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4. MEDICAMINA: TRADUÇÃO E CONTEÚDO

4.3 Remedia faciei

Terminada a introdução, vamos traduzir e analisar o restante do poema, que trata diretamente das receitas. Primeiramento, o dístico introdutório à segunda parte:

Discite, cum teneros somnus dimiserit artus, Candida quo possint ora nitere modo.

.(Medicamina, 51-52) Aprendam, quando o sono deixa seus tenros membros,

como seus rostos podem resplandecer cândidos.

O início do verso 51 retoma o tema principal da poesia e seu objetivo didático: discite – “aprendam”, em uma correlação perfeita com o primeiro verso do poema, retomando su verbo inicial.

No decorrer da tradução, notamos que, nessa segunda parte, o receituário propriamente dito, os verbos passam a ser utilizados na segunda pessoa do singular, não mais no plural, como se encontravam no proêmio. Somente esse verbo, discite, apresenta-se no plural.

García (1996, p. 80) dedica-se um pouco a elucidar esta questão. De acordo com o pesquisador, a forma discite é reconhecida em um manuscrito do séc. XIII, o códex Gothanus Membr II, e assim também aparece em manuscritos seguintes. Porém, o códex Parisinus Latinus 7994, também do séc XIII, apresenta a forma dic age, possível corruptela de disce age, mantendo o verbo no plural. Apesar de ser uma ideia interessante e ainda discutível, preferimos em nossa tradução nos ater à forma tradicional como é encontrado: discite, no plural.

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Sobre esse verso ainda, alguns pesquisadores também supõem que pode ter havido uma lacuna entre a introdução e o restante do poema, pela mudança de segunda pessoa do plural para a segunda pessoa do singular. (GARCÍA, 1996, p. 80). Nesse caso, Ovídio se dirigiria a alguma interlocutora específica, como uma musa ou uma deusa. Contudo, não há, em todo o receituário, nenhum vocábulo de representação feminina direta, nem mesmo um vocativo, como havia vários no proêmio. Também consideramos que mudança de pessoa dos versos sem que a interlocutora seja especificada deixa o texto com um tom mais impessoal, dando mais ênfase às receitas propriamente ditas.

O cosmético deve ser aplicado após o sono, logo ao acordar. O vocábulo cândida (Candida quo possint ora nitere modo), usado aqui para referir-se ao rosto (ora), é muito usual na poesia elegíaca; Corina é muitas vezes elogiada como cândida em Amores.

Após o par de verbos de introdução ao receituário, o praeceptor ensina o primeiro dos cinco cosméticos que compõe o poema:

Hordea, quae Libyci ratibus misere coloni, Exue de palea tegminibusque suis;

Par ervi mensura decem madefiat ab ovis, Sed cumulent libras hordea nuda duas.

Haec ubi ventosas fuerint siccata per auras, Lenta iube scabra frangat asella mola; Et quae prima cadent vivaci cornua cervo,

Contere in haec (solidi sexta fac assis eat), Iamque ubi pulvereae fuerint confusa farinae,

Protinus innumeris omnia cerne cavis; Adice narcissi bis sex sine cortice bulbos, Strenua quos puro marmore dextra terat,

Sextantemque trahat gummi cum semine Tusco Huc novies tanto plus tibi mellis eat:

Quaecumque afficiet tali medicamine vultum Fulgebit speculo levior illa suo

.(Medicamina, 53-68)

A cevada, que os colonos da Líbia enviam por navio, de suas palhas e suas cascas seja despida,

que seja em dez ovos encharcada igual quantia de ervilha, mas a duas libras deve chegar a nua cevada

Estando, pelo vento tempestuoso, já tudo seco,

faz com que uma jumenta esmague tudo devagar em uma mó bruta Triture o primeiro chifre a cair de um cervo,

faz com que o peso de duas libras do chifre entre na mistura. Misturada a farinha fina,

72 de imediato peneire os grãos em peneira bem fechada.

Adicione, sem a casca, doze bulbos de narciso

que a mão destra deve esmagar em mármore limpo;

então, no peso de duas onças, junte à goma com sementes de olíbano; nove vezes a quantidade de mel seja adicionada a isto.

Qualquer mulher que aplicar tal cosmético no rosto

resplandecerá mais radiante do que seu próprio espelho

As receitas apresentadas foram presumivelmente retiradas de algum tratado escrito em prosa por um farmacólogo, não se tratam de invenção do poeta. Watson (2001, p. 458) compara a obra a uma espécie de reescrita poética de um tratado científico, com os trabalhos de Arato e Nicandro de Cólofon, escritores gregos do século II conhecidos pela sua poesia didática técnica. A autora aponta que Medicamina assemelha-se muito a Nicandro nas descrições das receitas, pelo zelo aos detalhes, o que percebemos pela atenção dada às medidas dos ingredientes.

