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RESOLUÇÕES DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL CRITICADAS

INCONSTITUCIONALIDADE

As resoluções provindas do poder regulamentar do TSE devem limitar-se a preencher e interpretar as normas do Código Eleitoral, e das leis eleitorais (RAMAYANA, 2008).

Autorizar a edição de normas primárias pelo TSE, em completa desatenção à obra do legislador, não apenas é um atentado ao princípio da tripartição dos poderes, como também representa um risco injustificável de corrosão da imparcialidade exigida no exercício da função jurisdicional (DIAS, 2011).

No ordenamento jurídico pátrio consagra-se a aplicação plena, cabal, do chamado princípio da legalidade, tomado em sua verdadeira e completa extensão.

Onde se estabelecem, alteram ou extinguem direitos, não há regulamentos, há abuso do poder regulamentar, invasão de competência legislativa. O regulamento não é mais do que auxiliar das leis (MIRANDA apud MELLO, 2008).

No entanto, as referidas balizas que impõem limites ao poder regulamentar exercido pelo TSE nem sempre são respeitadas (FLÔRES; FERNANDES, 2007).

3.5.1 Resolução TSE nº 20.993/2002

Grande polêmica ocorrida nas Eleições de 2002, fruto da interpretação dada pelo Tribunal Superior Eleitoral do art. 6º da Lei nº 9.504/97, que trata das coligações partidárias. Ao responder a uma consulta apresentada por quatro deputados federais, estabeleceu que os partidos políticos coligados para a eleição nacional não poderiam coligar-se para as eleições estaduais com partidos políticos que tivessem, isoladamente ou em aliança diversa, candidato à Presidente. Esta interpretação ficou conhecida como verticalização das coligações, foi inclusive aplicada naquelas eleições (WALDSCHIMDT, 2006)

Destacam-se, dentre os dispositivos contidos neste regulamento, o parágrafo 1º, do art.4º, da Res.TSE 20.933, segundo o qual: "os partidos políticos que lançarem, isoladamente ou em coligação, candidato à eleição de presidente da República não poderão formar coligações para eleição de governador/a de Estado ou do Distrito Federal, senador/a, deputado/a federal e deputado/a estadual ou distrital com partido político que tenha, isoladamente ou em aliança diversa, lançado candidato/a à eleição presidencial" (QUEIROZ, 2002).

Este ato regulamentar expedido pelo TSE foi atacado pela Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.626. No entanto não foi conhecida a referida ação conforme extrai-se da parte abaixo transcrita:

Saber se esta interpretação excedeu ou não os limites da norma que visava integrar, exigiria, necessariamente, o seu confronto com esta regra, e a casa tem rechaçado as tentativas de submeter ao controle concentrado o de legalidade do poder regulamentar […] (BRASIL, 2004a).

Além das medidas judiciais adotadas por partidos, o Senado Federal reagindo à decisão do TSE que determinou a verticalização das coligações, logo em

seguida (junho de 2002), aprovou Projeto de Emenda Constitucional, que garantiu aos partidos autonomia para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem a obrigatoriedade de vinculação eleitoral entre as candidaturas em nível nacional, estadual, distrital ou municipal, e acabou com a verticalização eleitoral das coligações compulsórias, e o remeteu à Câmara dos Deputados , cuja aprovação do Projeto de Emenda Constitucional nº 548/2002 deu- se somente em 8.2.2006 (QUEIROZ, 2002).

Em 08.03.2006 as mesas diretoras do Senado e da Câmara dos Deputados promulgaram a Emenda Constitucional nº 52 , publicada no D.O.U. de 09.03.2006, assegurando aos partidos políticos autonomiapara adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal (QUEIROZ, 2002).

3.5.2 Resolução TSE nº 21.702/2004

O resultado do julgamento do Recurso Extraordinário n.º 197.917, pelo STF, causou grande celeuma nos meios jurídicos do País. No exercício de sua competência recursal, em Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em relação à Câmara Municipal de Mira Estrela, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do artigo 6° da Lei Orgânica de Mira Estrela, que fixava em 11 o número de vereadores daquele Município. Por maioria de votos, entendeu o Pretório Excelso que o aludido artigo da Lei Orgânica Municipal é inconstitucional, na medida em que não foi observada a proporcionalidade entre o número de vereadores e o número de habitantes daquele Município, conforme seria de rigor em razão do artigo 29, inciso VI, da Constituição Federal vigente (BERNARDI, 2004).

A partir de tal julgamento, movido por representação formulada pelo Procurador Geral Eleitoral, objetivando assegurar a observância da orientação emanada do STF para todos os municípios brasileiros, e considerando, ainda, a proximidade das eleições municipais, o Ministério Público Eleitoral, invocando as competências da Corte Superior Eleitoral previstas no art. 23 do Código Eleitoral, propõe a edição de ato normativo que estabeleça prazo razoável às Câmaras Municipais para adaptação das respectivas leis orgânicas, visando o pronto

atendimento dos parâmetros de fixação do número de Vereadores. Diante da proposta ministerial o Tribunal Superior Eleitoral editou a Resolução n.º 21.702, que fixou instruções sobre o número de vereadores a eleger segundo a população de cada município (BERNARDI, 2004).

O poder regulamentar do TSE, de nenhum modo, possibilita que ele atue como legislador, uma vez que a sua competência se restringe à elaboração de resoluções com o objetivo de viabilizar o exercício de direitos legalmente assegurados, impedido de inovar no ordenamento jurídico (DIAS, 2011).

