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A responsabilidade civil daqueles que ferem direitos autorais em geral será regulada pelo artigo 927 do Código Civil. Em legislação específica, disposições em mesmo sentido se encontrarão no Título VII, Capítulo II da LDA, denominada de “Das Sanções Civis”.

Em tal capítulo, a legislação dispõe quais seriam tais sanções e a quem elas seriam direcionadas, em sua maioria àquele que causou o dano, conforme também prevê o artigo citado do Código Civil.

67 AFONSO, Otávio. Direito autoral: conceitos essenciais. Barueri, SP: Manole, 2009. E-book. Acesso restrito

via Minha Biblioteca. p. 121.

Importante se faz destacar que a disposição Civil para a responsabilidade, em seu parágrafo único, exige culpa do agente, sem fazendo presente os pressupostos anteriormente explicados de negligência, imperícia e imprudência, formando assim a responsabilidade subjetiva, mas também destaca a responsabilidade objetiva, ao citar risco natural da atividade desenvolvida pelo agente.

Sendo o Código Civil do ano de 2002, durante o período até o ano de 2014 - em que fora promulgado o Marco Civil da Internet, que mudou a responsabilidade para alguns sujeitos do direito autoral - se utilizou da norma geral civil para casos específicos que surgiram posteriormente com o desenvolvimento da internet. Nestes tempos, foram vários os casos em que plataformas eram responsabilizadas por publicações de seus usuários.

O grande problema durante o período de mantença de sítios digitais anterior ao Marco Civil foi a responsabilidade a que estavam sujeitos, durante esse período tal responsabilidade regia-se pela norma geral, ou seja, a do Código Civil, do artigo 927, que, conforme visto, determina responsabilidade objetiva para aqueles que mantém atividades de risco, portanto, observando julgados desse período, vê-se que manter plataforma digital era considerada atividade de risco.

Inclusive, tal direcionamento se vê afirmado por Tartuce ao dizer que “Reitero a minha posição, no sentido de ser a teoria do risco a mais adequada para a solução dos problemas digitais, podendo, sim, incidir o art. 927, parágrafo único, do Código Civil.”.69 Mas também faz a ressalva de que o risco se vê em situações mais específicas, como a mantença de site de conteúdo pornográfico amador e não tão somente ao manter blog.70

No entanto, vê-se também a existência que disposição para a responsabilidade solidária no caso do artigo 104 da LDA.

Art. 104. Quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafator, nos termos dos artigos precedentes,

69 TARTUCE, Flávio. Responsabilidade civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. Acesso restrito via Minha

Biblioteca. p. 1.420.

respondendo como contrafatores o importador e o distribuidor em caso de reprodução no exterior.71

Como falado em 4.1, a responsabilidade solidária seria de grande valia para compreensões futuras, pois eis o momento. A solidariedade quanto ao dano se viu presente nas normas da Lei de Direitos Autorais, contudo, tal legislação foi firmada no ano de 1998, período em que as mídias digitais ainda engatinhavam, tal observação se faz necessária pelo rumo diferente ao legislado que o cenário posterior tomou. Em época da LDA os programas informáticos ainda não tinham a mesma operacionalidade que se tem hoje, portanto o disposto no artigo se refere aos contrafatores de obras físicas, sejam livros, fitas cassetes, DVD’s, dentre outros, responsabilizando solidariamente aquele que incorrer nos verbos dispostos no artigo, não ficando sujeito a sanção somente aquele que replicou a obra.

Com a mudança mercantil que se instaurou, tais reproduções não se davam mais por forma física, mas em sua maioria de maneira digital, muitas vezes em redes sociais, mas a legislação brasileira não alcançava as plataformas em que eram publicadas tais reproduções, ao passo que durante esse período de vacância normativa específica aplicou-se a norma geral do artigo 927 citado, responsabilizando objetivamente tais plataformas.

