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Representações sobre as disposições e vivências escolares dos alunos da

Capítulo VII – O corpo docente e as suas visões sobre a escola e as práticas estudantis

7.3. Representações sobre as disposições e vivências escolares dos alunos da

Um aspeto comum nos discursos do corpo docente entrevistado quando questionado sobre as disposições e atitudes dos jovens perante a escola, a maior parte afirma que os jovens gostam de frequentar a escola, mas pelas redes de sociabilidades que este espaço lhes permite desenvolver. Reconhecendo que existem alunos que gostam de ir para a escola para aprender, admitem que na sua maioria gostam da escola pelas relações interpessoais que aí se desenvolvem e não para estudar propriamente,

“eu acho que os alunos gostam bastante é de estar aqui para conviver com os amigos, e

partilharem as vidas deles… (…) os que vêm estudar também dão muito enfase às relações interpessoais, mas os que não vêm para estudar, e são bastantes, eles vêm na mesma para a escola, eles acabam por estar aqui, só que não vão às aulas.” (Diretor de turma, 9º ano, 46

anos)

“(…) eles gostam da escola, quando não têm aulas às vezes ficam à porta da escola, combinam encontros à entrada da escola, porque isto é um porto de abrigo, eles gostam da escola, (…)” (Animador Sociocultural, 31 anos)

“Do gosto pela escola, eles adoram a escola, gostam mesmo de frequentar a escola, em termos de ambiente escolar. Mas em termos de estar na sala de aula, já é outra coisa.”

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Admitindo que se cria uma ligação entre os alunos e a escola importante e significativa,

“eu acho que é aquilo que os aproxima mais da escola, estar com os colegas.” (Diretora,

57 anos)

Valorizando-se,

“O ter amigos, o partilhar esses tempos, (…)” (Diretora de turma, 12º ano, 52 anos) “Tem a ver com a dimensão da vivência, não só em termos de faixa etária o que eles procuram, como o grupo de pares e integração social, o que eles entendem da escola (…)”

(Psicóloga, 42 anos)

Há também a convicção de que os alunos gostam de estar na escola, mas alguns, na maioria rapazes, ainda não têm maturidade para ter objetivos de vida,

“Ainda são muito brincalhões, ainda brincam muito… Eu quando era aluna, se eu recebesse, que nunca recebi assim um teste, mas se eu recebesse um teste abaixo das minhas expetativas eu ficava muito aborrecida… Eles não, estão na maior, riem-se…” (Diretora de

turma, 12º ano, 52 anos) Acrescentando que,

“cada vez aumentam mais este tipo de alunos que gostam de andar na escola, mas que não tem aquela ambição de fazer o mais rápido possível e o melhor possível.” “O ter amigos, o partilhar esses tempos, (…)”. (Diretora de turma, 12º ano, 52 anos)

Por outro lado, as diferentes disposições e atitudes face à escola manifestam-se,

“portanto muitas vezes apanhamos este ou aquele que devia estar na aula e não está mas que está animadíssimo na escola, e depois temos aqueles que vêm a escola porque têm aula ou têm atividades ou porque às vezes até vêm para a biblioteca para fazer um trabalho, hmm, têm desporto escolar, enfim…”; “depois há sempre aqueles casos raros daqueles que querem é dar uns furinhos para ir arejar para outro lado qualquer” (Diretora, 57 anos)

Sente-se também uma desmotivação dos alunos face à escola,

“Depois se calhar, há aqui uma desmotivação, porque se calhar não há estas expetativas de futuro, não reconhecem o que a escola lhes pode dar e há este desfasamento entre o que se passa na sala e aula e depois fora dela, na escola em si, porque eles gostam e participam nas atividades a 100%.” (Animador sociocultural, 31 anos)

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O animador atribui um forte papel aos pais neste fenómeno, considerando que as expetativas não se fazem sentir, não se vê grande comprometimento com a escola, o que se deve à inexistência de uma retaguarda familiar e “É do género, se conseguir conseguiu, senão depois

vê-se outra coisa qualquer…”. Acrescentando que a esta falta de retaguarda, a desmotivação, o

insucesso escolar, e o facto de acompanharem um grupo que não dê importância à escola, são fatores que em conjunto contribuem para que haja um afastamento natural face à escola que comprometa as trajetórias futuras. Também a psicóloga relata que a própria família pode influenciar as disposições dos seus filhos face à escola,

“(…) tem muito a ver com o sentido que as próprias famílias atribuem à escola, como sendo uma obrigação em termos de frequência, não promovendo tanto a perceção de que a escola é um instrumento de realização de carater académico, mas acima de tudo de caráter pessoal, que tem a ver com o projeto de vida, e aí há uma multiplicidade de backgrounds dos miúdos (…) considerando o que alguns pais o verbalizam “para mim não foi importante, o importante é ele estar por aqui e depois logo se vê.”” (Psicóloga, 42 anos)

Como podemos constatar, estas afirmações não remetem grande importância às experiências escolares. Depois,

“(…) se eles já têm fragilidades internas, naturalmente, não verão na escola mais-valias, é um espaço de socialização que eles adoram, (…) Antes eles vinham muito há escola mas faltavam muito às aulas, já não é assim, mas alguns, em específico, vêm pra a escola, mas a vontade de não investir no contexto só não resulta num sentido, mas o desinvestimento está lá e muito claro, só não fazem o absentismo como faziam há uma década atrás” (Psicóloga, 42

anos)

De forma exclusiva, surgiu-nos uma opinião de que os alunos não gostam muito de frequentar aquela escola em particular, pelo facto de não poderem desenvolver uma série de atividades que são possíveis noutras escolas, como uma viagem de finalistas, ou uma festa de Natal,

“(…) custa-me dizer isto, mas o que eles me dizem a mim é que não gostam muito desta escola. Não gostam porque esta escola não tem muitas coisas que outras escolas têm para os alunos, nomeadamente, eles falam muito naquelas festas de final de ano, não têm festas de carnaval, de natal,…” “até gostavam de andar noutra escola por causa disso”; “Sentem que deviam ter mais…” (Diretora de turma, 9º ano, 43 anos)

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Assim como mais espaços onde pudessem conviver, uma vez que reconhecem o estado degradado da sala de convívio. No entanto, salienta que o que eles mais valorizam na escola são os colegas, o convívio e os intervalos,

“Eles gostam muito de aprender, mas obviamente que se tiverem um furo ficam todos contentes (…)”. (Diretora de turma, 9º ano, 43 anos)