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Validade nomológica: modelo parcialmente mediado (modificado)

Neste tópico, mostram-se as etapas usadas para identificar os traços de personalidade que servem de referência para o consumo ecologicamente consciente. Para chegar ao resultado final, adotou- se a estratégia sugerida por Mowen (2000) para o teste do modelo 3M. Esta aplicação é caracterizada pelo uso de índices de modificação, exclusão de traços e inclusão de relações diretas entre construtos. Notadamente, a estratégia de “modelos em construção” é citada na literatura (HAIR et al., 1998), mas se contrapõe aos métodos tradicionais de aplicação de equações estruturais orientados à teorias (theory driven) (KLINE, 1998; JORESKOG E SORBOM, 1989; TABACHNICK E FIDELL, 2001).

Não obstante, conforme salienta Mowen (2000), o formato tradicional de análise pressupõe que as relações entre traços estão amplamente amparadas na literatura e teorias (HAIR et al., 1998). No entanto, esta situação é incongruente com o estágio atual dos estudos sobre o 3M e a envergadura de comportamentos que podem ser analisados sob a ótica da personalidade. Portanto, a despeito da busca de hipóteses prévias para as relações hierárquicas entre traços do modelo 3M ser uma atitude de mérito, a não exploração dos dados limita a descoberta de correlações não previstas na literatura e denigre o potencial de descoberta inerente a um estudo

sob personalidade e consumo. Por isto, preferiu-se manter a coerência com a abordagem original de Mowen (2000), buscando uma compreensão ampla e reveladora sobre o tema.

Inicialmente, os caminhos que não foram significativos na etapa anterior foram progressivamente excluídos (eliminando caminhos não significativos de cada construto dependente). Após a exclusão de cada conjunto, procedeu-se à analise dos índices de modificação para determinar se algum construto poderia exercer efeito significativo sobre o construto previamente escolhido, caso em que este caminho era adicionado. O procedimento foi repetido para todos os construtos, até não houvesse mais relações entre traços de personalidade de níveis adjacentes não exploradas. Na sequência, iniciou-se a análise dos índices de modificação em níveis não adjacentes dos traços de personalidade, buscando desvelar relações não mediadas. Exemplos seriam as relações entre traços elementares e superficiais, tais como se mostrou evidentes na sequência. Adicionalmente construtos que não contribuíram para a explicação das dimensões de consciência ambiental e do

consumo ecologicamente consciente foram progressivamente excluídos, de modo a manter no

modelo uma estrutura reduzida de traços de personalidade. Assim pôde-se obter o modelo reduzido, inicialmente apresentado na Figura 11.

Figura 11 – Modelo Modificado parcialmente mediado

Observações: χ2 é a estatística qui-quadrado obtida como N-1 vezes o mínimo da função de ajuste ML (F0) (JÖRESKOG e SÖRBOM, 1989). Os graus de liberdade correspondem ao total de observações da matriz Σ menos o número de parâmetros estimados no modelo. O GFI é a medida de Adequação do Ajuste (Goodness of Fit) e o AGFI é a medida de Adequação do Ajuste corrigida pelos graus de liberdade do modelo.

FONTE: Dados da pesquisa

Mostra-se que neste modelo vários traços básicos se mostraram diretamente associados ao

consumo ecologicamente consciente. Deve-se observar a ausência de diversos traços - os

compostos, em especial, do modelo 3M. O fato de traços básicos exercerem influência notável sobre o consumo consciente instiga o leitor a supor que parte considerável da consciência e consumo ecologicamente correto pode emergir de características mais básicas da individualidade

Limites R2 = 0,01 CEC R2 = 0,31 Equilíbrio R2 = 0,27 Amabilidade Instabilidade emocional Abertura à experiência Nec. Rec. Corporais Nec. Rec. materiais Nec. de excitação Nec. Aprend R2 = 0,18 Nec. Compet. R2 = 0,33 Controle R2 = 0,10 0,25*** 0,23*** 0,22** -0,09* 0,09* 0,17** 0,37*** 0,18** -0,19** 0,39*** 0,20** -0,32*** -0,11* 0,30*** -0,12** 0,15** 0,12** 0,25** Ajuste do modelo

ÍNDICE ESTIMATIVA DESEJÁVEL ÍNDICE ESTIMATIVA DESEJÁVEL

χ2 1449,80 (p<0,001) Não se aplica. AGFI 0,90 >0,90 G.l. 705 Não se aplica. PGFI 0,78 Não se aplica.

χ2/ g.l. 2,06 <3,00 NFI 0,91 >0,90

GFI 0,91 >0,90 CFI 0,95 >0,90

RMSEA 0,04 <0,08 IFI 0,95 >0,90

(traços elementares), e não de tendências apreendidas pela cultura e experiência pessoal (tacos compostos). Outrossim, como traços compostos representam hábitos e tendências comportamentais na definição de tarefas, sugere-se que o consumo consciente pode ser pouco determinado por tendências socioculturais que podem ser apreendidas pela experiência. Na sequência (Tabela 11, p.168) apresentam-se resultados das relações estruturais estimadas neste modelo.

