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REPRESENTAÇÃO, PENSAMENTO E LINGUAGEM

A psicologia psicanalítica, ou m etapsicologia,2 com o Freud a cham ava, é a

construção teórica em preendida para descrever e explicar o funcionam ento psíquico im plícito nas form ações do inconsciente, cuja análise m ostrava de m odo sistem ático o desdobram ento da vida m ental em dois conjuntos orga- nizados de pensam entos, independentes um do outro, em bora referentes à m esm a questão. Tendo percebido de im ediato que a chave para a com preensão das form ações do inconsciente residia em com preender, ou interpretar, seu sentido, a construção da teoria freudiana organiza-se em torno de três ques- tões fundam entais: com o um produto psíquico, 1) adquire sentido, 2) que sentido é esse e 3) com o, e em que condições, pode ter acesso à consciência. A resposta a essas questões constitui seu m odelo do aparelho psíquico, elabo- rado in cessan tem en te ao lon go de toda a obra. De m an eira geral, pode-se dizer que ele conjuga um a teoria da representação, um a teoria do pensam en- to e um a teoria da linguagem .

Em Freud, a tradicional dicotom ia entre o lado m aterial, ou do conteúdo ideativo, tradicionalm ente identificado com o a faceta psicológica e subjetiva do fenôm eno m ental, e o lado form al, ou do pensar, tam bém por tradição identifi-

1 A teoria psicológica de Freud está inscrita no quadro da tradição epistem ológica do pensam en-

to ‘representacional’, que percorre as discussões da filosofia m oder na desde Descartes e Locke até Kant, e forjou grande parte das idéias que presidiram o surgim ento da psicologia com o ciência, desde a m ecânica das representações de Herbart ao projeto de um a psicologia fisioló- gica de Wundt. Um a abordagem da m etapsicologia freudiana a partir deste ponto de vista pode ser encontrada em Assoun, P-L., 1995.

2 Freud a cham ava de m etapsicologia por considerar sua teoria com o referindo-se aos processos

inconscientes, indo além , portanto, da psicologia da consciência de sua época. No entanto, dentro das ciências cognitivas contem porâneas, a noção de que os processos cognitivos são em essência inconscientes é am plam ente aceita. Não vejo, portanto, necessidade de continuar utilizando o prefixo ‘m eta’.

cado com a faceta lógica e objetiva, vão assum ir a form a da dicotom ia entre representação (Vorstellung) e pensam ento (Gedanke) . Os processos perceptivos fornecem o conteúdo representacional dos processos m entais, e a experiência do sujeito, relativa a esse conteúdo, fornece seu processam ento, os cham ados ‘processos de pensam ento’.

Freud considera as representações com o entidades analógicas e im agéticas. Elas se originam da percepção, seja interna ( os traços m nésicos das excitações internas) , seja externa ( as im agens m nésicas dos objetos) , e são concebidas com o unidades m entais — fundam entalm ente im agens psíquicas de objetos e sensações exteriores ao aparelho psíquico. Com o não são entidades isoladas, m as estão relacionadas em redes associativas que espelham sua ocorrência na realidade externa, são capazes de representar tam bém relações e eventos.

Esta concepção está enunciada de m odo claro, por exem plo, no capítulo 7 de A interpretação de sonhos ( 1900/ 1972) e no capítulo 2 de O ego e o id ( 1923/ 1976) , m as pode ser observada já no texto sobre as afasias de 1891.3 Ali, Freud intro- duz a distinção entre representação de objeto (Objektvorstellung) e representação d e p alavr a (W ort vorst ellung) , q u e reap ar ecer á ap en as em 1 9 1 5 , n o texto m etapsicológico sobre o inconsciente, quando a representação de objeto é cha- m ada de representação de coisa (Sachvorstellung) .O exam e da noção de represen- tação de objeto m ostra que Freud a concebe com o: “...um com plexo de asso- ciações, form ado por um a grande variedade de apresentações visuais, acústicas, táteis, cenestésicas e outras”( 1915/ 1974a, p.244) . Freud apóia-se, aqui, em J.S. Mill, m encionando A system of logic com o sua fonte.