Com efeito, essa atenção aos detalhes nos faz pensar se, de fato, algumas de suas leitoras chegaram a produzir suas receitas. Presumivelmente, sim. Johnson (2016, p. 122) aponta que a fava era muito utilizada pelos romanos em remédios, tanto os medicinais como os cosméticos, assim como o mel e a aveia, por propriedades anti-inflamatórias reconhecidas até hoje, sendo empregados na atualidade em receitas caseiras para tratamento do rosto, assim como os ovos, também citados.

Dos chifres do cervo triturado extraía-se uma farinha (Et quae prima cadent vivaci cornua cervo). Em uma rápida pesquisa sobre o assunto, verificamos que esse carbonato ainda é muito utilizado na indústria farmacêutica, embora o processo para obtê-lo tenha se modernizado. O produto vindo diretamente dos chifres do animal ainda pode ser encontrado em lojas de insumos naturais, especialmente na Europa. A obtenção não agride a natureza, já que os cervídeos trocam a galhada periodicamente.

O ingrediente pedido por Ovídio é especificamente o primeiro chifre a cair do cervo. Embora o poeta tenha condenado energeticamente o uso de magia, podemos entender uma alusão a um ritual nesse conselho, afinal, o primeiro chifre não deveria ser diferente dos outros, ao menos não encontramos indícios científicos que apontam para alguma diferença biológica entre eles. Há também a possibilidade desse primeiro chifre simplesmente aludir à juventude, à pureza e ao vigor do animal.

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Os bulbos do narciso eram ingredientes usuais na produção de cosméticos, especialmente quando misturados com mel (Adice narcissi bis sex sine cortice bulbos). O uso do vocábulo puro para qualificar mármore passa igualmente a ideia de pureza dos ingredientes (Strenua quos puro marmore dextra terat). Os últimos ingredientes são a goma, a qual Ovídio não especifica que tipo deve ser usado, e as sementes de olíbano, muito usadas para fabricação de incensos. O poeta termina a primeira receita prometendo que a mulher que usá-la terá o rosto mais resplandecente do que um espelho.

Apesar do já apontado excesso de detalhes da receita, podemos perceber que há uma certa sensualidade nos versos: a cevada deve estar nuda – nua – para ser utilizada, um vocábulo muito mais utilizado para o corpo desnudo feminino do que para a cevada descascada. Assim como tegminibus, usado para a casca da ervilha, significa primeiramente vestuário.

Do mesmo modo que a cevada não deve estar só sem pele, mas literalmente nua, as ervilhas não são simplesmente descascadas, elas são despidas de suas cascas. Há uma comparação aí, ainda que sutil, entre os cereais e o corpo feminino a ser desnudado.

Em seguida, a segunda receita:

Nec tu pallentes dubita torrere lupinos,

Et simul inflantis corpora frige fabae: Utraque sex habeant aequo discrimine libras,

Utraque da nigris comminuenda molis; Nec cerussa tibi nec nitri spuma rubentis Desit et Illyrica quae venit iris humo; Da validis iuvenum pariter subigenda lacertis Sed iustum tritis uncia pondus erit;

(Medicamina, 69-76) Não hesite em torrar tremoços claros,

Simultaneamente, frite as favas que acrescem os corpos: Que cada um deles tenha o peso igual de duas libras.

Que cada um seja diminuído numa mó negra.

Que não faltem o alvaiade nem a espuma do natrão vermelho, assim como o lírio que vem do solo da Ilíria.

Dê tudo para ser amassado por braços vigorosos de jovens, E que o peso justo depois de esmagado seja de uma onça.

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Os tremoços, uma leguminosa comum, devem ser torrados para o uso. Rimell (2005, p.198) observa que as qualidades pertencentes aos ingredientes serão transferidas para a face da mulher, por isso os tremoços são claros, pois seria essa a tonalidade que a mulher desejaria para sua face. Da mesma forma, a brancura do alvaiade, no verso 73, é combinado com o vermelho do nitrão, como se fosse um ruge.

Como expedientes de natureza poética, podemos notar que a anáfora de utraque nos versos 71 e 72, pares de hexâmetro e pentâmetro, contribui para equilibrar o ritmo da leitura. Também percebemos que o poeta faz um jogo de palavras entre a receita e o par de versos hexâmetro e pentâmetro: os mesmos ingredientes que estavam no hexâmetro, as favas e os tremoços, são diminuídos no pentâmetro, assim como o pé métrico é diminuído entre um verso e outro. Embora pareça algo sem importância, não podemos deixar de admirar e comentar todo o esforço artístico de Ovídio para tornar algo de conteúdo tão científico como uma receita em uma poesia, que não só deveria ensinar, mas também, e acima de tudo, encantar.