Tal responsabilização se deu até 2012, ano em que o Superior Tribunal de Justiça começou a modificar tal entendimento, ao julgar Recurso Especial 1.306.066/MT, transcreve- se julgado para maior compreensão:

Recurso especial. Direito do Consumidor. Provedor. Mensagem de conteúdo ofensivo. Retirada. Registro de número do IP. Dano moral. Ausência. Provimento. 1.- No caso de mensagens moralmente ofensivas, inseridas no site de provedor de conteúdo por usuário, não incide a regra de responsabilidade objetiva, prevista no art. 927, parágrafo único, do Cód. Civil/2002, pois não se configura risco inerente à atividade do provedor. Precedentes. 2.- É o provedor de conteúdo obrigado a retirar imediatamente o conteúdo ofensivo, pena de responsabilidade solidária com o autor direto do dano. 3.-O provedor de conteúdo é obrigado a viabilizar a identificação de usuários, coibindo o anonimato; o registro do número de protocolo (IP) dos computadores utilizados para cadastramento de contas na internet constitui meio de rastreamento de usuários, que ao provedor compete, necessariamente, providenciar. 4.- Recurso Especial provido. Ação de indenização por danos morais julgada

71 BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos

autorais e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm. Acesso em 19 nov. 2020.

improcedente. (STJ, REsp 1.306.066/MT, 3.ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 17.04.2012, DJe 02.05.2012)72

Apesar de em época já haver mudança nos julgados, a alteração legislativa se deu em momento que se promulgou o Marco Civil da Internet, que passou a incluir plataformas de compartilhamento de mídias como responsáveis subjetivamente solidárias às publicações, o conceito e a forma de se aplicar tais disposições previstas no artigo 19 da Lei 12.965/2014 se verão mais à frente, em 4.5.

Neste momento vê-se suficiente a abordagem da responsabilidade civil no direito autoral ao longo dos últimos anos, ficando claro que há diferentes formas de responsabilizar o agente, isto em virtude de qual é o sujeito na relação e qual foi o ato praticado. Resta então a visualização do mesmo em território europeu.

4.4 RESPONSABILIDADE CIVIL PREVISTA NAS NORMAS DE DIREITO AUTORAL DA UNIÃO EUROPEIA

Em análise das legislações europeias a respeito dos direitos de autor, em primeira se observa a Diretiva 2001/29/CE, relativa a harmonização de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade de informação.

Importante se faz destacar que o termo “sociedade de informação” se refere a época em que conhecimentos e informações, bem como a tecnologia avançavam de forma bastante acelerada. A preocupação da União Europeia com essa sociedade de informação se deu bastante cedo, com a Diretiva 2000/31/CE, citada nas demais diretivas em que também irão se basear a presente seção.

Abordar-se-á a Diretiva 2000/31/CE no decorrer deste, no entanto, por ora retoma-se o assunto inicial, a Diretiva 2001/29/CE, a qual dispõe de formas de responsabilizar aqueles que violam direitos de autor, bem como também dispõe de proteções e limitações, semelhante ao que se vê na Lei 9.610/98 no Brasil.

72 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (3. Turma). Recurso Especial 1306066/MT. Recurso especial. Direito

do Consumidor. Provedor. Mensagem de conteúdo ofensivo. Retirada. Registro de número do IP. Dano moral. Ausência. Provimento. Brasília, DF: Superior Tribunal de Justiça, [2012]. Disponível em:

https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?i=1&b=ACOR&livre=((%27RESP%27.clas.+e+@num=%27 1306066%27)+ou+(%27REsp%27+adj+%271306066%27.suce.))&thesaurus=JURIDICO&fr=veja. Acesso em: 20 nov. 2020.

Havendo sanções a violadores destes direitos, presume-se que serão os responsáveis pelo ressarcimento e reparação do dano aqueles que o causaram, pois de forma diferente não poderia ser. Contudo há também especificidades a se observarem em tal Diretiva, como a orientação a respeito de intermediários nessa relação de dano, observação que se faz presente no artigo 8º, número 3:

3. Os Estados-Membros deverão garantir que os titulares dos direitos possam solicitar uma injunção contra intermediários cujos serviços sejam utilizados por terceiros para violar um direito de autor ou direitos conexos.73

A injunção seria uma forma coercitiva, uma exigência daqueles que tiveram seus direitos violados contra aqueles intermediários do dano, tal entendimento pode-se estender às plataformas de partilha de conteúdo, que de fato agem como intermediários, já que disponibilizam ambientes para compartilhamento e não agem de forma direta em tal violação, tais plataformas teriam sua responsabilidade especificadamente regulamentadas mais à frente.