É im portante salientar, além de suas fontes filosóficas e do fato desta con- cepção estar inscrita no quadro da psicologia alem ã da época, a noção explici-

tam ente invocada de que um a Objektvorstellung é um a espécie de conglom erado

de traços m nésicos de sensações. É aberto, isto é, sem pre pode ligar-se a novas sensações, e é representado por um a sensação saliente: “Entre as associações de objeto, são as visuais as que representam o objeto...” ( p.244) .

Além desse conteúdo representacional, as Vorstellung tam bém são dotadas de um a quantidade de energia (Energie) ou investim ento (Besetzung ou Catexia) .4 Em seu artigo sobre a “Repressão” ( 1915/ 1974b) , Freud trata essa cota de energia com o cota de afeto (Affektbetrag) , já que ela encontra expressão em processos sen- tidos com o afetos. Mas, há um a diferença fundam ental entre investim ento e cota de afeto: “A diferença toda decorre do fato de que idéias são catexias — basicam ente de traços de m em ória — enquanto que os afetos e as em oções

3 Um excerto pode ser encontrado no apêndice C de Freud ( 1915/ 1974a) .

4 Catexia é, na verdade, o term o que a tradução inglesa adotou para traduzir tanto Besetzung

correspondem a processos de descarga, cujas m anifestações finais são percebi- das com o sentim entos” ( 1915/ 1974b, p.204) .

Deve-se observar que a face de investim ento de um a representação não se confunde com processos de descarga, ou seja, com afetos, em oções e sentim en- tos. Investim ento, para Freud, designa ativação, capacidade de ligação e relação entre as representações, o que resulta nas idéias. Um a representação investida é um a idéia ativada e ligada, cujas relações com outras idéias são possíveis. Esta concepção, além de sua origem na m ecânica representacional de Herbart, é tam bém inspirada na doutrina anatôm ica do neurônio, que vinha sendo postu- lada pela neurofisiologia do século XIX.5 Tais partículas m ateriais, os neurônios, distinguem -se por estarem num estado de atividade ou num estado de repouso devido a um a certa quantidade, sujeita às leis gerais do m ovim ento. Assim , um neurônio pode estar vazio ou cheio de certa quantidade de energia. Esta pode fluir através de um sistem a de neurônios, que pode oferecer resistência ou faci- litar essa passagem .

Assim , um a coisa são as relações associativas presentes nas representações de objeto, advindas das relações captadas pelos processos perceptivos, que for- m am os com plexos de sensações associados em um a representação. Outra coisa é a ativação ou inibição desses com plexos representacionais pela energia fluen- te no sistem a nervoso. A esse processam ento de ativação ou inibição das repre- sentações Freud cham a “processo de pensam ento”.

Com essas noções em m ãos, ele postula, de acordo com a concepção do princípio do prazer e do arco-reflexo, que há um tipo de processam ento da energia no aparelho m ental no qual ela flui livrem ente através das representa- ções, desde o pólo do estím ulo ao da resposta. São as energias livres que carac- terizam um tipo de processo de pensam ento que receberá o nom e de processo prim ário. Este processam ento é típico dos processos inconscientes.

O outro tipo de processo de pensam ento, cham ado de processo secundário, se vale de outra form a a energia, a energia quiescente ou ligada. Isso significa que sua descarga fica suspensa até que m uitos cam inhos associativos tenham sido percorridos, o que espelha no interior do aparelho psíquico as ações que devem ser executadas na realidade para que a descarga atinja seus objetivos de escoa- m ento. Esses processos de pensam ento, que nada m ais são do que “ação inte- riorizada”, ou “ensaios para a ação”, são típicos do sistem a pré-consciente. Eles incluem os cham ados ‘processos racionais de pensam ento’, um a vez que neces- sitam levar em conta o m undo externo no equacionam ento de seus objetivos.

5 Sabia-se que a condução nervosa era acom panhada por m udanças elétricas. Os experim entos

com o reflexo sugeriam que os neurônios centrais ofereciam m aior resistência às excitações que as fibras nervosas e eram capazes de desenvolver grandes quantidades de energia arm azenada. Para um a discussão sobre esses desenvolvim entos ver Kitcher, 1995.

