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Capítulo 1 – A SEXUALIDADE NA VISÃO DE REFERENCIAIS CLÁSSICOS E

1.5 Uma Perspectiva Contemporânea

1.5.3 Repercussão no Brasil

No Brasil a repercussão de toda a teoria levantada sobre a sexualidade conforme já apontada teve grandes debatedores e defensores de uma liberdade, principalmente por artistas, cantores e atores, e também políticos que buscaram não apenas defender seus ideais como também fazê-lo aceitos na sociedade, sempre com o intuito de defesa de um amor livre de regras, sejam elas quais forem, como bonito e louvável.

Nelson de Souza Carneiro (1910-1996), jornalista baiano, deputado federal entre 1951 e 1971 e senador entre 1971 e 1995, propôs ainda como deputado pelo PSD18, na década de 1950, projeto lei que possibilitaria o divórcio. Com a Emenda Constitucional número 9 de 28 de junho de 1977, aprova-se a “Lei do Divórcio”19, encabeçada pelo já eleito senador Carneiro, que, contrariando o que a igreja pregava, dava a oportunidade de uma pessoa casar-se novamente por uma vez mais20.

Não havia, portanto, nada mais que pudesse, a partir de então, deixar presa uma pessoa à outra, no que diz respeito ao casamento, se não houvesse um mútuo consentimento de permanecerem juntos. Independentemente dos

17 Grupos se levantaram contra o que entendiam ser imperialismo norte-americano que, tomou partido na Guerra do Vietnã (1955-1975) pela parte sul daquele país que havia se levantado contra o norte (autodenominados República do Vietnã e República Democrática do Vietnã respectivamente), sendo, portanto, essa última, apoiada pelos países comunistas. Dentre os que apoiaram o levante contra as ações norte-americanas liderados pelo governo Lyndon Jhonson, que culminou em 1967 com o “Verão do Amor”, o pastor batista Martin Luther King (1929-1968), e seu amigo e companheiro de ideologia Benjamin Spock (1903-1998), um pediatra, chamado de “pai da permissividade”. Este último, em seu livro “Guia dos Jovens: A Vida e o Amor”, editado em 1979 pela Publicações Europa-América, defende que o sexo é a demonstração pura do amor.

18 Partido Social Democrático, fundado em 1945, sendo extinto pela Ditadura Militar vinte anos depois, sendo, em 1987 refundado e sendo incorporado em 2003 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

19 Lei 6515 de 26 de dezembro de 1977.

20 Apenas com a Constituição de 1988 foi permitido que uma mesma pessoa pudesse casar novamente quantas vezes entendesse ser necessária, sem restrição alguma, de acordo com lei 7841/89.

motivos alegados, um divórcio, agora legalizado, dá a opção de escolhas e consertos daquilo que, de maneira errônea, foi seguido.

Ainda sobre o relacionamento conjugal, mesmo não sendo considerado como ato criminoso, passível de reclusão, a partir da Lei 1106/05, já que não traz ofensas à sociedade, o adultério, segundo o Código Civil Brasileiro21 o aponta como uma violação de deveres que precisariam ser cumpridos e que, a sua falha, propicia ao ofendido a possibilidade de ser, legalmente, indenizado pelo ofensor. Nesse caso, a Lei permite o cometer uma ofensa, desde que se pague financeiramente por esta, se o outro lado assim requerer, e, formalizar um divórcio, já que se subentende que a manutenção de um casamento é sinal de um perdão, e como tal, não se pode haver punição por esse erro.

Ainda em se tratando sobre leis brasileiras que atingem a sexualidade, pode ser notada outra situação, por parte do legislativo federal, que são os projetos de lei apresentados com intuito de um favorecimento em prol da união homo afetiva.

Em 1995 a então deputada federal pelo PT Martha Suplicy apresentou à Câmara um projeto de lei, que recebeu o número 1151/95, com o nome de Projeto de Parceria Civil Registrada entre pessoas do mesmo sexo, onde na ementa lê-se: “Disciplina a união civil entre pessoas do mesmo sexo e dá outras providências”.

Por meio da aprovação de tal projeto, pessoas do mesmo sexo que mantivesse relação homo afetiva teriam direitos similares aos que possuem os casais heterossexuais que tem seu relacionamento oficializado22.

21Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família. § 1o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. § 2o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas ou públicas; Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II - vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência; IV - sustento guarda e educação dos filhos; IV - sustento guarda e educação dos filhos; V - respeito e consideração mútuos.

22Registro no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais (art. 2º); o estado civil dos contratantes não pode ser alterado durante a vigência da união civil (art. 2º, §2º); contrato deve ser lavrado num Ofício de Notas (tabelionato), devendo dispor sobre patrimônio, deveres, impedimentos e obrigações mútuas (art. 3º); extinção pela morte ou decretação judicial (art. 4º); motivos para a extinção da união civil:

infração contratual ou desinteresse na sua continuidade (art. 5º); o registro da união civil será averbado nos registros de nascimento e casamento das partes (passa a constar, assim, da própria certidão de nascimento ou casamento) (art. 7º); o imóvel próprio e comum aos contratantes é impenhorável, nos mesmos termos do bem de família (art. 10); o companheiro homossexual é equiparado ao companheiro heterossexual para fins previdenciários do INSS (art. 11); o companheiro homossexual é equiparado ao

Esse projeto serviu como um marco para as discussões sobre a questão de união homo afetiva aqui em nosso país, em que, em sendo aprovado poderia trazer grandes modificações em questões estruturais de uma configuração familiar.

Neste contexto, as lutas políticas dos homossexuais , com vistas ao reconhecimento de suas relações amorosas estáveis como ordem familiar, somam-se a outros questionamentos e transformações que já vem colocando na ordem do dia a necessidade de compreensão da família e do casamento como construções socioculturais dinâmicas, mutáveis e capazes de incorporar um leque cada vez maior de situações e formas de expressão e manifestação das trocas afetivos-sexuais entre seres humanos (MELLO, 2005, p. 28-29)

Mesmo causando grande impacto e discussões sobre o tema não apenas no campo dos políticos, bem como também em toda a sociedade, tal projeto de lei, após ficar por anos sendo discutido nas comissões nomeadas para tal, e com muitas alterações e substitutivos que modificaram o texto original, até o presente momento não foi levado ao plenário para votação.

No ano de 2001, a também deputada federal pelo PT, Iara Bernardi, encaminha à Câmara dos Deputados um projeto de lei sob o número 5003/2001 o chamado “PL da Homofobia” com a seguinte ementa “Determina sanções às práticas discriminatórias em razão da orientação sexual das pessoas”.

Em 2005, o também deputado federal pelo PT Luciano Zica, modifica o texto original to texto apresentado pela deputada Iara, propondo uma alteração na Lei Federal 7716/8923 que previa sanções criminais resultantes de companheiro heterossexual para fins de recebimento de benefício previdenciário e inclusão na família de servidor público federal (art. 12); previsão de que estados e municípios disciplinem sobre os benefícios previdenciários do companheiro homossexual (art. 13); garantia de direitos sucessórios (herança) equiparados ao companheiro heterossexual; preferência para exercer a curatela (responsável legal) no caso de perda de capacidade do contratante (art. 15); redução do tempo de residência necessário para naturalização do companheiro homossexual estrangeiro, equiparando ao cônjuge e companheiro heterossexual (art. 16) raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero”; "Artigo 4º: Praticar o empregador, ou seu preposto, atos de dispensa direta ou indireta. Pena: reclusão de 2 a 5 anos; "Artigo 8º-A: Impedir ou restringir a expressão e a manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao público, em virtude das

discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O Novo texto foi elevado ao Senado, recebendo uma nova numeração PLC 122/2006 onde, após anos sendo discutida, acabou sendo arquivada, já que não houve consenso entre os senadores que compunham a Comissão de Direitos Humanos, em 2015 de acordo com Regras do Regimento Interno que determina que todas as propostas tramitando a mais de duas legislaturas sejam arquivadas, após o final da terceira legislatura.

Com a possibilidade da aprovação da PLC 122, muitos grupos, entre eles cristãos católicos e protestantes entregaram, em 2011, após um protesto realizado em frente ao Congresso Nacional, um abaixo-assinado com mais de um milhão de assinaturas afirmando que a lei feriria a liberdade religiosa, criando uma casta privilegiada.

