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Para discutir os resultados da revisão sistemática, nós respondemos a algumas perguntas feitas aos entrevistados com as evidências encontradas na literatura. Nós consideramos a literatura como sendo o nosso décimo primeiro entrevistado. Em outras palavras, a resposta dada a cada pergunta é a análise feita de um conjunto de documentos científicos encontrados na literatura. Algumas perguntas de caráter pessoal (1, 3, 4 e 7 ver no Anexo A) foram ignoradas nesta parte do projeto, porque têm um caráter muito individual, o que torna difícil de comparar com documentos científicos.

No livro de Sequeira (2005), a autora diz que as redações brasileiras ainda têm muita resistência ao termo “jornalismo investigativo”. De acordo com a autora, para muitos profissionais, esse termo é redundante porque todo jornalismo pressupõe certa investigação, “e a terminologia não passaria de uma forma pomposa para definir um trabalho de reportagem bem-feito, como todos deveriam ser”. Porém, para a autora, existe uma categoria jornalística específica,

denominada jornalismo investigativo, que é “diferenciada das outras pelo processo de trabalho dos profissionais”.

Para Xavier (2015), o jornalismo investigativo também é diferenciado da prática do jornalismo convencional com base nos procedimentos metodológicos adotados na produção de uma reportagem investigativa. Para o jornalista Carlos Fon, a diferença entre o jornalismo convencional e o jornalismo investigativo “é mais 'um modo de fazer' jornalismo, do que 'um tipo' de jornalismo à parte” (SOUZA apud XAVIER, 2005).

O manual da Unesco também diferencia o jornalismo convencional do jornalismo investigativo e diz que este “não é apenas o bom e velho jornalismo bem realizado”. As duas formas de jornalismo focalizam os elementos de “quem, o que, onde e quando” (do lead, primeiro parágrafo de uma matéria). Mas, o quinto elemento da cobertura convencional, o “por que”, torna-se o “como” na investigação (HUNTER et al., 2013).

Os quatro elementos já citados (quem, o que, onde e quando) são desenvolvidos não apenas em termos de quantidade, mas também em termos de qualidade.

“O 'quem' não é apenas um nome ou um título, e sim uma personalidade, com traços de caráter e um estilo. O 'quando' não está presente nas notícias, e é um continuum histórico – uma narrativa. O 'que' não é meramente um evento, e sim um fenômeno com causas e consequências. O “onde” não é apenas um endereço, e sim uma ambientação, na qual certas coisas se tornam mais ou menos possíveis. Esses elementos e detalhes dão ao jornalismo investigativo, em sua melhor forma, uma poderosa qualidade estética que reforça o seu impacto emocional” (HUNTER et al., 2013).

A partir da revisão sistemática, pudemos concluir que as transformações no jornalismo acontecem desde muito tempo, desde a primeira metade do século XIX (SILVA, 2013). Com a evolução da tecnologia, principalmente com o surgimento da Internet, na segunda metade do século XX, podemos perceber as principais transformações no que diz respeito às relações com esse estudo. E percebemos que, a partir daí, o jornalismo buscou se adequar a esse novo cenário proposto por novas ferramentas digitais, foi então daí que surgiu o WikiLeaks e, depois do sucesso que o site teve, surgiram muitas outras iniciativas similares, que envolvem participação coletiva de jornalistas, programadores e hackers.

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Na medida em que o jornalismo vai se reconfigurando, surgem novas propostas no “fazer jornalismo” e novos termos que caracterizam o jornalismo investigativo, por exemplo “bancos de dados”. O WikiLeaks e o crowdsourcing (contribuições de um grande grupo de pessoas, especialmente, de uma comunidade online) também fazem parte do novo capítulo da história do jornalismo. E, como afirmam Christofoletti e Oliveira (2011), as organizações jornalísticas precisam se readequar para aproveitar o potencial que a Internet oferece e, com esses recursos poder melhorar a qualidade do jornalismo. Ainda de acordo com Christofoletti e Oliveira (2011), “O WikiLeaks acentua, portanto, novas perspectivas para o exercício jornalístico; novas formas de se fazer jornalismo”.

