Relações entre os Grupos de Serviços e a Indústria de Transformação

O indicador desenvolvido nesta seção pondera a participação da indústria nas atividades de serviços. Essa ponderação é importante, pois, devido à complexidade existente atualmente na estrutura produtiva (maior grau de densidade avaliada no Capítulo 1), o crescimento dos serviços tem relações sistêmicas com outras atividades da economia.

Este indicador desagrega a densidade total a partir das relações entre a Indústria e os diferentes grupos de serviços. Ou seja, os vínculos entre todos os setores da Indústria com os Serviços de distribuição (sd), Serviços sociais (ss), Serviços pessoais (spe), Serviços produtivos (spr). Após essa análise foi ponderado quanto, em porcentagem, essas relações representam nos ILT e ILF totais dos diferentes grupos de serviços.

Para esse objetivo, calculamos o valor da densidade entre indústria e serviços, desagregada na seguinte forma:

Serviços de Distribuição = Msd, i n(n − 1) Msd, t n(n − 1) % Serviços Sociais = Mss, i n(n − 1) Mss, t n(n − 1) % Serviços Pessoais = Msp, i n(n − 1) Msp, t n(n − 1) % Serviços Produtivos = Mpro, i n(n − 1) Mpro, t n(n − 1) % n: número de setores;

M k, i: Número de ligações para trás (setor demanda produtos dos outros setores) OU Número

de ligações para a frente (setor é insumo para os outros setores) entre os setores k e i (), como definido acima;

M k,i/[n(n-1)] – Densidade entre as relações intersetoriais das atividades de serviços e Indústria.

A Tabela 2.6 apresenta os resultados desses indicadores. A primeira parte da tabela (Participação da Densidade Total) mostra apenas a relação entre os grupos de serviços e a indústria, a segunda parte (Participação na Densidade dos Grupos) pondera quanto, em porcentagem, esta interação representa na interação total de cada grupo. Ou seja, por exemplo, em 2010 no Brasil 39% do direcionamento da oferta (ILF) dos Serviços de distribuição foi direcionado para indústria de transformação.

O primeiro indicador, Índice de Ligação para Trás (ILT), demonstra a capacidade de os setores de serviços consumirem bens industriais. Estes indicadores demonstraram proporções homogêneas entre os grupos de serviços, a variação na média entre 23% e 30% em todos os grupos. Exceção da China, onde essa relação é mais elevada, com o ILT entre 30% e 40% nos grupos. A hipótese para essa disparidade é que estes setores estão em formação no País e demandam mais bens industriais para sua constituição, diferentes nos PD, em que os setores de serviços estão consolidados e as demandas dos bens industriais estão mais atreladas à modernização e reposição de bens não duráveis.

Tabela 2.6 – Ponderação dos Grupos de Serviços nas Relações com a Indústria de Transformação.

Fonte: World Input-Output Database (WIOD). Elaborado pelo autor a partir do software Pajek.

Por outro lado, o Índice de Ligação para a Frente (ILF) representa o quanto o setor de serviços é consumido pelo setor industrial ou o poder de indução nos grupos de serviços. Nessa relação, os dois grupos de serviços que exibem maior composição são os grupos de serviços de distribuição e produtivos, são fundamentais na composição da estrutura industrial (PARK e CHAN, 1989). Os serviços de distribuição são fundamentais para distribuição de bens intermediários para produção industrial e nas vendas de bens finais. Em países com elevada importância do setor industrial, como é o caso da Coreia e China, essa interação é ainda mais evidente (ILF dos Serviços de distribuição de 62,7% e 59,2% em 2010, respectivamente), é um tipo de serviço auxiliar, formado por atividades de transporte e comércio, a importância deste tipo de serviço é fundamental. Entretanto, é um setor, como o comércio por varejo e atacado, que demonstra baixa capacidade de geração de valor e as inovações estão fortemente relacionadas com a aplicação de tecnologia de comunicação, inicialmente com o objetivo de reduzir os custos (MIOZZO E SOETE, 2001).

