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2.5 Resistˆ encia mecˆ anica de lˆ aminas comp´ ositas Micromecˆ anica

2.5.2 Resistˆ encia ` a compress˜ ao longitudinal

A medida da resistˆencia longitudinal `a compress˜ao ´e uma tarefa dif´ıcil e dependente da geometria do corpo de prova e do tipo de ensaio realizado. Whitney observou que o ponto chave est´a na detec¸c˜ao do modo de falha, pois diferentes ensaios levam a diferentes modos de falha. Em suma, podemos apontar quatro principais modos de falha `a compress˜ao longitudinal (Figura 2.20). S˜ao eles:

• Flambagem de fibras em modo extensional; • Flambagem de fibras em modo cisalhante;

• Ruptura transversal devido `a deforma¸c˜ao do efeito Poisson; • Falha por cisalhamento das fibras, sem flambagem.

Rosen [21] observou que comp´ositos com pequenas propor¸c˜oes de fibras tendem a apresentar flambagem extensional (Figura 2.20a), onde as fibras flambam fora de fase e a matriz ´e sujeita a cargas de tra¸c˜ao/compress˜ao. Analisando este fenˆomeno, ele propˆos Equa¸c˜ao 2.21:

Figura 2.20: Modos de falha de comp´ositos unidirecionais em compress˜ao. (a) Flam- bagem extensional de fibras; (b) Flambagem cisalhante de fibras; (c) Ruptura trans- versal da matriz devido ao efeito Poisson; (d) Falha por cisalhamento [8].

F1c = 2Vf  EmEfVf 3(1 − Vf) 1/2 (2.20) Onde:

F1c = resistˆencia `a compress˜ao longitudinal do comp´osito.

Rosen observou ainda, que comp´ositos com grandes propor¸c˜oes de fibras tendem a apresentar flambagem cisalhante (Figura 2.20b), onde as fibras flambam em fase, gerando um esfor¸co de cisalhamento na matriz. Para predizer este fenˆomeno, ele chegou a seguinte equa¸c˜ao:

F1c=

Gm

1 − Vf

(2.21)

Entretanto, as predi¸c˜oes obtidas pela Equa¸c˜ao 2.20 e Equa¸c˜ao 2.21 s˜ao muito superiores aos resultados experimentais. Esta diferen¸ca est´a relacionada `a pree- xistˆencia de desalinhamentos que reduzem significativamente a carga de flambagem. Assim, alguns pesquisadores inclu´ıram em suas equa¸c˜oes o efeito de um desalinha- mento inicial e puderam perceber que mesmo desalinhamentos da ordem de 1° j´a s˜ao suficientes para reduzir bastante a resistˆencia a compress˜ao (comumente da ordem de 2 a 5 vezes). Com isso, puderam obter previs˜oes de falha mais realistas.

Greszczuk [22] mostrou que para matrizes muito r´ıgidas, o modo de falha deixa de ser por flambagem e passa a ser devido ao limite de tens˜ao compressiva da fibra. Isso pode explicar a baixa correla¸c˜ao obtida em comp´ositos de alto desempenho quando utilizando as teorias de flambagem de fibras. Greszczuk propˆos que nestes

casos a resistˆencia `a compress˜ao seja prevista pela regra das misturas, a partir da Equa¸c˜ao 2.16, substituindo a resistˆencia `a tra¸c˜ao da fibra, pela resistˆencia `a compress˜ao da fibra. Entretanto, a dificuldade de obter este ´ultimo parˆametro torna impratic´avel a utiliza¸c˜ao de tal modelo.

Aumentar a propor¸c˜ao de fibras tamb´em aumenta a resistˆencia a flambagem e evidencia outros mecanismos de falha. A ruptura transversal pelo efeito Poisson (Figura 2.20c) pode ser equacionada inferindo-se a tens˜ao longitudinal necess´aria para causar a m´axima deforma¸c˜ao transversal trativa, ε(+)2 (Equa¸c˜ao 2.22).

F1c=

E1ε(+)2

ν12

(2.22) Considerando que ε(+)2 = F2t/E2, temos ent˜ao:

F1c=

E1F2t

E2ν12

(2.23)

Figura 2.21: Predi¸c˜ao da resistˆencia `a compress˜ao de comp´ositos de fibra de vi- dro/ep´oxi em fun¸c˜ao do percentual de fibras para modelos de flambagem e ruptura transversal pelo efeito Poisson [23].

