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A REPRESENTAÇÃO DA SEXUALIDADE NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA CURSO DE STRICTU SENSO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

A REPRESENTAÇÃO DA SEXUALIDADE NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

HELIO SALES RIOS

São Paulo/SP

2018

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HELIO SALES RIOS

Dissertação apresentada como cumprimento parcial às exigências para a disciplina do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu Mestrado em Ciências da Religião, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção do grau de mestre.

Orientador: Prof. Dr. Wilson do Amaral Filho

São Paulo/SP

2018

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R586 Rios, Helio Sales

A Representação da sexualidade na Igreja Presbiteriana do Brasil / Helio Sales Rios 132 f.: il.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018.

Orientador: Profa. Wilson do Amaral Filho Bibliografia: f. 116-121

1.

Igreja Presbiteriana do Brasil 2. Sexualidade 3. Pastores 4.Membros. I. Título

LC HQ734

Bibliotecário Responsável: Maria Gabriela Brandi Teixeira – CRB 8/ 6339

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA CURSO DE STRICTU SENSO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

A REPRESENTAÇÃO DA SEXUALIDADE NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

HELIO SALES RIOS

São Paulo/SP

2018

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HELIO SALES RIOS

Dissertação apresentada como cumprimento parcial às exigências para a disciplina do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu Mestrado em Ciências da Religião, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção do grau de mestre.

Orientador: Prof. Dr. Wilson do Amaral Filho

São Paulo/SP

2018

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A Deus nosso criador que com seu amor nos deu condições intelectuais.

A Jesus Cristo, meu redentor.

Ao Espírito Santo meu consolador.

Aos pastores e membros que muito ajudaram em responder os questionários.

À minha família, Janaína esposa compreensiva e incentivadora e Miguel,

combustível para todo e qualquer projeto novo.

(8)

Minha gratidão:

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie pelo esforço e esmero em transmitir conhecimento aos alunos. Em especial ao Prof. Dr. Wilson do Amaral Filho orientador e aos componentes da banca Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes e Dr. João Batista Borges Pereira pelas dicas finais.

Ao conselho, junta diaconal, bem como todos membros da Igreja Presbiteriana Monte Sião do Jardim Brasil pela compreensão e sempre apoio.

A Janaina Ferreira de Souza Rios e Miguel Souza Rios, incentivo maior.

Mãe, Sogra, Irmãos, Cunhados e Sobrinhos, inspiração e orgulho.

(9)

RESUMO

RIOS, Helio Sales. A Representação da Sexualidade na Igreja Presbiteriana do Brasil. Dissertação de Mestrado, São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2018.

A Igreja Presbiteriana do Brasil, que desde sua fundação tem como objetivo não apenas trazer um foco espiritual religioso, como também de ensino sobre condutas morais, tem uma responsabilidade em se posicionar quanto a tal assunto. O trabalho, portanto, não contempla dar respostas quanto a “certo” ou

“errado” sobre a sexologia humana, mas sim apontar o que a igreja supracitada tem apresentado em relação à uma modernidade liberal e em contrates com o que teóricos renomados apresentam em suas obras que, como temos visto, tem ainda colaborado para conceitos de vida e práticas vistas na sociedade mesmo nos tempos modernos. O que historicamente a instituição possui como doutrinas, o que tem ensinado a seus membros por parte de seus pastores e o que tais ações tem deixado de legado para a sociedade em que está inserida e como agir, caso necessário for, para retornar aos princípios norteadores originários da formação desta igreja.

Palavras-chave: Igreja Presbiteriana do Brasil, Sexualidade, Pastores,

Membros.

(10)

ABSTRACT

RIOS, Helio Sales. The Representation of Sexuality in the Presbyterian Church of Brazil. Master Theses, São Paulo, Mackenzie Presbyterian University, 2018.

The Presbyterian Church of Brazil, which since its foundation has as its objective not only to bring a religious spiritual focus, but also to teach about moral conduct, has a responsibility in positioning itself on such subject. The work, therefore, does not contemplate giving answers as to "right" or "wrong"

about human sexology, but rather to point out what the aforesaid church has presented in relation to a liberal modernity and in contracting with what renowned theorists present in their works that, as we have seen, have still collaborated for concepts of life and practices seen in society even in modern times. What historically the institution has as doctrines, what has taught its members by their pastors and what such actions have left legacy for the society in which it is inserted and how to act, if necessary, to return to guiding principles originating from the formation of this church.

Keywords:Presbyterian Church of Brazil, Sexuality, Pastors, Members.

(11)

Sumário

INTRODUÇÃO...09

Capítulo 1 – A SEXUALIDADE NA VISÃO DE REFERENCIAIS CLÁSSICOS E O REFLEXO NO BRASIL...12

1.1 Uma Perspectiva Segundo uma Corrente Filosófica...13

1.2 Uma Perspectiva Segundo uma Corrente Sociológica...16

1.3 Uma Perspectiva Segundo uma Corrente Psicológica...25

1.4 Uma Perspectiva Segundo uma Corrente Antropológica...30

1.5Uma Perspectiva Contemporânea...33

1.5.1 Simone de Beauvoir...33

1.5.2 Movimentos de “Liberdade”...37

1.5.3 Repercussão no Brasil...38

Capítulo 2 – SEXUALIDADE, BÍBLIA, IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL...45

2.1 O Nascimento de uma Nova Igreja...53

2.2 Um Novo Movimento...55

2.3 O Movimento em Terras Americanas...58

2.4 Um Seminarista Chamado Simonton...60

2.5 A Igreja Presbiteriana do Brasil e seu Pensamento quanto a Sexualidade...66

2.5.1 Fornicação...67

2.5.2 Homossexualismo...75

2.5.3 Adultério...81

2.5.4 Divórcio...86

Capítulo 3 – APRESENTANDO AS OPINIÕES INDIVIDUAISE O QUE A INSTITUIÇÃO PODE FAZER PARA O RETORNO À SUA ESSÊNCIA ORIGINAL...96

3.1 Apresentando as opiniões Individuais ...96

3.1.1 Quanto aos membros...96

3.1.1.a) Fornicação...97

3.1.1.b) Homossexualismo...97

3.1.1.c) Adultério...97

3.1.1d) Divórcio...97

3.1.2 Quanto aos Pastores...98

3.2 O que a Instituição Pode Fazer para um Retorno à sua Essência...99

3.2.1Ensinas as Escrituras...103

3.2.1.a) Para Evitar Erro...104

3.2.1.b) Para Corrigir o Praticante...106

3.2.1,c) Abraçar o Arrependido...107

3.2.2 Ensinar Pais a Ensinar Filhos...108

3.2.3 Ensinar os Membros a Transformar a Sociedade...111

(12)

CONSIDERAÇÕES FINAIS...113

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...116

ANEXO A...122

ANEXO B...128

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INTRODUÇÃO

O tema “sexualismo” ainda hoje, em pleno século XXI é um tabu de grandes proporções para inúmeros grupos de pessoas. Apesar do desenvolvimento tecnológico que proporciona cada vez mais informação (se bem que talvez cada vez menos conteúdo), ainda vemos tal abordagem sendo feita de maneira sem profundidade, isso quando é feita.

Por meio de uma cultura ainda machista (até mesmo, de certa maneira a feminista), muitos casais não sentam para conversar sobre o gosto que cada um tem, o que pode agradar seu cônjuge na hora do ato sexual, por exemplo.

Tabu impera, de tal maneira, que esse casal, agora como pais, não dialoga com seus filhos sobre as mudanças que começam a sofrer em seu corpo, quando a partir da fase adolescente, sobre as novidades e desejos, sobre namoro e sexo.

