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REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA

8.3. Reprodução Humana Assistida: Brasil

No Brasil, após o nascimento do primeiro bebê de proveta, como foi citado acima, o campo da reprodução humana ganhou fôlego e, na entrada dos anos 1990, alguns profissionais da área começaram a se organizar no sentido de criar associações representativas específicas do métier. Atualmente existem, entre outras, três grandes associações que se autodenominam representativas dos profissionais de reprodução humana, sendo duas brasileiras e uma latino americana: a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e a Rede Latino Americana de Reprodução Assistida (REDLARA).

avó, de 59 anos de idade, no interior de São Paulo, que após três tentativas de FIV, pariu uma menina – ver: Folha de São Paulo, caderno Cotidiano C9 de 29/09/2010.

Criada em 1947, a SBRH é a mais antiga delas e tem sua sede em São Paulo. Assim como as outras duas, o objetivo dessa sociedade é promover a educação médica nesse campo, proporcionar encontros sistemáticos entre os profissionais da área, com todo tipo de informação, saberes e divulgação de dados de pesquisas, sob forma de congressos, jornadas e simpósios. Além dos médicos especialistas na composição de seus quadros, a SBRH conta com um enorme leque de outros profissionais da saúde entre seus associados, que são em número de 279088 no Brasil inteiro.

A SBRA foi criada em 1996 com objetivos bem próximos aos da antecessora, produzindo uma revista e organizando congressos anuais. No site oficial dessa associação na internet, diferentemente da SBRH que disponibiliza o número de profissionais afiliados, a SBRA expõe o número de clínicas em todo país: 6389.

Com sede no Chile, a Redlara foi criada em 1995 com o objetivo de se constituir uma instituição científica e educacional, promovendo o conhecimento na área da reprodução humana assistida. Possui em seus registros específicos sobre o Brasil, 59 centros de tratamento de fertilidade90. Em 1999, essa instituição elaborou um relatório que analisava dez anos de atividade de reprodução assistida, com informações sobre a Argentina, a Bolívia, o Brasil, o Chile, a Colômbia, o Equador, a Guatemala, o México, o Peru, o Uruguai e a Venezuela. Esse relatório levantou a importância da elaboração, análise, divulgação de resultados e crítica de pesquisas nesse campo do saber, tal qual ocorre nos Estados Unidos (ARMS)91 e o Fivnat92. A coleta seria feita em bases voluntárias, porém pouco a pouco, constata-se certa pressão por parte dos próprios profissionais em participar, na medida em que um movimento em busca de maior credibilidade das clínicas de reprodução assistida reforçaria a necessidade. Com isso, seriam estabelecidos critérios para abertura e funcionamento de clínicas dispostas a oferecer o tratamento de RHA. Toda essa organização ajudaria não apenas a estabelecer as bases de atuação dos profissionais, como serviria também de espaço para manifestação das opiniões e dúvidas do paciente; afinal ainda existem discussões no próprio campo dos especialistas, como por exemplo: a questão da produção excessiva de embriões, bem como o número de embriões a ser transferidos, as gestações

88 Última consulta em 31/08/2010 no site: http://www.sbrh.org.br/

89 Última consulta em 31/08/2010 no site: http://www.sbra.com.br/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1 90 Última consulta em 31/08/2010 no site: http://www.redlara.com/home1.asp

91 ROTANIA (2003).

92 A associação Fivnat produz estatísticas sobre reprodução humana assistida – tradução livre (L'association

FIVNAT gère les statistiques de l'Assistance Médicale à la Procréation en France). Também ver site: http://fivnat.fr.pagesperso-orange.fr/

múltiplas que representam risco, a importância da unificação dos formulários de consentimento livre e informado, entre outras. Ainda que a RHA faça parte de inúmeras rodas de conversa, onde as pessoas emitem juízos como se os procedimentos fossem cada vez mais simples, o fato é que se tornam mais complexos e sofisticados com o passar do tempo, e é indispensável trabalhar todos esses aspectos e fomentar mais estudos.

Nas três associações, fica em evidência a concentração da oferta do serviço na região Sudeste, com ênfase para o estado de São Paulo, tanto no que concerne às clínicas privadas, quanto aos hospitais públicos.

Embora esses dados pareçam expressivos, ainda não representam o número total dos serviços no campo da RHA no Brasil porque a notificação ou a associação a essas entidades não é obrigatória, mas facultativa.

O mesmo ocorre com uma notificação mais específica: a dos procedimentos de RHA. Não há nenhum tipo de órgão que regulamente ou obrigue os registros de dados. Há recomendação, apenas, ficando a critério do profissional o registro ou não, de seus procedimentos e/ou protocolos, em uma dessas associações. Em virtude disso, não se tem, por exemplo, estatísticas do número de FIVs, de IAs, ICSIs, abortos espontâneos decorrentes desses procedimentos, taxas de gravidez que chegam a termo, número de gravidezes gemelares, taxas da aplicação da redução fetal, entre outros. Lamentavelmente há uma verdadeira precariedade nesse campo. Essa afirmação procede, porque mesmo qualquer pesquisa na área acaba por perder sua consistência pela ausência do registro de dados. Os estudos devem ser mais locais (estudos com grupos pequenos), não se tendo, portanto, condições de desenhar um estudo de maior alcance, com o objetivo, por exemplo, de analisar o número total de crianças nascidas através de FIV no Estado num determinado período. Não há, tampouco, uma fiscalização sistemática das clínicas: a sociedade conta com o “bom senso” dos profissionais envolvidos com nesse campo ainda tão particular da saúde93.

93 Recentemente, o ilustre e nacionalmente conhecido médico Roger Abdelmassih foi alvo de um escândalo que

teve repercussão nacional: sendo ele um dos precursores da RHA no Brasil, conhecido pelo expressivo número de bebês que colocou nos braços de muitos casais, sempre divulgando seus êxitos em revistas de circulação popular ricamente ilustrados com fotos, se viu denunciado por assédio sexual por no mínimo 60 mulheres (há especulações de sub notificação desses casos pelo constrangimento da aparição pública, uma vez que as pacientes desse especialista são mormente das classes mais abastadas do país, havendo possibilidade de que esse número seja ainda maior), tendo sido preso e seu registro do CRM suspenso. O processo ainda está em andamento na justiça, porém serve de exemplo do quão importante seria que as autoridades federais olhassem, com o suporte de seus equipamentos adequados, com mais cuidado para esse campo do saber médico, criando formas de acompanhamento dos cidadãos, leis mais específicas, passíveis de fiscalização, notificação e, sendo

Como afirma ROTANIA (2003), a medicalização da fecundidade feminina e a falta de uma regulamentação da RHA acabam por permitir a falta de acesso aos dados sobre os efeitos colaterais dos medicamentos, o número de embriões que são produzidos, implantados, criopreservados e/ou descartados; também há carência de estatística de mulheres com gravidez gemelar e seus desdobramentos, como a prematuridade, a redução fetal e em que medida ela é aplicada, ou ainda, quais as consequências para a saúde física e emocional das mulheres que se submetem a esse tratamento, entre outros aspectos. Sabe-se que essa notificação é um procedimento viável e possível, uma vez que países como a França, a Inglaterra, a Alemanha, a Austrália e os Estados Unidos, além de documentarem esses dados, os estudam, até para buscar e garantir melhores resultados nos tratamentos.