Advogado Ives Gandra da Silva Martins, especialista em direito constitucional, afirma em uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo que,

"apesar de não ver qualquer inconstitucionalidade no projeto de lei", que tem receios quanto aos efeitos do projeto, dizendo que explicitar demais o problema pode levar à discriminação às avessas, como, por exemplo, uma possível proibição de leituras de "textos sagrados" que criticam a prática homossexual.

(MACHADO, 2010)

Tentando resolver o imbróglio, a senadora Martha Suplicy, relatora do PLC, modifica o texto, visando um acordo com as entidades religiosas, ficando características previstas no artigo 1º desta lei. Pena: reclusão de dois a cinco anos; Artigo 8º-B: Proibir a livre expressão e manifestação de afetividade do cidadão homossexual, bissexual ou transgênero, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãos ou cidadãs. Pena: reclusão de dois a cinco anos; “Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares ou locais semelhantes abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos. Parágrafo único: Incide nas mesmas penas aquele que impedir ou restringir a expressão e a manifestação de afetividade em locais públicos ou privados abertos ao público de pessoas com as características previstas no art. 1º desta Lei, sendo estas expressões e manifestações permitida às demais pessoas”; Artigo 16º, parágrafo 5ª: O disposto neste artigo envolve a prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica; “Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero. Pena: reclusão de um a três anos e multa”. Art. 3ºO § 3º do art. 140 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, passa a vigorar com a seguinte redação: “§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero. Art. 4ºEsta Lei entra em vigor na data de sua publicação."

Senado Federal, Tramitação do PLC 122/06, parecer da CAS.

assim: "não se aplica à manifestação pacífica de pensamento decorrente da fé e da moral fundada na liberdade de consciência, de crença e de religião”.

Entretanto, a mudança causou reprovação por parte dos defensores dos direitos dos homossexuais dizendo que o mesmo descaracterizaria o objetivo original da lei.

As representações sociais relativas à família vêm sofrendo alterações significativas no Brasil e no mundo. Neste contexto, as lutas de lésbicas e gays pela conquista de legitimidade social para as suas relações amorosas apontam para questionamentos profundos dos fundamentos estruturadores do ideário da família conjugal. (MELLO, 2005, p. 17).

Em 2013, o deputado federal Jean Willys do PSOL, apresenta um projeto, denominado “Lei João W. Nery”, sob a ementa: “Dispõe sobre o direito à identidade de gênero e altera o art. 58 da Lei nº 6.015 de 31 de dezembro de 1973”, que traria uma condição a uma pessoa que sente em seu íntimo o gênero que possui independentemente de corresponder o sexo que lhe foi atribuído após o nascimento.

Com a aprovação da lei, o Sistema Único de saúde (SUS) será, juntamente com os planos médicos de saúde, obrigados a realizar cirurgia de mudança de sexo a qualquer cidadão que queira realizá-lo em sendo maior de 18 anos, permitindo a este a mudança em seus documentos pessoais do sexo.

Para menores de 18 anos o requerimento para a mudança de sexo, sendo por tratamento cirúrgico ou hormonal, será feito pelos responsáveis legais que, em não autorizando, darão ao menor a condição de recorrer à Defensoria Pública que pode de maneira sumaríssima, autorizar, de acordo com o interesse deste adolescente.

O projeto está, após verificação por meio da Comissão de Direitos Humanos e Minoria, aprovado de acordo com seu relator, deputado Luiz Albuquerque Couto, com uma emenda, número 1, orientando que “suprimam-se do projeto o artigo 5º e “suprimam-seus § 1º e 2º, bem como a referência a ele, constante dos artigos 6º, 7º, e o § 2º do art. 8º”24, estando “Pronta para Pauta na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM)”.

24Artigo 5º - Com relação às pessoas que ainda não tenham dezoito (18) anos de idade, a solicitação do trâmite a que se refere o artigo 4º deverá ser efetuada através de seus representantes legais e com a expressa conformidade de vontade da criança ou adolescente, levando em consideração os princípios de capacidade progressiva e interesse superior da criança, de acordo com o Estatuto da Criança e do

A proposta original apresentada pelo deputado do PSOL traz como consequência a liberação de uma escolha sexual por parte do menor em detrimento ao que seus responsáveis legais entendem como correto para o mesmo de acordo com convicções que tenham. Isso pode implicar, automaticamente, numa entrada cada vez mais cedo à uma vida sexual ativa, já que numa liberação nessa área está intrínseca a “liberdade dos interesses e desejos do menor”.

