• Nenhum resultado encontrado

3.2 Proposições e hipóteses de pesquisa

3.2.1 Relações estruturais do modelo 3M

A primeira proposição de pesquisa contempla hipóteses sobre a relação entre a hierarquia dos traços de personalidade do modelo 3M. Como primeira sequência de análise, apresenta-se a proposição do relacionamento entre traços elementares e compostos do modelo 3M, conforme segue:

P1 Traços elementares estão associados a traços compostos do modelo 3M

Desta proposição, origina-se a série de 56 hipóteses estruturais, decorrentes das relações encontradas por Mowen (2000) e definidas na Tabela 1 (p. 63). Poucas destas hipóteses relevaram divergências com a aplicação nacional do estudo realizada por Monteiro, Veiga e Gonçalves (2009), sendo as principais inconsistências originadas da ausência de significância no estudo brasileiro (ver detalhes no Apêndice A, p.253). Como as hipóteses testadas por Mowen emergem de uma amostra mais ampla, sugere-se que tais relações causais são mais apropriadas para a definição de hipóteses derivadas de P1. As hipóteses foram resumidas no formato de tabela, devido ao seu extenso número. Para cada traço composto as hipóteses podem sugerir que

o efeito de um traço elementar deveria ser negativo (-), positivo (+) ou nulo (0). O Quadro 5 apresenta as hipóteses derivadas da proposição P1.

Quadro 5 – Hipóteses derivadas das relações estruturais entre traços elementares e compostos TRAÇOS

COMPOSTOS

TRAÇOS ELEMENTARES ANTECEDENTES

AE O I A IE NRM NEXC NRC Orientação para tarefa (OT) H1.1: (+) H1.2: (+) H1.3: (0) H1.4: (+) H1.5: (0) H1.6: (+) H1.7: (+) H1.8: (0) Nec. De aprendizado (NA) H1.9: (+) H1.10: (+) H1.11: (0) H1.12: (0) H1.13: (-) H1.14: (+) H1.15: (+) H1.16: (0) Necessidade de competição (NC) H1.17: (0) H1.18: (+) H1.19: (0) H1.20: (-) H1.21: (+) H1.22: (+) H1.23: (+) H1.24: (+) Nec. De atividades (NAT) H1.25: (+) H1.26: (+) H1.27: (-) H1.28: (+) H1.29: (0) H1.30: (0) H1.31: (+) H1.32: (+) Nec. De diversão (ND) H1.33: (+) H1.34: (0) H1.35: (-) H1.36: (+) H1.37: (0) H1.38: (0) H1.39: (+) H1.40: (+) Autoeficácia (AUT) H1.41: (+) H1.42: (+) H1.43: (-) H1.44: (+) H1.45: (-) H1.46: (0) H1.47: (+) H1.48: (+) Impulsividade (IM) H1.49: (+) H1.50: (-) H1.51: (-) H1.52: (0) H1.53: (+) H1.54: (+) H1.55: (0) H1.56: (0) Nota: Valores iguais a zero (0) indicam que a hipótese sugere a ausência de relações estruturais, sinais positivos (+) indicam que a hipótese sugere uma relação positiva e sinais negativos (-) indicam que a hipótese sugere uma relação negativa.

Fonte: Mowen (2000)

Na sequência, propõem-se hipóteses que relacionam os traços compostos e situacionais do modelo. Neste caso, consciência ambiental (CAMB) será tratada como traço situacional, na medida em que representa a atitude e disposição de ação perante a questão ambiental. Define-se a seguinte proposição de pesquisa:

P2 Os traços compostos estão associados com o traço situacional da consciência ambiental

Em primeiro momento, ressalta-se que consciência ambiental foi medida por meio de três dimensões, quais sejam: controle, limites e equilíbrio. O objetivo é manter consistência com os achados de Bedante (2004). Ainda, atenta-se para o fato de que as duas últimas dimensões indicam maior consciência ambiental (CAMB) enquanto a primeira revela menor preocupação com questões ambientais (escala reversa). Portanto, o sinal das hipóteses para a relação entre um traço composto e a dimensão controle será o inverso da preconizada para as demais dimensões de

consciência ambiental. Revisando os achados teóricos, foram definidas as hipóteses,

sequencialmente.

