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Capítulo 1 – A SEXUALIDADE NA VISÃO DE REFERENCIAIS CLÁSSICOS E

1.5 Uma Perspectiva Contemporânea

1.5.1 Simone de Beauvoir

Após verificarmos alguns expoentes das principais áreas humanas que tratam sobre a sexualidade de acordo com seus conceitos, trataremos aqui de pessoas que se influenciaram com tais pensamentos e que, também, se tornaram grandes nomes em nossa época.

Simone de Beauvoir (1908-1986), foi uma filósofa francesa, manteve um relacionamento afetivo com um também filósofo francês Jean Paul Sartre (1905-1980), como uma escolha pessoal que preferiu não casar-se para poder dedicar-se com mais esmero aos seus estudos e sua carreira, mesmo tendo vivido de maneira marital com este, entretanto num relacionamento aberto.

Beauvoir passou grande parte de sua vida como filósofa preconizando suas ideias tratando sobre a sexualidade bem como um interesse em defender o feminismo. Tendo seu “marido” se inspirado no antropólogo Levi-Strauss, e, tendo os dois convivido mais de perto com o psicanalista Freud e o Sociólogo Weber e sua esposa Marianne, desenvolveu ideias semelhantes no que tangue a vida sexual.

Em 1949, lança sua obra “O Segundo Sexo”, onde, de maneira contundente expõe a condição da mulher como sendo uma força, ou posição, inferior ao homem por conta não de aspectos biológicos e sim por condições sociais e históricas.

Analisando a biologia que aponta animais assexuados onde não precisariam de outro para haver a procriação de sua espécie, Beauvoir,

fazendo uma analogia com a composição de um formigueiro com a rainha e zangões, aponta que macho e fêmea estariam escravizados por meio de sua sexualidade, o primeiro por meio de sua individualidade, morrendo após a fecundação, e a segunda por conta da manutenção da mesma.

Nem entre as formigas, as abelhas e as térmitas, nem no caso da aranha ou do louva-a-deus, pode-se dizer que a fêmea escraviza e devora o macho: é a espécie que, por vias diferentes, devora a ambos. (BEAUVOIR, 1989, p. 39)

Segundo a filósofa, a gestação para a mulher seria de sacrifícios, e que não traria nenhum benefício à esta. Fazendo, agora analogia aos mamíferos, expõe que quando um macho libera o espermatozoide de seu corpo, não fazendo este mais parte integrante de si, a fêmea é fecundada por um ser estranho á ela e que dela se alimenta.

Por meio de tais palavras, aponta para uma necessidade que a sociedade impõe à mulher de depender de um outro ser, o homem, que, lhe é apresentado como seu senhor e soberano, já que, essa mulher estaria para servir os desejos de paternidade, alojando em si a possibilidade de tal.

Com o advento do patriarcado, o macho reivindica acremente sua posteridade; ainda se é forçado a concordar em atribuir um papel à mulher na procriação, mas admite-se que ela não faz senão carregar e alimentar a semente viva: o pai é o único criador. Aristóteles imagina que o feto é produzido pelo encontro do esperma com o mênstruo; nessa simbiose a mulher fornece apenas uma matéria passiva, sendo o princípio masculino força, atividade, movimento, vida. É essa também a doutrina de Hipócrates, que reconhece duas espécies de sêmens: um fraco ou feminino e outro forte, masculino. A teoria aristotélica perpetuou-se através de toda a Idade Média e até a época moderna” (BEAUVOIR, 2009, p. 40).

Apontando teorias freudianas sobre a o desejo de dominação da mulher expõe que “o fato de o desejo feminino voltar-se para um ser soberano dá-lhe um caráter original, mas a menina não é constitutiva de seu objeto, ela o sofre”.

(BEAUVOIR, p. 63).

A mulher, não deveria, então, impor-lhe uma condição que a subjugue.

Precisa entender sua importância dentro de uma sociedade machista, procurando seus direitos para que “Sejam mulheres, permaneçam mulheres, tornem-se mulheres” (BEAUVOIR, 2009, p. 13).

A mulher? É muito simples, dizem os amadores de fórmulas simples: é uma matriz, um ovário; é uma fêmea, e esta palavra

basta para defini-la. Na boca do homem o epíteto “fêmea” soa como um insulto; no entanto, ele não se envergonha de sua animalidade, sente-se, ao contrário, orgulhoso se dele dizem: “É um macho!” O termo “fêmea” é pejorativo não porque enraíza a mulher na Natureza, mas porque a confina no seu sexo. E se esse sexo parece ao homem desprezível e inimigo, mesmo nos bichos inocentes, é evidentemente por causa da inquieta hostilidade que a mulher suscita no homem; entretanto, ele quer encontrar na biologia uma justificação desse sentimento. A palavra fêmea sugere-lhe um chusma de imagens: um enorme óvulo redondo abocanha e castra o ágil espermatozoide;

monstruosa e empanturrada, a rainha dos térmitas reina sobre os machos escravizados; a fêmea do louva-deus e a aranha, fartas de amor, matam o parceiro e o devoram; a cadela no cio erra pelas vielas, deixando atrás de si um rastro de odores perversos; a macaca exibe-se impudentemente e se recusa com faceirice hipócrita; as mais soberbas feras, a tigresa, a leoa, a pantera, deitam-se servilmente para a imperial posse do macho.

