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Rescisão indireta do contrato de trabalho

No documento MESTRADO EM DIREITO DO TRABALHO (páginas 165-170)

5. MECANISMOS ADOTADOS PELO DIREITO DO TRABALHO

5.1. Rescisão indireta do contrato de trabalho

Uma das soluções apontadas pela doutrina para as situações em que o empregador submete seus empregados à revista íntima é a rescisão indireta do contrato de trabalho, com fundamento no artigo 483 da CLT.

Leciona Sandra Lia Simón361 que a legislação infraconstitucional é

muito específica, o que restringe demasiadamente as hipóteses da tutela dos direitos da personalidade. No que se refere à relação de emprego, limita-se apenas a autorizar a rescisão do contrato de trabalho por justa causa do empregador, a chamada rescisão indireta do contrato de trabalho.

361

Prevê o artigo 483 da CLT que o empregado pode considerar rescindido o contrato de trabalho e pleitear a devida indenização, enumerando algumas hipóteses, não taxativas e bastante elásticas, para a rescisão do contrato.

Dentre as hipóteses tratadas pelo referido artigo, as previstas nas alíneas b, c e e podem ser perfeitamente aplicáveis nos casos de revistas pessoais.

A alínea b do artigo 483 da CLT prevê a possibilidade de rescisão indireta do contrato de trabalho quando o empregado for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; a alínea c prevê tal possibilidade quando o empregado correr perigo manifesto de mal considerável; enquanto que a alínea e prevê que o empregado pode rescindir o contrato quando o empregador ou seus prepostos praticarem contra o empregado ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama.

A alínea b do artigo 483 da CLT trata do descumprimento do princípio da proporcionalidade e da razoabilidade, que deve reger as relações de trabalho362. Quando o empregador excede o exercício regular do direito que lhe é concedido, como no caso da prática de revistas pessoais em seus empregados, está desrespeitando o princípio da proporcionalidade e agindo com rigor excessivo.

362

A alínea c prevê como infração do empregador, o fato de expor o trabalhador, pelas condições do ambiente de trabalho ou pelo exercício da atividade, a risco não previsto no contrato. Não se trata de riscos normais da profissão, mas dos riscos anormais363.

Em uma primeira leitura, poderíamos imaginar a aplicação da alínea c apenas aos casos de acidentes do trabalho ou típicas doenças ocupacionais. Porém, não podemos nos esquecer que a higidez psíquica e moral do trabalhador também pode ser atacada em um ambiente de trabalho com constante pressão e desconfiança, onde o empregado é freqüentemente revistado, às vezes de forma vexatória e aviltante.

Segundo Mauricio Godinho Delgado364, a alínea e do artigo 483 da CLT, restringe-se a ofensas morais ou à imagem do trabalhador ou de sua família, praticadas pelo empregador ou seus prepostos.

Assim, o texto da alínea e também é perfeitamente aplicável a pratica constante de revistas pessoais vexatórias, uma vez que elas atingem a intimidade e dignidade do trabalhador, ferindo sua moral.

Leciona Alice Monteiro de Barros365 que o artigo 483 da CLT impede

que o empregador ofenda a honra e a boa fama do empregado. Assim, tanto os crimes contra a honra (calúnia, injúria ou difamação) como outros comportamentos que possam magoar o empregado, atingindo a sua dignidade

363

Mauricio Godinho Delgado, Curso de direito do trabalho, p. 1220.

364

Ibidem, p. 1222.

365

pessoal serão tidos como atentatórios à honra. O artigo 483 também proíbe que o empregado seja tratado com rigor excessivo, isto é, afastando qualquer violação abusiva do poder diretivo.

Leciona Amauri Mascaro Nascimento que a “dispensa indireta, salvo exceções, pressupõe o prévio desligamento de iniciativa do empregado”366.

Cabe ao empregado, no caso de invasão da sua privacidade e desrespeito de sua dignidade por parte do empregador, afastar-se do trabalho e ingressar na Justiça do Trabalho com o pedido de rescisão indireta do contrato, com fundamento em uma ou mais das alíneas acima citadas no artigo 483 da CLT.

Ao empregado não são conferidos os poderes de fiscalização e disciplina, como conferidos ao empregador, de tal sorte que a rescisão indireta do contrato de trabalho tende a passar, quase que obrigatoriamente, pelo rito formal da ação trabalhista. A ação trabalhista estabelecerá, por sentença, a data da resolução contratual e as verbas rescisórias devidas367.

A doutrina é divergente no que diz respeito à necessidade de afastamento das funções por parte do empregado. O dissenso decorre segundo Mauricio Godinho Delgado368, da má redação do parágrafo 3º do art. 483 da CLT.

366

Curso de direito do trabalho..., p. 501.

367

Mauricio Godinho Delgado, Curso de direito do trabalho, p. 1224.

368

Segundo Godinho369, o dispositivo legal estabelece que, mesmo no

caso das hipóteses menos gravosas, o empregado pode afastar-se do serviço para propor a ação de rescisão indireta. O afastamento nos demais casos também é opcional, porém, pondera que em muitos casos ele se faz necessário, sob pena de demonstrar que a infração cometida pelo empregador não foi tão grave quanto apontada pelo trabalhador.

Para Alice Monteiro de Barros370 a opção dada pelo legislador no caso das alíneas d e g, não é dada nos demais casos, onde o empregado deve, necessariamente, se afastar do trabalho.

O importante para nossa análise é a possibilidade real de enquadramento dos casos de práticas de revistas pessoais que atentem contra a intimidade e dignidade do trabalhador em motivos para a rescisão indireta do contrato de trabalho, de forma que o trabalhador possa se afastar de situações tão aviltantes sem que tenha que demitir-se, deixando de receber a integralidade das verbas rescisórias.

Para finalizar, assevera Alice Monteiro de Barros371 que, inexistindo

incompatilibidade entre as partes, capaz de impedir o prosseguimento do vínculo empregatício o empregado deve recorrer à reintegração caso possua algum tipo de estabilidade ou garantia de emprego, sem prejuízo da indenização por danos morais.

369

Curso de direito do trabalho, p. 1226.

370

Curso de direito do trabalho, p. 899.

371

Entendemos muito pouco provável que após o afastamento do emprego, diante de um motivo tão grave (a prática de revistas íntimas), seguida do pedido judicial de rescisão indireta, o empregado tenha condições de ser reintegrado. Diante de tal situação, a melhor solução seria a indenização referente ao restante do período estabilitário ou de garantia de emprego.

Além da rescisão indireta do contrato de trabalho, com o pagamento da integralidade das verbas rescisórias, a prática de revistas pessoais pode também gerar ao empregado o direito a indenização compensatória pelos danos morais por ele sofridos, tema que será analisado no próximo tópico.

No documento MESTRADO EM DIREITO DO TRABALHO (páginas 165-170)