Recorda-se que consumidores ecologicamente conscientes buscam mais informações sobre produtos e se apresentam céticos em relação à propaganda (SHRUM, MCCARTY e LOWREY, 1995). Ademais, existe a tendência de estes consumidores buscarem maior superação individual e aceitação social (BROOKER, 1976). Tais características se coadunam com o perfil inerente aos traços de necessidade de aprendizado e necessidade de atividades. Portanto, seria esperada uma relação positiva entre as três dimensões da consciência ambiental e estes traços.

H2.1: Necessidade de aprendizado é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão controle da Consciência Ambiental.

H2.2: Necessidade de aprendizado é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão limites da consciência ambiental.

H2.3: Necessidade de aprendizado é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão equilíbrio da consciência ambiental.

H2.4: Necessidade de atividades é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão controle da consciência ambiental.

H2.5: Necessidade de atividades é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão limites da consciência ambiental.

H2.6: Necessidade de atividades é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão equilíbrio da consciência ambiental.

O mesmo perfil descrito previamente estaria na contramão da concepção de indivíduos impulsivos, que tomam decisões com o mínimo esforço de busca de informações. Reitera-se que o consumidor impulsivo tende a valorizar recompensas imediatas em detrimento de ações cujos resultados se concretizam no longo prazo (PURI, 1996). Acrescentando-se que ações ecológicas exigem considerável planejamento e esforço (RIBEIRO, 2010), sugere-se que existe uma relação negativa entre impulsividade e consciência ambiental.

H2.7: Impulsividade é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão controle da consciência ambiental.

H2.8: Impulsividade é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão limites da consciência ambiental.

H2.9: Impulsividade é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão

Roberts e Bacon (1997) ainda revelam que consumidores conscientes têm maior convicção de que suas atitudes efetivamente fazem a diferença na questão ecológica, exprimindo a maior auto- eficácia destes consumidores. Portanto seria esperada uma relação positiva entre Auto Eficácia e Consciência Ecológica.

H2.10: Autoeficácia é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão controle da consciência ambiental.

H2.11: Autoeficácia é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão limites da

consciência ambiental.

H2.12: Autoeficácia é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão equilíbrio da consciência ambiental.

A crença de que a busca pela harmonia e de bem estar geral (altruísmo) motiva à adoção de comportamentos de consumo conscientes é bastante difundida (STRAUGHAN e ROBERTS, 1999). Os autores sugerem que consumidores ecologicamente conscientes tendem a colocar o bem estar social à frente da realização de desejos pessoais. Esta característica é justamente o oposto que se espera de pessoas competitivas, que buscam sua realização e satisfação a despeito das consequências de seus atos sobre terceiros ou ambiente. Adicionalmente, sugere-se que indivíduos que focam suas energias no cumprimento de metas direcionadas ao sucesso individual, apresentam menor preocupação com questões alheias ao seu próprio bem estar. Portanto, seriam esperadas associações negativas entre os traços necessidade de competição e orientação para

H2.13: Necessidade de competição é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão controle da consciência ambiental.

H2.14: Necessidade de competição é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão limites da consciência ambiental.

H2.15: Necessidade de competição é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão equilíbrio da consciência ambiental.

H2.16: Orientação para tarefas é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão controle da consciência ambiental.

H2.17: Orientação para tarefas é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão Limites da consciência ambiental.

H2.18: Orientação para tarefas é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão equilíbrio da consciência ambiental.

Estudos aplicando o modelo de cinco fatores da personalidade para analisar o consumo e

consciência ambiental relevam que pessoas extrovertidas tendem a exibir maior tendência ao

consumo consciente (RAMANAIAH, CLUMP e SHARPE, 2000; FRAJ e MARTINEZ, 2006a). Como a necessidade de diversão é fortemente influenciada pela extroversão, demonstrando que pessoas mais extrovertidas tendem a buscar mais atividades lúdicas e serem mais “espirituosas”, pode-se sugerir que este traço está positivamente associado à consciência ambiental.