Com advento dessa tecnologia, cada vez mais jovens os adolescentes tem contato com o assunto, mas não de maneira profícua, faltando-lhe conteúdo. Tal entendimento falho tem trazido diversas dificuldades no que tange, inclusive, ao comportamento conjugal que esses jovens apresentarão.

Muito temos visto, assim, de situações conflitantes dentro de muitos relacionamentos conjugais.

Conteúdo esse que poderia ser dado não apenas pelos pais, mas também pelas instituições que, apesar de terem, inclusive “autorização” da sociedade, bem como da família para ensinar-lhes sobre variados assuntos, também sofrem com tabus, medos e preconceitos (ou mesmo entendimentos doutrinários) para passar algum tipo de ensinamento sobre a visão sexual.

Escolas e Igrejas, muito pouco se fala sobre isso, deixando os jovens, perdidos sem referências no que tange ao entendimento de sua própria sexualidade e de como utilizá-la.

Quanto menos conteúdo sobre determinado assunto, menos também a

condição de preparar-se para enfrentar tudo, tanto positiva quanto

negativamente, que esse assunto traz consigo.

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Como consequências a uma ausente elucidação e trabalhos por parte das igrejas, contemplamos buracos na sociedade que prejudicam a ela, bem com a seu indivíduo que, devolve a ela tal prejuízo, formando assim, um círculo vicioso de problemas sociais.

Tratando-se do tema “sexo” uma falta de registros sobre os conceitos que cada indivíduo possui (ou falta destes) desencadeia numa formação familiar defasada nos aspectos de relacionamento, marital, de pais para com filhos, bem como destes para com seus progenitores (talvez colaborado pela corrente feminista, o que tem novamente crescido em nosso contexto histórico);

econômica, haja vista o grande número de filhos que casais em condições financeiras de poder aquisitivo abaixo do necessário que possuem.

Desde os primórdios dos estudos da humanidade muitos expoentes ensinaram sobre suas convicções acerca da sexualidade. Seus pressupostos, porém, diferiam dos que são preconizados pelas instituições religiosas. Aliás, os mesmos tinham uma visão peculiar quanto às religiões.

Dos chamados “pais” da sistematização da Filosofia, como Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.) por exemplo, muitos filósofos dedicaram parte de seus estudos para a compreensão do divino. Os discípulos deste, também por muito tempo teorizaram sobre a ação de um “deus”, ou na ausência de uma explicação plausível para a existência desta, como sendo a força motivadora das ações humanas.

Entre os sociólogos que trataram sobre religiosidade destacamos os chamados “pais da sociologia”, Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858- 1917) e Max Weber (1864-1920) que, de uma maneira geral apontavam a religião como sendo uma vilã para a sociedade, manipulando o indivíduo.

Sigmund Schlomo Freud (1856-1939) mesmo não tendo uma formação

em psicologia, estudou muito e levantou, assim, teorias sobre o comportamento

humano segundo o viés de suas emoções. Médico neurologista foi o criador da

psicanálise, uma investigação teórica independente da psicologia, mas que

teve como enfoque, a emoção (o psique), também estudada pela psicologia,

como norteadora de decisões do indivíduo.

(15)

Para o estudioso o homem pode, então, ser condicionado em suas escolhas por meio do seu inconsciente. Freud, ao avaliar o condicionamento inconsciente do homem aponta a religião como responsável por iludi-lo, fazendo-o a ter escolhas por meio de tal ilusão.

Claude Levi-Strauss (1908-2009), filósofo e antropólogo (considerado o fundador da antropologia estruturalista), entendia que a religião deveria ser estudada como parte integrante da vida social do indivíduo. Em seu texto O Feiticeiro e Sua Magia, abordando a ação do xamã, aponta uma manipulação psicológica feita por este, e que suas práticas mágicas tinham resultado. O homem, neste caso, estaria enfeitiçado por meio de sua crença.

Tais expoentes, portanto, trouxeram seus apontamentos em contraste com os princípios aceitos pelos defensores dos ensinamentos religiosos baseados nas Escrituras Sagradas.

Apesar da morte destes, até o início do século passado, seus apontamentos estão vivos e latentes até hoje nas mídias, nas academias, nas conversas, nas posturas, enfim em toda a sociedade.

O que, portanto, a Igreja Presbiteriana do Brasil pensa, e pode agir, em decorrência a tantas dúvidas e ensinamentos modernos quanto à sexualidade?

O presente trabalho foi feito, assim, por meio de questionário enviado aos pastores e igrejas que abrangem todas as regiões de nosso Brasil, que, segundo o último levantamento da Secretaria Executiva da Igreja Presbiteriana do Brasil de 2012, conta com 507.933 membros, 4.475 pastores num total de 2.805 igrejas e 2.263 congregações

1

, mesmo que não tenha tido alcance em sua totalidade de igrejas, membros e pastores, todas as regiões foram contempladas enviando suas respostas.

Tal, portanto, feito por meio de pesquisas dedutivas e indutivas para uma melhor elucidação quanto ao pensar da sociedade que se faz presente dentro da IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil).

1 Na Igreja Presbiteriana do Brasil antes de se organizar em igreja local, com estatuto e CNPJ, tem como praxe dar nome de “Congregação” para um controle interno.

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CAPÍTULO 1 – A SEXUALIDADE NA VISÃO DE REFERENCIAIS CLÁSSICOS E O REFLEXO NO BRASIL

O escritor Rui Barbosa, ao tratar sobre a sociedade, sua formação e a condição que a mesma oferece a cada indivíduo, salienta com sua célebre frase que “a família é a célula mãe da sociedade”. De acordo com esse prisma, um ajuntamento bom ou ruim, reverberaria para a sociedade que receberia deste ajuntamento.

Sendo, a família, uma instituição formada por homens, de acordo com seus conceitos advindos de uma formação familiar, educacional, bem como do contexto social em que cada indivíduo da família por ela foi inserido, nos é necessário fazer um apontamento, mesmo que de maneira breve, em algumas das principais correntes de estudos humanos para entender o que alguns estudiosos ensinavam sobre o conceito sexual e a importância do assunto não apenas para o indivíduo em si como também para a sociedade por este formada. Por meio de um desenvolvimento familiar que objetivava apenas uma procriação, de acordo com conceitos ideológicos adquiridos desde a tenra idade que moldaram o pensamento do indivíduo durante seu desenvolvimento não apenas físico, mas também intelectual, e o que o mesmo fez em relação a estes adquiridos.

Para tanto, quatro correntes de estudos humanos, através de alguns de seus expoentes, assim, serão elencados nesse capítulo, a saber, corrente filosófica, a corrente sociológica, a corrente psicológica, a corrente antropológica.

Após análise dessas, abordaremos o que tais pensadores deixaram como legado para os nossos dias atuais de acordo com uma visão contemporânea a partir do Século XX.

Por fim, os reflexos que esses pensamentos trouxeram como consequência. em nosso país.

1.1 – Uma perspectiva segundo uma corrente Filosófica

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O filósofo que analisaremos, neste primeiro momento, é George Whilhem Friedrich Hegel (1770-1831). O filósofo alemão ao tratar sobre o aspecto de uma formação familiar, via a necessidade da ação desta, a fim de ser a condutora para a criação e a formação de uma sociedade por meio da união de indivíduos com o intuito de uma procriação.

Tal pensamento, entretanto, não foi inaugurado pelo autor. Antes dele, os filósofos gregos já externavam essa ideia de uma procriação como sendo parte importante para a formação de uma sociedade forte. Platão (428/427 a.C.-348/347 a.C.) um dos pais da filosofia, o sistematizador dos pensamentos Sócrates (469 a.C.- 399 a.C), entendia que a família era apenas a responsável pela procriação dos descendentes e seu sustento financeiro, mas não pela educação “plena”.