De tal modo, resta constatado que não cabia ao TSE alterar os critérios de fixação do número de vereadores por município, usurpando função exclusivamente legislativa. Sua competência para tal fixação restringiu-se ao ano de 1988, nos termos do § 4º do art. 5º do Ato das Disposições Transitórias (PINTO apud DIAS, 2011).

Diante do imbróglio criado, notadamente em função da usurpação de competência empreendida pelo TSE, o Congresso Nacional aprovou alteração ao texto constitucional, emenda Constitucional 58/2009, que definiu novos parâmetros para a composição das Casas Legislativas municipais (DIAS, 2011).

3.5.3 Resolução TSE nº 22.715/2008

Determina a Lei nº 9.504 de 1997 que para o registro dos candidatos de partidos ou coligações é necessário apresentar à Justiça Eleitoral uma série de documentos, dentre eles a certidão de quitação eleitoral (BRASIL, 1997).

Mesmo não sendo normativa, a Resolução TSE nº 22.715 de 2008 ampliou o conceito de quitação eleitoral, prevendo restrições relativas à inelegibilidade, que produzem efeitos imediatos no exercício dos atos da vida civil do eleitor (FLÔRES; FERNANDES, 2007).

Observa-se que a CF de 1988 assevera que:

Art. 14. […]

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra

a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta (BRASIL, 1988).

Em março de 2008, ano de eleições municipais, publica-se ato regulamentar, cujas inovações introduzidas no ordenamento eleitoral écapaz de gerar grandes conseqüências no âmbito político nacional. O TSE, mediante a Resolução nº 22.715, especificadamente, no parágrafo 3º do artigo 41, trouxe espécie de sanção, aplicável aos candidatos que participariam daquele pleito

(

SCHNAID NETO, 2010)

.

Na época, poucos se atentaram para as consequências trazidas pela norma prevista no parágrafo 3º. Somente após julgadas e desaprovadas às prestações de contas de campanha, um grande número de candidatos foram surpreendidos com a notícia de que não poderiam concorrer durante o curso do mandato ao qual concorreuram, ou seja, durante os próximos 4(quatro) anos

(

SCHNAID NETO, 2010)

.

A norma em comento assim determinava:

Art. 41. A decisão que julgar as contas dos candidatos eleitos será

publicada em até 8 dias antes da diplomação.[...]

§ 1º Desaprovadas as contas, o juízo eleitoral remeterá cópia de todo o processo ao Ministério Público Eleitoral para os fins previstos no art. 22 da

Lei Complementar nº 64/90.[...]

§ 3º Sem prejuízo do disposto no § 1º, a decisão que desaprovar as contas de candidato implicará o impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu (BRASIL, 2004b).

Em 29 de setembro de 2009, publica-se a Lei n. 12.034, trazendo diversas alterações à Lei das Eleições. Dentre as alterações destaca-se a inclusão do parágrafo 7º ao artigo 11, conforme segue abaixo transcrito. Que trouxe, desta vez por meio de lei em sentido estrito novo conceito ao termo quitação eleitoral, diverso daquele introduzido pela regulamentação do TSE.

Art.11[...]

§ 7o A certidão de quitação eleitoral abrangerá exclusivamente a plenitude do gozo dos direitos políticos, o regular exercício do voto, o atendimento a convocações da Justiça Eleitoral para auxiliar os trabalhos relativos ao pleito, a inexistência de multas aplicadas, em caráter definitivo, pela Justiça Eleitoral e não remitidas, e a apresentação de contas de campanha eleitoral. (Incluído pela Lei nº 12.034, de 2009). (BRASIL, 2009) [grifo nosso].

Verifica-se que o legislador abandonou o conceito fixado pela Resolução TSE. Nº 22.715/2008, que exigia não só a apresentação de contas, mas sua aprovação, como requisito para a quitação eleitoral (BRASIL, 2009; BRASIL, 2008).

A respeito da alteração legislativa, o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais entendeu que o dispositivo contido no art. 41, § 3º foi revogado tacitamente pela alteração trazida pela Lei nº 12.034 de 2009, conforme segue:

Recurso Eleitoral. Prestação de contas. Campanha Eleitoral. Candidato a Prefeitoeleito. Eleições 2008. Contas desaprovadas. Preliminar. Inconstitucionalidade doart. 41, § 1º, da Resolução TSE n. 22.715/2008. A

Lei nº 12.034, de 29 de setembro de 2009, que acrescentou o § 7º ao art. 11 da Lei das Eleições, revogou tacitamente o art. 41, § 3º, da Resolução nº 22.715/2008/TSE, que impedia aobtenção da certidão de

quitação eleitoral em caso de desaprovação das contas. (MINAS GERAIS,2009) [grifo nosso].

Cristalino o entendimento de que lei estrita prevalece em face da resolução. Assim, o impedimento criado pela §3, do artigo 41 da Resolução TSE nº 22.715/2008 não tem mais qualquer efeito no ordenamento jurídico. Não se trata, portanto, de se analisar se a lei benéfica retroage ou não, mas de se concluir pela aplicabilidade imediata do novo conceito de quitação

(

SCHNAID NETO, 2010)

.

3.6 IMPORTÂNCIA DO PODER REGULAMENTAR DO TRIBUNAL SUPERIOR

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