Segundo Vieira (2012), a tecnologia sempre foi um dos principais fatores das mudanças técnicas para a comunicação e consequentemente para o jornalismo. “Todas as tecnologias da comunicação e suas consequentes evoluções ao longo da história contribuíram para a investigação jornalística de alguma maneira, já que esta é uma consequência das transformações sociais e culturais das diferentes sociedades e da comunicação ao longo da história. Destacaram-se, no entanto, as tecnologias de acesso às informações e de processamento de dados”8.

Hoje, com a existência da Internet e seus recursos, o papel do jornalista acaba se ofuscando, pois qualquer cidadão com um mínimo de conhecimento acaba sendo um polo emissor na rede (CHRISTOFOLETTI; OLIVEIRA, 2011). A Internet também contribuiu para o surgimento de sistemas que possibilitam denúncias e despertam interesse em grupos, como os hacktivistas, em criar novos sistemas para contribuir com a mídia e assim divulgar informação.

De acordo com Benkler (2006), é possível observar que a Internet alterou o ecossistema comunicacional, aumentando o poder de disseminação de informações de indivíduos e organizações, ampliando as possibilidades da atuação colaborativa e expandindo ações e articulações fora da esfera do mercado.

O mundo do jornalismo vive em constante mudança, mas o que mudou não foi exatamente o modo de fazer jornalismo e sim o surgimento de novas ferramentas e as possibilidades de uso dessas ferramentas, como por exemplo o WikiLeaks (CHRISTOFOLETTI; OLIVEIRA, 2011).

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O WikiLeaks faz parte de um grupo de ferramentas leaks, ferramenta que vaza informação (Seção 2.7 ). Este trabalho considera a influência do WikiLeaks sobre a mudança no jornalismo como sendo a influência das ferramentas leaks porque (I) ele é o representante principal deste grupo que está há mais tempo na Internet e (II), como as outras ferramentas leaks possuem similaridades, nós podemos deduzir que elas obteriam o mesmo resultado/impacto que o WikiLeaks.

Como já foi dito, aconteceram mudanças no mundo do jornalismo (CORRÊA, 2011), principalmente, no modo de lidar com as fontes, como tratar a informação, transformando relações de profissionais de diferentes áreas do conhecimento (CHRISTOFOLETTI; OLIVEIRA, 2011). Como diz Christofoletti e Oliveira (2011), “o “maior vazamento da história” foi uma operação bem planejada, envolvendo diversos atores e organizações, para alcançar as dimensões proporcionais ao volume de dados que viria à tona”. Vale ressaltar que hoje existem mais possibilidades da fonte fazer uma denúncia ou mesmo passar uma informação com segurança para o jornalista, visto que existem ferramentas digitais que permitem seu anonimato (por exemplo, Tor e PGP). Adicionalmente, o WikiLeaks usa o Tor para garantir o anonimato das fontes (veja a Seção 2.7.1). Vale ressaltar que essas mudanças não são metodológicas, não se mudou a forma de fazer jornalismo.

Comparando o caso WikiLeaks com o Watergate, Mike Sager, do Whashington Post (CHRISTOFOLETI; OLIVEIRA, 2011) diz que, na essência, os dois são a mesma coisa, o que mudou foi a época em que aconteceu e, portanto, as ferramentas utilizadas. Segundo está escrito em Castro (2014): “Em um mundo de transformações, as maneiras e plataformas para se contar uma história irão mudar e se ampliar constantemente. Ainda assim, o que é essencial no jornalismo continua sendo o conteúdo, que precisa ter credibilidade, profundidade, contextualização e autonomia. A forma como será apresentado o produto jornalístico deve ser inovadora, criativa, mas, sabendo-se sempre que sozinha ela não representa nada”.