Tabela 11 – Relações entre traços compostos e situacionais.

CONSTRUTOS PAD. REG. ERRO VALOR T SIG.

Consumo ecologicamente consciente (CEC) (R2 = 0,31)

Abertura de Experiências (AE) 0,25 0,46 0,08 5,88 0,00

Controle da natureza (CONTrol) -0,12 -0,12 0,04 -2,90 0,00

Equilíbrio da natureza (INST) 0,23 0,47 0,10 4,89 0,00

Limites da natureza (LIM) 0,25 0,24 0,04 5,71 0,00

Nec. Excitação (NEXC) -0,19 -0,36 0,07 -4,88 0,00

Nec. Recursos Corporais (NRC) 0,18 0,33 0,07 4,89 0,00 Controle da natureza (CONTrol) (R2 = 0,10)

Amabilidade (A) -0,20 -0,37 0,08 -4,55 0,00

Nec. Competição (NC) 0,22 0,19 0,04 4,84 0,00

Equilíbrio da natureza (INST) (R2 = 0,27)

Amabilidade (A) 0,10 0,09 0,04 2,24 0,03

Controle da natureza (CONTrol) -0,32 -0,16 0,02 -6,66 0,00

Limites da natureza (LIM) 0,30 0,14 0,02 6,31 0,00

Nec. de Aprendizado (NA) 0,15 0,09 0,03 3,29 0,00

Limites da natureza (LIM) (R2 = 0,01)

Controle da natureza (CONTrol) -0,11 -0,12 0,05 -2,32 0,02 Nec. de Aprendizado (NA) (R2 = 0,18)

Amabilidade (A) 0,12 0,17 0,06 2,72 0,01

Abertura de Experiências (AE) 0,37 0,54 0,07 7,57 0,00 Nec. Competição (NC) (R2 = 0,33)

Amabilidade (A) -0,09 -0,19 0,10 -2,00 0,05

Abertura de Experiências (AE) 0,17 0,38 0,10 3,65 0,00

Instabilidade emocional (IE) 0,09 0,20 0,10 1,97 0,05

Nec. Excitação (NEXC) 0,39 0,86 0,10 8,59 0,00

Nec. Recursos Materiais (NRM) 0,20 0,44 0,09 4,99 0,00

Notas: PAD é a carga padronizada de regressão. REG. é o peso de regressão não padronizado do indicador sobre o construto latente. ERRO é o erro padrão da estimativa de Máxima Verossimilhança. VALOR T é a razão crítica entre a estimativa não padronizada e seu erro padrão. SIG. é a significância corresponde à significância bi-caudal da estimativa.

Mostra-se que o modelo reduzido apresenta bom ajuste e estrutura mais parcimoniosa de análise e congrega somente elações estruturais significativas. Portanto, atendo-se ao procedimento usualmente empregado por Mowen (2000) de exploração das relações entre traços, obtiveram-se novas possibilidades e direções para o entendimento do consumo consciente a partir da personalidade, resultado que não poderia ser obtido a partir de uma lógica hipotético-dedutiva para definição das relações e traços do modelo 3M (HUNT, 2002). Portanto, o uso de uma abordagem estatística indutiva (em que a observação e a experimentação levam às “generalizações”), revela-se promissora para revelar caminhos na aplicação do modelo 3M. Com vistas a trazer uma conclusão geral sobre este tema, calculou-se o efeito total dos traços elementares e compostos sobre o consumo ecologicamente consciente, permitindo identificar os principais construtos que exercem influência neste contexto (ver resultados na Tabela 12).

Tabela 12 – Efeitos totais padronizados (traços situacionais e superficiais) VARIÁVEIS

DEPENDENTES

VARIÁVEIS INDEPENDENTES

NRM NEXC NRC AE IE A Control LIM INST

Controle (CONTrol) 0,04 0,09 0,00 0,04 0,02 -0,22 - - - Limites (LIM) -0,01 -0,01 0,00 0,00 0,00 0,02 - - - Equilíbrio (INST) -0,02 -0,03 0,00 0,04 -0,01 0,19 -0,35 0,30 - Consumo ecologicamente consciente (CEC) -0,01 -0,21 0,18 0,25 0,00 0,08 -0,23 032 0,23 Notas: - indica que não existem ligações causais entre estes traços.

Fonte: Dados da pesquisa

A Tabela 12 mostra que os principais determinantes do consumo ecologicamente consciente, além da consciência ambiental, são os traços elementares de abertura a experiências (AE – relação positiva), necessidade de excitação (NEXC- Relação Negativa) e necessidade de

como as principais referências para guiar as estratégias de segmentação de mercado, empregando traços de personalidade.