Platão entendia assim, que cada criança, após uma determinada idade, onde já se encontrava já pronta para ser educada longe do gineceu

2

, deveria, quando meninos, receber educação de professores contratados por seus pais, enquanto as meninas continuavam em casa aprendendo as atividades domésticas e música. Os garotos, assim, recebiam, entre os sete e 14 anos de idade, instruções para prática de ginástica, música e gramática com o intuito de ler e escrever.

Com 16 anos de idade o menino deixava essas disciplinas de lado e começava a preocupar-se com a harmonia do corpo e espírito para que, com aproximadamente 20 anos completos iniciasse sua preparação militar de dois anos, para, ao final desta, se tornar um cidadão.

As mulheres são passíveis de educação, mas não são feitas para atividades que demandam uma faculdade universal, tais como as ciências mais avançadas, a filosofia e certas formas de produção artística. As mulheres podem ter ideias felizes, gosto e elegância, mas não podem atingir o ideal (HEGEL, apud BLOCH, 1995, p. 37)

2 Na Grécia Antiga, o gineceu era uma parte das três divisões de uma casa, composta primeiramente pela Ágora, um espaço comum à todos da casa; o Androceu, espaço em que apenas o homem poderia estar, recebendo seus convidados para festejos e banquetes; por fim o Gineceu, lugar destinado às mulheres mas onde os homens daquela família poderia entrar, como o pai, marido, tio, irmão e filho.

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A educação, nesse sentido, visava que o homem pudesse atingir uma virtude ímpar, que para ele, entre tantas outras, destacavam-se a coragem, a sabedoria, o amor, o belo, a justiça.

No decurso dessa obra indicarei que A República de Platão, imagem proverbial de um ideal vazio, se limita essencialmente a aprender a natureza da moralidade grega. Teve Platão a consciência de um princípio mais profundo cuja falta era uma brecha nessa moralidade, mas que, na consciência que dele assim possuía, apenas podia consistir numa aspiração insatisfeita e tinha, portanto de aparecer como um princípio corrupto. Arrebatado por essa aspiração, procurou Platão um recurso contra isso; mas tal recurso só podia vir do alto [...] esta é a convicção de toda consciência livre de preconceitos e dela parte a filosofia tanto ao considerar o universo espiritual como o universo natural (HEGEL, 2003, p. XXXV).

Nisto, Platão deixava claro seu segmento, de acordo com o pensamento comum à época grega, sobre a ideia de Paidéia. Do grego paidós (criança), tinha seu entendimento como “criação de meninos” tendo como intuito a formação de melhores cidadãos para a sociedade. Tal, também poderia significar como “cultura construída por meio da educação”.

Paidéia tinha como foco o ethos (hábitos) que mostravam as virtudes do indivíduo, salientando a liberdade e a nobreza o que serviria, assim, como legado deixado de uma geração para a posteridade.

É necessário pensar outro cuidado, outra criança, outra educação, uma experiência infantil da verdade e da justiça [...]

se enquadra em uma análise educativa com intencionalidades políticas. (KOHAN, 2003, p. 28)

É fundamental, diz-nos Platão, que nos ocupemos das crianças e de sua educação, não tanto pelo que os pequenos são, mas pelo que deles deverá, pelo o que gerará em tempos posterior (KOHAN, 2003, p. 39)

Voltando, após uma rápida, mas elucidativa passagem por Platão e sua ideia de educação infantil, podendo essa, de maneira melhor, não sendo

responsabilidade dos progenitores, a Hegel, podemos partir do mesmo ponto platônico, a ética como a que constitui a moralidade objetiva, precisando esta da moralidade subjetiva para ser efetivada.

Assim como a natureza tem suas leis, assim como o animal, as

árvores e o sol cumprem a sua lei, o costume (SITTE) é da

alçada do espírito da liberdade. O costume é aquilo que o direito

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e a moral ainda não são: ele é Espírito. No direito, com efeito, a particularidade não é ainda a particularidade do conceito, mas apenas a da vontade natural. De igual maneira, no nível da moralidade, a consciência de si não é ainda consciência espiritual. Trata-se ainda somente do valor do sujeito nele mesmo; ou seja, trata-se do sujeito que se determina de acordo com o Bem e contra o Mal tem ainda a forma do arbitrário. Em compensação, no ponto no qual nos encontramos no nível da Eticidade, a vontade do Espírito tem um conteúdo substancial adequado a si mesmo (LEFEBVRE e MACHEREY, 1984, p. 107) Hegel dividia em três classes para tratar sobre a organização de uma sociedade: O Direito Abstrato – mera ideia (direito natural); Moralidade – posse subjetiva do Direito Abstrato; e a Eticidade – Família, Sociedade Civil e Estado, sendo esta última a realização do particular.

Dentro da eticidade, Hegel fazia a seguinte definição e diferenciação entre Família e Sociedade Civil. Enquanto a primeira se caracterizava por relação entre pais e filhos, proteção por meio do amor, não se destina a individualidade da pessoa, pois é acolhedora e protetora dos seus e prepara seus membros para exercer sua individualidade na sociedade civil, pois já pressupõe relação com o outro, fundamentada em costumes; enquanto a sociedade civil seria a realização do egoísmo, onde também se deixa de ser

“membro” e passa agora a ser indivíduo.

Para Hegel dois princípios fundamentavam a sociedade civil burguesa:

primeiro, a sociedade civil é econômica, ou seja, a pessoa concreta na sua particularidade; segundo, opõem-se a algum suposto estado de natureza como origem do fato social e da autoridade, ou seja, universalidade representada na relação estabelecida entre as particularidades, num contexto social dado.

No primeiro, o filósofo descreve a família como esfera da eticidade natural, onde cada membro liga-se ao outro por intermédio dos laços amorosos. A dissolução desta se daria pela falência dos pais ou pela maioridade dos filhos. A inter-relação se fazia então necessária para a realização de interesses e satisfação das necessidades, competindo à sociedade civil constituir a mediação social da liberdade.

Com a ampliação do círculo de sociabilidade, foi necessário ultrapassar

a particularidade ética ditada pela mesma, ultrapassando assim, a esfera

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familiar rumo à universalidade do Estado ético. Isso significava para Hegel que o problema político não é o da agregação das famílias, mas a resolução numa totalidade orgânica dos indivíduos como sujeitos autônomos.

O Estado Universal, assim, garantiria condições equânimes aos seus, pois seria o resultado da superação da sociedade civil, que ainda assim é dependente do Estado; asseguraria leis que permitam a individualidade dos cidadãos e ainda a reprodução da sociedade civil.

Concluímos que, de acordo com essa corrente filosófica, duas vertentes:

a) a família é uma configuração social. Essa sociedade não é uma ruptura do individuo com os seus, mas este, precisa deixá-los de lado, seus costumes, para poder fazer parte da sociedade. Esta instituição não permite o individualismo, pois o membro faz o que os costumes familiares lhe exigem.

Este individualismo só ocorre quando se liberta desses costumes; b) uma sociedade é vista, entretanto, apenas pelo prisma do gênero masculino que comporia a essência desta sociedade.

1.2 - Uma perspectiva segundo uma corrente Sociológica

Para tratar sobre o assunto em questão, nesse tópico, trataremos sobre a corrente de pensamento sobre os três grandes expoentes e considerados “os pais da sociologia”:

Karl Marx (1818–1883), considerado um dos grandes fundamentadores e sistematizadores da Sociologia demonstrando um grande apreço por sua família, comprovado, ao, durante muito tempo em sua vida, escrever cartas a ela. Tal sentimento, entretanto, pode ser identificado como algo paradoxal, pois Marx tinha uma concepção um tanto quanto peculiar no que se refere à tudo o que envolve o conceito familiar, desde sua configuração como questões relacionadas à sexualidade, segundo o mesmo uma ferramenta importante para a construção social.

