devido ao despertar da consciência ambiental, as relações entre ambos passam a ser vistas como conflitantes. Já nas décadas de 1980 e 1990, ao mesmo tempo que tal posição (conflito) era ratificada, começavam a surgir posições que apostavam numa relação benéfica para ambos: turismo e meio ambiente.

Para a OMT (2001, p.229) a preocupação em relação ao meio ambiente ao longo das décadas pode ser evidenciada conforme o quadro 4.

ERA ENTORNO TURISMO

Década de 50 Desfrutar e utilizar. Etapa de exploração. Começo do

turismo de massas. Década de 60 Conscientização, intervenção pública e

protestos.

Desenvolvimento, crescimento rápido. Elementos de entorno como atrações únicas.

Década de 70 Institucionalização. Preocupação pela

contaminação do ar, da água e visual. Década de crescimento e sucesso. Estudos de impactos pelo mundo acadêmico.

Década de 80 Preocupação pelas substâncias tóxicas: chuva ácida, aquecimento do globo, buraco de ozônio.

Expansão dos mercados mundiais e avanços tecnológicos.

Década de 90 e início

do séc. XXI Desmatamento, mudanças climáticas (aquecimento global), desertificação, impactos globais.

Ecoturismo, desenvolvimento

sustentável. Alerta geral à humanidade. QUADRO 4 - Progressão da preocupação ambiental

FONTE: Adaptado da OMT (2001, p.229)

A atividade turística contribuiu muito ao processo de desenvolvimento econômico global, porém com uma contrapartida de elevados índices de degradação ambiental, até

mesmo de caráter irreversível, somada aos parâmetros de outras atividades econômicas. A partir de então, passou-se a se discutir no universo turístico uma atividade mais branda, planejada com base na capacidade dos locais e focada, principalmente, na conservação dos recursos naturais, em que se procurava explorá-los nos princípios do que se denominou e convencionou chamar de “turismo sustentável”.

A sustentabilidade, aqui tratada brevemente, para o contexto da sociedade atual refere- se a seguinte constatação para Medina e Santos (2001, p.22):

Pensar o ambiental hoje significa pensar de forma prospectiva e complexa, introduzir novas variáveis nas formas de conceber o mundo globalizado, a natureza, a sociedade, o conhecimento e especialmente as modalidades de relação entre os seres humanos, a fim de agir de forma solidária e fraterna, na procura de um modelo de desenvolvimento.

Para Olimpio (2003, p.1) a sustentabilidade diz respeito essencialmente “à percepção, ao entendimento e ao respeito a limites naturais e socioeconômicos”. Nesse sentido, o desenvolvimento da atividade turística de forma sustentável deve priorizar a utilização de equipamentos e recursos específicos para atendimento ao visitante, bem como meios de conservação e proteção da atratividade original. Percebe-se que o turismo, em sua política de desenvolvimento sustentável, tem como ponto de partida a conservação dos recursos naturais. Assim, conforme reforça Ruschmann, (1999 p.44):

Encontrar o equilíbrio entre os interesses econômicos que o turismo estimula e um desenvolvimento da atividade que proteja o meio ambiente não é tarefa fácil, principalmente porque seu controle depende de critérios e valores subjetivos, além de uma política adequada.

A autora ainda complementa que o turismo sustentável está focado em três fatores importantes: a qualidade, a continuidade e o equilíbrio. Cabe salientar que se torna essencial a boa qualidade de informação, pesquisa e comunicação em relação a “natureza do turismo local”, o que se desenvolve entre e para os envolvidos – população local e visitantes.

O termo desenvolvimento sustentável, conforme retrata Dias (2003, p.60), surgiu na Conferência de Estocolmo em 1972. O mesmo possui uma abordagem para o ecodesenvolvimento e obedece a três critérios essenciais: eqüidade social, prudência ecológica e eficiência econômica, ou seja, “deverá ser suportável ecologicamente a longo prazo, viável economicamente e eqüitativo desde uma perspectiva ética e social para as comunidades locais”. Por meio deste documento fica claro que a sustentabilidade procura,

segundo (ibid, 2003, p.47), “estabelecer uma relação harmônica do homem com a natureza, como centro de um processo de desenvolvimento que deve satisfazer as necessidades e às aspirações humanas”.