Tantos projetos e leis criados demonstram o quanto a sociedade tem sido diretamente influenciada por questões relacionadas ao sexualismo. Com aprovação de algumas leis e outras ainda esperando um tempo para Adolescente. §1° Quando, por qualquer razão, seja negado ou não seja possível obter o consentimento de algum/a dos/as representante/s do Adolescente, ele poderá recorrer ele poderá recorrer a assistência da Defensoria Pública para autorização judicial, mediante procedimento sumaríssimo que deve levar em consideração os princípios de capacidade progressiva e interesse superior da criança. §2º Em todos os casos, a pessoa que ainda não tenha 18 anos deverá contar com a assistência da Defensoria Pública, de acordo com o estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Artigo 6º - Cumpridos os requisitos estabelecidos nos artigos 4º e 5º, sem necessidade de nenhum trâmite judicial ou administrativo, o/a funcionário/a autorizado do cartório procederá: I - a registrar no registro civil das pessoas naturais a mudança de sexo e prenome/s; II - emitir uma nova certidão de nascimento e uma nova carteira de identidade que reflitam a mudança realizada; III - informar imediatamente os órgãos responsáveis pelos registros públicos para que se realize a atualização de dados eleitorais, de antecedentes criminais e peças judiciais. §1º Nos novos documentos, fica proibida qualquer referência à presente lei ou à identidade anterior, salvo com autorização por escrito da pessoa trans ou intersexual.

§2º Os trâmites previstos na presente lei serão gratuitos, pessoais, e não será necessária a intermediação de advogados/as ou gestores/as. §3º Os trâmites de retificação de sexo e prenome/s realizados em virtude da presente lei serão sigilosos. Após a retificação, só poderão ter acesso à certidão de nascimento original aqueles que contarem com autorização escrita do/a titular da mesma. §4º Não se dará qualquer tipo de publicidade à mudança de sexo e prenome/s, a não ser que isso seja autorizado pelo/a titular dos dados. Não será realizada a publicidade na imprensa que estabelece a lei 6.015/73 (arts. 56 e 57). Artigo 7º - A Alteração do prenome, nos termos dos artigos 4º e 5º desta Lei, não alterará a titularidade dos direitos e obrigações jurídicas que pudessem corresponder à pessoa com anterioridade à mudança registral, nem daqueles que provenham das relações próprias do direito de família em todas as suas ordens e graus, as que se manterão inalteráveis, incluída a adoção. §1º Da alteração do prenome em cartório prosseguirá, necessariamente, a mudança de prenome e gênero em qualquer outro documento como diplomas, certificados, carteira de identidade, CPF, passaporte, título de eleitor, Carteira Nacional de Habilitação e Carteira de Trabalho e Previdência Social. §2º Preservará a maternidade ou paternidade da pessoa trans no registro civil de seus/suas filhos/as, retificando automaticamente também tais registros civis, se assim solicitado, independente da vontade da outra maternidade ou paternidade; §3º Preservará o matrimônio da pessoa trans, retificando automaticamente também, se assim solicitado, a certidão de casamento independente de configurar uma união homoafetiva ou heteroafetiva. §4º Em todos os casos, será relevante o número da carteira de identidade e o Cadastro de Pessoa Física da pessoa como garantia de continuidade jurídica. Artigo 8º - Toda pessoa maior de dezoito (18) anos poderá realizar intervenções cirúrgicas totais ou parciais de transexualização, inclusive as de modificação genital, e/ou tratamentos hormonais integrais, a fim de adequar seu corpo à sua identidade de gênero auto-percebida. §2º No caso das pessoas que ainda não tenham de dezoito (18) anos de idade, vigorarão os mesmos requisitos estabelecidos no artigo 5º para a obtenção do consentimento informado.

receberem a chancela legal, pode-se esperar ainda uma efervescência de grupos prós ou contra tais projetos e leis e, assim, uma mudança também no comportamento da sociedade em que o cidadão está inserido.

CAPÍTULO 2 – SEXUALIDADE, BÍBLIA, IGREJA

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