Todavia, não se pode negar o que o WikiLeaks causou no jornalismo e, como bem diz Christofoletti e Oliveira (2011) “o WikiLeaks é o fator mais potencialmente transformador para a atividade jornalística desde o surgimento do Twitter”. O Twitter surgiu em 2006 e muito rápido se tornou um importante aliado para dar alertas de notícias, para fazer coberturas jornalísticas em tempo real, e reforçar a difusão de conteúdos online (CHRISTOFOLETTI, 2011).

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O WikiLeaks também é considerado, como já foi dito, “inaugurador de uma tendência crescente e irreversível de parcerias entre meios convencionais e atores não propriamente jornalísticos” (CHRISTOFOLETTI, 2008 apud CHRISTOFOLETTI; OLIVEIRA, 2011). Temos como prova dessa tendência, o desenvolvimento de novos sites com o mesmo propósito, desenvolvido, por exemplo, por hacktivistas ou cypherpunks (atores não jornalísticos), , como o Openleaks, Panamá Papers, Offshore Leaks, LuxLeaks, SwissLeaks, The Intercept, entre outros.

Para Thomass (2011), o WikiLeaks é apenas o começo ou o símbolo para o surgimento de outros reveladores de fontes que se tornará onipresente. Dentre os exemplos que a autora cita, então BrusselsLeaks.com, Balkanleaks.eu ou Wikispooks.com. “Further examples such as BrusselsLeaks.com, Balkanleaks.eu or Wikispooks.com show that this development is already under way” (THOMASS, 2011). Para Beckett (2012), o WikiLeaks pode até não sobreviver, por depender de uma pessoa e de grandes vazamentos, mas as condições que o tornaram tão potente e perturbador ainda estão lá. A internet ainda proporciona a proteção do espaço do servidor espalhados por todo o mundo e além do controle de qualquer governo.

O WikiLeaks foi um marco histórico inegável, que marcou o começo de fato do século XXI, cuja essência é a revolução informacional. Seu maior legado foi a tomada de consciência do poder da informação e da sua força política num mundo digitalizado (VIANA, 2015).

Porém, são muitos os questionamentos a respeito do WikiLeaks, se ele é apenas um meio para a distribuição de informações; um parceiro tecnológico do jornalismo; se é uma fonte de informação ou um meio de difusão de informações. A plataforma chegou com uma série de medos e incertezas.

Ainda não existe um consenso do que realmente o WikiLeaks representa, mas existem alguns palpites para tentar desvendar para que a plataforma veio se apresentar. Uns a defendem como uma ferramenta de apoio ao jornalismo, outros como uma nova forma de jornalismo (COSTA; ARAÚJO, 2012); ou um ponto de partida para que um novo modo de se fazer jornalismo seja posto em prática (TELES et al., 2013). Para a jornalista Natália Viana, uma jornalista independente e parceira do WikiLeaks, o site também é considerado uma ferramenta “com força para democratizar a informação por meio da Internet” (CUNDARI; BRAGANÇA, 2011).

Há também quem diga que é uma fonte online de documentos, como Pavlik (2011). Lynch, em seu trabalho, conclui e também define o WikiLeaks como fonte. “WikiLeaks is used both as a regular destination and as a onetime source for leaked material” (LYNCH, 2010).

Para Corrêa (2011), o WikiLeaks é uma mídia. Para Christofoletti e Oliveira (2011), é um marco para o jornalismo, um divisor de águas e mais, existe um jornalismo pós-WikiLeaks. Para Tinnefeld (2012), o grande volume de matéria- prima divulgado pelo WikiLeaks também criou um estilo de reportagem, que é chamado “data driven journalism” ou, no português, "jornalismo orientado a dados". É importante salientar que o site tem o potencial de proporcionar transparência e acesso à informação de interesse público, o que reforça o princípio da liberdade de informação.

Segundo Xavier (2015), os episódios que marcaram a trajetória do WikiLeaks “contribuem para demonstrar certa descentralização no exercício da prática investigativa e destacar as potencialidades da organização de indivíduos autônomos em prol de um objetivo em comum, proporcionado pela internet e pelas tecnologias digitais”.

