• Nenhum resultado encontrado

A ―Resistência da Forma-do-Lugar‖

No documento Narrativas de regionalidade (páginas 127-144)

1. Regionalismo: um modelo teórico-crítico de observação

1.4. A ―Resistência da Forma-do-Lugar‖

Em 1982 447 no texto ― sms of ontemporary rchitecture” Frampton posiciona o Regionalismo como Crítico. No ano seguinte, esse texto é ligeiramente revisto e surge como ― rospects for a ritical Regionalism” na revista ―Perspecta‖.448 Ainda nesse ano, é adaptado, resumido em seis pontos e publicado como ―Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture

of Resistance”449

como uma quasi-taxionomia450. Dois anos mais tarde, esses

escritos tomam a forma de um novo capítulo na revisão da segunda edição de ―Modern Architecture: A Critical History‖451. Porém, antes da sua análise, importa retomar o compromisso primeiro de Regionalismo, ou seja, o compromisso com ‗lugar‘. A fim de clarificar lugar, destaque-se, desde já, o pensamento de Martin Heidegger (1889-1976) que evidencia um dos aspectos mais interessantes nas construções teórica-críticas de Frampton acerca do Regionalismo452.

analysis has been applied. On the other hand, my affinity for the Critical Theory of the Frankfurt School has no doubt coloured my view of the whole period and made me acutely aware of the dark side of the Enlightenment which, in the name of an unreasonable reason, has brought man to a situation where he begins to be as alienated from his own production as from the natural world.‖ FRAMPTON, Kenneth - Modern Architecture: A Critical History. 2ª edição Londres: Thames & Hudson, 1985, p. 9. Destaque-se, de todos os autores associados a essa escola, a influência Jürgen Habermas (1929- ) e, em particular, os textos da década de oitenta do séc. passado – tais como, HABERMAS, Jürgen - Modernity - an Incomplete Project. In: FOSTER, Hal (ed.) - The Anti Aesthetic. Essays on Postmodern Culture, Washington: Bay Press, 1983, pp. 3-15 – nos escritos de Frampton. Sobre a Escola de Frankfurt e a Teoria Crítica veja-se ASSOUN, Paul-Laurent - A escola de Frankfurt. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1989.

446 Título traduzido do ponto “4. The Resistance of the Place-Form‖ de FRAMPTON, Kenneth - Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture of Resistance. In: FOSTER, Hal (ed.) - The Anti Aesthetic. Essays on Postmodern Culture, Washington: Bay Press, 1983, p. 24. Note-se o uso do mesmo título recentemente no ponto ―4.2 The Resistance of the Place-form‖ em FRAMPTON, Kenneth - The evolution of 20th century architecture. Londres: Springer, 2007, pp. 135-146.

447 Entrevista a Kenneth Frampton realizada na Graduate School of Architecture, Planning and Preservation, Avery 403, Columbia University, Nova Iorque em 29 de Abril de 2013.

448 As principais diferenças entre o texto original de 1982 e o referenciado – FRAMPTON, Kenneth, - Prospects for a Critical Regionalism. In: Perspecta. The Yale Architecture Journal, Vol. 20, 1983, pp. 147-162 – são a citação de um trecho da tradução para inglês de Civilisation universelle et cultures nationales de Paul Ricoeur e o reconhecimento de Lefaivre e Tzonis (1981) como os autores responsáveis pela introdução da expressão Regionalismo Crítico (FRAMPTON, Kenneth, - Prospects for a Critical Regionalism. In: Perspecta. The Yale Architecture Journal, Vol. 20, 1983, pp. 159-162; verificável, igualmente, no ponto 3. Critical Regionalism and World Culture em FRAMPTON, Kenneth - Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture of Resistance. In: FOSTER, Hal (ed.) - The Anti Aesthetic. Essays on Postmodern Culture, Washington: Bay Press, 1983, p. 20 e em FRAMPTON, Kenneth - Modern Architecture: A Critical History. 2ª edição Londres: Thames & Hudson, 1985, pp. 325-327 aplicado à disciplina da Arquitectura.

449 FRAMPTON, Kenneth - Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture of Resistance. In: FOSTER, Hal (ed.) - The Anti Aesthetic. Essays on Postmodern Culture, Washington: Bay Press, 1983, pp. 16-30.