Entendia a família como um produto histórico de uma formação sócio-

econômica de onde oriunda a divisão social do trabalho. A família da sociedade

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capitalista era a representação das classes de opressores, na figura masculina, e oprimida, figura feminina. O casamento dessa forma seria uma relação do antagonismo entre essas classes em que o bem-estar de uma só é possível por meio da repressão de outra.

Guido Mantega, faz uma analogia no pensamento do sociólogo em relação a prostituição de um operário que vendia sua força de trabalho apontando o sexo como meio de conseguir algum benefício. Aponta o sexólogo:

Segundo Marx, a situação operária é a expressão mais geral da alienação humana. A prostituição é apenas uma forma mais particular da prostituição universal do operário que vende sua força de trabalho e sua via em troca de um salário, o que transforma em simulacro todas as relações sociais (MANTEGA, 1979, p. 62-63).

Tal pensamento caracteriza um olhar diferente da de Hegel, mesmo Marx tendo o estudado muito, pois enquanto o primeiro enxergava na família uma condição de conserto e melhora da sociedade, o segundo identificava na família a demonstração do que existia de ruim numa sociedade capitalista.

3

Nessa relação entre homem e mulher, entre o “dominador” e a

“dominada”, o sociólogo defendia a ideia que o homem burguês olhava sua esposa apenas como um meio de procriação. Propõe assim, de acordo com sua obra, em conjunto com seu companheiro amigo Friederich Engels (1820–

1895), quem foi, em muitos casos, uma espécie de seu escriba, “O Manifesto Comunista” (1847-1848) em que apontava a necessidade de uma libertação por parte da mulher subjugada pela ação de seu marido.

Marx, assim, aponta o sexo, por parte da classe burguesa, como sendo demonstração de poder e necessidade de sobrevivência por parte da mulher que precisa se sujeitar às condições impostas por este que detém a condição de sua sobrevivência. Apresenta, portanto, o sexo, nesse caso, como uma

3 A atitude fundamental de Marx com relação à filosofia está definitivamente determinada depois de seus três primeiros anos de estudo de Hegel, e não se modifica no desenvolvimento ulterior do trabalho de toda a sua vida. Apesar de que em certo sentido se pode dizer que a filosofia hegeliana é um elemento constitutivo da obra de Marx, também se pode afirmar que Marx, desde seu primeiro contato com Hegel, nunca foi hegeliano. (WEFFORT, 1989, p. 238)

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condição de igualdade entre as partes, considerando como prostituição a possibilidade de um homem ter uma outra mulher, além da sua.

As relações entre os sexos tornar-se-ão um caso privado que só tocará às pessoas interessadas; a sociedade não intervirá. Isso tornar-se-á possível graças à abolição da propriedade privada e à educação das crianças à custa da sociedade; por esse fato, os dois fundamentos do casamento atual serão abolidos; a mulher não dependerá mais do marido, nem os filhos de seus pais (essa dependência só existe hoje graças à propriedade privada). Eis a nossa resposta a todo o alarde feito pela burguesia contra a poligamia comunista. A poligamia é um fenômeno próprio à sociedade burguesa e perfeitamente realizado hoje pela prostituição. Mas baseada na propriedade privada, a prostituição desaparecerá, a organização da sociedade comunista não introduzirá a poligamia; ao contrário, ela a abolirá (ENGELS, apud RIAZANOV, 1945, p. 110).

Pode-se assim, afirmar que os sociólogos acima, condenariam a condição de se ter um relacionamento fora o primeiro casamento acordado, de acordo com as leis civis.

O amor sexual continua Engels, é exclusivo por sua própria natureza, embora essa exclusividade seja realizada hoje somente pela mulher; por esse fato, o casamento baseado sobre o amor sexual deve ser monógamo, por sua própria natureza. Já temos constatado como Bachofen tinha razão vendo na passagem do casamento de grupo ao casamento individual obra das mulheres; não é senão a evolução da bigamia à monogamia que deve ser atribuída aos homens. Esta ultima passagem se reduziu essencialmente à agravação do estado da mulher, enquanto facilitava a infidelidade do homem. Desde que desaparecerem essas considerações econômicas devido as quais as mulheres se resignavam à infidelidade dos homens (elas receavam pelo seu futuro e o dos seus filhos) a emancipação das mulheres, conquistada graças a esse fato, contribuirá antes à monogamia dos homens do que à poliandria das mulheres (Ibid)

Quanto a isso, Mantega descreve:

Mas conhecemos a realidade amorosa de forma ambivalente, pois temos que nos submeter aos ritos por que tantas exigências menores tanta encenação? Será impossível desfrutar do amor sem os artifícios da maquiagem, da moda, dos maneirismos, dos gestos estereotipados e da voz afetada (ou “calidamente infantil”

como dizem os romances água-com-açucar)? E sem a

subordinação à lógica da dominação, obrigando-nos ao

desempenho exclusivo de um tipo de sexualidade a do corpo

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erótico que só existe na medida em que o Outro o valoriza?

(MANTEGA, op.cit, p. 70)

Ainda sobre a questão sexual, Marx, ao apontar as questões sobre a possibilidade, por parte de um dos cônjuges, no caso específico a mulher, vai contra o “Projeto Prussiano” de 1842

4

onde defendia a possibilidade de um divórcio, já que o casamento não seria uma instituição moral e sim religiosa, onde o indivíduo não seria obrigado a casar-se, mas, uma vez contraindo uma união, ficaria preso às leis desta.

Afirmando uma liberdade de escolha, inclusive sexual, Marx, entretanto compreendia que uma sociedade não poderia aceitar a condição de homossexualidade que, desde a Grécia Antiga

5

se fazia presente, considerando como obscenos todos seus praticantes e defensores e que, qualquer forma de sexualidade que não fosse de um casamento monogâmico e heterossexual era uma produção do capitalismo para degenerar a sociedade e que o emprego do socialismo na sociedade seria a forma de restaurar tal degeneração

6

.

O socialismo de Marx, assim, olhava com desprezo a possibilidade de um relacionamento homossexual

7

. Para o sociólogo uma busca pela liberdade não pode ser maior do que a condição natural do ser humano.

Emile Durkheim (1858-1917), autor das seguintes obras relacionadas à família: Introduction à La sociologie de lafamille

8

, de 1888; Le divorce par

4Karl Marx não aceitava o que ele entendia como imposições religiosas para a sociedade. Necessário lembrar que a Prússia, como toda a nação Alemanha era uma região protestante e que, portanto, baseava suas leis de acordo com o entendimento cristão. Sobre isso, em seu artigo intitulado “O Projeto de Lei sobre o Divórcio”, publicado na Gazeta Renana em 1842, onde deixa claro suas convicções sobre a possibilidade de rompimento legal do casamento.

5Conforme “The Origin of the Family, Private Property and the State” de Friederich Engels, publicadoem 1972.

6Ibid, p. 511

7 Em 22 de junho de 1869. Engels envia à Marx uma carta (publicada em 1988 pela editora Internacional de Nova York em “Marx, Karl, Engels, Friederich: Collected Works” Volumes 42 e 43) onde, repudiando as tentativas de Karl Heinrich Ulrichs e Magnus Hirschfeld que tentavam o apoio do movimento comunista quanto aos direitos homossexuais, chamando-os de pederastas e contra-natura, evidenciando sua concepção como fora do “natural” o homossexualismo.

8 "... para começar, as pessoas e os bens; depois, entre as pessoas, ter-se-ia que levar em consideração, além dos esposos e os filhos, o grupo geral dos consanguíneos, os ancestrais em todos os graus; isto que resta em uma palavra da antiga gens cuja autoridade era antigamente tão poderosa e que, ainda agora, intervém no círculo restrito da família propriamente dita. Há enfim o Estado que, ele também, em casos

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consentement mutuel, de 1906; La famille conjugale, de 1921, demonstra importância dada à esta instituição, uma parte importante da estrutura social.