Em contraponto, cabe ressaltar que se compararmos os dados de degradação e poluição ambiental que foram levantados para realização do “ECO 92” – encontro promovido pelas Nações Unidas na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, no ano de 1992 – com os dados de 10 anos após a realização do mesmo (que visava tratar justamente de políticas preventivas para conservação ambiental), nota-se que o mundo poluiu e degradou muito mais o meio ambiente em nome do crescimento econômico global, constituindo um processo irreversível. Assim, conforme a visão da OMT (2001, p.227):

Na atualidade, as principais preocupações com respeito ao meio ambiente centram- se nos impactos resultantes da produção de atividades e economias aplicadas em nome do desenvolvimento. Especialmente, a preocupação está centrada no processo de degradação sofrido pelos recursos naturais que são utilizados no desenvolvimento das referidas atividades econômicas e no grau de irreversibilidade desse processo.

Budowski (1976) defende que podem existir três formas de relação entre aqueles que promovem o turismo e aqueles que defendem a conservação da natureza. Tais possibilidades são as seguintes: conflito, coexistência e simbiose. O turismo e a conservação da natureza estão em “conflito” quando a presença do turismo é prejudicial para a natureza e seus recursos. O resultado é que muitos vêem tal relação no mínimo com receio, e quando não, condenam toda e qualquer forma de intervenção do turismo e de suas implicações em relação à natureza. Uma relação de “coexistência” pode ser quando o turismo e os conservacionistas estabelecem entre si pouco contato. Isso ocorre ou pelo fato de que ambos os setores ainda não estão suficientemente bem desenvolvidos numa dada região, ou pelo mero desconhecimento da atuação de um em relação ao outro. Essa relação tende a ser passageira ou evoluir para uma relação de conflito ou simbiose.

Na relação de simbiose há um entendimento e uma organização recíproca entre os interesses do turismo e dos conservacionistas, de tal forma que ambos se beneficiam de tal relação. Isso significa que ao mesmo tempo em que os recursos naturais são conservados no limite da sua condição original, um número crescente de pessoas passa a obter benefícios destes recursos.

Nesse sentido, o ideal é que se estabeleça uma forma de relacionamento “simbiótica”, em que ambos se beneficiem mutuamente, na qual o desenvolvimento do ecoturismo

proporcione benefícios especialmente econômicos para as comunidades e empreendedores locais, e os estimule a valorizar, proteger o meio ambiente e seus recursos naturais, repassando esse referencial aos visitantes.

A posição de Pires (2002, p.47) em relação ao cenário ambientalista contemporâneo é de que:

O ambientalismo contemporâneo, bem como as linhas do pensamento ecológico que lhe servem de suporte filosófico, é fator de grande influência na geração e difusão de um senso comum pela proteção e valorização dos ambientes naturais, que se expressará nas iniciativas de contato com a natureza e de sua descoberta, impulsionadas pelo interesse científico, educativo e, sobretudo, pela aspiração ao lazer das gerações atuais.

Portanto, o desenvolvimento da atividade turística como fenômeno em evidência na sociedade globalizada depende em grande escala e proporção do destino que essa sociedade dará aos recursos naturais, já tão escassos em todo o planeta. Nesse sentido, a capacidade de se definir políticas ambientais é reduzida pela globalização de cultura consumista, que resulta de uma dada visão de mundo cuja mudança para atender às demandas da reconciliação entre economia e meio ambiente assume um caráter de mudança civilizacional, e requer a passagem de uma civilização do ter para uma civilização do ser, sendo de suma importância para auxiliar neste processo, o contexto da informação.