450 Ou, conforme afirma Frampton em 1988, ―was then presented in a more didactic form.‖ FRAMPTON, Kenneth - Place- Form and Cultural Identity. In: Thakara, John (ed.) - Design After Modernism. Nova Iorque: Thames and Hudson, 1988, p. 58. Note-se, ainda, que os referidos pontos foram ampliados e revistos em publicações posteriores atingindo o número total de dez – FRAMPTON, Kenneth - Ten Points on an architecture of Regionalism: A Provisional Polemic. In: AAVV - Center, Center for the Study of American Architecture (The University of Texas,) New Regionalism, vol. 3. Nova Iorque: Rizzoli Intemational Publications, 1987, pp. 20-27.

451 FRAMPTON, Kenneth - Modern Architecture: A Critical History. 2ª edição Londres: Thames & Hudson, 1985. 452 Ou seja, a ―Forma-do-Lugar‖, expressão analisada neste capítulo.

Para além da já mencionada influência da Teoria Crítica, o autor socorre-se igualmente da Fenomenologia originando uma conjugação não muito usual e, para muitos, pouco apropriada453. Acerca dessa conjugação teórica-crítica, Frampton cita uma passagem do livro ―History of Bourgeois Perception‖454 de

Donald M. Lowe (1928-2009) para definir um possível ponto de encontro455 entre ambas:

―[q]uer a Fenomenologia quer o Marxismo são antipositivistas. Os conceitos de ambos derivam da razão do mundo. No entanto, cada um propõe uma ‗razão‘ diferente para uma diferente configuração do mundo. O que é a vida do mundo é da Fenomenologia, totalidade é do Marxismo. Fenomenologistas usam o conceito da intencionalidade para descrever a vida no mundo enquanto os marxistas utilizam o conceito da dialéctica para analisar a totalidade. Se a dialéctica é a estrutura da totalidade em transformação, intencionalidade é a subjectivação dessa estrutura dialéctica‖456

E, de facto, reforçando o anteriormente afirmado,

―[q]uem estiver familiarizado com a minha escrita vai, simultaneamente, detectar a influência de duas linhas diferentes de pensamento crítico que na sua maioria são alemãs – linhas de origem decorrentes de Hegel e de Marx que culminam em Gramsci e na Escola de Frankfurt; e a outra linha, decorrente de Nietzsche e de Husserl, a escola, que engloba na sua gama, quer a fenomenologia quer o existencialismo e se estende até os escritos de Heidegger e de Hannah Arendt.‖457

Continuando nessa segunda linha e recuperando o título deste capítulo, realce- se a expressão Forma-do-Lugar458 como vital ao pensamento de Frampton acerca de Regionalismo, em particular para o entendimento da ‗resistência‘ a ela

453 FRAMPTON, Kenneth - Some Reflections on Postmodernism and Architecture. In APPIGNANESI, Lisa [1986] (ed.) – Postmodernism. ICA documents. Londres: Free Association Books, 1989, pp. 77-79.

454 LOWE, Donald M. - History of Bourgeois Perception. Chicago: University of Chicago Press, 1982.

455 No entanto, para além dessas incursões Fenomenológicas o que ressalta nos escritos de Frampton é, conforme já afirmado, a sua interpretação Marxista da História sustentada em grande parte pelas influências da Escola de Frankfurt e, conforme adiante se verificará, no âmbito da Teoria Política de Hannah Arendt.

456 Tradução nossa. No original: ― oth phenomenology and Marxism are anti-positivist. Both derive their concepts of reason from the world. However each proposes a different 'reason' for a different world configuration. What the life world is to phenomenology, totality is to Marxism. Phenomenologists use the concept of intentionalitv to describe the life world, whereas Marxists use the concept of dialectic to analvse totality. If dialectic is the structure of totality in transformation, intentionality is the subjectisation of that dialectical structure.‖ FRAMPTON, Kenneth - Some Reflections on

Postmodernism and Architecture. In APPIGNANESI, Lisa [1986] (ed.) – Postmodernism. ICA documents. Londres: Free Association Books, 1989, p. 79.

457 Tradução nossa. No original: ―Anyone familiar with my writing will at once detect the influence of two different lines of critical thought which in the main are German in origin—lines stemming from Hegel and Marx and culminating in Gramsci and the Frankfurt School; and another line, stemming from Nietzsche and Husserl, the school which encompasses in its range both phenomenology and existentialism and stretches to the writings of Heidegger and Hannah Arendt.‖ Ibidem, loc. cit.