No caso dos Serviços produtivos, a interação com o setor industrial é muito heterogênea. Este grupo é composto por atividades que compõem e auxiliam em diferentes etapas da cadeia produtiva – para detalhar estas relações a Tabela 2.7 apresenta os resultados desagregados do

Trás - ILT 1995 2010 1995 2010 1995 2010 1995 2010 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var

Brasil 2.5 4.2 3.9 5.4 1.8 1.9 3.9 2.8 23.3 32.1 37.8 25.0 33.8 35.3 22.7 23.5 3.5 32.4 25.0 -22.7 China 5.8 4.8 3.7 5.9 1.8 2.9 4.7 5.3 40.7 33.3 -18.2 45.2 44.3 -1.8 50.0 45.1 -9.8 40.9 46.2 12.8 Índia 3.8 4.9 0.6 0.7 1.3 0.7 3.2 2.3 30.0 36.6 22.0 25.0 13.3 -46.7 28.6 20.0 -30.0 38.5 24.1 -37.2 Rússia 5.4 6.9 2.7 2.9 0.0 1.3 0.7 5.3 24.2 33.8 39.3 19.0 22.4 17.9 0.0 22.7 2172.7 5.0 33.3 566.7 México 1.1 2.5 1.1 2.5 0.0 0.5 3.4 2.5 8.3 17.2 106.9 20.0 16.7 -16.7 0.0 14.3 1328.6 27.3 20.8 -23.6 Coreia 3.1 3.3 3.1 3.6 2.6 2.2 2.0 3.3 21.4 25.7 20.0 40.0 31.3 -21.9 31.3 30.0 -4.0 20.0 31.0 55.2 Média PeD 3.6 4.4 2.5 3.5 1.2 1.6 3.0 3.6 24.7 30.0 21.3 28.1 28.4 1.2 23.8 27.5 15.6 26.3 30.3 15.3 EUA 4.9 5.2 5.0 5.5 4.4 4.5 3.9 3.7 31.6 31.1 -1.5 38.5 38.2 -0.8 43.4 42.1 -3.0 33.3 32.5 -2.5 Japão 5.1 4.6 4.5 4.8 4.1 3.2 4.2 4.2 33.0 30.2 -8.5 35.6 37.0 4.2 41.4 29.9 -27.9 36.6 34.7 -5.2 Alemanha 3.8 3.3 3.6 3.3 2.6 1.7 2.8 3.0 27.5 21.7 -21.1 30.0 25.4 -15.3 28.9 22.9 -20.9 25.9 25.5 -1.8 França 2.7 2.8 2.7 3.1 2.1 1.5 3.7 2.6 18.2 19.6 8.0 20.0 24.5 22.4 18.6 14.6 -21.3 25.9 18.5 -28.6 Itália 6.7 6.9 2.2 2.4 2.0 2.8 2.2 3.0 32.9 37.2 13.0 22.5 22.4 -0.2 19.0 26.0 36.5 24.3 26.4 8.6 Reino Unido 2.6 1.8 3.8 3.0 1.8 2.1 1.8 1.8 18.8 11.3 -39.6 22.8 16.4 -28.1 16.2 16.3 0.4 13.6 12.5 -8.3 Média PD 4.3 4.1 3.6 3.7 2.8 2.7 3.1 3.0 27.5 25.7 -6.6 28.1 26.9 -4.2 27.5 25.1 -8.7 26.5 24.3 -8.0 Média Total 4.0 4.3 3.1 3.6 2.0 2.1 3.1 3.3 26.2 27.7 6.1 28.1 27.6 -1.6 26.3 25.9 -1.2 26.4 27.3 3.3

Frente - ILF 1995 2010 1995 2010 1995 2010 1995 2010 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var