H2.19: Necessidade de diversão é associada de forma Significativamente Negativa (SN) à dimensão controle da consciência ambiental.

H2.20: Necessidade de diversão é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão limites da consciência ambiental.

H2.21: Necessidade de diversão é associada de forma Significativamente Positiva (SP) à dimensão equilíbrio da consciência ambiental.

Como última etapa nas sequências estruturais do modelo 3M, apresentam-se as hipóteses que ligam a consciência ambiental ao consumo ecologicamente consciente. Assim, apresenta-se a proposição derivada do modelo 3M.

P3 A consciência ambiental esta significativamente associada ao consumo

ecologicamente consciente.

Salienta-se que a consciência ambiental coaduna-se com o conceito de atitude em relação à questão ecológica, enquanto o consumo ecologicamente consciente remete a tendências comportamentais (BEDANTE, 2004). Tais perspectivas estão intimamente relacionadas às disposições sugeridas pelos campos das teorias da ação, na qual atitudes se relacionam positivamente a intenções comportamentais (HAN, HSU, e SHE, 2010 ; AJZEN, 1985). Portanto, sugere-se que consciência ambiental está positivamente associada ao consumo ecologicamente

consciente.

H3.1: A dimensão controle da consciência ambiental é associada de forma Significativamente Negativa (SN) ao consumo ecologicamente consciente

H3.2: A dimensão limites da consciência ambiental é associada de forma Significativamente Positiva (SP) ao consumo ecologicamente consciente

H3.3: A dimensão Equilíbrio da consciência ambiental é associada de forma Significativamente Positiva (SP) ao consumo ecologicamente consciente

Somando-se as hipóteses prévias, definem-se 80 hipóteses estruturais (56 + 21 + 3) para o estudo, classificadas de acordo com três proposições. Cabe ressaltar que as hipóteses previamente definidas foram determinadas de forma exploratória; isto é, não existem evidências consistentes que permitem balizar as associações previstas. Assim, com base na revisão geral da literatura e nas hipóteses anteriormente definidas, foi possível identificar a cadeia nomológica de traços de personalidade do estudo. Visando facilitar a apresentação das hipóteses do modelo em teste diagrama único, concebeu-se o modelo, expresso no seguinte causal.

Figura 9 – Traços antecedentes da consciência ambiental e consumo ecologicamente consciente

Nota: para simplificar a figura a chave foi usada para indicar que todos os traços elementares estarão conectados, inicialmente, a todos os traços compostos do modelo. Nec. significa “necessidade”. Para maiores detalhes sobre os traços ver Quadro 2 (p.60), Quadro 3 (p.62) e item 2.5 (p.83).

FONTE: Elaboração do autor.

As hipóteses anteriormente delineadas, ilustradas na Figura 9, representam o modelo final, a ser testado por meio de modelagem de equações estruturais. Trata-se de modelo totalmente mediado; isto é, não existem caminhos entre construtos não encadeados hierarquicamente (JÖRESKOG;

Instabilidade emocional (IE) Introversão (I) Nec. Recursos Corporais (NRC) Organização (O) Nec. de recursos materiais (NRM) Necessidade de Excitação (NEXC) Impulsividade (IM) Autoeficácia (AUT) Nec. de diversão (ND) Consciência Ambiental (CAMB) Consumo consciente (CEC) Nec. de aprendizado (NA) Nec. de competição (NC) Orientação para tarefa (OT) Amabilidade (A) Abertura a experiências (AE)

Traços elementares Traços compostos Traços situacionais Traços superficiais

Nec. de atividades

(NAT)

SÖRBOM, 1989). Nesse caso, espera-se que traços compostos e situacionais atuem enquanto mediadores das relações entre traços elementares e superficiais. Cabe ressaltar que a estratégia adotada corresponde ao teste de um modelo exploratório (HAIR et al., 1998), pois testes destas relações estruturais não foram efetuados por outros pesquisadores de forma sistêmica. Destaca-se que o estudo de Ribeiro (2010) não apresenta as mesmas concepções de traços situacionais e superficiais, de modo que os resultados daquele estudo não necessariamente devem se coadunar com os encontros nesta tese.