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1. A Gestão da Informação nas organizações: revisão da literatura

1.2 Gerir informação nas organizações: as múltiplas perspetivas

1.2.4 Repositórios Digitais

Apesar da significativa produção de informação através de ferramentas digitais, podem surgir problemas relacionados com a sua longevidade. A qualidade não é de facto uma componente em risco, no entanto, existe uma dependência tecnológica que pode tornar-se vulnerável face à rápida obsolescência a que geralmente a tecnologia está sujeita.

Os repositórios digitais são geralmente apresentados como “coleções digitais, de carácter informal e que podem ser construídos para diferentes finalidades”. Podemos verificar o caso dos repositórios com controlo superficial de autoridade e de conteúdo (repositórios colaborativos) e os que têm alto controlo (dirigidos a utilizadores específicos).

Apesar desta definição abrangente podemos encontrar diferenças ente repositórios de informação e repositórios digitais devido principalmente à grande variedade de contextos, comunidades, objetivos e práticas ligadas à criação e funcionamento destes repositórios. Segundo Heery e Anderson, um repositório digital é aquele onde os conteúdos digitais estão armazenados e passíveis de ser pesquisados e recuperados para uso posterior acarretando mecanismos de exportação, identificação, armazenamento e recuperação dos recursos digitais (Heery and Anderson 2005).

Neste campo, surge um outro conceito, o de preservação digital, enquanto “conjunto de atividades ou processos responsáveis por garantir o acesso continuado a longo prazo à informação e restante património cultural existente em formato digital”. Consiste assim na faculdade de garantir que a informação digital se conserve com qualidades autênticas suficientes para que possa ser interpretada futuramente, recorrendo a uma plataforma tecnológica capaz de a reproduzir. Para Margaret Hedstrom a preservação digital compreende os mecanismos que permitem o armazenamento em repositórios digitais que garantam que os seus conteúdos permaneçam de forma permanente num longo prazo (Hedstrom 1996).

Ligada à necessidade de gestão e preservação digital, surge a noção de um repositório digital assente:

 na definição de repositório digital confiável;

 na identificação de atributos primários de um repositório digital confiável;  na identificação de responsabilidades de um repositório compatível com o

modelo de referência OAIS;

Segundo Thomaz e Soares, procura-se a confiança “de que os produtores estão a enviar as informações corretas, que a confiança que os consumidores estão a receber são as informações corretas, e ainda, a confiança de que os fornecedores estão a prestar serviços apropriados” (Thomaz and Soares 2004).

O Modelo de Referência OAIS surge aqui como a infraestrutura conceptual para a criação de um arquivo digital que tem como objetivo regular o armazenamento a longo- prazo de informação digital. O modelo visa identificar os componentes funcionais que deverão fazer parte de um “sistema de informação” dedicado à preservação digital e descreve as interfaces internas e externas do sistema e “objetos digitais” e meta- informação associada. O modelo foi aprovado como norma internacional em 2003, através da ISO 14721 (2003), e a figura que se segue apresenta os diferentes componentes funcionais e os pacotes de informação trocados no interior de um repositório digital compatível com o modelo de referência OAIS.

Ilustração 5 - Componentes e pacotes de um repositório digital - ISO 14721 (2003)

De referir ainda que este modelo pressupõe o funcionamento através de uma organização de pessoas e sistemas que têm o objetivo de preservar a informação e torná-la disponível numa comunidade, sendo que para a concretização do processo de envio e chegada de informação, é necessário passar por um conjunto de etapas.

A meta-informação tem como finalidade descrever e documentar os processos e atividades relacionadas com a preservação de materiais digitais, sendo assim responsável pela reunião, autenticidade, preservação e descrição de ambiente tecnológico (hardware, sistemas operativos e software). Na parte operacional do

desenvolvimento do esquema de meta-informação para preservação, algumas atividades são necessárias: a implementação do esquema/norma de meta-informação, a criação de repositórios de meta-informação de preservação integrados a outros repositórios de meta-informação usados pela instituição e a definição do script para extrair a meta-informação de preservação, que produza um relatório em XML. Um dos requisitos dos repositórios digitais é referenciar de uma forma persistente os seus recursos. Os mecanismos utilizados, neste momento, são: o Handle System, o Digital

Object Identifier (DOI) e o Persistent Uniform Resource Locator (PURL).

Nos dias de hoje, onde cada vez mais as organizações dependem da informação que produzem em meio digital, torna-se urgente a implementação de políticas e técnicas que caminham no sentido de garantir a permanência e a acessibilidade a este tipo de informação. Sente-se, assim, a necessidade de certificar formalmente os repositórios, possibilitando o seguimento de boas práticas para que ao longo do tempo a confiança seja adquirida.

De uma combinação de auditoria e certificação de repositórios digitais resultaram dois projetos, tendo como base o modelo OAIS e partilhando a convicção da necessidade de análise de todo o sistema para a avaliação da fiabilidade da informação digital.

Por um lado, o Digital Repository Audit Method Based On Risk Assessment (DRAMBORA 2012), baseado em avaliações de risco, sendo a sua avaliação um estímulo para as organizações ganharem consciência da importância de gestão do risco. O seu trabalho resume-se na erradicação de ameaças que impedem a sua produtividade e transforma essas ameaças em estratégias instrumento para a auto-avaliação de repositórios digitais. Por outro, o Trustworthy Repositories Audit & Certification: criteria and checklist (TRAC), permite que os produtores, editores, agregadores e utilizadores de conteúdo digital avaliem os repositórios através de uma série de ferramentas desenvolvidas por várias organizações de preservação, direcionando-se assim a intenções de certificação. O TRAC foi recentemente substituído pelo Checklist

de Trustworthy Digital Repository Checklist (TDR), que é uma versão normalizada

também conhecida como ISO 16363 (2012).