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LISTA DE ABREVIATURAS

T- bet Fator de transcrição para diferenciação de células Th

3. MATERIAIS E MÉTODOS 1 Animais experimentais

1.3 Resposta imunológica às infecções por nematoides gastrintestinais em

pequenos ruminantes

A resistência do hospedeiro aos nematoides inclui desde o início da resposta imunológica até a manutenção desta, que inclui a prevenção, redução de danos e até mesmo a eliminação da infecção, promovendo redução da carga parasitária efetiva quando comparado aos suscetíveis (KELLY; KAHN; WALKDEN-BROWN, 2013). A imunidade inata, constituída pelas as barreiras físicas ou químicas e, adaptativa, que se desenvolvem por meio de respostas imunológicas produzidas contra às infecções, impedem o parasitismo bem sucedido e também são englobados no contexto da resistência (SADDIQI et al., 2011).

Já a resiliência consiste na capacidade do animal em ser produtivo mesmo com os efeitos negativos da infecção, altos valores de ovos por grama (OPG) de fezes e manutenção das suas características físicas e hematológicas (SADDIQI et al., 2011; PEREIRA et al., 2016). Diversos estudos devem ser realizados a fim de definir melhor o papel do animal resistente e resiliente na produção, uma vez que esse papel ainda não é tão claro.

Os mecanismos do sistema imunológico envolvidos nesses perfis de resistência, resiliência e suscetibilidade em animais com mesmas condições de sobrevivência e mesma raça, ainda não são bem esclarecidos (STORILLO, 2016).O envolvimento dos linfócitos T CD4+, também conhecidos como T auxiliares ou T helper (Th), e seus

respectivos conjuntos de subpopulações, tem se mostrado críticos para o desfecho clínico nas infecções por helmintos. Apesar de morfologicamente indistiguíveis, quando ativados, secretam distintos padrões de citocinas e, consequentemente, exibem diferentes mecanismos efetores (BELKAID; TARBELL, 2009).

Os linfócitos T CD4+, são subdivididos funcionalmente pelo padrão de citocinas

que produzem e, quando ativados, de acordo com diferentes estímulos fornecidos, podem se diferenciar em diferentes subpopulações, de acordo com os fatores de transcrição ativados e, consequentemente, o perfil de citocinas que elas secretam. As primeiras subpopulações descritas foram Th1 e Th2, seguidas pelas subpopulações Th17e linfócitos T reguladores (Treg) (MESQUITA JÚNIOR et al., 2010).

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Os helmintos são parasitos que apresentam tamanho variado e diferentes estratégias de infecção nos hospedeiros vertebrados. São agentes que também impulsionam a evolução do sistema imune, devido força seletiva que exercem, em especial as respostas do tipo 2 (BOUCHERY et al., 2014). Alguns estudos sugerem que a doença clínica e impacto da infecção está relacionado com o desequilíbrio na resposta mediada pelas subpopulações Th2 (alta Th2) e Th1 (alta Th1), enquanto que a resistência e resiliência aparentam ser determinadas por um equilíbrio nas respostas mediadas pelas células Th1/Th2/Treg (BELKAID; TARBELL, 2009).

Atualmente, o conhecimento da diferenciação das células T em resposta aos helmintos vem sendo desafiado pela descoberta de padrões mais complexos, pois além de Th1, Th2, Th17 e Treg, alguns trabalhos tem mostrado o envolvimento de padrões mais complexos durante a infecção, como Th9 e Th22 (BOUCHERY et al., 2014).

Essa diferenciação pode ocorrer predominantemente pelas citocinas presentes no meio e pela interação com o receptor de célula T (TCR, do inglês T cell receptor) (BOYTON; ALTMANN, 2002). A célula apresentadora de antígeno (APC, do inglês Antigen Presenting Cells) exerce papel fundamental na diferenciação dos Linfócitos T devido aos estímulos fornecidos, tanto na apresentação do antígeno, quanto na expressão de moléculas co-estimulatórias, como na secreção de citocinas (ANSEM; SPILIANAKIS; FLAVE, 2009).