458 Optou-se por traduzir o termo Place-Form no original por ―Forma-do-Lugar‖. Note-se que em versães em língua portuguesa de textos de Frampton, tal como FRAMPTON, Kenneth - História Crítica da Arquitectura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997, pp.381-39, Place-Form foi traduzido por ―forma do lugar‖.

intrínseca que se edifica como uma ‗ponte‘ de um pensamento fenomenológico particular459.

A ênfase de Frampton acerca do lugar advém principalmente do detrimento de relações efectivas de proximidade com a densidade cultural dos lugares resultantes do sucesso contínuo da Megalópole. Perante este facto, o autor sugere que a solução reside numa posição crítica de ―arriére-garde‖ que a prática arquitectónica deverá considerar para a sua sustentabilidade, referindo, ainda, que a mesma tem que ser retirada tanto da optimização da tecnologia avançada, como da constante inclinação de retrocesso para historicismos nostálgicos ou irreflectidamente ornamentais. 460 No entanto, reforça a necessidade de qualificar o conceito arriére-garde de forma a reduzir as críticas conservadoras como o Populismo ou o Regionalismo nostálgico, aos quais tem sido frequentemente relacionado.461 Antecipando a possível má interpretação dessa posição, Frampton recorre ao ensaio de Lefaivre e de Tzonis para reforçar a demarcação de arriére-

garde do Populismo e desse Regionalismo e, assim, afirmá-la como estratégia

pertença de Regionalismo Crítico – e não dos dois grandes movimentos por eles identificados associados com Regionalismo. 462 Desse modo, posiciona contemporaneamente a sua teoria-crítica entre Populismo e avant-garde463

459 Ao aprofundar-se elucubrações sobre, entre outras questões, o detrimento do enraizamento da cultura local ou regional, é facilmente verificável que Fenomenologia oferece soluções notáveis – tais como, a noção de ‗ponte‘ nos termos, como adiante se verá, propostos por Martin Heidegger.

460 FRAMPTON, Kenneth - Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture of Resistance. In: FOSTER, Hal (ed.) - The Anti Aesthetic. Essays on Postmodern Culture, Washington: Bay Press, 1983, p. 19.

461 Ibidem, loc. cit.

462 LEFAIVRE, Liane, TZONIS, Alexander - The Grid and the Pathway. An Introduction to the Work of Dimitris and Susana Antonakakis. With Prolegomena to a History of the Culture of Modern Greek Architecture. In: Architecture in Greece, n. º 15, 1981, pp.164-178. Refira-se, neste contexto, o texto de Frampton igualmente sobre o Atelier 66. Intitulado de ―Greek Regionalism and the Modern Project: A Collective Endeavour‖ reitera o discurso de Lefaivre e de Tzonis afirmando: ―As the title of the Lefaivre and Tzonis essay in this volume, "The Grid and the Pathway," readily suggests, Atelier 66 was to take different things from its regional predecessors-the pathway from Pikionis and the grid from Konstantinidis, although in actuality a certain mutual exchange passed between them. This cross-fertilization has been elaborated on by Dimitris Varangis, who in an unpublished thesis recently wrote "Pikionis's main concern within the environment of Athens was the reintroduction of the courtyard which had been reduced to a light shaft in all contemporary apartment buildings. Throughout the ages, the courtyard had provided an intermediate space between the life of the interior and that of the public street. In addition; it responded to the peculiar Greek climatic conditions of light and heat, by being cool in summer, but warm in winter. (...) Perhaps the most surprising thing about this twenty-year old practice is the cultivated sense of "collectivity" which has attended its evolution; a phenomenon which is generally uncommon and one which is surely foreign to the traditions of architectural practice in the Anglo-American world. Architects who are also family members, as well as many others have had continuous association with the practice, work together in a variety of ways: as smaller teams,

autonomously, or as a larger group. Indeed, since 1978, Atelier 66 has employed virtually the same team, amounting to some fifteen architects. From the standpoint of critical regionalism this undertaking has to be regarded as exemplary, not only because the underlying rationality of the work has been so sensitively and consistently inflected in terms of light, climate, materials, tectonics, and topography, but also because it has always been collectively conceived; it has consciously cultivated its own roots, as it were, in order to arrive at its expressive form.‖ FRAMPTON, Kenneth (ed.) – The

Architecture of Dimitris and Suzana Antonakakis. Nova Iorque: Rizzoli Publications, 1985, pp. 4-5.

