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2 O PAPEL DO VENTURE CAPITAL NO FINANCIAMENTO DA EMPRESA

2.3 A SOLUÇÃO VENTURE CAPITAL

2.3.4 REMUNERAÇÃO

Em gestoras de venture capital a estrutura de remuneração do gestor está orientada ao resultado trazido aos seus investidores originários (e.g. fundos de pensão, family

offices, fundos de endownment, bancos de desenvolvimento, etc.), também referidos como limited partners. Como gestores dos recursos financeiros disponibilizados por investidores

originários, os gestores têm como dever fiduciário33 de maximização do retorno sob o capital investido. Todavia, os investidores originários não dispõem de mecanismos de monitoramento das atividades dos gestores de seu capital, depositando sua confiança nos momentos de prestação de contas anuais ou até aguardando o fim do ciclo de investimento para verificar qual foi o retorno obtido (GOMPERS; LERNER; 2001, p. 54).

Por essa razão, a estrutura de remuneração de gestoras é encarada como uma ferramenta de alinhamento de expectativas entre os investidores originários e os gestores de seus recursos. Por essa razão, a maior parte da remuneração oferecida às gestoras baseia-se em uma participação sobre os resultados agregados obtidos nos investimentos em empresas

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Nos Estados Unidos, dever fiduciário ou fiduciary duty é definido como uma obrigação que uma parte tem de zelar pelo melhor interesse de uma outra parte, empregando esforços e cuidados para que ela não seja prejudicada. No contexto de investimentos de venture capital, este é o dever que o gestor de um fundo tem perante os seus investidores, pessoas que disponibilizaram os seus recursos para o investimento em empresas nascentes de base tecnológica e esperam o maior retorno possível sobre o seu investimento. Qualquer ação por parte do gestor de recursos que possa ser interpretada como prejudicial à maximização do retorno sobre o investimento realizado, como a recusa de uma oferta de compra da empresa nascente por parte do gestor, pode gerar a responsabilização do gestor e o pagamento de uma indenização aos investidores. Para maior aprofundamento, conferir o dicionário jurídico da Cornell University, disponível em: <https://www.law.cornell.edu/wex/fiduciary_duty>. Último acesso: 07.02.2018.

investidas (SAHLMAN, 1990, p. 491; GOMPERS; LERNER; 2001, p. 54; DE VRIES; VAN LOON, 2016, Kindle Edition).

Desse modo, a metodologia de organização de investimentos de venture capital estrutura a remuneração de gestores de duas formas: (i) um pagamento fixo anual, remunerando as suas atividades de gestão de recursos financeiros; e (ii) um percentual de participação nos resultados obtidos após os investimentos realizados, remunerando os seus esforços de maximização do retorno sobre o investimento realizado pelos investidores originários (GOMPERS; LERNER, 2006, Kindle Edition).

No pagamento fixo anual, o valor é fixado com base em um percentual sobre todo o capital administrado pelo venture capitalist, que, a depender do gestor e do perfil do investidor originário, pode variar entre 1.5 e 3%. Já a remuneração baseada na participaçãodo gestor sobre os resultados no investimento correspondem a 20% do retorno obtido no total dos investimentos realizados (GOMPERS; LERNER, 2006, Kindle Edition).

Mesmo que a estrutura de remuneração tenha se mantido estável desde os anos de 1970, a parcela de participação dos gestores sobre o resultado obtido variou nos últimos anos, ampliando a participação dos investidores originários nos resultados obtidos. Em 1980, por exemplo, o percentual de participação nos resultados obtidos pelos investimentos realizados era em média de 60%, restando 40% de participação para os investidores originários. Em 1992, essa proporção se inverteu, passando para os patamares atuais de 20% para os venture

capitalists e 80% para os investidores originários (GOMPERS; LERNER, 2006, Kindle

Edition).

Segundo Paul A. Gompers e Josh Lerner (2006, Kindle Edition), as variações na participação sobre o resultado do investimento respondem a dois momentos distintos da evolução do investimento de venture capital, o aumento da concorrência entre gestoras de

venture capital a partir dos anos de 1980 e a ampliação dos valores fixos pagos a título de

administração dos recursos disponibilizados para investimento. Na visão dos autores, o crescimento do número de gestoras de venture capital buscando por captação de recursos no mercado alterou as condições de remuneração dos gestores, criando o modelo que temos atualmente.

Mesmo nos momentos em que o retorno esperado não se concretizava ao final do ciclo de investimento em startups, como no caso da crise das empresas dot-com no começo dos anos 2000, a proporção de 80-20 na participação sobre o resultado nos investimentos realizados se manteve como modelo que melhor se alinha aos interesse entre investidores originários e o gestores de recursos (GOMPERS; LERNER, 2006, Kindle Edition).

Uma lógica muito semelhante de remuneração é aplicada por gestores em sua relação com os empreendedores em empresas investidas. Nas negociações que antecedem o ingresso do investidor na startup um dos tópicos tratados é a remuneração dos membros atuais da empresa e a construção de uma política de remuneração para futuros ingressantes. Neste momento, o investidor busca reduzir ao mínimo a remuneração fixa (e.g. pró-labore, salário, etc.) e aumentar ao máximo a remuneração variável (e.g. stock-option, vesting, etc.) de empreendedores e outros membros da empresa investida (GOMPERS; LERNER, 2001, p. 54).

Além disso, gestores também buscam utilizar instrumentos de remuneração variável, como stock options34, como ferramenta de retenção de empreendedores talentosos, criando disposições contratuais que permitam que na hipótese de sua saída da empresa ele perca a sua participação societária futura (GOMPERS; LERNER, 2001, p. 54).

Outra disposição que impacta a remuneração do empreendedor na empresa investida é a possibilidade de diluição da participação societária de seus fundadores quando os objetivos traçados em uma das etapas do investimento não são alcançados. Como forma de sanção aos empreendedores, o gestor prevê contratualmente a possibilidade de que se as metas traçadas não forem alcançadas, um novo investimento de sua parte só irá ocorrer se a participação de empreendedores for reduzida, passando parte dela para o investidor (DE VRIES; VAN LOON, 2016, Kindle Edition).

Esses mecanismos contratuais conferem maior controle do investidor sobre os empreendedores na empresa de alto potencial de crescimento, criando incentivos para que as metas de desenvolvimento tecnológico, por exemplo, sejam cumpridas. Nenhum empreendedor deseja perder parte de sua participação no empreendimento que criou em razão do não cumprimento de objetivos que ele mesmo concordou em perseguir.