Mesmo que haja tal disposição na Diretiva 2001/29/CE, observa-se também que atividades desenvolvidas em redes se darão legisladas através da Diretiva 2000/31/CE, disposição que nos faz retornar a tal diretiva para maior esclarecimento.

Apesar de a tecnologia de informação ainda estar se formando no ano de 2000, a União Europeia já se preparava e antevia alguns fatos que poderiam ocorrer, como se vê no artigo 14 da citada Diretiva, estabelecendo a não responsabilização dos serviços da sociedade de informação que forneçam um serviço de armazenamento de informação, isto desde que apresentem requisitos, conforme se vê:

1. Em caso de prestação de um serviço da sociedade da informação que consista no armazenamento de informações prestadas por um destinatário do serviço, os Estados- Membros velarão por que a responsabilidade do prestador do serviço não possa ser invocada no que respeita à informação armazenada a pedido de um destinatário do serviço, desde que:

a) O prestador não tenha conhecimento efectivo da actividade ou informação ilegal e, no que se refere a uma acção de indemnização por perdas e danos, não tenha conhecimento de factos ou de circunstâncias que evidenciam a actividade ou informação ilegal, ou

73 UNIÃO EUROPEIA. Diretiva 2001/29/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de Maio de

2001. Relativa à harmonização de certos aspectos do direito de autor e dos direitos conexos na sociedade da

informação. Estrasburgo: Parlamento Europeu, 2001. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/?uri=CELEX%3A32001L0029&qid=1604548536995. Acesso em: 21 nov. 2020.

b) O prestador, a partir do momento em que tenha conhecimento da ilicitude, actue com diligência no sentido de retirar ou impossibilitar o acesso às informações.74

Portanto, esta seria a primeira responsabilidade digital existente na legislação europeia, prevendo a não responsabilização dos prestadores de serviço que agirem de forma a não colaborarem com a extensão do dano. Mais disposição nesse sentido se dariam alguns anos mais tarde.

Retornando ao ano de 2001, em sua respectiva Diretiva, tem-se que aqueles que violaram os diretos expostos nos artigos 2º, 3º e 4º e que, concomitantemente não se encaixam nas exceções dispostas no artigo 5º, estará portanto sujeita a reparação ou ressarcimento.

Tal redação se mantém em vigor até os dias de hoje, pois mesmo que tenha se desenvolvido disposições orientando novamente a responsabilidade para os direitos de autor, esta não alterou estes entendimentos, apenas os relativos à responsabilidade em meios digitais. A alteração a que se refere se fez presente na Diretiva 2019/790, que trouxe novidades legislativas neste âmbito, como pode-se visualizar ao longo do texto legislativo. A Diretiva também estabelece com clareza a quem ficará sujeito o dever para com o detentor de direitos autorais em caso de violação, a exemplo pode-se observar o número 22, como se vê:

(22) A utilização de obras ou outro material protegido ao abrigo da exceção ou limitação exclusivamente para fins de ilustração didática prevista na presente diretiva só deverá ocorrer no contexto de atividades pedagógicas e de aprendizagem realizadas sob a responsabilidade dos estabelecimentos de ensino, designadamente durante os exames ou atividades pedagógicas que tenham lugar fora das instalações dos estabelecimentos de ensino, por exemplo, em museus, bibliotecas ou instituições responsáveis pelo património cultural, e deverá estar limitada ao necessário para efeitos das referidas atividades. A exceção ou limitação deverá abranger as utilizações de obras ou outro material protegido na sala de aula ou noutros locais através de meios digitais, nomeadamente, quadros brancos eletrónicos ou dispositivos digitais que possam estar ligados à Internet, bem como as utilizações efetuadas à distância através de meios eletrónicos seguros, por exemplo no âmbito de cursos em linha ou acesso a material didático que complemente um determinado curso. Deverá entender-se por meios eletrónicos seguros os ambientes de ensino e aprendizagem digital, cujo acesso seja limitado ao pessoal docente de um estabelecimento de ensino e aos alunos ou

74 UNIÃO EUROPEIA. Diretiva 2000/31/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 8 de Junho de 2000.

Relativa a certos aspectos legais dos serviços da sociedade de informação, em especial do comércio electrónico, no mercado interno ("Directiva sobre comércio electrónico"). Estrasburgo: Parlamento Europeu, 2001.

Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-

estudantes inscritos num programa de estudos, designadamente através de procedimentos de autenticação adequados, incluindo autenticação através de senha.75

A determinação estabelece limitações para os direitos autorais em caso didáticos, mas também versa sobre a responsabilidade da instituição de ensino em casos de violações dessas exceções. Portanto, em caso de utilizações indevidas, o responsável será a instituição de ensino e não necessariamente aquele que se utilizou indevidamente da obra.

Seguindo nesta mesma Diretiva, atinge-se o artigo 17, o qual causou bastante repercussão, pois a redação se dirige para a responsabilização das plataformas de partilha de conteúdo, alterando portanto a redação da Diretiva 2000/31/CE.

Em primeira, é preciso se falar com relação ao número 3 do artigo 17º da Diretiva 2019/790, que dispõe que, em casos em que os serviços de compartilhamento coloquem a disposição, conteúdos abrangidos por tal Diretiva, estes não se enquadrarão na limitação prevista no visto artigo 14º da Diretiva 2000/31/CE, de não responsabilização das plataformas, isto porque os enfoques diferem de uma para com a outra, enquanto a mais antiga vela pelos dados de armazenagem, a mais recente zela pelas mídias compartilhadas.

O artigo 17 citado também condiciona a não responsabilização das plataformas a requisitos anteriores, como proceder a realização de todos os esforços para conseguir uma autorização do autor para a utilização de determinada obra. Além disso, em caso de uma publicação de um usuário, caso o autor se veja no direito de requerer a propriedade de seu conteúdo deverá fazê-lo perante a plataforma, que deverá agir com diligência para bloquear obras ou outros conteúdos objetos de notificação.

A alínea “b” ainda determina que tais plataformas devam agir com diligência para evitar o carregamento de materiais com direitos reservados de terceiros, fato que tornaria dificultosa a operação destas.

São esses os requisitos da Diretiva para que plataformas de partilha não fiquem sujeitas a penalidades, que se façam acordos com os autores para garantir uma licença de utilização em nome dos usuários, uma espécie de barreira para o carregamento de mídias com conteúdo de

75 UNIÃO EUROPEIA. Diretiva (UE) 2019/790 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de abril de

2019. Relativa aos direitos de autor e direitos conexos no mercado único digital e que altera as Diretivas 96/9/CE

e 2001/29/CE. Estrasburgo: Parlamento Europeu, 2019. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal- content/PT/TXT/?uri=CELEX:32019L0790. Acesso em: 21 nov. 2020.

terceiros e uma agilidade para tornar o conteúdo restrito após a notificação do detentor dos direitos autorais, algo que se mostra inviável mediante a tamanha quantidade de produção gerada diariamente, além do grande número de novas obras que são criadas diariamente, que deveriam se também licenciadas para a utilização.

Portanto, as normas de direito autoral europeu tendem a compreender a responsabilidade das plataformas como objetiva, uma vez que bastaria ao detentor de direitos comprovar que sua obra foi compartilhada de forma indevida em determinada plataforma, ou seja, comprovar o dano, ficando a cargo da empresa comprovar que cumpriu com os requisitos necessários para sua não responsabilização. Tal redação se vê com desconfiança para a aplicação, pois seria necessário uma disposição financeira consideravelmente grande, o que talvez não fosse problema para grandes empresas, mas afetaria consideravelmente as pequenas plataformas de compartilhamento de mídias.

Neste sentido, dispostas as responsabilidades previstas em normas brasileiras e europeias, chega-se ao último ponto do presente capítulo, fazendo uma análise comparativa entre tais disposições.

4.5 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE O DIREITO BRASILEIRO E O DIREITO DA

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