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Restrição de ligação: as linhas de associação em descrições estruturais são interpretadas exaustivamente Essa restrição limita a aplicação de uma regra de à

3 Embasamento teórico

3) Restrição de ligação: as linhas de associação em descrições estruturais são interpretadas exaustivamente Essa restrição limita a aplicação de uma regra de à

forma que nela é representada, de modo que, se contiver uma só linha de associação, fica bloqueada em contextos de ligação dupla e vice-versa (cf. Hayes, 1986, p.331).

Esta breve exposição sobre a Fonologia da Geometria de Traços mostrou algumas características desse modelo, com o intuito de fornecer algumas informações relevantes sobre a maneira como a representação dos segmentos e a descrição de alguns processos fonológicos são feitas a partir desta teoria.

3.4 A Fonologia Métrica

A Fonologia Métrica desenvolveu-se a partir dos anos 70 do século XX. Sua principal preocupação é voltada para os fenômenos dependentes da fonotática (cf. Cagliari, 2008), tais como a sílaba e fenômenos rítmicos em geral. Uma das últimas versões é a que foi elaborada por Hayes (1995).

A Teoria Métrica diz que as diferenças fonéticas e fonológicas entre o acento e traços gradientes podem ser mais bem explicadas se abandonarmos a visão do acento da fonologia gerativa padrão como apenas traços atribuídos às vogais, e tratá-lo, preferivelmente, como uma estrutura rítmica organizada hierarquicamente (LIBERMAN, 1975; LIBERMAN; PRINCE, 1977).

É um modelo teórico que utiliza a concepção hierárquica das estruturas e permite uma nova representação da sílaba e uma análise adequada do acento. Veja o esquema abaixo:38

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Onset Rima Núcleo Coda p ɛ s 38

Conforme se vê, os elementos da sílaba foram estruturados em forma de árvore. O

Onset é considerado a primeira parte da sílaba e a segunda é a Rima (constituída de núcleo –

que em português só pode ser ocupado por uma vogal - e coda – na maioria das vezes ocupada por consoantes).

A primeira estrutura métrica criada foi a representação do acento por meio de árvores métricas. As relações entre as sílabas são determinadas em função de suas saliências, que são classificadas como sílabas fortes (s-strong) e sílabas fracas (w-weak). Veja o exemplo retirado de Liberman e Prince (1977, p.267):

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Apesar de a preocupação de Liberman e Prince (1977) residir em explicar os acentos principais e secundários na língua inglesa, segundo Matzenauer (2005, p.76), foi possível, através dessa representação, caracterizar a estrutura prosódica interna da palavra, a qual se apresenta em dois níveis: 1º) as sílabas são inicialmente agrupadas em contituintes cujo elemento à esquerda é o mais forte; 2º) os constituintes são organizados numa árvore ramificante com cabeça (núcleo) à direita. De acordo com a autora, no exemplo acima, o acento primário é atribuído à sílaba –a por ser exclusivamente dominada por nós fortes.

As saliências podem ser representadas em forma de árvore (conforme exemplo acima), ou pode-se utilizar uma representação na forma de grade, como temos a seguir (cf. Cagliari, 2008, p.120):

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x

x x

x x x x

x x x x x x x x

mi nha che fe foi a Sou sas

Explicando este modelo, temos que no primeiro nível todas as sílabas recebem uma marca e, depois, o esquema assinala apenas as saliências. De acordo com Cagliari (2008), contasta-se que a grade métrica do enunciado pode relevar fatos rítmicos da língua.

Dada a organização das sílabas de um enunciado em função da sua relativa saliência acentual, cria-se um padrão rítmico, no qual, em vez de as sílabas serem marcadas como fortes e fracas, marca-se o pé métrico que pode ser um troqueu (longa-breve) ou um iambo (breve-longa). Veja o esquema abaixo (cf. Cagliari, 2008, p.122):

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Σ Σ Σ Σ

(x .) (x .) (x .) (x .)

mi nha che fe foi a Sou sas

Diante de um enunciado, podemos marcar, além dos pés e das sílabas, outras unidades maiores, que envolvem elementos rítmicos e entoacionais.

A grade métrica organiza hierarquicamente as relações entre os elementos e, assim, expressa também a força relativa desses elementos: quanto mais extensa for a coluna, maior será sua força (MATZENAUER, 2005, p.78). Com isso, a grade métrica permite a visualização do ritmo.