Durante sua jornada acadêmica o autor sempre demonstrou uma preocupação com as mudanças sofridas pela instituição no papel que a mesma representava. Via como importante o relacionamento que as pessoas mantinham entre si. Para Durkheim, havia uma definição entre os membros da família de seu papel a desempenhar, do governo a ser executado nesta.

Portanto, precisaria haver na família uma formalidade determinada.

Por meio dos estudos dos costumes e leis o autor definiu uma estrutura familiar, de acordo com dados de uma família européia. No ato do casamento e da geração de filhos, uma sociedade já está sendo formada por meio de pessoas que mudam parte de suas características em detrimento à outra. Essa espécie de sociedade deveria receber todo apoio do Estado para a continuação e efetivação de suas ações.

O sociólogo francês mantinha, assim, uma preocupação com as mudanças que as famílias poderiam passar em sua estruturação, o que, acontecendo, traria de prejuízos para o Estado e, como consequência, à sociedade como um todo.

Ciente do que uma mudança repentina poderia, então, causar, Durkheim vai tratar, de maneira pormenorizada, sobre a questão daquilo que ele entendia como uma demonstração de uma falha moral, o divórcio. Enxergava que um casamento era mais do que um contrato apenas, mas sim como o regulador das ações sexuais e de funções dentro de um relacionamento. Entendia o sociólogo que qualquer dessas ações ou funções fora casamento seria algo nocivo e destrutivo ao indivíduo bem como à sociedade em que este está inserido.

Ainda tratando sobre a nocividade e sobre uma falha moral, que o divórcio apontava, Durkheim, em 1897, publica sua obra intitulada “O Suicídio:

determinados, vem se misturar à vida doméstica e torna-se mesmo todos os dias um fator importante dela. Isto feito, procuraríamos como esses elementos funcionam, isto é, que relações as unem umas com as outras." (DURKHEIM, 1975, p.12)

(25)

Um Estudo Sociológico” muito em decorrência, como muitos estudiosos acreditam, da morte de seu amigo Victor Hommay, ocorrida em 1886.

9

Dhurkheim começa a apontar, diferentemente do que se entendia na época, que a taxa de suicídio originava-se de causas sociais identificáveis e, portanto, solucionáveis.

Nosso intuito não é, pois, o de fazer o rol mais completo possível de todas as condições que possam contar na gênese dos suicídios particulares, mas pesquisar apenas aquelas que virão a constituir o fato determinado que chamamos de taxa social de suicídios [...] o fenômeno por explicar só pode ser atribuído a causas extra-sociais de grande generalidade ou a causas propriamente sociais (DURKHEIM, 1982, p. 23).

O sociólogo, em seus estudos, via uma ligação muito próxima entre o divórcio e suicídio. Em sua obra de 1906 tratando sobre o divórcio, de consentimento mútuo, Durkheim o aponta como um dos grandes causadores de suicídios.

Por meio de suas pesquisas, conclui que entre as pessoas que cometem suicídio, a maioria dos casos, em comparado com outras, é por pessoas que se divorciaram, e que as pessoas casadas viviam mais dos que passaram por tal processo, já que este, ainda segundo o autor, é consequência de um enfraquecimento da estrutura moral, revertendo num “estado de anomia conjugal”.

Ainda por meio de seus estudos, sugere que homens e mulheres têm interesses distintos sobre o casamento, mesmo que ambos tenham interesses comuns em constituir famílias. Apontando, por meio de estatísticas que

“homens casados se matavam menos do que os solteiros, que mulheres casadas se matavam mais do que solteiras” (PEDERSEN, 2006, p. 204), Dhurkeim faz uma clara distinção entre homem e mulher e a importância de cada para a sociedade.

9Mesmo Émile Durkheim, tratando o assunto deste falecimento como um “miserável” e “trágico acidente”, o mesmo se motiva a pesquisar, segundo alguns estudiosos sobre o suicídio inspirado na morte desse amigo. Em sua carta para outro amigo em 1896 de nome Bouglé, Dhuekheim relata sua devoção em preparar o livro, que no ano seguinte publicaria, interrompendo suas conferências em prol do que ele apontava como “fenômeno social”. LUKES, S., 1977. Émile Durkheim: His Life and Work A Historical and Critical Study. England: Penguin Books

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O casamento diminuía a taxa de suicídio masculino porque os homens modernos precisavam de regulamento sexual para sobreviver; e aumentava as taxas de suicídio feminino porque os desejos das mulheres ainda eram auto-reguladores. Embora Durkheim tivesse sustentado que o propósito de seu estudo era mostrar que comportamentos individuais poderiam ser compreendidos somente em termos sociológicos, seu tratamento às mulheres como entidades biológicas parecia colocá-las fora do todo plano de ação sociológico (PEDERSEN, 2006, p. 204) O indivíduo precisa entender o que regula a sociedade e se manter, de acordo com essa regulação para poder que esta sociedade exista de forma coesa. A partir do momento em que se há, por meio do casamento, uma nova família surgindo, a sociedade é transformada e uma quebra desta implica numa situação prejudicial. No quadro abaixo, pode-se verificar o Esquema da Teoria Sociológica Durkhemiana.

10

Max Weber (1864–1920) tinha sua opinião sobre família seguindo basicamente as mesmas ideias de Marx. Weber entendia existir três tipos de dominação: a legal, baseada nas leis, regras e estatuto, voltada para o governo; a carismática, baseada no carisma do líder, conquistada pelo o que

10 Retirada do Site Cultura Brasil via http://obloghumanista.blogspot.com.br/2010/12/origens-david- emile-durkheim-nasceu-em.html.

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esse líder pode e como oferece aos ouvintes; e a tradicional onde, por exemplo, se encontra o domínio do pai para com o filho.

O economista e sociólogo alemão tratando sobre constituição familiar, entendia que o casamento era o atenuante para uma forma de dominação brutal e original do macho. Em conjunto com sua esposa Marianne Webber

11

(1870-1954), preconizava que a ideia de que o casamento era um companheirismo exclusivo entre homem e mulher e indissolúvel era um produto de um desenvolvimento cultural, engendrado, principalmente pela igreja que detinha o domínio sobre as escolhas do indivíduo.

Baseando em tal teoria do tradicionalismo como aquele que impõe condições culturais de sexualidade, recorremos mais uma vez a Mantega:

Já vimos, anteriormente, a maneira pela qual o sexólogo pontifica lugares-comuns cuja importância acaba por depender exatamente do título de quem a pronuncia, isto é a (o)

“especialista” transforma-se numa espécie de tribunal de última instância, pronto a distinguir o bem do mal, o certo do errado.

Nesse sentido, todas estas ciências fornecem um material altamente sofisticado de mistificação social e reprodução de valores tradicionais (MANTEGA, op. cit. p. 80)

Apresentando que a mulher não precisa da ação do homem para que venha a sustentar-se financeira e socialmente, Weber, juntamente com sua esposa aponta o sexo não apenas com o intuito de procriação, mas também como realização e satisfação de seus desejos.

Na época, o rigorismo de elevados princípios morais da minha geração continuava em meu sangue, embora atenuado pela solidariedade aos destinos individuais. Era muito mais simples...ater-se à vaidade universal de ideais superiores do que arriscar-se em complexas discussões dialéticas sobre o possível valor autônomo (Eigenwert) do ‘amor livre’...Mais tarde, não fui poupada da experiência de ter de conviver, de uma maneira mais diferenciada, com as picantes questões do erotismo. Senti- me forçada a suspender o julgamento não apenas em casos individuais, como também a ouvir mais atentamente os

11 Em 1907 Marianne foi convidada a palestrar no Congresso Social Evangélico de Estrasburgo sobre o tema: Questões de Princípio Ético Sexual, onde defende um “casamento moderno” de acordo com a teoria da racionalização. Marianne incentivava o alcance pela mulher de uma racionalidade e objetividade, onde demonstrasse sua real importância dentro da constituição da sociedade. Em uma viagem aos Estados Unidos pôde observar o quanto as mulheres ali eram valorizadas, diferentemente do que ocorria, segundo ela, na Europa.