463 Frampton considera a avant-garde como parte inseparável do vasto processo da modernização, em particular na constituição da civilização universal. Verificável em Arte e em Arquitectura, a cultura da avant-garde teve competências diferentes, assevera Frampton; contemporaneimente a a cultura da avant-garde evoluiu para uma mera mercadoria, perdendo assim, a autonomia verificável em tempos passados, mormente no início do séc. XX. Sobre o sentido de avant-

propondo – à semelhança dos autores anteriormente considerados – um estar diferenciado entre essas polaridades464. Portanto, ―[s]ou da opinião que só a

arrière-garde tem a capacidade de cultivar uma resistente, uma cultura identitária

e, ao mesmo tempo, recorrer discretamente à técnica universal.‖ 465 A circunstância dessa arrière-garde crítica, ao situar-se equidistantemente entre o ―mito do progresso iluminista‖ e o retrocesso reaccionário a formas autênticas ou vernáculas de uma Região, é igualmente resistente por se estabelecer como uma ponte capaz de mediar criticamente o vasto espectro da civilização universal e as particularidades de um lugar466. Consequente desse processo de mediação, o Regionalismo Crítico, se apenas entendido como estratégia cultural, é obviamente detentor de traços da cultura mundial e, também, um veículo da civilização universal. No entanto, a mediação a ele intrínseca, faculta-lhe a possibilidade de estabelecer ―sínteses autoconscientes‖ 467, ou seja, por um lado, por desconstruir o espectro global da cultura mundial; por outro, pelo exercício crítico diante da civilização universal468. A fim de ilustrar essa síntese autoconsciente, Frampton recupera a Igreja de Bagsværd (1968-1976) de Jørn Utzon, erigida perto de Copenhaga. A referida obra (Ilustração 10) é um dos exemplos mais utilizados por Frampton e, consequentemente, um dos mais associáveis à sua

garde, considere-se o ponto: ― 2. The Rise and Fall of the Avant-Garde. The emergence of the avant-garde is inseparable from the modernization of both society and architecture. Over the past century-and-a-half avant-garde culture has assumed different roles, at times facilitating the process of modernization and thereby acting, in part, as a progressive, liberative form, at times being virulently opposed to the positivism of bourgeois culture. By and large, avant-garde architecture has played a positive role with regard to the progressive trajectory of the Enlightenment. (...) The progressive avant-garde emerges in full force, however, soon after the turn of the century with the advent of Futurism. This unequivocal critique of the ancien regime gives rise to the primary positive cultural formations of the 1920s: to Purism, Neoplasticism and Constructivism. These movements are the last occasion on which radical avant-gardism is able to identify itself

wholeheartedly with the process of modernization. In the immediate aftermath of World War I "the war to end all wars" the triumphs of science, medicine and industry seemed to confirm the liberative promise of the modern project. In the 1930s, however, the prevailing backwardness and chronic insecurity of the newly urbanized masses, the upheavals caused by war, revolution and economic depression, followed by a sudden and crucial need for psycho-social stability in the face of global political and economic crises, all induce a state of affairs in which the interests of both monopoly and state capitalism are, for the first time in modern history, divorced from the liberative drives of cultural modernization. Universal civilization and world culture cannot be drawn upon to sustain "the myth of the State," and one reaction-formation succeeds another as the historical avant-garde founders on the rocks of the Spanish Civil War.‖ FRAMPTON, Kenneth - Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture of Resistance. In: FOSTER, Hal (ed.) - The Anti Aesthetic. Essays on Postmodern Culture, Washington: Bay Press, 1983, p. 18.

464 Conforme verificado em Mumford, Lefaivre e Tzonis, Frampton – com contornos teórico-criticos diferentes e, como referido, por vezes muito intricados – posiciona o seu Regionalismo entre polaridades aparentemente antagónicas. Ou seja, como adiante se verificará, uma via outra, equidistante entre o particular e o universal.

465 Tradução nossa. No original: ―It is my contention that only an arriere-garde has the capacity to cultivate a resistant, identity-giving culture while at the same time having discreet recourse to universal technique.‖ FRAMPTON, Kenneth - Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture of Resistance. In: FOSTER, Hal (ed.) - The Anti Aesthetic. Essays on Postmodern Culture, Washington: Bay Press, 1983, p. 19. Grifos nossos.

