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Relações hídricas em SIPA

No documento Manejo e conservação da água e do solo (páginas 127-131)

Capítulo 8. Sistemas integrados de produção agropecuária: impactos na água e no

8.2 Contribuição do SIPA para a otimização do uso da água e solo

8.2.1 Relações hídricas em SIPA

O uso de SIPA, quando bem planejado e executado, pode reduzir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência do solo às variações climáticas, tais como períodos de estiagem, durante a safra (veranico), comuns nas regiões meridionais do Brasil. Desta forma, entender a dinâmica de atributos relacionados à água do solo são fundamentais para o manejo adequado dos SIPA.

A infiltração da água no solo é afetada por grande número de fatores relacionados ao solo e ao modo que ele é manejado, dentre os quais, podem-se citar a porosidade, a massa específica e a condutividade hidráulica do solo. Beutler (2001) encontrou correlações significativas entre matéria orgânica e os atributos físicos do solo e a condutividade hidráulica do solo. As plantas de cobertura, rotação de culturas com diversidade de espécies e pastejo (características dos SIPA) proporcionam aporte diferenciado de resíduos vegetais de parte aérea e comportamento radicular, em quantidade e qualidade, o que propiciam a manutenção da matéria orgânica no solo, a qual está ligada, principalmente, à criação de poros biológicos de alta funcionalidade na aeração e infiltração de água no solo. Segundo Cubilla (2002), esses poros, normalmente, não representam 3% do volume do solo, implicando redução da massa específica somente na ordem de centésimos, muitas vezes, não detectados pelas metodologias convencionais de análise.

No SIPA têm sido observadas melhorias nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. A intensificação da utilização da área agrícola com cultivos realizados, durante todo o ano, em que a rotação de culturas permite a inclusão de diversidade de sistemas radiculares, além de resíduos vegetais com diferentes compostos recalcitrantes, contribui para alterações das taxas

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de decomposição e na ciclagem de nutrientes (COSTA et al., 2015). Entretanto a possibilidade de haver compactação superficial do solo, em razão do pisoteio imposto pelos animais criados no SIPA, é a principal preocupação dos produtores, uma vez que a compactação altera a estrutura do solo, contribuindo, principalmente, à diminuição dos macroporos e ao aumento da microporosidade, em consequência, à menor infiltração de água no solo.

Nessa linha, diversos estudos apontam que, na camada de 0-5 cm, o pisoteio animal tende a aumentar a massa específica na área sob SPD, em algumas situações (SILVA, 2000; TENFEN, 2014; COSTA, 2014), reduzindo assim a infiltração de água. Desta forma, em SIPA, o correto manejo do pasto é essencial, sendo necessário o dimensionamento adequado da pressão de pastejo, manutenção de palhada, pois está além de proteger o solo quando perdas hídricas também atuam na absorção das cargas aplicadas pelo pisoteio. Ademais, Balbinot (2009) sugere práticas que podem ser utilizadas com sucesso no SIPA, para reduzir a deformação plástica decorrente do pisoteio, tais como: semeadura direta da pastagem, uso de quantidade adequada de sementes forrageiras, retirada dos animais da área 20 a 30 dias antes da dessecação realizada, para o estabelecimento de culturas destinadas à produção vegetal e a retirada dos animais da área conduzida sob SIPA, em dias em que o solo possui umidade acima da capacidade de campo. O manejo correto do sistema é necessário, para manter a estrutura física com porosidade adequada, aumentar os teores de matéria orgânica e possibilitar o desenvolvimento radicular.

O pastejo intensivo promove menor retenção de água, nas camadas superficiais, pela baixa quantidade de resíduo remanescente sobre o solo, sendo necessária a utilização de pressões de pastejo adequada. Contudo Martins et al. (2018) enfatizam a necessidade de se avaliar as camadas mais profundas do solo, para o correto entendimento do fluxo hídrico em SIPA, que ocorre, pois o desenvolvimento das plantas, quando pastejadas, é modificado. Em decorrência do maior perfilhamento das raízes, obtém-se, assim, maior massa de raízes em profundidade no solo que, após a dessecação dessas plantas, mantém-se continuidade de poros. Esse fato favorece a ascensão hídrica das camadas mais profundas, para a superfície seca, por meio do processo de redistribuição hídrica, via refluxo que ocorre das raízes presentes em camadas de solo com baixa disponibilidade de água para as com menor disponibilidade (COSTA, 2014).

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O intervalo hídrico ótimo (discutido nos Capítulos 2 e 3) é um indicador, baseado no conceito de faixa de teores de água no solo, na qual não há restrições ao crescimento das plantas, seja pela deficiência de oxigênio, pela deficiência de água no solo ou quando a resistência do solo inibe o crescimento radicular, sendo que estão intimamente relacionados com a massa específica. Em estudo realizado por Costa (2014), foi constatado que o pastejo em SIPA, apesar de aumentar a compactação das camadas superficiais do solo, por conseguinte, aumentando também a massa específica, não foi suficiente, para que se atingisse a densidade crítica do intervalo hídrico ótimo, quando em pastejo moderado. Além disso, o mesmo autor demonstrou que a umidade do solo, durante a safra de soja subsequente ao pastejo (Figura 8.1), apesar da compactação superficial pelo pisoteio, manteve-se sempre no intervalo hídrico ótimo, entre o ponto de murcha permanente e a capacidade de campo, com exceção do manejo com pastejo intenso, o qual comprometeu o volume de água no solo em todo o ciclo da soja.

Em estudo desenvolvido por Bonetti et al. (2019), foi constatado que o pastejo intenso reduz a matéria orgânica e a macroporosidade do solo e aumenta a sua massa específica, especialmente na camada superficial, enquanto a maior infiltração de água no solo, por depender diretamente da porosidade e da matéria orgânica, ocorreu em pastejo moderado e leve, indicando-o, assim, como de intensidades mais favoráveis à infiltração e retenção de água pelo solo. Tenfen (2014) demonstrou resultado semelhante, em que, apesar da menor infiltração de água no solo, o pastejo em SIPA apresentou um maior volume de água retida no solo.

Nesse sentido, quando se considera a eficiência no aproveitamento da água, seja proveniente de chuvas ou irrigação, há maior tendência que os SIPA otimizem esse recurso natural, uma vez que as melhorias na qualidade do solo irão promover retenção hídrica entre diferentes fases do sistema. Martins et al. (2018) ressaltam que estudos nessa temática em SIPA ainda são incipientes e devem avançar para uma melhor compreensão de como esses sistemas podem auxiliar na otimização do uso da água.

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FIGURA 8.1 Umidade volumétrica do solo, ao longo do ciclo da soja, nos meses de novembro (semeadura; a), dezembro (b), janeiro (c), fevereiro (d), março (e) e abril (colheita; f), no perfil de um Latossolo Vermelho distroférrico em Sistema Integrado de Produção Agropecuária com diferentes intensidades de pastejo. CC: capacidade de campo. PMP: ponto de murcha permanente. Fonte: (COSTA, 2014).

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