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Como demonstrado, a maioria dos trabalhos que utilizaram a desnutrição protéica em modelos animais, fizeram-na, principalmente, durante a gestação e/ou lactação (KRÓL et al, 2011; SILVA et al, 2009; FERNANDES et al, 2008; FERNANDES et al, 2007; TATLI et al, 2007) e, a partir de então, os animais foram recuperados. Esses animais apresentaram diversas alterações, pois receberam um insulto, do tipo nutricional, no período crítico de desenvolvimento de alguns órgãos. Assim, parece que esses animais são “programados” para sobreviverem no mesmo ambiente nutricional enfrentado durante os períodos iniciais da vida e que produzem adaptações metabólicas permanentes. Essas adaptações aumentariam o risco de aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis como o diabetes tipo 2, obesidade e doenças cardiovasculares. Porém, esta programação não explica totalmente o alterado mecanismo que desencadearia os riscos metabólicos. A premissa para estes câmbios metabólicos é que estes organismos encontram posteriormente um ambiente nutricional melhor, ou seja, de abundância de nutrientes/energia.

Ampliando as considerações da “programação” ou da hipótese do fenótipo poupador (Thrifty Phenotype), surge a hipótese da Resposta Adaptativa Preditiva (Predictive Adaptative

Response - PAR), a qual se baseia no sentido de que os organismos em desenvolvimento

recebem a informação sobre a qualidade do meio ambiente externo e, em resposta, formulam “previsões” quanto às condições ambientais futuras (BATESON e MARTIN, 1999; GLUCKMAN e HANSON, 2004; GLUCKMAN et al., 2007; GLUCKMAN et al., 2005). Se esta resposta adaptativa preditiva é apropriada, o fenótipo é normal; mas se ocorre uma inadequação ou um erro entre o previsto e o ambiente atual, a doença se manifesta (ARMITAGE et al, 2005). Segundo Silveira (2007), o organismo em desenvolvimento tem a capacidade de prever o ambiente no qual crescerá, utilizando sinais hormonais maternos através da placenta e/ou através da lactação. Esses sinais fazem o indivíduo ajustar sua fisiologia ou processos celulares para conviver com o ambiente previsto. Portanto, se propõe que a doença só se manifeste quando a dieta atual diverge daquela que foi prevista constituindo um intrigante conceito com poucos estudos direcionados a investigar tal hipótese (ARMITAGE et al., 2005).

Recentemente, dois trabalhos utilizaram a desnutrição desde o período inicial da vida até os 90 dias (MAZETI e FURLAN, 2008) e 70 dias (SOUZA et al., 2009) de idade. O primeiro trabalho investigou algumas alterações quantitativas e funcionais resultantes da

restrição alimentar. Esta restrição foi imposta por duplicação do tamanho da ninhada experimental (grupo-restrição, 12 filhotes) em relação à ninhada-controle (grupo-controle, seis filhotes) durante a lactação, e por redução de 50% no alimento ofertado do desmame até os 90 dias de idade. O estudo, porém, limitou-se a avaliar apenas o desenvolvimento de ratas Wistar fêmeas com imposição de uma restrição energética (MAZETI e FURLAN, 2008).

No segundo trabalho, Souza et. al (2009) estudaram a influência da desnutrição promovida pela dieta básica regional (DBR) sobre o perfil de ácidos graxos do leite materno, o crescimento e o desenvolvimento de ratos jovens, machos e fêmeas, comparando os grupos controle, desnutrido ou recuperado até 70 dias de vida. Os autores observaram que a massa dos diferentes tecidos nos filhotes machos do grupo desnutrido apresentou-se diminuída em comparação aos grupos controle e recuperado. A massa correspondente ao cérebro, ao coração, ao fígado e aos rins direito e esquerdo dos machos do grupo recuperado foi significantemente maior que a do grupo desnutrido, mas significantemente menor que a do grupo controle, mostrando que a introdução da dieta controle permite o aumento da massa, mas não o suficiente para se igualar ao grupo controle. Quando se avalia a massa relativa dos tecidos, observa-se que somente o cérebro e o coração dos machos do grupo desnutrido apresentam massa significantemente maior que os grupos controle e recuperado. Estes achados se associam ao fato de que esses órgãos são poupados no processo de redução de massa tecidual visto sua importância para a sobrevivência (PARRA et al, 1995).

No grupo recuperado, os machos apresentaram incremento gradativo na massa corporal durante a recuperação nutricional, sem que houvesse grandes variações no consumo alimentar em relação ao grupo controle. A persistência de diferenças na massa corporal em relação ao grupo controle, mesmo após reabilitação nutricional, por tempo mais prolongado, também foi observada por outros pesquisadores, em ratos machos na idade de 90 dias (SHARMA et al, 1990) e 120 dias (CAMPOS e MADI, 1975). Estes resultados não surpreenderam, visto que o déficit de massa corporal induzido pela restrição protéica em fase de crescimento rápido não consegue ser completamente restabelecido por uma dieta normal (VENTRUCCI et al, 2004). A hipótese da PAR também tem sido investigada em estudos que promovem excesso de nutrientes na vida perinatal, sobretudo com o incremento de gordura dietética. Contudo, os raros estudos da literatura mostram resultados inconclusivos e com adaptações inadequadas (KHAN et al., 2004).

Os poucos estudos e a inadequação de respostas tem levado pesquisadores a criticarem de forma contundente a PAR (WELLS, 2007), deixando intrigantes os eventos mecanicistas que predispõem a prole ao risco de doenças metabólicas. Contudo, novos insights têm surgido com fins de explicar a relação entre ambiente perinatal adverso e doenças crônicas. De acordo com o que foi explanado, o projeto teve como escopo avaliar alguns parâmetros do crescimento e alterações bioquímicas em animais que não são recuperados após desmame. Esta proposta vem de encontro a contribuir para esclarecer alguns aspectos adicionais relacionados ao PAR visto a escassez de estudos e/ou adicionalmente, observar algumas consequências que este organismo pode ter caso não tenha uma recuperação nutricional após a lactação. Este fato denota relevância visto que em humanos, nem todas as crianças que sofrem um agravo nutricional na gestação e lactação possuem garantias de receberem aporte nutricional “adequado” após o desmame.

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