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Relevância da programação de ensino para desenvolver e avaliar treinamentos

I. INTRODUÇÃO

1.4 Relevância da programação de ensino para desenvolver e avaliar treinamentos

Programação de Ensino pode ser considerado um processo para elaboração de programas de ensino que utiliza os princípios básicos da Análise do Comportamento. Tal processo se caracteriza por analisar as necessidades da comunidade como base para proposição de objetivos terminais de ensino ou de treinamento e formular tais objetivos em termos comportamentais (especificando não apenas respostas, mas as condições antecedentes e conseqüentes relacionadas às respostas de interesse) a fim de programar condições e atividades (incluindo avaliações) capazes de levar o aprendiz a aprender efetivamente aquilo que se julgou necessário no diagnóstico de necessidades, ou seja, a se comportar de determinadas maneiras. Dessa forma, o programador de ensino deve ser capaz de selecionar, definir e propor os comportamentos de interesse que seu aluno precisa aprender, bem como definir, preparar e implementar condições para que essa aprendizagem ocorra. De acordo com Botomé (1981), fazem parte da classe de comportamentos “construir programas de ensino”, dentre outros, comportamentos como: especificar os objetivos terminais de um programa de ensino; analisar os objetivos terminais em seus componentes intermediários, necessários para sua consecução; organizar os objetivos intermediários resultantes da análise em uma seqüência para ensino; planejar atividades de ensino para a aprendizagem de cada um dos objetivos intermediários da seqüência; organizar as atividades planejadas para ensino, em unidades ou passos a serem realizados pelo aprendiz; planejar procedimentos de avaliação de desempenho do aprendiz; organizar o material a ser utilizado pelos aprendizes nas diferentes unidades do programa; redigir instruções para cada unidade de trabalho do aprendiz em um programa de ensino; planejar o procedimento de avaliação da eficácia de um programa de ensino etc.

Os objetivos terminais são classes de comportamentos amplas e complexas que correspondem àquelas a serem apresentadas pelos aprendizes para lidar com a situação- problema. Quando os objetivos terminais são decompostos em classes mais especificas e colocadas em seqüências, podem ser ensinadas de forma sucessiva, capacitando o aprendiz para o comportamento terminal (Nale & Drachenberg, 1992). Para Luna (s/d), um bom programa de ensino deve especificar o que o aluno fará, em que circunstâncias e com que conseqüências. Segundo Botomé, (1977) o objetivo comportamental pode ser usado para o planejamento de atividade de ensino, considerando tais atividades como oportunidades que o aprendiz tem para desenvolver ou treinar sua capacidade de realizar um determinado objetivo (formulado em termos de desempenho do aprendiz); nesta perspectiva, avaliar se o aprendiz

atingiu um objetivo comportamental deve ir além da verificação de suas respostas, é necessário observar se ela ocorre em determinadas condições de estímulo e se consegue se manter sem o controle de contingências vinculadas apenas às situações de ensino, ou seja, se podem ser mantidas por seus próprios resultados, produtos ou efeitos.

Assim, um ponto fundamental do processo de programação de ensino é a proposição de objetivos comportamentais, uma vez que objetivos claros a respeito do que o aprendiz deve ser capaz de realizar ao final do programa aumenta a probabilidade da realização de procedimentos que realmente sirvam para avaliar o ensino e a aprendizagem. A avaliação é concebida, então, no contexto da programação de ensino, como parte do processo de ensino-aprendizagem, com destaque para o fato de que não é possível afirmar que houve ensino se não tiver ocorrido aprendizagem decorrente: “ensinar é um comportamento que inclui como condição subseqüente definidora da relação em questão, a ocorrência de aprendizagem... Logo, avaliar a aprendizagem é, necessariamente, avaliar o ensino” (CORTEGOSO, 2002a). De acordo com a autora, a avaliação deve ocorrer em pelo menos três níveis, sendo eles: Nível 1) avaliação dos comportamentos que o programa foi capaz de gerar no aprendiz no âmbito da situação de ensino (Avaliação de desempenho); Nível 2) avaliação dos comportamentos que o programa foi capaz de gerar no aprendiz quando este age ao lidar com a situação problema e Nível 3) avaliação da medida em que comportamentos do aprendiz adquiridos por meio do programa geram, na situação-problema, mudanças efetivas e compatíveis com os resultados desejáveis.

Outras características importantes para a elaboração de um programa de ensino, derivadas de princípios básicos propostos por Bori, Azzi e Keller já na década de 1960 (apresentados por Botomé, 2000; Luna, s/d, entre outros) são: participação ativa dos aprendizes em cada unidade de aprendizagem, exigências feitas em pequenos passos ou etapas da aprendizagem de interesse, conseqüências informativas para cada passo ou etapa realizado pelo aprendiz (feedback), encaminhamento imediato de acordo com o que é realizado pelo aprendiz em cada etapa ou passo, condições apropriadas às características de aprendizagem de cada aluno e retirada gradual de conseqüências arbitrárias (caso forem utilizadas).

Diversos estudos que utilizaram a programação de ensino para promover aprendizagem alcançaram resultados que parecem sustentar a utilização desta tecnologia. Joaquim (2008) examinou estudos que se dedicam a investigar a eficácia de programas de ensino elaborados a partir desta tecnologia (programação de ensino), partindo de situações- problema que indicam a necessidade de implementar aprendizagens consideradas desejáveis nos aprendizes, com propostas de classes de comportamentos que constituíram objetivos de

ensino (aquilo que os aprendizes deveriam passar a apresentar após serem expostos às condições de ensino do programa, como forma de lidar com a situação-problema), e conclui que este processo tem se mostrado eficaz em diversos contextos. O artigo de Nale (1998) apresenta algumas dezenas de estudos, realizados principalmente no contexto da Universidade Federal de São Carlos, que utilizaram a programação de ensino com sucesso em diferentes áreas do conhecimento; dentre eles, o autor faz referência a estudos dirigidos à definição de objetivos de ensino em disciplinas de enfermagem, engenharia civil, fisioterapia, em grande parte orientados por Carolina Bori, um dos expoentes no estudo e desenvolvimento desta tecnologia no Brasil. Vettorazzi et al. (2005) utilizaram a programação de ensino para definir objetivos de um programa para ensinar comportamento empático em uma criança e, segundo os autores, tal tecnologia favoreceu a análise da eficácia do programa, evidenciando, ainda, que quando o ensino é programado facilita a intervenção do programador para verificar e superar as dificuldades de aprendizagem do aprendiz, bem como facilita a criação de atividades que atendem os objetivos propostos. Visto a contribuição da programação de ensino para desenvolver e avaliar treinamentos, o uso deste recurso tecnológico para produzir aprendizagem para o favorecimento de comportamentos de estudo por agentes educativos parece ser relevante.

1.5 De que modo pais podem ser preparados para promover melhores condições para o