Dessa form a, o pensam ento, para Freud, é a contraparte psíquica da ação, um a vez que ele corresponde a deslocam entos de energia m ental que visam a descarga m otora da excitação. Essa ação pode ser im ediata ou reflexa, no caso de ser dirigida pelo processo prim ário, ou incorporar a atividade do sujeito em seu m eio, quando é regida pelo processo secundário.

Além disso, o pensam ento, para Freud, é fundam entalm ente não verbal. As representações organizam -se em conjuntos ordenados segundo padrões advindos da experiência perceptual, por um lado, e padrões de ativação e inibição, por outro, podendo ser m apeadas à linguagem . Mas o pensam ento pode prosseguir sem ser expresso em form a lingüística. Para Freud, pensam ento e linguagem são dois dom ínios diferentes que podem ou não se entrecruzar.

A representação de palavra é, tam bém ela, um com plexo associativo que reúne elem entos de origem visual ( sua im agem escrita) , acústica ( sua im agem sonora) e cenestésica ( sua im agem m otora ou articulatória) . Assim com o a im agem visual representa o com plexo associativo do objeto, a im agem acústica ( ou sonora, com o a cham a Freud) , representa o com plexo associativo da pala- vra. E a im agem sonora da palavra liga-se à im agem visual do objeto. É essa ligação que dá o significado das palavras. Em O ego e o id, Freud vai observar que os com ponentes visuais e m otores da im agem da palavra são secundários, e vai reduzir esta últim a a seu com ponente acústico: “Em essência, um a palavra é, em últim a análise, o resíduo m nêm ico de um a palavra que foi ouvida” ( 1923/ 1976, p.34) . Ele atribui, inclusive, ao sistem a pré-consciente, um a fonte sensó- ria especial para as percepções auditivas da linguagem .

A ligação da im agem acústica da palavra com a im agem visual da represen- tação resulta em um a correspondência entre um a representação de coisa e um a representação de palavra. Esta correspondência tem um papel prim ordial no acesso dos processos de pensam ento à consciência e na m ecânica do recalcam ento: “...já sugeri que a diferença real entre um a idéia ( pensam ento) do Ics. ou do Pcs. consiste nisto: que a prim eira é efetuada em algum m aterial que perm ane- ce desconhecido, enquanto que a últim a ( a do Pcs.) é, além disso, colocada em

vinculação com representações verbais” ( 1923/ 1976, p.33) .

Da linguagem depende o acesso à consciência dos processos de pensam en- to, um a vez que a linguagem dispõe de palavras ligadas a coisas, m as tam bém de palavras que exprim em relações:

“... estando ligadas a palavras, as catexias podem ser dotadas de qualidade m esm o quando representem apenas relações entre apresentações de objetos, sendo assim incapazes de extrair qualquer qualidade das percepções. Tais relações, que só se tornam com preensíveis através de palavras, constituem um a das principais partes dos nossos processos de pensam ento.” ( 1915/ 1974a, p.231)

O resultado disso é que pensam ento e linguagem são duas ordens distintas e, o que é de fundam ental im portância, o pensam ento, a ordem derivada da percepção e da experiência, é o que dá sentido às expressões lingüísticas.

Mas é possível para o pensam ento tornar-se consciente sem palavras:

“Não devem os deixar-nos levar, talvez visando a sim plificação, a esquecer a im por- tância dos resíduos m nêm icos ópticos, quando o são de coisas, ou a negar que seja possível os processos de pensam ento tornarem -se conscientes m ediante um a re- versão a resídu os visu ais, e qu e, em m u itas pessoas, este parece ser o m étodo favorito. O estudo dos sonhos e das fantasias pré-conscientes pode... dar-nos um a idéia do caráter especial deste pensar visual. ...De certa m aneira, tam bém , ele se situa m ais perto dos processos inconscientes do que o pensar em palavras, sendo in q u estio n avelm en te m ais an tigo q u e o ú ltim o, tan to o n to gen ética q u an to filogeneticam ente.” ( FREUD, 1923/ 1976, p.35)6

Esta noção sem ântico-cognitiva de pensam ento, com o padrões de ativação e inibição sobre com plexos representacionais, pode ser apreciada concretam ente no papel decisivo que desem penha na teoria freudiana dos sonhos. Para Freud, um sonho pode ser reduzido a um a form ulação proposicional, isto é, a um pensam ento, com posto por um processo de pensam ento residual do dia anteri- or, que se origina da vida cotidiana m as que recebeu o investim ento de um desejo inconsciente. Essa seqüência de pensam entos recebe um a série de trans- form ações ao ser subm etida aos processos prim ários, cuja m ecânica é a do deslocam ento, da condensação e da transform ação em im agens.

