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2 REFLEXÕES ACERCA DO PAPEL DA COMUNICAÇÃO PARA A

2.3 RELAÇÕES PÚBLICAS A FAVOR DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

De acordo com Manuel Carlos Chaparro (2003, Pág. 34), o criador da assessoria de imprensa, também chamada de assessoria de comunicação ou relações públicas, foi o jornalista dos Estados Unidos Ivy Lee, que em 1906 montou um escritório onde passou a desenvolver um projeto profissional de relações com a imprensa. Ivy Lee, segundo Chaparro (2003, Pág. 34), estava a serviço do empresário John Rockefeller, um homem impopular por aspirar ao monopólio, combater de todas as formas as pequenas e médias empresas, com fama de impiedoso e sanguinário, que chegou a mandar atirar contra grevistas em uma greve no Colorado.

Chaparro (2003, Pág. 34) afirma que cabia a Ivy Lee, por meio do trabalho de relações públicas, fazer com que John Rockefeller passasse a ser venerado pela opinião pública. Chaparro (2003, Pág. 36) destaca que, para isso, o jornalista criou uma declaração de princípios em forma de carta aos editores, na qual constava explicações como o fato de que o trabalho de assessoria de imprensa não é um serviço de imprensa secreto, que o objetivo é fazer divulgação de notícias com franqueza à imprensa e ao público, informações sobre assuntos de interesse público, e não agenciamento de anúncios.

Entre outras iniciativas de Ivy Lee, segundo Cicília Peruzzo (1981, Pág. 12), estava a dispensa dos agentes de segurança da família Rockfeller, abertura das portas da organização para a imprensa, abertura do diálogo com líderes da comunidade e do governo, criação de fundações filantrópicas, centros de pesquisa, universidades, hospitais, museus e concessão bolsas de estudo.

Contudo, Chaparro (2003, Pág. 38) salienta que não foi somente colaborando com boas matérias jornalísticas que Ivy Lee buscou mudar a imagem de John Rockfeller. Também houve a prática de pagamento de propina, almoços sedutores, viagens, entre outras formas de comprar a

imprensa. Também criou fatos noticiáveis. Apesar disso, para Chaparro (2003, Pág. 38) não se pode tirar de Ivy Lee o mérito de ser o fundador das relações públicas.

Em qual contexto histórico surgem as relações públicas? Chaparro (2003, Pág. 34) recorda que ela surge após a Guerra de Secessão, quando os empreendedores do norte ampliaram seus negócios especulando terras, construindo estradas de ferro, explorando recursos minerais, abrindo bancos. O autor (2003, Pág. 35) destaca que esse cenário permitiu o surgimento dos chamados barões ladrões, que eram industriais que se dedicavam a negociatas e visavam o lucro fácil. Foi um período marcado pela contenção da resistência operária. Além disso, pagava-se por peças, premiava-se quem mais produzisse, padronizava-se as tarefas.

Cicília Peruzzo (1981, Pág. 12) salienta que as relações públicas nascem a favor do capital em um contexto em que os antagonismos de classe se evidenciam. Essa atividade, de acordo com Peruzzo (1981, Pág. 28), tem como objetivo a harmonia social, a satisfação de interesses bilaterais. Segundo Peruzzo (1981, Pág. 28), no modo de produção capitalista harmonia social trata-se da identificação entre os interesses público e privado. É fazer com que este último ganhe uma roupagem de interesse público. De acordo com ela (1981, Pág. 57), uma das nuances das relações públicas burguesas está nas relações entre aqueles que possuem dinheiro e os que possuem a força de trabalho.

No âmbito empresarial, por exemplo, Peruzzo (1981, Pág. 139) salienta que os programas de relações públicas têm como um de seus objetivos conquistar os trabalhadores, submetendo-os aos interesses do capital, conservar as condições de exploração. Quando a serviço da classe dominante, segundo Peruzzo (1981, Pág. 139), as relações públicas “são um ato pedagógico e político, não crítico libertador”.

Assim, para Peruzzo (1981, Pág. 139), quando utilizadas dessa forma, as relações públicas se inserem na concepção bancária de educação. Segundo Paulo Freire (1970, Pág. 33), a concepção bancária da educação consiste na utilização dos seres humanos como mero depósito de informações que são guardadas, arquivadas, sem que haja busca pela invenção, pela transformação, por não estarem relacionadas com a práxis nem despertarem o senso crítico. Contudo, Peruzzo (1981, Pág. 139) defende que as relações públicas também sejam utilizadas a serviço da classe dominada. Quando assim acontece, de acordo com Peruzzo (1981, Pág. 139), elas se enquadram na concepção libertadora de educação. Ou seja, problematiza, desmistifica a realidade, transforma o mundo.

E o que é necessário para fazer com que as relações públicas sejam colocadas a serviço da classe dominada? Peruzzo (1981, Pág. 145) elenca alguns elementos, como a necessidade de o relações públicas ser um ser de relações. De acordo com Freire (1967, Pág. 46) o ser de relações não apenas está no mundo, mas com o mundo, o que é resultado de uma abertura à realidade, fazendo com que a pessoa se integre a seu contexto e interfira nele. Portanto, o ser humano deixa de ser aquilo que Paulo Freire (1967, Pág. 49) chama de ser de contatos, ou seja, um ser de acomodação, ajustamento, adaptação.

Outros elementos necessários para que as relações públicas sejam colocadas a serviço da classe dominada, segundo Peruzzo (1981, Pág. 145), são reconhecer-se enquanto classe, estudar alianças com as classes subalternas; podendo isso ocorrer quando o objetivo do relações públicas for o mesmo delas, ou seja, transformação socioeconômica e política com o fim de atingir uma sociedade livre e justa; oferecer suas técnicas para as classes subalternas.

Peruzzo (1981, Pág. 146) salienta algumas atitudes concretas da atividade do relações públicas a serviço da classe dominada, como ajudar os movimentos a melhorar sua imagem perante o público, ajudá-los a tornar aceitáveis seus programas e objetivos, por exemplo, mostrando que eles satisfazem as aspirações públicas; ajudar o bom fluxo de comunicação entre as lideranças e a base dos movimentos, além de ajudar as classes subalternas e os movimentos populares a se comunicarem entre si.

Peruzzo (1981, Pág. 146) afirma que, para concretizar essas propostas, é preciso que o relações públicas tenha relações com organismos da sociedade civil para buscar neles apoio para suas causas. Peruzzo destaca, ainda, a importância de se relacionar com os meios de comunicação de massa para conseguir cobertura jornalística. Peruzzo (1981, Pág. 146) também aponta como formas de concretizar as atividades dos relações públicas a serviço das classes dominadas o estabelecimento de canais de comunicação entre os dominados, preparação e aplicação de pesquisas para conhecer as necessidades e posicionamento das camadas populares, preparação de jornais murais e todo e qualquer tipo de comunicação, preparação de eventos como grupos teatrais, reuniões, palestras, festas; documentação da história dos dominados.