Compreender melhor os mecanismos fisiológicos, genéticos e imunológicos envolvidos na resistência do hospedeiro contra infecções causadas por helmintos é essencial (TOSCANO et al., 2018). A compreensão desses mecanismos levaria a possibilidade de novas abordagens terapêuticas e seletivas para um rebanho contribuindo com o melhoramento da produção e melhoraria o entendimento do papel dessas citocinas na resposta imune. Entretanto, os estudos de quantificação da resposta imunológica concentram-se, na sua maioria, em modelos murinos e trabalhos relatando a expressão dessas citocinas e seu papel na resposta imunológica em ovinos resistentes e suscetíveis a essas infecções são escassos, justificando, assim, a relevância de estudos nesta área.

1.3.1 Resposta Th1 e o papel em infecções contra helmintos em pequenos ruminantes

Para que ocorra a diferenciação das células T CD4+ em sua sobpopulação Th1 é

necessário a presença da IL-12 secretada por uma APC e IFN-γ secretado por outra célula como Natural Killers (NK) ou Células Linfóides Inatas (ILC) tipo 1 (COELHO- CASTELO et al., 2009; ZHU; YAMANE; PAUL, 2010; CORDING et al., 2018). A IL-12 promove a ativação do fator STAT-4 (do inglês – Signal Transducer and Activator of Transcription) responsável pela expressão de diversos genes, incluindo IFN-γ, e o IFN-γ externo ativa o fator STAT-1 que induz ativação de T-bet responsável pela expressão do recepetor de IL-12 que potencializa a resposta por intensificar a produção de IFN-γ e antagonizar os mecanismos envolvidos na diferenciação em Th2 (ANSEM; SPILIANAKIS; FLAVEL et al., 2009; ZHU; YAMANE; PAUL, 2010).

A subpopulação Th1, juntamente com as células NK ativadas e macrófagos, são responsáveis pela produção do IFN-γ. Essa produção, juntamente com IL-12 e Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-α), leva à ativação de outras células fagocíticas, sua potencialização e produção de elevados níveis de espécies reativas de oxigênio (EROs) e de nitrogênio (ERN) e, por esse motivo, estão envolvidas na imunidade celular contra patógenos intracelulares (BOYTON et al., 2002; COELHO-CASTELO et al., 2009; POLLARD; KNOLL; MORDUE, 2009; STURGE; YAROVINSKY, 2014).

A subpopulação Th1 também é caracterizada por secretar grandes quantidades de IL-2, citocina responsável por induzir a proliferação e aumentar a capacidade citotóxica dos linfócitos T CD8+ e também a proliferação dos próprios linfócitos T CD4+

de maneira autócrina. Essa resposta é muito importante, principalmente contra micobactérias, protozoários e fungos (PARKIN; COHEN, 2001; MESQUITA JÚNIOR et al., 2010).

A resposta Th1 tem sido observada em infecções envolvendo helmintos e muitas vezes exibindo equilíbrio Th1/Th2 (ANTHONY et al., 2007). Em pequenos ruminantes, esse equilíbrio na resposta tem sido observado em animais resilientes. Por outro lado uma polarização da resposta Th1 é mais frequente em animais suscetíveis as infecções,

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devido a elevada produção de IFN-γ, menos anticorpos séricos e menos eosinófilos (ALBA-HURTADO; MUÑOZ-GUZMPAN, 2013; AMARANTE; RAGOZO; SILVA, 2014).

Apesar disso, alguns trabalhos mostraram que a resposta Th1 foi necessária para induzir imunidade contra algumas helmintoses como a hemoncose nos estágios iniciais, porém não se demonstrou eficiente para a manutenção da resposta (ALBA-HURTADO; MUÑOZ-GUZMPAN, 2013; SALES, 2016). Outros trabalhos, mostraram que a resposta Th1 estava associada ao perfil de suscetibilidade (PERNTHANER et al., 2005; CLAEREBOUT et al., 2005; MILLER; HOROHOV, 2006; LACROUX et al., 2006; CRAIG et al., 2007; INGHAM et al., 2008; ZAROS et al., 2014). A resposta Th2, além de proteger o hospedeiro contra a infecção, previne ou repara danos teciduais causados pela resposta Th1 (MAIZELS et al. 2004). Em contrapartida, o equilíbrio Th1/Th2 pode permitir a permanência do parasito no hospedeiro (COELHO-CASTELO et al., 2009).