O deslocam ento atua sobre as intensidades das idéias e a condensação as acum ula, de m aneira que se form am idéias dotadas de grande intensidade. No processo de condensação, a intensidade carrega a apresentação sensorial de um a idéia, isto é, sua apresentação perceptiva fica intensificada. Freud com para isso com o negrito num texto, quando se quer salientar um a palavra, ou com antigas esculturas históricas, que representavam a im portância das pessoas por m eio de suas dim ensões. Diz Freud: “O resultado da atividade da condensação é a obtenção das intensidades necessárias para forçar cam inhos aos sistem as perceptivos” ( 1900/ 1972, p.634) . E m ais adiante: “Poder-se-ia supor que a con- densação e a form ação de com prom issos só é efetuada a fim de facilitar a

6 Esta idéia de um pensam ento m ais arcaico atesta a influência da teoria evolucionista, nesse caso

da versão do fisiologista inglês John H. Jackson, na obra de Freud. Jackson argum entava que o sistem a nervoso está com posto por diferentes níveis que representam outros diferentes níveis de desenvolvim ento evolutivo e gradativam ente são capazes de desem penhar tarefas m ais com plexas. Nas doenças m entais, a ‘dissolução ner vosa’ prejudica os níveis m ais altos, sendo que o pensam ento volta para níveis m ais prim itivos e antigos ( KITCHER, 1995, p.24) .

regressão, isto é, quando se trata de transform ar pensam entos em im agens” ( 1900/ 1972, p.635) .

O conceito de regressão apareceu cedo na obra de Freud.7 Relaciona-se com

o m odelo topográfico do aparelho m ental elaborado em A interpretação dos sonhos, m as depois adquire outros dois sentidos, o ‘tem poral’ e o ‘form al’, que podem ser considerados com o extensões sem ânticas do sentido topográfico original. No sentido tem poral, designa o retorno a fases anteriores do desenvolvim en- to, seja da libido, de relações de objeto ou de iden tificações. No sen tido form al, é em pregado para nom ear o retorno a m odos de expressão evolutiva- m en te ‘inferiores’.

Freud se vê obrigado a introduzir este m al fadado conceito para explicar a predom inância im agética dos sonhos e sua qualidade alucinatória — isto é, a vivência dos sonhos pelo sonhador com o se fosse algo real, presente na percep- ção atual — e para dar conta da im portância das im agens para a com preensão dos processos m entais inconscientes. Com o a idéia básica que norteia a concep- ção do m odelo topográfico do aparelho psíquico é a do arco reflexo, o conceito de regressão quer dizer apenas que, nos sonhos, a excitação se m ovim enta

num a direção para trás do referido aparelho, em vez de m ovim entar-se, com o

é norm al, para a frente, para a extrem idade m otora do aparelho. Mas, a regressão é um processo que não ocorre apenas nos sonhos:

“A rem em oração intencional e outros processos constituintes de nosso pensam en- to norm al envolvem um m ovim ento retroativo do aparelho psíquico, de um ato ideacional com plexo para a m atéria-prim a dos traços de m em ória subjacentes a ele. No estado de vigília, contudo, este m ovim ento para trás nunca se estende além das im agens m nem ônicas; ele não consegue produzir um a revivificação alucinatória das im agens perceptuais.” ( 1900/ 1972, p.579)