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defensores de uma nova ética sexual mais livre. (WEBER, apud.

ROTH, 2003 p. 33).

Max Weber entendia que, por meio de uma ética religiosa, de punição, o indivíduo se afastou do que lhe era natural, “o amor sexual”, sublimando-o, e forçando este individuo a adentrar ao erotismo, nascido e adaptado misticamente, segundo o sociólogo, principalmente no cristianismo.

Contrastando com os ensinamentos do movimento puritano advindo a partir da Reforma Protestante de 1516 de acordo com os ideais pregados principalmente por Martinho Lutero bem como por João Calvino, publica ente 1904 e 1905, sua obra intitulada “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, com intuito de apontar a ética ensinada e vivida pelos seguidores do protestantismo. De acordo com o “Beruf”, o, segundo Lutero, baseado em sua tradução da palavra grega klésis, o chamado para ser cristão.

A Reforma foi responsável, assim, para a introdução de uma nova forma de se olhar para aspectos da sociedade como o trabalho, a economia, a convivência entre nos indivíduos, dando início ao capitalismo.

Em linhas gerais, entende-se que o termo racionalização, como utilizado por Weber, significa a redução à racionalidade de todos os aspectos da vida social. A racionalização é um processo: o mais das vezes trata-se de uma sublimação, quando a ação emotivamente condicionada aparece como descarga consciente de um estado sentimental. Weber aplica o termo sublimação no sentido da química, da passagem de um estado sólido imediatamente ao gasoso e não no sentido que a psicanálise lhe daria mais tarde. Para ele, a sublimação corresponde ao trânsito sem mediação entre dois estados. Já para a psicanálise é o processo de tornar racional o ilógico, a explicação que visa tornar coerente ou moralmente aceitáveis atos, ideias ou sentimentos cujos motivos verdadeiros o indivíduo não percebe.

Para Weber é o processo de ordenação daquilo que, sob a ótica da cultura ocidental, se encontra distribuído aleatoriamente, do não econômico, do estado “natural” das coisas. (THIRY- CHERQUES, 2009, p. 902) .

A igreja, sendo assim, a norteadora das ações do indivíduo e assim, da sociedade em que o mesmo se encontra inserido.

Tal se dava de maneira rigorosa, onde, por medo de uma punição

severa o ser humano preocupava-se em glorificar e exaltar a grandeza de

Deus, por meio de uma vida de disciplina já que "a vigilância absolutamente

(29)

policial sobre a vida das pessoas, nas igrejas calvinistas estabelecidas, comparava-se à da Inquisição" (WEBER, p. 21).

A igreja seria também, como o Estado, a responsável por modificar o racional do indivíduo, forçando-o a seguir seus preceitos estipulados.

Uma lógica centrada nos meios, não nos fins. Não se trata de uma escolha consciente, nem de uma forma deliberada de dotar as instituições de maior eficiência, mas uma característica inerente a determinadas instituições. Um dos mais importantes aspectos do processo de racionalização é a substituição impensada do costume antigo; a adaptação deliberada do trabalho e da vida em termos dos interesses imediatos. Outras características são a racionalização consciente dos valores últimos, dos costumes, dos valores afetivos e o ceticismo moral.

THIRY-CHERQUES, 2009, p. 903)

1.3 - Uma perspectiva segundo uma corrente Psicológica

Um dos mais famosos estudiosos da psique, Sigismund Schlomo Freud (1856-1939), também deu sua colaboração no estudo sobre o tema abordado em nossa pesquisa, à sexualidade.

Para tratar sobre o assunto, Freud se aprofunda em preconizar o que ele chama de Complexo de Édipo

12

, que são sentimentos hostis e de amor que a

12Baseada no mito da Grécia Antiga, Édipo Rei, onde, Laio, rei da cidade de Tebas e casado com Jocasta, foi advertido pelo oráculo de que não poderia gerar filhos e, se esse mandamento fosse desobedecido, o mesmo seria morto pelo próprio filho, que se casaria com a mãe. O rei de Tebas não acreditou e teve um filho com Jocasta. Depois arrependeu-se do que havia feito e abandonou a criança numa montanha com os tornozelos furados para que ela morresse. A ferida que ficou no pé do menino é que deu origem ao no me Édipo, que significa pés inchados. O menino não morreu e foi encontrado por alguns pastores, que o levaram a Polibo, o rei de Corinto, este que o criou como filho legítimo. Já adulto, Édipo também foi até o oráculo de Delfos para saber o seu destino. O oráculo disse que o seu destino era matar o pai e se casar com a mãe. Espantado, ele deixou Corinto e foi em direção a Tebas. No meio do caminho, encontrou com Laio que pediu para que ele abrisse caminho para passar. Édipo não atendeu ao pedido do rei e lutou com ele até matá-lo. Sem saber que havia matado o próprio pai, Édipo prosseguiu sua viagem para Tebas. No caminho, encontrou-se com a Esfinge, um monstro metade leão, metade mulher, que atormentava o povo tebano, pois lançava enigmas e devorava quem não os decifrasse. O enigma proposto pela esfinge era o seguinte: Qual é o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio dia e três à tarde? Ele disse que era o homem, pois na manhã da vida (infância) engatinha com pés e mãos, ao meio-dia (idade adulta) anda sobre dois pés e à tarde (velhice) precisa das duas pernas e de uma bengala. A Esfinge ficou furiosa por ter sido decifrada e se matou. O povo de Tebas saudou Édipo como seu novo rei, e entregou-lhe Jocasta como esposa. Depois disso, uma violenta peste atingiu a cidade e Édipo foi consultar o oráculo, que respondeu que a peste não teria fim enquanto o assassino de Laio não

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criança experimenta em relação para com sua mãe se dá na idade fálica e vai nortear os desejos e a personalidade desta criança.

Apresentando a criança como já detentora de desejos sexuais desde quando bebê, o neurologista, criador da psicanálise vai investir grande parte de seus estudos a fim de comprovar tal teoria.

Em sua obra intitulada “Os Três ensaios”, o autor vai descrever em ordem cronológica os desejos sexuais apresentados pelas crianças, mesmo estes sendo, segundo o próprio, e que foi o título do primeiro ensaio,

“aberrações sexuais” onde aponta que todos os desejos sexuais do homem são perversos.

Diferentemente do ensinado na época, em que o ser humano tinha instinto pelo sexo, Freud vai apontar os desejos como pulsão, ou seja, o desejo nutrido não é por um objeto específico, o que caracterizaria a manutenção da espécie por meio de uma procriação, mas sim pela satisfação do prazer, o que ele define como “auto-erótico”. O autor propõe neste ponto, uma bissexualidade, onde o indivíduo teria em si desejos característicos masculino e feminino, por meio da sexualidade oral, ou anal.

Desejos como parte da perversão em sua vontade oculta em possuir aquilo que não lhe é permitido ou próprio de alcançar era um dos marcos das teses de Freud, onde baseou-se, inclusive para difundir grande parte de suas teorias. Sobre esses desejos ocultos diagnosticou Mantega:

O espectador consome simbolicamente uma sexualidade que não consegue vivenciar, a não ser em seu imaginário. Além disso, os filmes mostram o sexo sob uma ótica técnica que implica na valorização do capaz contra o incapaz, com soluções correndo ao nível individual. (MANTEGA,op. cit. p, 93).