Além disso, o WikiLeaks parece trazer a possibilidade do contato direto com as fontes de informação; aumentar a velocidade de acesso e edição; compartilhar enormes quantidades de arquivos; e ser uma poderosa ferramenta de pesquisa (CHRISTOFOLETTI; OLIVEIRA, 2011).

Para Corrêa (2011) o WikiLeaks está se tornando “um ator diferencial no arranjo social temporário que vivemos”. Para Vieira (2012), o WikiLeaks é resultado de um trabalho conjunto em modelo colaborativo (crowdsourcing), pouco aplicado entre os veículos e os profissionais da mídia anteriormente. E o que se percebe é que houve sim mudança, mas não no modo de fazer o jornalismo, e sim no modo de lidar com as fontes, como tratar a informação, transformando relações de profissionais de diferentes áreas do conhecimento.

Lynch (2010) mostra em seu trabalho, no qual entrevistou 22 jornalistas, que alguns desses acessavam o site regularmente, e outros, que o acessaram em apenas um determinado momento para checar algum tipo de informação que estava pesquisando para sua matéria. Para esses, o WikiLeaks não mudou os métodos de fazer jornalismo, mas serviu como fonte. “For these journalists, WikiLeaks was not something that changed their methods, but rather a source that was useful in one instance” (LYNCH, 2010).

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Mas, para que o WikiLeaks tivesse o sucesso que teve, precisou que a mídia tradicional desse confiança e credibilidade para que o impacto esperado fosse alcançado. Além disso, foi preciso ter cuidados técnicos adicionados à prática jornalística (VIEIRA, 2012).

Existem também algumas opiniões que criticam o trabalho do WikiLeaks. Por exemplo, Pacheco (2011) diz que o jornalismo perde credibilidade porque devido ao anonimato que o WikiLeaks garante às fontes, não é possível cruzá-las nem investigar o outro lado.

Também há quem afirme que o WikiLeaks não é algo novo. Para Silveira (2011), revelações sobre documentos sigilosos envolvendo Estados e corporações são antigas e algumas podem ser consideradas tão ou mais impactantes do que as divulgadas pelo WikiLeaks. Para o autor, as consequências políticas da divulgação de documentos em 2010 pelo WikiLeaks foram menores do que outras denúncias, como no caso Watergate. Sobre as ferramentas que o WikiLeaks utiliza, como a criptografia forte e o Tor, o autor afirma que já são utilizadas há algum tempo. O Tor, por exemplo, desde 2002. Entretanto, Silveira (2011) também acredita que o WikiLeaks trouxe algo de novo: “a união entre hackers e cidadãos comuns que puderam participar do Hacktivismo sem serem hackers e alertaram o mundo sobre a gravidade do controle privado de estruturas transnacionais indispensáveis à cidadania”.

Thomass (2011) também defende que o WikiLeaks não é algo novo, porém, reconhece que ele traz algumas novidades. Para a autora, também já houve vazamentos e delações antes, mas nunca, tantos documentos secretos foram vazados para a imprensa. Thomass também vai contra o que o WikiLeaks afirma em seu website, que diz que fornecem uma forma inovadora, segura e anônima para as fontes de vazamento de informações e para os jornalistas. Para Thomass (2011), à primeira vista, isso não é diferente do que todo jornalista que trabalha sério deve fazer, como preservar sua fonte. O WikiLeaks também afirma publicar material de fonte original. Para Thomass, novamente, isto não é tão diferente do que o jornalismo tem a intenção de fazer. Além disso, antes do WikiLeaks já havia jornalistas especializados em pesquisas e investigações a bases de dados a fim de explorar fontes originais.

Contudo, Thomass (2011) também enxerga novidades e diferenças entre WikiLeaks e o jornalismo já existente. O WikiLeaks só fornece a matéria-prima, não faz o trabalho tradicional de jornalistas que seleciona, organiza e comenta sobre o

material. Em segundo lugar, o WikiLeaks é, em princípio, acessível a toda a gama de meios de comunicação, permitindo assim que as emissoras ou jornais com pequenos orçamentos para procurar o seu site e encontrar materiais e fontes (THOMASS, 2011).