Da mesma forma que na primeira receita tudo deveria ser esmagado vigorosamente por mão destra, agora o poeta aconselha que sejam os ingredientes esmagados por validis lacerdis – braços vigorosos. Claro que o resultado será o mesmo, tudo será misturado e esmagado, mas notamos novamente uma pitada de sensualidade com a expressão validis lacerdis.

Addita de querulo volucrum medicamina nido Ore fugant maculas (alcyonea vocant); Pondere, si quaeris, quo sim contentus in illis:

Quod trahit in partes uncia secta duas; Ut coeant apteque lini per corpore possint,

Adice de flavis Attica mella favis.

(Medicamina, 77-82) Cosméticos adicionais são tirados do ninho das ruidosas aves,

que desaparecem com as máculas do rosto (chamam de alciônea, a ave) Se quer saber com quanto me contento:

que por dois seja dividida uma onça.

Para tudo mesclar e ser passado no corpo facilmente, adicione mel de favos dourados da Ática.

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Essa é uma receita específica para acabar com manchas no rosto ou no corpo. Consta somente de dois ingredientes: o cosmético retirado do ninho da ave alciônea (alcyonea) e o mel da Ática (Adice de flavis Attica mella favis).

A ave alciônea a qual Ovídio se refere é, provavelmente, o guarda-rios. O poeta voltará a esse tema posteriormente, nas Metamorfoses, livro XI, quando narra o destino da pobre Alcíone e seu amado Ceix, transformados em pássaros por ousarem chamar a si mesmo de Hera e Zeus. Mendonça (1994, p. 101) apresenta como comentário em sua tradução que os autores antigos não sabiam exatamente qual substância deveria ser extraída do ninho desse pássaro. Johnson (2016, p.47) nos lembra que a tal substância é mencionada por Aristóteles, Hipócrates e Plínio, e existiriam vários tipos de substâncias alciôneas, que seriam, basicamente, variações de um tipo de esponja marinha com a qual essas aves fazem seu ninho. Existe a possibilidade de Ovídio ter mencionado o ninho como uma referência ao mito, muito mais do que a substância em si.

São as medidas a faceta interessante da receita (Quod trahit in partes uncia secta duas; Ut coeant apteque lini per corpore possint). A quantidade exata deve ser observada, como bem exposto nos versos seguintes – da quarta receita:

Quamvis tura deos irataque numina placent, Non tamen accensis omnia danda focis:

Tus ubi miscueris radenti corpora nitro, Ponderibus iustis fac sit utrumque triens;

Parte minus quarta direptum cortice gummi Et modicum e murris pinguibus adde cubum; Haec ubi contrieris, per densa foramina cerne; Pulvis ab infuso melle premendus erit

(Medicamina, 83-90) Embora o incenso aplaque os deuses e suas vontades furiosas,

nem todo, porém, deve ser oferecido às lareiras acesas. Misture o incenso com o nitrão que amacia os corpos,

assegure-se de que cada um tenha o peso exato de um terço de libra. Adiciona a goma extraída da casca, tirando um quarto,

e também um modesto cubo de oleosa mirra. Esmague tudo, depois passe em um filtro apertado. O pó deverá ser batido em mel derramado.

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Para lidar com o incenso, Ovídio lembra de maneira divertida do uso do ingrediente nos rituais religiosos, como oferecimento aos deuses. O poeta não recrimina o uso, só avisa suas leitoras que podem guardar um pouco para a produção desse cosmético. O nitrão é usado novamente, agora com incenso e uma goma. Tudo deve ser misturado também à mirra, um produto importado da Arábia, usado até hoje em cremes que combatem a acne.

O incenso e o nitrão devem apresentar “cada um” o peso exato de um terço de libra; de toda “a goma extraída da mirra”, deve ser usado apenas um quarto e apenas uma modesta quantia de “oleosa mirra”. E tudo sempre regado a mel.

Para que a quantidade não seja excessiva, o vate continua acentuando a exata quantidade das poções, como vemos na quinta e última receita:

Profuit et marathros bene olentibus addere murris, (Quinque parent marathri scripula, murra novem) Arentisque rosae quantum manus una prehendat, Cumque Ammoniaco mascula tura sale;

Hordea quem faciunt, illis affunde cremorem; Aequent expensas cum sale tura rosas:

Tempore sis parvo mollis licet inlita vultus, Haerebit toto nullus in ore color.

(Medicamina, 91-98) É útil também misturar funcho à mirra bem perfumada

(o funcho deve pesar cinco escrópulos, a mirra, nove) E o quanto couber numa mão de secas rosas

com incenso macho e sal amoníaco. Entorna sobre eles o creme que a cevada faz,

O incenso junto com o sal deve igualar o peso das rosas Mesmo que seja espalhado por pouco tempo em rosto delicado, nenhuma mancha ficará presa em toda a face.