O psicanalista para defender sua tese se apega ao fato da criança sugar

o dedo, ou a necessidade de mamar no peito de sua progenitora, como sendo

comprovação deste ato, como uma amostra das primeiras manifestações

fosse castigado. Ao longo das investigações, a verdade foi esclarecida e Édipo cegou-se e Jocasta enforcou-se.

(31)

sexuais, onde o bebê satisfazer por meio da boca não apenas a necessidade de nutrição mas também satisfazer seus desejos da zona erógena, sendo este último o mais importante para este bebê.

A criança, nesse caso, estaria ligada sexualmente à sua mãe, por parte do bico do seio, até passar para uma segunda fase, a puberdade onde, o agora adolescente, abre mão dos objetos de quando era infante em troca de outros, por meio do desenvolvimento de sua pulsão, onde o foco agora passa a ser, principalmente a zona genital, atingindo assim, o máximo do prazer tendo como finalidade a procriação.

a escolha de objeto do período puberal é obrigada a abrir mão dos objetos da infância e começar de novo como uma corrente 'sensual'. Se estas duas correntes [afetiva e a sensual] deixarem de convergir, o resultado freqüentemente é que um dos ideais da vida sexual, a concentração de todos os desejos num único objeto, será inatingível. (Freud, 1905, p. 206)

Estudando sobre o complexo que evidenciava o lado sexual, podemos concluir que este servia como divisão de papéis na relação entre as pessoas da família. O marido seria responsável, por ser o dominante sobre a família ser provedor e seu sustentador e, à esposa, ser dominada e sem capacidade racional, ficaria ao cargo o lar e a criação dos filhos.

Um lugar das relações íntimas, afetuosas e emotivas, que propiciava a concentração do poder ilimitado, sobre as crianças, nas mãos dos pais e não mais do Estado. Desse modo, na família burguesa, nasceriam as novas maneiras de opressão de mulheres e crianças relacionadas à irrestrita autoridade parental, o profundo amor dos pais pelos filhos e a ameaça da retirada desse amor, como forma de punição, ao invés de castigos físicos (CAMARGO, 2004, p.4)

Desse modo, é de extrema importância, segundo o estudioso, a influência dos pais na vida do infante.

Lacan, um dos discípulos de Freud em suas ideias de estudar a psique, mesmo que não seguindo totalmente os seus passos, também aprofundou seus estudos no complexo apontado pelo seu antecessor, onde salienta as frustrações sofridas pela criança também por meio de formas punitivas.

Esquema do complexo. — A psicanálise revelou na criança

pulsões genitais cujo apogeu se situa aos quatro anos. Sem nos

estendermos aqui sobre a sua estrutura, digamos que elas

(32)

constituem uma espécie de puberdade psicológica, muito prematura, como se vê, em relação à puberdade fisiológica.

Fixando a criança por um desejo sexual ao objeto mais próximo que lhe oferecem normalmente a presença e o interesse, a saber o progenitor de sexo oposto, estas pulsões dão a sua base ao complexo; a sua frustração forma o seu nó. Ainda que inerente à pré-maturacão essencial destas pulsões, esta frustração está relacionada pela criança ao terceiro objeto que as mesmas condições de presença e de interesse lhe designam normalmente como o obstáculo à sua satisfação: a saber o progenitor do mesmo sexo. A frustração que ele experimenta acompanha-se, com efeito, comumente de uma repressão educativa que tem por fim impedir todo o fim destas pulsões e especialmente a sua realização masturbatória. Por outro lado, a criança adquire uma certa intuição da situação que lhe é interdita tanto pelos sinais discretos e difusos que atraiçoam à sua sensibilidade as relações parentais como pelos acasos intempestivos que se lhe desvelam. Por este duplo processo, o progenitor do mesmo sexo aparece à criança ao mesmo tempo como o agente da interdição sexual e o exemplo da sua transgressão. A tensão assim constituída resolve-se, por um lado, por um recalcamento da tendência sexual que, a partir desta altura, ficará latente — dando lugar a interesses neutros, eminentemente favoráveis às aquisições educativas — até à puberdade; por outro lado, pela sublimação da imagem parental que perpetuará na consciência o ideal representativo, garantia da coincidência futura das atitudes psíquicas e das atitudes fisiológicas na altura da puberdade. Este duplo processo tem uma importância genética fundamental porque ele inscreve-se no psiquismo em duas instâncias permanentes: aquela que recalca chama-se o super-eu, e a que sublima, o ideal do eu.

Elas representam o fim da crise edipiana (LACAN, 1978, p.30).

Ainda tratando sobre a sexualidade em sua obra “Totem e Tabu”, escrita entre 1912 e 1914, Freud vai tratar sobre o incesto.

Analisando os aborígenes australianos, em sua forma de governo independente dos demais da sociedade australiana, onde, neste país, a pena para quem se envolve com clã proibido era a morte.

Partindo para uma relação incestuosa, o povo aborígene não identificava

tal ação apenas por meio de um parentesco consanguíneo, mas também aos

pertencentes da mesma tribo ou mesmo clã. Tal importância era tamanha que

em povos pesquisados pelo autor a relação entre homens e mulheres era algo

(33)

de extrema preocupação para que não pudesse ser configurada nesta uma que pudesse ser identificada como incesto.

13

.

13

“Na Melanésia, proibições restritivas desse tipo regulam as relações do menino com a mãe e irmãs. Assim, por exemplo, na Ilha dos Leprosos, uma das Novas Hébridas, quando um menino chega a certa idade, deixa de morar em casa e se aloja na ‘casa comum’, onde passa a comer e dormir regularmente. Pode ainda ir à casa do pai pedir comida, mas, se alguma irmã estiver em casa, terá de ir embora antes de comer. Se nenhuma irmã lá estiver, poderá sentar-se perto da porta e comer. Se, por acaso, um irmão e uma irmã, se encontrarem ao ar livre, ela terá de fugir correndo ou esconder-se. Se um menino souber que certas pegadas na estrada são de sua irmã, não as seguirá, como ela também não seguirá as dele. Na realidade, nem sequer pronuncia o nome dela e uma palavra comum, se fizer parte desse nome. Esta evitação começa com as cerimônias da puberdade e se mantém durante toda a vida. A reserva entre o filho e a mãe aumenta à medida que o menino cresce, sendo muito maior da parte dela que da dele. Se a mãe lhe traz comida, não a entrega diretamente, coloca-a no chão para que ele a apanhe. No diálogo não o trata por tu, usa as formas mais cerimoniosas do plural.

Costumes semelhantes predominam na Nova Caledônia. Se acontece um irmão e uma irmã encontrarem-se num caminho, a irmã esconde-se dentro do mato e o irmão passa sem virar a cabeça. Entre os nativos da Península Gazelle, na Nova Bretanha, não é permitido que uma moça, depois de casada, converse com o irmão; ela nunca pronuncia o nome dele; designa-o por outra palavra. Em New Mecklenburg, os primos de certos graus estão sujeitos a restrições semelhantes às estabelecidas para irmãos e irmãs. Não podem aproximar-se um do outro, apertar-se as mãos, nem presentear-se, sendo-lhes permitido porém falar-se a distância de alguns passos. A penalidade para o incesto com uma irmã é a morte por enforcamento. Em Fiji, essas regras de evitação são particularmente rigorosas; atingem não somente as irmãs de sangue, mas também as irmãs tribais. É de espantar-nos como o mais misterioso de tudo que estes mesmos selvagens realizem orgias sagradas, nas quais precisamente os de graus de parentesco proibido procuram ter relações sexuais - isto é, misterioso a menos que vejamos o contraste como uma explicação da proibição. Entre os batas da Sumatra, as regras de evitação aplicam-se a todos os parentes próximos. ‘Um bata, por exemplo, acharia chocante que um irmão acompanhasse a irmã a uma festa noturna. Mesmo na presença de terceiros, um irmão e uma irmã batas sentem-se pouco à vontade. Se um entra em casa, o outro sai. Além disso, o pai nunca pode ficar sozinho com a filha em casa, nem a mãe com o filho (…) O missionário holandês que narra esses costumes acrescenta que sente muito dizer, mas pelo que conhece dos batas, acha que a manutenção da maioria dessas regras é muito necessária.’

