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2 A Educação no Período Democrático no Brasil e o Ensino Religioso

2.1 Restauração da Democracia (1985 Atual/Constituição de 1988)

A nova Constituição Federal foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988, com uma abordagem um tanto quanto democrática em relação às demais constituições. Estimulou a criação de novos arranjos políticos de modo a ampliar a base de representação nos processos decisórios. Nesse sentido, a sociedade se vê obrigada também à renovação dos estudos sobre os fenômenos religiosos e, portanto, o Ensino Religioso se abre a esse diálogo e almeja o afastamento de qualquer ensinamento empenhado em converter os alunos a uma determinada religião (JUNQUEIRA et al., 2007).

A nova Constituição Federal de 1988 traz à tona a questão religiosa nos seguintes termos:

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; (BRASIL, 1988)

A Constituição de 1988 reforça o caráter laico do Estado. Para compreender melhor o significado desse termo da Constituição separamos um trecho documento publicado em maio de 2016 intitulado: Roteiro de Atuação do Ministério Público elaborado pelo Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP , que foi publicado com o objetivo de fornecer subsídios para auxiliar os membros do Ministério Público brasileiro a atuarem em defesa do Estado Laico5.

O Estado deve desempenhar com impessoalidade e eficiência do seu dever de assegurar uma educação pública de qualidade para todos, e para isso é preciso erradicar preconceitos e discriminações por motivos de convicções religiosas.

Além disso, é vedado ao Poder Público criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si, cabe ao Estado promover a igualdade de tratamento a todos os cidadãos. Trata-se de desdobramento do princípio da igualdade que não por casualidade está previsto no artigo 19, dispositivo reservado pela Constituição Federal para afirmar que o Estado brasileiro é laico. Esse preceito basilar é imperativo de imediata aplicação, inclusive em relação ao ensino público. Nos termos da Constituição Federal:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas; (...)

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia do padrão de qualidade; (BRASIL, 1988).

Nessa perspectiva fica garantido por lei a liberdade de crença, o direito de se praticar a religião que melhor lhe convier legitimando o direito a crer e realizar cultos das diferentes tradições religiosos. A Constituição de 1988 também dispõe especificamente sobre o Ensino Religioso:

Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.

§ 1° - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental” (BRASIL,

1988).

Mais uma vez, o embate sobre a permanência do Ensino Religioso é evidenciado, agora pautando-se na “missão” de contribuir com a formação da pessoa humana, na promoção dos

valores culturais, artísticos da nação e o respeito à cultura regional. Importante ressaltar que a disciplina não possuía uma nomenclatura definida, era chamada: “aulas de religião”, “formação religiosa”, “educação religiosa”, mesmo com a legislação referindo-a como Ensino Religioso. Nesse período concentram-se por parte de grupos religiosos um forte apelo pela construção da identidade da disciplina, concomitantemente com a construção de uma nova identidade nacional que assume o direito à diversidade. A sociedade percebe-se heterogênea e o Ensino Religioso pleiteia a possibilidade de lidar com essas questões em sala de aula.

Com o objetivo de fomentar um grupo que representasse os interesses do Ensino Religioso foi criado em 26 de setembro de 1995 em Florianópolis, durante a comemoração dos 25 anos de Ensino Religioso em Santa Catarina, o FONAPER5. Seu estatuto afirma no capítulo I,

artigo 1: “O FONAPER é uma sociedade civil de âmbito nacional, sem vínculo político-partidário, confessional e sindical, sem fins lucrativos, sem prazo determinado de duração, que congrega, conforme este estatuto, pessoas jurídicas e pessoas físicas identificadas com o ensino religioso escolar e se constitui em um organismo que trata questões pertinentes ao ensino religioso [...].”

O FONAPER prescreveu uma série de objetivos iniciais. O primeiro desses objetivos era garantir a presença do ensino religioso na LDB de 1996. O segundo objetivo era produzir e publicar um Parâmetro Curricular Nacional para a disciplina e por fim, pretendia formular uma proposta para a formação de um profissional em ensino religioso e de uma graduação nesta disciplina (JUNQUEIRA, 2002, p.49).

Em março de 1996 o FONAPER lança os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais). Este documento apresenta as diretrizes fundamentais para o ensino religioso. Os Parâmetros Curriculares Nacionais enfatizam que o ensino religioso deve evitar qualquer forma de proselitismo, de doutrinação. De acordo com os pressupostos do documento o Ensino Religioso, não seria o estudo de determinada religião ou da religião, mas o estudo do transcendente, das

5 FONAPER, sigla do Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso, “foi criado em 1995 e vem desde então buscando acompanhar, organizar e subsidiar o esforço de professores, associações e pesquisadores no campo deste componente curricular. Não é possível entende-lo de forma estática, ou mesmo linear. Em um primeiro momento ocupou-se com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, simultaneamente com a estrutura do Ensino Religioso através da produção do Parâmetro Curricular Nacional do Ensino Religioso.” Fonte: http://www.fonaper.combr/hp/. Acesso em: 20/06/2016

diversas formas que ele se manifesta na história, é o estudo do fenômeno religioso em seus aspectos filosóficos, sociológicos, históricos, psicológicos etc. FONAPER e a CNBB foram as duas principais entidades que se mobilizaram para alcançar tal objetivo.