Brasil 10.0 9.2 0.0 1.9 4.3 4.0 10.0 8.0 42.4 39.0 -8.1 0.0 33.3 3333.3 37.5 40.5 7.9 36.4 34.7 -4.6 China 9.5 6.4 0.3 3.1 1.6 3.1 7.4 6.8 50.7 35.4 -30.2 16.7 41.0 145.9 31.6 41.7 31.9 44.4 45.4 2.1 Índia 17.2 13.8 0.0 1.6 1.3 2.3 15.9 10.5 67.5 59.2 -12.4 0.0 38.5 3846.2 33.3 43.8 31.3 58.1 57.1 -1.7 Rússia 11.6 9.1 0.0 1.3 0.0 1.1 4.1 5.6 29.8 37.0 23.9 0.0 16.1 1612.9 0.0 16.0 1600.0 19.4 28.0 44.7 México 14.6 12.1 0.0 0.0 0.0 0.0 10.1 10.1 61.9 47.1 -24.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 25.0 29.0 15.9 Coreia 9.2 11.6 0.0 0.4 1.5 2.9 13.8 11.2 56.3 62.7 11.5 0.0 12.5 1150.0 50.0 44.4 -11.1 41.5 38.8 -6.7 Média PeD 12.0 10.4 0.0 1.4 1.4 2.2 10.2 8.7 49.2 46.5 -5.5 2.1 24.7 1070.3 29.7 35.4 19.2 36.9 37.2 1.0 EUA 6.1 6.6 3.2 3.1 4.0 3.1 6.7 6.8 33.6 35.6 6.0 34.8 34.4 -1.2 40.0 31.9 -20.3 40.3 39.7 -1.6 Japão 7.2 7.5 1.7 1.3 5.4 4.2 6.9 7.3 37.5 39.8 6.2 25.0 19.5 -22.0 41.8 32.9 -21.2 40.8 40.4 -1.2 Alemanha 8.9 10.0 2.2 2.8 3.6 3.7 10.1 10.4 48.4 46.0 -4.9 33.3 34.2 2.6 34.6 38.6 11.6 42.0 41.4 -1.5 França 10.9 11.2 3.2 0.8 1.3 4.1 9.3 7.7 43.2 45.8 6.2 29.3 11.1 -62.0 20.0 36.4 81.8 35.0 30.0 -14.3 Itália 10.3 9.9 0.2 0.9 4.4 5.2 9.1 9.3 45.2 45.1 -0.1 7.7 20.0 160.0 37.5 42.1 12.3 40.2 39.8 -1.0 Reino Unido 9.1 9.7 0.9 0.6 2.6 2.7 10.5 9.7 37.3 34.8 -6.9 12.0 7.4 -38.3 30.0 23.7 -21.1 36.4 32.0 -12.0 Média PD 8.7 9.2 1.9 1.6 3.6 3.8 8.8 8.5 41.0 41.2 0.5 26.0 21.8 -15.9 35.3 34.3 -3.0 38.8 36.7 -5.5 Média Total 10.4 9.8 1.0 1.5 2.5 3.0 9.5 8.6 45.4 43.8 -3.4 20.7 23.1 11.6 33.5 34.7 3.5 37.7 37.0 -2.1

Participação na Densidade dos Grupos Participação na Densidade Total

Serviços de distribuição (%) Serviços Sociais (%) Serviços Pessoais (%) Serviços Produtivos (%) Serviços de distribuição

ILF para os serviços produtivos –, é também o mais heterogêneo na classificação de Castellacci (2008).

Tabela 2.7 – Ponderação dos Serviços Produtivos (Participação na Densidade dos Grupos) nas Relações com a Indústria de Transformação

Fonte: World Input-Output Database (WIOD). Elaborado pelo autor a partir do software Pajek.

O setor de Eletricidade, Gás e Abastecimento de Água é infraestrutura básica (Infraestrutura física – Castellacci, 2008) para qualquer setor industrial, apresenta composição homogênea nos países, composição entre 40% e 45%, essa relação também está relacionada ao custo desta infraestrutura nestes países. O setor de Intermediação Financeira (Infraestrutura de rede – Castellacci, 2008) é um setor auxiliar à atividade produtiva, e, assim como o setor anterior, é fundamental para qualquer estrutura produtiva, desse modo também apresenta nível de participação homogênea entre os países. Já o setor de Atividade Imobiliária (Infraestrutura física) relaciona-se com a Indústria, principalmente em duas fases, no investimento de uma nova ou expansão da unidade produtiva e na venda do ativo, essa atividade expõe a disparidade entre os PeD e PD (média de 12,3% e 30,8% em 2010, respectivamente), isso demonstra a diferença da fase do setor industrial e valorização imobiliária nos dois grupos de países. Este é o caso de algumas atividades no agregado Locação de Máquinas e Equipamentos e Outras Atividades de Negócio21 (Intensivos em conhecimentos – Castellacci, 2008), que se relaciona com o setor industrial em diferentes atividades. No auxílio do setor industrial com as atividades jurídicas e contábil. No desenvolvimento de insumos, produtos e processos, com os institutos de Pesquisa e Desenvolvimento. Na modernização do setor com a locação de máquina e equipamentos, assim como na prestação de serviços de tecnologia da informação. Essas inúmeras contribuições às atividades industriais são representadas pelas elevadas participações da indústria de transformação para indução dessas atividades. Nos PD essas relações, que se demonstravam elevadas em 1995, apenas mantiveram a participação. Entretanto, nos PeD essa composição apresenta um significativo aumento entre os anos 1995 e 2010 (variação de 34,6%). Este fato está relacionado com o processo de terceirização desses serviços, mas essas atividades