1.3.2 Resposta Th2 e o papel em infecções contra helmintos em pequenos ruminantes

A subpopulação Th2 é caracterizada pela produção de importantes citocinas associadas a resposta contra helmintos e a alergia, tais como a IL-4 que induz a troca de classe de imunoglobulinas nos linfócitos B para IgE; IL-5 que induz a ativação e migração de eosinófilos e basófilos para sítios de infecção, sendo uma das citocinas que auxiliam na troca de classe de imunoglobulina para IgA, e IL-13 que estimula o peristaltismo e produção de mucinas pelas células caliciformes (MESQUITA JÚNIOR et al., 2010). A mastocitoce e a neutrofilia também tem sido observadas em alguns quadros de infecção por helmintos (ANTHONY et al., 2007; BAMBOU et al., 2013; BOUCHERY et al., 2014).

Este perfil, por sua vez, é ativado pela citocina IL-4, a qual promove a transcrição do fator STAT-6, responsável pela expressão do fator GATA-3 que pode diretamente ativar os genes da IL-4, IL-5 e IL-13, além de inibir os mecanismos de diferenciação do perfil Th1 pela presença de IL-4, e, portanto, são respostas antagonistas entre si (ANSEM; SPILIANAKIS; FLAVEL et al. 2009). Além disso, induzem a secreção de IL-10 e Fator de Transformação do Crescimento Beta (TGF-β – do inglês: Transforming Growth

Factor Beta) pelas células Treg (JACKSON et al. 2009). É importante também citar que a ativação do fator GATA-3 e secreção de IL-4, IL-5 e IL-13, também estão associadas as ILCs tipo 2 (CORDING et al., 2018).

Apesar dos macrófagos serem células convencionalmente associadas as respostas Th1 (MANTOVANI et al., 2005), vários estudos têm mostrado a presença de macrófagos ativados por estímulo de IL-4 e IL-13. Após a ativação, ocorre o aumento da expressão de arginase-1, receptor de manose (CD206) e receptor α para IL-4 (IL-4Rα) e as células são rapidamente recrutadas para os sítios de infecções durante as respostas Th2 (ANTHONY et al., 2007).

1.3.3 Resposta Th17 e Treg e o papel em infecções contra helmintos em pequenos ruminantes

Em estudos envolvendo camundongos, a subpopulação Th17 tem mostrado ser induzida pela presença do TGFβ, a qual induz a ativação de RORγt (ROR – do inglês: Retinoid-Related Orphan Receptor) e a IL-6, responsável pela fosforilação do fator STAT- 3. A IL-21 secretada age de maneira autócrina e contribui com a ampliação da resposta, e IL-23, secretada por APCs, estabiliza o perfil Th17 (PATEL; KUCHROO, 2015).

O perfil Th17 é caracterizado pela secreção de IL-17 e IL-22 e participam na defesa contra bactérias e fungos extracelulares, principalmente na superfície de mucosas (CHEN; LAURENCE; O’SHEA, 2007). Além desses agentes, alguns trabalhos tem associado a resposta Th17 em infecções contra helmintos (BABU; NUTMAN, 2012; LARKIN et al., 2012; BOUCHERY et al., 2014). A ativação de RORγt e secreção de IL- 17 e IL-22 também está presente nas ILCs tipo 3 (CORDING et al., 2018).

No curso da infecção, embora haja uma polarização para um determinado perfil de resposta, é evidente a existência de uma co-evolução, uma vez que a resposta final constitui um balaço entre os mecanismos celulares, humorais e secreção de citocinas pró e anti-inflamatórias (COELHO-CASTELO et al., 2009). Nesse sentido, diante tantos perfis de células T efetoras, é evidente a necessidade da regulação da resposta imunológica para um efetivo controle das infecções e prevenção do aparecimento de doenças

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autoimunes e, portanto, as células Treg exercem papel fundamental na manutenção da homeostase imunológica (VIGNALI et al., 2008; SHEVACH, 2009).