A Figura 2.21 apresenta graficamente alguns resultados de experimentos reali- zados em comp´ositos de ep´oxi/fibra de vidro e suas predi¸c˜oes. ´E poss´ıvel observar que as equa¸c˜oes de flambagem, quando n˜ao consideram o efeito de imperfei¸c˜oes, geram predi¸c˜oes de falha bastante superestimadas. Para estes resultados, o modelo de ruptura transversal pelo efeito Poisson foi o que atingiu as melhores previs˜oes.

O quarto modo citado ´e a falha por cisalhamento, sem flambagem (Figura 2.20d), que pode ocorrer em comp´ositos de altas propor¸c˜oes de fibra. Este modo de fa- lha pode ser previsto atrav´es da utiliza¸c˜ao direta da regra das misturas, conforme Equa¸c˜ao 2.24. F1c = 2Ff s  Vf + (1 − Vf) Em Ef  (2.24) Onde Ff s ´e a resistˆencia ao cisalhamento da fibra.

2.5.2.1 Resistˆencia `a tra¸c˜ao transversal

O carregamento mais cr´ıtico para um comp´osito unidirecional ´e geralmente a tra¸c˜ao transversal. Al´em da fibra n˜ao funcionar como refor¸co nesta dire¸c˜ao, a sua presen¸ca cria concentra¸c˜oes de tens˜ao e deforma¸c˜ao na matriz, sobretudo nos pontos onde a interface fibra/matriz ´e perpendicular ao carregamento. A falha costuma iniciar nes- tes pontos por trincamento da matriz, descolamento da interface ou particionamento das fibras. Uma vez que defeitos s˜ao iniciados em diferentes pontos, estes defeitos tendem a coalescer at´e a fratura completa de se¸c˜ao, conforme visto na Figura 2.22.

Figura 2.22: Microtrincamento progressivo de comp´osito unidirecional sob tens˜ao transversal [7].

Devido ao comportamento n˜ao linear de grande parte das matrizes polim´ericas, ´e mais pr´atico determinar o fator de concentra¸c˜ao em termos de suas deforma¸c˜oes. A deforma¸c˜ao de falha transversal e(+)T de um comp´osito ´e ent˜ao determinada a partir da deforma¸c˜ao de falha da matriz e(+)m e do seu fator de concentra¸c˜ao de deforma¸c˜ao,

kε conforme Equa¸c˜ao 2.25. e(+)T = e (+) m kε (2.25) Se o comportamento do material pode assumido como linear el´astico, a re- sistˆencia `a compress˜ao transversal do comp´osito, F2t ser´a dada por:

F2t = E2S (+) m Emkε (2.26) Kies [24] desenvolveu um modelo aproximado, considerando um elemento na se¸c˜ao transversal da lamina de um comp´osito, conforme mostrado na Figura 2.23.

Figura 2.23: Modelo para determina¸c˜ao do fator de concentra¸c˜ao de deforma¸c˜ao transversal [8].

Kies determinou o concentrador de deforma¸c˜oes como sendo a rela¸c˜ao entre a deforma¸c˜ao obtida na matriz contida neste elemento dividida pela deforma¸c˜ao m´edia do elemento, chegando `a Equa¸c˜ao 2.27.

kε =

1

1 − (4Vf/π)1/2(1 − Em/Ef)

(2.27) ´

E importante observar que kε cresce com o aumento percentual de fibras e com

o aumento da raz˜ao entre os m´odulos de elasticidade da fibra e da matriz.

A Figura 2.24 apresenta graficamente kε em fun¸c˜ao de Vf, considerando fibras

com rigidez muito superiores `a da matriz (Em/Ef ≈ 0). ´E poss´ıvel observar que kε

cresce bruscamente quando Vf > 0.6. Portanto, fica evidente que ao tentar atin-

gir o m´aximo desempenho longitudinal de um comp´osito laminado, sua resistˆencia transversal ´e enormemente impactada.

Figura 2.24: Fator de concentra¸c˜ao de deforma¸c˜ao em fun¸c˜ao da fra¸c˜ao volum´etrica de fibras [8].