A partir da elaboração desses dois tipos de representação do acento, surgiu entre os pesquisadores a polêmica em decidir entre a utilização da árvore ou da grade. Prince (1983) defende a representação por meio das grades métricas, uma vez que são mais representativas dos fenômenos rítmicos.

Sendo capaz de refletir o ritmo de uma sequência de elementos prosódicos, a grade constitui um recurso eficiente para solucionar os “choques de acento” (stress clashes). Entende-se por choque acentual quando são acentuadas duas sílabas adjacentes num mesmo nível prosódico.

Hogg e McCully (1987, p.130) apresentam um exemplo de colisão acentual, que pode ser resolvida através da operação Mova x: mova apenas uma marca da grade por vez ao longo de sua fileira. Quando a operação Mova x tem a finalidade de resolver uma colisão acentual, o movimento deve acontecer ao longo da fileira em que a colisão ocorre (MASSINI- CAGLIARI, 1999, p.92):

(46) Colisão Acentual (MASSINI-CAGLIARI, 1999, p.92)

Já os estudiosos da Fonologia Prosódica (cf. Nespor; Vogel, 1986; Selkirk, 1984) preferem adotar representações arbóreas, para dar conta de fenômenos prosódicos, além do acento, como por exemplo a entoação. Em um outro momento, Halle e Vergnaud (1987), Kager (1989), Goldsmith (1990) e Hayes (1995), em seus trabalhos, reuniram as vantagens das duas representações, criando o que se chama de bracketed grids, as grades parentetizadas, cuja função é de se proporcionar a clareza da visualização da hierarquia das batidas rítmicas da representação em grade, mas sem descartar as ramificações que indicam os constituintes que aparecem em uma árvore métrica. Na representação em grades parentetizadas, cada x representa a sílaba prominente do pé, enquanto que o ponto representa a sílaba não proeminente. Nesta pesquisa, adotamos a representação dos dados através da grade parentetizada.Veja os exemplos abaixo (cf. Lee, 1995, p.161):

(x ) ( x ) (48) (x .) ( x . ) fa lam fa la mos

O acento, segundo a Fonologia métrica, é uma propriedade da sílaba e tem caráter relacional - não é um traço, mas uma proeminência que nasce da relação entre os elementos prosódicos: sílaba, pé e palavra fonológica (MATZENAUER, 2005, p.79). Portanto, a fonologia métrica permite uma nova representação da sílaba e uma análise mais adequada do acento.

3.5 Acento

A Gramática Tradicional trata o acento como acento gráfico (acento circunflexo e agudo) e são ensinadas regras que determinam quando uma palavra é acentuada ou não.

Segundo Massini-Cagliari (1992), para a Linguística, a preocupação com o acento não diz respeito ao seu aspecto gráfico nas palavras, mas sim ao fenômeno que faz com que uma sílaba seja pronunciada de modo mais saliente do que outra. E para Dubois (1978, p.14), o acento é “um processo que permite valorizar uma unidade linguística superior ao fonema (sílaba, morfema, palavra, sintagma, frase), para distingui-la das outras unidades linguísticas do mesmo nível”. Segundo o autor, o acento é um fenômeno que ocorre em um nível acima do nível do segmento e por isso é chamado de suprassegmental.

Essa noção linguística sobre o fenômeno do acento é relacionada com a noção de tonicidade da Gramática Tradicional, ou seja, é a divisão das palavras em oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. Em português, o acento tônico é distintivo, pois serve para diferenciar vocábulos.

Porém, analisando o fenômeno do ponto de vista fonético, a função do acento não se restringe apenas a distinção de palavras. Segundo Massini-Cagliari e Cagliari (2002, p.113), essa saliência pode se apresentar por um meio de um aumento da força expiratória, por uma duração maior, por uma variação da curva melódica ou mesmo por um aumento de intensidade sonora, dependendo da vibração das cordas vocais. Partindo desse conceito, pode se afirmar que “uma sílaba só é tônica ou átona por comparação as demais” (MASSINI- CAGLIARI; CAGLIARI, 2002, p.113).

Massini-Cagliari e Cagliari (2002) definem três tipos de sílabas tônicas nas frases,

dependendo do seu grau de acento. Afirmam que existem sílabas que recebem o acento primário, sílabas que recebem o acento secundário, e por fim há sílabas que recebem o acento frasal:

(49) Palavra Cafezinho