21 _{Para nomenclatura desagregada vide: http://www.direct-marketing-lists.co.uk/SIC/sic_71.html#71}

1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var Eletricidade, Gás e Abastecimento de Água 43.8 42.3 -3.3 52.4 48.3 -7.8 73.3 55.0 -25.0 30.0 37.9 26.4 66.7 33.3 -50.0 45.5 52.4 15.2 49.1 44.8 -8.7

Intermediação Financeira 45.5 38.5 -15.4 50.0 43.8 -12.5 56.3 54.2 -3.7 0.0 27.3 2727.3 31.3 30.0 -4.0 57.1 37.5 -34.4 45.6 38.9 -14.6

Atividades Imobiliárias 0.0 11.8 1176.5 0.0 46.2 4615.4 45.5 0.0 -100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 9.1 0.0 0.0 0.0 0.0 11.4 12.3 7.4

Locação de M & Eq e outras atividades de negócio 40.7 37.9 -6.9 42.9 43.8 2.1 0.0 66.7 6666.7 0.0 33.3 3333.3 16.7 34.6 107.7 41.7 44.0 5.6 30.3 40.8 34.6

1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var 1995 2010 Var Eletricidade, Gás e Abastecimento de Água 43.3 43.3 0.0 43.3 43.3 0.0 44.8 43.3 -3.3 39.3 44.1 12.2 47.6 42.9 -10.0 41.7 40.0 -4.0 43.0 42.7 -0.8

Intermediação Financeira 40.6 38.7 -4.7 40.6 41.9 3.2 40.0 40.7 1.9 36.0 42.3 17.5 34.8 38.5 10.6 40.0 33.3 -16.7 38.6 38.9 0.8

Atividades Imobiliárias 34.5 35.7 3.6 40.7 36.4 -10.7 42.9 40.7 -4.9 18.8 33.3 77.8 33.3 34.8 4.3 13.3 5.9 -55.9 31.0 30.8 -0.7

Locação de M & Eq e outras atividades de negócio 42.4 40.6 -4.2 38.7 38.7 0.0 40.6 40.6 0.0 38.7 41.9 8.3 44.4 41.9 -5.6 40.0 38.7 -3.2 40.7 40.4 -0.7

Países Desenvolvidos

Países em Desenvolvimento Brasil China Índia México Coreia Média PeDs

EUA Japão Alemanha França Itália Reino Unido Média PDs Rússia

apontam composição ainda menor no valor adicionado nesses países (Tabela 2.1), o que reforça novamente o fato de que a terceirização e especialização estão em etapas iniciais nestes países, ou seja, em setores com menores capacidades de adicionar valor, por exemplo, limpeza, alimentação, etc. (HOWELLS, 2006).

Ademais, há uma opção dos PD por deter esses serviços de maior valor adicionado no processo de internacionalização (OCDE, 2013). Para ver Arbache (2015; 70) o declínio da participação relativa da indústria no PIB, como exibido pelos PD, não implica na perda de relevância da atividade, pelo contrário, caracteriza-se por uma fase muito mais sofisticada e influente, marcada pela mudança da natureza dos bens, da forma como são produzidos e da sua relação com os serviços. A indústria passa a ocupar um papel catalisador de geração de riquezas e de P&D, mas num nível muito mais complexo e sofisticado. Além disso, segundo Arbache (2014; 22), a relação entre indústria e serviços nos países em desenvolvimento tende a ser diferente da que ocorre nos países desenvolvidos, principalmente pela limitada disponibilidade de serviços que reduzem custos e agregam valor aos produtos; pelo baixo acesso a tecnologias, crédito e mercados, o que contribuiria para manter a produtividade estruturalmente baixa; e o emprego de tecnologias produtivas e gerenciais originalmente desenvolvidas para o contexto de países industrializados e para as condições de oferta de serviços ali encontradas. Analogamente, podemos atribuir que em muitos casos essas aplicações de tecnologias não são triviais, pois estas adaptações demandam conhecimentos teóricos e práticos, muitas vezes não encontrados nessas regiões, aspecto que aumenta o gap entre os grupos de países.