O “incenso junto com o sal”, por exemplo, “deve igualar o peso das rosas”. A preocupação com a quantidade nos lembra do cuidado que o vate tem com suas receitas, para que não se transformem em desastres, trazendo máculas à face da mulher. Mais uma vez, retomamos, de sua Ars Amatoria, o cuidado que o vate teria com seu livrinho: “Est mihi, quo dixi vestrae medicamina formae/ Parvus, sed cura grande, libellus, opus - Ars III, v. 205-6).

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Rimell (2005, p.54) chama a atenção aos versos 91 e 92, nos quais a disposição com os termos marathros/marathrie; murris/murra lembra, esteticamente, a balança de um farmacólogo, pesando o funcho e a mirra:

Profuit et marathros bene olentibus addere murris, (Quinque parent marathri scripula, murra novem)

Obviamente não sabemos ter sido essa a intenção de Ovídio, pois o recurso da repetição é muito utilizado na poesia latina para empregar ritmo à obra, como vemos nos versos 94 e 96: tura sale/ sale tura. Ainda assim, é uma observação interessante, demonstrando como o artifício de poeta não se perde no meio da precisão das receitas.

Ovídio acrescenta alguns ingredientes a outros que já haviam sido citados: o funcho, o sal amoníaco e as rosas. Vemos o incenso – tuna – sendo usado novamente, mas, dessa vez, o poeta faz questão de especificar que deve ser o incenso macho – mascula tura. Pesquisando o termo, vimos que o mesmo ainda é usual, e pode se referir tanto a um incenso de qualidade mais alta como àquele que vem da primeira casca da árvore.

Encontramos certa dificuldade em traduzir o verso 98, pelo uso da palavra color em conotação negativa, de algo que deve ser retirado do rosto. Pesquisando mais a respeito, verificamos que existe a possibilidade desse verso estar corrompido, pela substituição de multus por nullus (GARCIA, 1996, p. 89), o que modificaria completamente o sentido do verso. Com o uso de nullus associado a color, precisamos traduzir color com um sentido negativo, de algo ruim, já que o objetivo da utilização do cosmético é de que não permaneça color na face. Nesse contexto, traduzimos como mancha, por se aproximar relativamente à ideia de cor e porque, em outra receita acima, o poeta já havia se preocupado com a retirada de manchas da pele, mas utilizara o vocábulo macula (verso 78). Garcia (1996, p. 89), porém, sugere que o vocábulo color, na Antiguidade, somente era usado com conotações positivas, e seria estranho que, ao dar garantias da eficácia de sua receita, Ovídio dissesse que o rosto da usuária ficaria “sem cor” ao usar o cosmético. Rosati (apud GARCIA, 1996, p.89) também expõe que color poderia ter o sentido de “cor natural do rosto”, uma cor saudável. Sendo assim, talvez a receita seja para combater a palidez excessiva, ao invés das manchas. Isso também parece caber mais no contexto da receita, que se utiliza de rosas, conhecidas não só pelo seu perfume delicado, mas também por sua propriedade de proporcionar um rubor leve.

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Analisemos, por fim, os dois últimos versos com os quais o poema termina:

Vidi, quae gelida madefacta papavera lympha Contereret teneris in lineretque genis...

(Medicamina, 99-100) Vi alguém molhar papoulas na água gélida

E esmagá-las em sua tenra face...

Nesses versos, o poeta recomenda o uso da papoula, que, assim como as rosas, proporcionava um efeito de ruge no rosto (JOHNSON, 2016, p. 164).

Infelizmente, o poema termina aqui, abruptamente. Mesmo considerando que o praeceptor, na Ars Amatoria III, havia dito que era um parvus libellus, o final, sem qualquer tipo de conclusão ou fechamento, dá a entender que os últimos versos foram perdidos, corroborando com o que já havíamos exposto acima, sobre o proêmio ser muito extenso em relação ao restante do texto.

Toohey (1996, p. 162) sugere que Medicamina tivesse originalmente 800 versos, e ainda assim seria considerado por Ovídio como parvus, em comparação as suas outras obras. Acreditamos que talvez 800 versos ultrapassem o limite para um poema ser considerado pequeno. Já Watson (2001, p. 142) supõe que o poema deveria ter cerca de 500 versos, como o primeiro livro das Geórgicas, ao qual Ovídio claramente alude, este contendo 514 versos, com um proêmio de 42 versos. Podemos conjecturar, mas provavelmente nunca saberemos com certeza qual era o tamanho original.

Temos que lidar com a obra com o que dela restou. Nossas reflexões fazem parte de um resgate historiográfico, que se juntará a tantos outros estudos que pontuam e problematizam mais ainda questões proeminentes e caras à literatura. Quando se trata de textos antigos, defendemos que essas problematizações contribuem significativamente para a compreensão de uma obra.

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