Para essas pessoas um encontro a sós entre um homem e uma mulher conduz naturalmente a uma intimidade imprópria entre eles. E, desde que acreditam que as relações sexuais entre parentes próximos acarretarão castigos e calamidades de todos os tipos, têm razão em evitar qualquer tentação de transgredir essas proibições. Muito curioso é que entre os barongos de Delagoa Bay, na África do Sul, as regras mais estritas afetam as relações de um homem com sua cunhada, a esposa do irmão de sua mulher. Se encontra essa pessoa temível em alguma parte, cuidadosamente a evita. Não come no mesmo prato que ela, dirige-lhe a palavra com constrangimento, não se aventura a ir à sua choupana e a cumprimenta com voz trêmula. Uma regra de evitação que era de se esperar fosse encontrada com mais freqüência funciona entre os a-kambas (ou wakambas), da África Oriental Inglesa. Uma moça tem de evitar o pai no período que vai da puberdade ao casamento. Se se encontram na estrada, esconde-se enquanto ele passa, e nunca pode sentar-se perto dele. Isso vigora até o noivado. Depois do casamento já não mais terá de evitar o pai. Sem sombra de dúvida, a evitação mais difundida e rigorosa (e a mais interessante, do ponto de vista das raças civilizadas) é a que impede as relações de um homem com a sogra. É bastante generalizada na Austrália e estende-se também à Melanésia, Polinésia e às raças negras da África, onde quer que traços de totemismo e do sistema classificatório de parentesco sejam encontrados e provavelmente mais além ainda. Em alguns desses lugares existem proibições semelhantes quanto a relações inocentes entre uma mulher e o sogro, mas são muito menos comuns e severas. Em alguns casos isolados, ambos os sogros acham-se sujeitos à evitação. Desde que estamos menos interessados na extensão etnográfica dessa evitação do que em sua substância e objetivo, mais uma vez vou restringir-me a citar alguns exemplos. Entre os melanésios das Ilhas Banks, ‘essas regras de

(34)

Explicando, então, o conceito de Totem e Tabu, Freud vai apontar que, o totemismo (proibição de junção sexual com algum membro de sua família ou grupo), se dá não pelo fato de não haver um suposto desejo por alguém que é proibido ao indivíduo, mas sim pelo medo de um castigo divino em se tocar em algo que lhe é proibido. Cada homem age de acordo com seu totem, sua divindade religiosa requer de si, sendo tabu o querer satisfazer sua própria vontade, seus próprios desejos.

1.4 - Uma perspectiva segundo uma corrente Antropológica Dentro da corrente antropológica, um dos grandes nomes desta área, Lévi-Strauss (1908-2009) em seus estudos sobre a formatação da família entende que a constituição desta se dá pela própria sociedade, e que tal constituição é que diferenciaria o homem do animal.

O que diferencia verdadeiramente o mundo humano do mundo animal é que na humanidade uma família não poderia existir sem existir a sociedade, isto é, uma pluralidade de famílias dispostas a reconhecer que existem outros laços para além dos consanguíneos e que o processo natural de descendência só pode levar-se a cabo através do processo social da afinidade.

(LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 34)

Neste sentido, o antropólogo austríaco conclui que a formação de uma sociedade está na possibilidade de comunicação que há entre os participantes daquela sociedade, no caso aqui, da família.

evitação são muito severas e minuciosas. Um homem não deve chegar perto da mãe de sua esposa, nem ela dele. Se acontece os dois se encontrarem num caminho, a mulher se desvia e fica de costas até que ele tenha passado ou, talvez, se for mais conveniente, será ele que se afastará do caminho. Em Vanua Lava, em Port Patteson, um homem só pode seguir a sogra ao longo da praia depois que a maré crescente tenha lavado suas pegadas da areia. Não obstante, o genro e a sogra podem falar-se a uma certa distância, mas uma mulher em nenhuma circunstância menciona o nome do marido de sua filha, nem ele o dela’. Nas Ilhas Salomão, após o casamento, o genro não pode ver nem conversar com a sogra. Se a encontrar, não deve reconhecê-la; deve fugir e esconder-se o mais depressa possível. Entre os bantos orientais, ‘o costume exige que o homem “tenha vergonha” da mãe de sua esposa, isto é, que se esquive deliberadamente à sua companhia. Não deve entrar na mesma cabana que ela e se por acaso se encontrarem num caminho, um ou outro volta-se para o lado, ela talvez escondendo-se por trás de um arbusto, enquanto ele oculta o rosto com o escudo. Se não puderem evitar-se assim e a sogra não tiver nada com que se cobrir, amarra um talo de capim em volta da cabeça, como símbolo de evitação cerimonial. Toda comunicação entre os dois - seja através de terceiros, seja gritando um para o outro a uma certa distância -, tem de ter alguma barreira interposta entre eles. Entre os basogas, povo banto que vive na região das nascentes do Nilo, o homem só pode falar com a sogra quando ela se encontra noutra peça e fora de vista. Incidentalmente, esses povos têm um tal horror ao incesto que o punem mesmo quando ocorre entre os animais domésticos”. (FREUD, 1913-1914, p.13-15)

(35)

Ela prepara os seus para participarem de algo maior. Os laços de sangue (família) preparando para laços de afetos que logo formarão novos laços de sangue, por conta da procriação, e assim sucessivamente. Isso “feita de indivíduos e de grupos que se comunicam entre si” (Lévi-Strauss, 1967, p.

66). A comunicação é o fator de união de indivíduos de famílias diferentes, que só podem se encontrar por estarem, ambas, inseridas em uma sociedade.

Função primordial de cada família, segundo Lévi-Strauss, é poder criar novas, formá-las, ou seja, a instituição que está formada agora está com seu tempo de existência determinado a desfazer em função de uma nova que se criará ao juntar-se com outra família que também sofrerá o processo de desmembramento.

O interesse fundamental com respeito à família não é protegê-la ou reforçá-la; é uma atitude de desconfiança, uma negação de seu direito a existir isolada ou permanentemente;

as famílias restringidas apenas estão autorizadas a gozar uma existência limitada no tempo – curta ou longa segundo as circunstâncias – mas sob a estrita condição de que as suas partes componentes sejam deslocadas, emprestadas, tomadas por empréstimo, entregues ou devolvidas incessantemente de forma a que se possam criar ou destruir perpetuamente novas famílias restringidas. (LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 44)

Uma ideia de família é a de trocas e construção. O antropólogo baseia sua ideia nos estudos que fez em várias tribos de diversos lugares onde pôde verificar que em todas, a ideia de troca entre famílias ou aldeias como uma situação de aproximação entre as que efetuavam essa união. Um casamento assim poderia ser uma ferramenta de união de povos, encerramento de possíveis futuras guerras, simbolização de paz entre os povos, famílias envolvidas.

Tal ideia, porém não veio à Levis-Strauss apenas pelo lado dos costumes das tribos e povos que avaliou. Chega à conclusão que tal proceder está baseado nas Escrituras Sagradas: “deixarás o teu pai e a tua mãe” proporciona “a regra de ferro para a fundação e o funcionamento de qualquer sociedade” (LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 44).

Partindo agora do ponto de uma organização familiar, de acordo com um

pressuposto sexual, o de procriar, argumenta que “o único instinto humano que

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