Esse sucesso está associado a secreção de citocinas anti-inflamatórias como IL- 10 e TGF-β produzidas especialmente por células Treg (KOUSER et al., 2017). A subpopulação Treg é ativada por IL-2, TGF-β e tetrinoína ou ácido retinóico trans (ATRA – do inglês: All-trans retinoice acid). A IL-2 induz a ativação de STAT5 que induz a expressão do fator de transcrição FoxP3 (Fox – do inglês: Forkhead Box), o qual tem uma importante função na manutenção deste perfil e secreção de IL-10 e TGF-β (KHATTRI et al., 2003; FONTENOT et al. 2005). ATRA e TGF-β são importantes por aumentarem a expressão de IL-2 e, consequentemente, aumentarem a expressão de FoxP3 (JETTEN, 2009).

As células Treg exercem função supressora sobre as respostas Th1 e Th2 devido a ação efetora das citocinas secretadas (KIM, 2007). As células dendríticas também estão associadas a essa supressão devido a produção de ATRA (IWATA et al., 2003; JETTEN, 2009). Além disso, as Treg também estão associadas a supressão de Th17 (MUCIDA et al., 2007; SUN et al., 2007). Essa supressão está associada a mecanismos dependentes de STAT-5, ativado por IL-2, os quais levam a inibição de RORγt e STAT-4 (IVANOV et al., 2007; LAURENCE et al., 2007; GU et al., 2008; SANJABI; OH; LI, 2017).

O TGF-β também é capaz de inibir a diferenciação de células Th2 por silenciar o GATA3 por meio da expressão do fator de transcrição SOX4. Essa regulação sobre Th1 e Th2 permite a manutenção da homeostase da resposta imunológica e previne eventuais danos decorrentes de severos quadros inflamatórios em resposta do agente (SANJABI; OH; LI, 2017). A IL-10, importante citocina conhecida no controle de respostas, além das Treg, também é secretada por outros tipos celulares como macrófagos, células dendríticas e Th2 (ANDERSON et al., 2007; COUPER; BLOUNT; RILEY, 2008; MITCHELL et al., 2017).

1.3.4 Resposta Th9 e Th22 e o papel em infecções contra helmintos em pequenos ruminantes

Outra citocina, tradicionalmente associada à resposta Th2, a IL-9, exerce efeito em diversas células como mastócitos, eosinófilos, células epiteliais e outras células T (NOELLE; NOWAK, 2010; WIHELM et al., 2012). Porém, já é descrito um subconjunto de células T CD4+ com capacidade exclusiva de secretar IL-9, sendo então chamado de

Th9 (DARDALHON et al., 2008; VELDHOEN et al., 2008).

Essas células são distintas das células Th1, Th2 e Th17 (JONES et al., 2012; YAO et al., 2013). Desempenham papel protetor por atuarem contra tumores, alergias e autoimunidade (ANURADHA et al., 2016). Alguns trabalhos têm mostrado a importância da Th9 na resistência às infecções por helmintos em modelos animais por promover a expulsão dos parasitos (FAULKNER et al., 1997; FAULKNER et al., 1998; RICHARD et al., 2000; VELDHOEN et al., 2008).

Em relação a IL-22, tem sido observado a sua secreção por células T CD4+ na pele humana, chamadas então de Th22 (DUHEN et al., 2009; TRIFARI et al., 2009; EYRICH et al., 2009). Essa citocina, antes associada a resposta Th17, pode ser secretada por células T CD8+, NK, células Indutoras de Tecido Linfóide (LTi), ILCs tipo 3

(SONNENBERG; FOUSER; ARTIS, 2011; CORDING et al., 2018). Envolvida, principalmente, na defesa contra infecções bacterianas, alguns trabalhos tem relatado a sua importância como mediador crítico na imunidade anti-helmíntica (TURNER; STOCKINGER; HELMBY, 2013). Alguns autores tem mostrado que a IL-22 fortalece barreiras epiteliais, medeia mecanismos de reparo e a cicatrização de lesões também em infecções envolvendo T. trichiuria e Necator americanus (BROADHURST et al., 2010; GAZE et al., 2012).

Nesse sentido, o papel da IL-9 e IL-22 não tem sido tão explorado em infecções parasitárias causadas por helmintos. Os trabalhos existentes mostram o papel dessas citocinas em humanos e camundongos. Nenhum trabalho foi encontrado evidenciando o papel dessas citocinas, juntamente com outros perfis de resposta, em ruminantes, em especial, ovinos.

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2. OBJETIVOS

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