Inerte, impaciente, matreira, estúpida, insensível, lúbrica, feroz, humilhada, o homem projeta na mulher todas as fêmeas ao mesmo tempo. E o fato é que ela é uma fêmea. Mas se quisermos deixar de pensar por lugares-comuns duas perguntas logo se impõem: Que representa a fêmea no reino animal? E que espécie singular de fêmea se realiza na mulher? (BEAUVOIR, 2009, p. 35).

Se opondo em reação a idéia de uma inferiorização feminina quanto ao macho, mais uma vez vai direcionar-se para a biologia:

Há, na vida, dois movimentos que se conjugam; ela só se mantém em se superando e só se supera com a condição de se manter. Esses dois movimentos realizam-se sempre juntos, pensá-los separados é pensar abstratamente. Entretanto, é ora um, ora outro que domina. Em sua união, os dois gametas superam-se e perpetuam-se ao mesmo tempo, mas o óvulo, em sua estrutura, antecipa as necessidades futuras. É constituído de maneira a nutrir a vida que despertará nele. Ao contrário, o espermatozoide não está absolutamente equipado para assegurar o desenvolvimento do germe que suscita. Em compensação, o óvulo é incapaz de provocar a mudança que suscitará uma nova explosão de vida; ao passo que o espermatozoide se desloca. Sem a previdência ovária, sua ação seria vã; mas, sem sua iniciativa, o óvulo não cumpriria suas possibilidades ativas. Logo, concluímos que, fundamentalmente, o papel dos dois gametas é idêntico: criam juntos um ser vivo em que ambos se perdem e se superam” (BEAUVOIR, 2009, p. 45).

Após analisar as condições desiguais dado pela sociedade à mulher, que, precisaria assim, livrar-se dessa condição de subjugada, Beauvoir vai, agora, tratar sobre o desejo sexual da mulher. De forma dialética ao apresentado por Freud sobre o desejo da mulher na condição do Complexo de Electra, expõe:

É somente no momento da puberdade, em ligação com o erotismo vaginal, que se desenvolvem no corpo da mulher várias zonas erógenas. Dizer que na criança de dez anos os beijos e as carícias do pai têm “uma aptidão intrínseca” para despertar o prazer clitoridiano é uma asserção que na maioria dos casos não tem qualquer sentido[...] para nós, a mulher defini-se como ser humano em busca de valores no seio de um mundo de valores, mundo cuja estrutura econômica e social é indispensável conhecer; nós a estudaremos numa perspectiva existencial através de sua situação total” (BEAUVOIR, 2009, p. 85).

A autora explicita os desejos sexuais que existem na mulher, de maneira igual a dos homens e que, portanto, deve-se ter os mesmos direitos que este quando da sua realização sexual. Não dá para aceitar uma condição poligâmica de um homem que se esconde na justificativa de ter seus desejos saciados. mulher a seu clã. É o aparecimento da família patriarcal baseada na propriedade privada. Nessa família a mulher é oprimida. O homem, reinando soberanamente, permite-se, entre outros, o capricho sexual: dorme com escravas ou hetairas, é polígamo. A partir do momento em que os costumes tornam a reciprocidade possível, a mulher vinga-se da infidelidade: o casamento completa-se naturalmente com o adultério. É a única defesa da mulher contra a servidão doméstica em que é mantida; a opressão social que sofre é a consequência de uma opressão econômica. A igualdade só poderá restabelecer quando os dois sexos tiverem direitos juridicamente iguais, mas essa libertação exige a entrada de todo o sexo feminino na atividade pública” (BEUAVOIR, 2009, p. 89).

Tratando sobre uma questão de vida igualitária de poligamia, a autora não estaria necessariamente levantando a bandeira de uma vida conjugal monogâmica. Em 1954 publica seu livro “Os Mandarins”, onde, por meio de personagens fictícios vai mostrar a realidade de um grupo de intelectuais franceses que viveram após a Segunda Guerra Mundial.

Seria um romance qualquer outro se não fosse o que muitos acreditam ser baseados na vida dos personagens. Neste, “Anne Dubreuilh” seria a própria Beauvoir, “Henri Perron”, que na história o marido da personagem principal, seria Sartre e “Lewis Brogan”, que no enredo seria o amante da protagonista,

seria Nelson Algren. Nesse caso, evidenciaria um triangulo amoroso que ela possuía em sua vida real14.

Tal não seria tão estranho devido ao relacionamento aberto, já citado, com Sartre e sua busca por ensinar a busca do prazer como parte mais importante para todos.

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