466 Ibidem, p. 20. 467 Ibidem, p. 21. 468 Ibidem, loc. cit.

teoria-crítica.469 ―[É] um trabalho com uma conotação complexa que deriva de uma conjunção entre a racionalidade da técnica normativa e a irracionalidade da forma idiossincrática.‖470 E, num tom próximo do texto de Lefaivre e de Tzonis471, Frampton argumenta: ―[n]a medida em que este edifício é organizado, em torno de uma grelha regular e repetitiva, módulos de blocos de betão em primeira instância e, em segunda, unidades de paredes em betão prefabricado, podemos justamente considerar que são resultado da civilização universal. Esse sistema de construção, que compreende, conforme referido, uma estrutura in situ

469 A referida obra, em particular o registo de rigor da secção longitudinal, encontra-se presente em quase todos os seus escritos e palestras sobre Regionalismo Crítico. A título de curiosidade, Frampton guarda um modelo tridimensional da Igreja (e de outras obras por ele mencionadas, mormente, na sua célebre ―Modern Architecture: A Critical History‖) elaborada por alunos seus no edifício do seu gabinete na Graduate School of Architecture, Planning and Preservation, Avery 403, Columbia University, Nova Iorque.

470 Tradução nossa. No original: ―(…) a work whose complex meaning stems directly from a revealed conjunction between, on the one hand, the rationality of normative technique and, on the other, the arationality of idiosyncratic form.‖ Ibidem, p. 22. Grifos no original.

471 LEFAIVRE, Liane, TZONIS, Alexander - The Grid and the Pathway. An Introduction to the Work of Dimitris and Susana Antonakakis. With Prolegomena to a History of the Culture of Modern Greek Architecture. In: Architecture in Greece, n. º 15, 1981, pp. 164-178.

de betão armado, tem sido de facto aplicado inúmeras vezes por todo o mundo desenvolvido.‖472

Dois anos mais tarde, Frampton retoma a obra de Utzon a fim de aclarar a mecânica da referida síntese. Assevera a síntese como um complexo processo de assimilação e de reinterpretação – sobretudo em termos da ‗forma‘473 e técnicas construtivas utilizadas (argumentos reforçados pelo uso do corte longitudinal) – das possibilidades da cultura mundial e, simultaneamente, da civilização universal474. Em suma, a estratégia fundamental da condição de resistência, ambicionada pelo Regionalismo Crítico de Frampton, é a mediação do impacto da civilização universal através de elementos derivados indirectamente das peculiaridades de um lugar específico475. Nesse sentido, essa mediação depende de uma elevada condição crítica auto-consciente que na procura das peculiaridades de um lugar, considera variados aspectos, entre os quais: ―o alcance e a qualidade da luz local, ou em termos da tectónica, um modo estrutural peculiar, ou na topografia de um determinado local.‖ 476 Portanto, a referida condição de resistência institui-se como o facto que distingue Regionalismo Crítico das simples e acríticas tentativas de formas regionais, aparentemente autênticas, ancoradas num passado distante477. Do mesmo modo, essa condição contradiz os esforços demagógicos do Populismo no uso desmesurado de signos instrumentais e comunicativos, ou seja, o dito signo não evoca uma percepção crítica da ‗realidade‘ mas atinge uma ―táctica de retórica preconcebida, gratificante em termos de ehaviorismo‖.478 Sempre acompanhado pelas teses da Escola de Frankfurt, Frampton sustenta essa resistência recorrendo a diversos argumentos, quase sempre muito intricados. Entre outros, considere-se o ponto

472 Tradução nossa. No original: ―Inasmuch as this building is organized around a regular grid and is comprised of repetitive, in-fill modules concrete blocks in the first instance and precast concrete wall units in the second we may justly regard it as the outcome of universal civilization. Such a building system, comprising an in situ concrete frame with prefabricated concrete in-fill elements, has indeed been applied countless times all over the developed world.‖ FRAMPTON, Kenneth - Towards a Critical Regionalism: Six Points for an Architecture of Resistance. In: FOSTER, Hal (ed.) - The Anti Aesthetic. Essays on Postmodern Culture, Washington: Bay Press, 1983, p. 22.

473 Distinga-se a noção de form da de shape. Ou seja, na tradução para a língua portuguesa, shape deverá ser entendido como ‗figura‘, ‗contorno‘ ou ‗configuração‘ de algo. A noção de form ao incorporar outras dimensões revela-se, primeiramente,

No documento Narrativas de regionalidade (páginas 127-144)

Documentos relacionados