Todas as relações lógicas pertencentes aos pensam entos oníricos, que na análise de um sonho podem ser expressas pela linguagem , durante a atividade onírica só encontram expressão por m eio de im agens. Na seção C do capítulo VI de A interpretação dos sonhos, Freud discute as diferentes form as que a elaboração onírica utiliza para representar as diversas relações que são expressas por con- junções lingüísticas com o ‘se’, ‘porque’, ‘em bora’, etc... “A incapacidade dos

7 A prim eira publicação da palavra alem ã Regression ocorre no capítulo VII de A Interpretação dos sonhos

( 1900/ 1972) , m uito em bora o conceito a ela vinculado já tivesse sido trabalhado por Freud n o Projeto para um a psicologia científica ( 1950 [ 1895] / 1977) , descrevendo o m ovim ento regressivo (Rückläufig) de um a excitação a partir de um a idéia até a percepção, tendo sido nom eado pelo

sonhos de expressarem essas coisas deve estar na natureza do m aterial psíquico do qual são form ados os sonhos”( 1900/ 1972, p.332) . Observa a analogia entre a form a expressiva dos sonhos e a da pintura e da escultura, que está condicio- nada e determ inada pela natureza do m aterial que essas form as de arte m ani- pulam . Assim , por exem plo, um gr upo conceitual, com o o dos filósofos, é representado pelo pintor no quadro da Escola de Atenas, com todos os filóso- fos reunidos em um único salão, coisa que, de fato, jam ais poderia ter ocorri- do. A sim ultaneidade no tem po e no espaço reproduz a ligação que reúne todos os indivíduos: o fato de todos pertencerem à m esm a categoria conceitual. Tem os aqui a representação de um conceito abstrato — um a categoria conceitual — através de elem entos concretos: a proxim idade física e a sim ultaneidade tem po- ral. Isso é possível porque todos os elem entos representados — as pessoas re- tratadas — com partilham de propriedades com uns que perm item que sejam situados com o pertencendo a um grupo com um .

A conceitualização é um a atividade do pensam ento e é fundam entalm ente sem ântica.8 Sua representação pode ser im agética — se feita com im agens — ou lingüística — se feita com palavras. Em am bos os casos, seu sentido não é deter- m inado pela form a expressiva, m as por seu conteúdo sem ântico. E esse conteúdo é dado pelos processos de pensam ento que m anipulam as representações.

Na próxim a seção, argum entarem os que a form a de expressão im agética não é nem m ais prim itiva nem m ais inferior que a lingüística. Pelo contrário, ela constitui a base da atividade do pensam ento, que possibilita seu m apeam ento à linguagem .

Esse breve percurso é suficiente para m ostrar que pensar, para Freud, é um a atividade sem ântica e não sintática. E isso pode ser constatado inclusive onde seus escritos parecem aproxim ar-se, ainda m ais que A interpretação dos sonhos ( 1900/ 1972) , da determ inação da form a lingüística na produção do significado, com o é o caso da Psicopatologia da vida cotidiana ( 1901/ 1976) e de Os chistes em sua relação com o inconsciente ( 1905/ 1977) .

Nessas duas obras fica evidente a estratégia sem ântica utilizada por Freud para o tratam ento dos lapsos e dos chistes, estratégia que perm itiu a categorização desses fenôm enos juntam ente com os sonhos e os sintom as. Busca a origem dos lapsos e dos chistes em influências exteriores à cadeia da fala, em outra seqüên- cia de pensam entos, inconsciente m as ativa no sujeito no m om ento. É justam en- te a recuperação dessa outra cadeia de pensam entos, pela via da associação livre, que perm ite dar sentido a essas form ações e situá-las com relação à vida e às experiências de quem as produziu. Dessa form a, Freud busca a explicação

8 Sobre a categorização conceitual teorizada a partir de um ponto de vista sem ântico ver Lakoff

não na form a lingüística, m as nos processos de pensam entos envolvidos na sua produção.

Isso significa que as leis form ais da linguagem , sejam fonológicas ou sintá- ticas, não fornecem um a explicação adequada das causas desses fenôm enos. Elas representam os m ecanism os da linguagem e, com o lapsos e chistes ocorrem inva- riavelm ente em um a linguagem , na linguagem do falante, eles por força obede- cem às leis que regem a linguagem em que ocorrem , da m esm a form a que qual-