Beckett (2012)9 também defende que o Wikielaks não é, de todo, uma novidade, mas tem uma carcterística nova. Ele diz que vazamentos, viés político e líderes carismáticos editoriais sempre fizeram parte do jornalismo tradicional e alternativo. O que é novo sobre WikiLeaks é a sua capacidade de evitar as restrições colocadas sobre mídia nacional.

Como o próprio WikiLeaks afirma em seu editorial (WIKILEAKS, 2011), que “traz um novo modelo de jornalismo, mas, ao mesmo tempo, afirma utilizar métodos clássicos de investigação jornalística adaptados às tecnologias da informação em rede”, podemos concluir que “talvez a relação do WikiLeaks com o jornalismo não seja necessariamente de novidade ou revolução, mas sim de complementaridade ou de apropriação reconstrutiva” (VIEIRA, 2012). Essa complementaridade podemos enxergar como ferramentas, ou alternativas de verificação de dados que possam vir a ser úteis aos jornalistas.

Em relação aos hacktivistas, a quantidade de documentos científicos que abordam a relação do Hacktivismo com o jornalismo investigativo ou jornalismo como um todo foi mínima. Porém, já que ações de grupos hacktivistas e jornalistas investigativos convergem, no sentido de que ambos defendem o compartilhamento de informações e a liberdade de expressão, embora tenham meios e fins específicos, consideramos alguns documentos encontrados na revisão sistemática de outras áreas, como o Direito, a História e as Ciências Sociais, que também discutem a relação de hackers e Hacktivismo com a liberdade de expressão, de informação. Alguns documentos, apesar de serem da área de comunicação, abordaram o Hacktivismo como prática de protesto e utilizaram publicações realizadas em veículos de comunicação para fazer estudos. Vale salientar que alguns dos documentos lidos, não abordavam de fato o termo Hacktivismo e sim o grupo Anonymous, que é um grupo hacktivista, e suas ações.

O que pudemos perceber foi que é possível compreender a cultura hacker como via para a construção de sociedades mais desenvolvidas e aproximadas pela

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liberdade de acesso à informação, configurando novos movimentos de opinião pública (MALINE, 2009).

De acordo com Trasel (2014), a essência do jornalismo investigativo compartilharia essências da cultura hacker, como a valorização da liberdade de informações e a disposição para o trabalho colaborativo em conjunto com uma coletividade de participantes.

Para Soares (2014), os hackers apresentam a possibilidade de se infiltrarem no centro, ou seja, fazer com que não se viva dependendo de empresas de comunicação que dominam o mercado, isto é, grupos hegemônicos que detêm um conhecimento técnico e o monopolizam conforme seus interesses, mas que se possa produzir e compartilhar as informações. Ainda de acordo com Soares, se referindo ao Anonymous, certamente esse novo modelo de militância traz muitas questões no sentido de qual será o impacto que ele terá sobre a realidade, ou até onde essas operações irão.

Para Antônio (2013), apesar do grupo Anonymous se tratar de um tema tecnológico é importante estudá-lo em Comunicação. Acreditamos que esse entendimento pode ser estendido a grupos hacktivistas, visto que o Anonymous é um deles. Além disso, baseado no texto de Antônio, nós ratificamos a relação do Hacktivismo com o jornalismo.

Para Barros (2013), o Hacktivismo é visto como uma tipologia do ciberativismo que envolve conhecimentos técnicos para a criação de novas tecnologias ou interferência tática ambiguamente legal e ilegal com finalidades políticas. Entendemos também que o Hacktivismo tem um papel político na sociedade.

Segundo Barros (2013), o Anonymous, que é um grupo hacktivista, interferiu em manifestações, deu voz às causas e agendou temas que pudessem ser relevantes à sociedade. Barros afirma ainda que o fenômeno Hacktivismo cumpriu seu papel como participante importante e de impacto nas manifestações do Brasil em junho de 2013, colaborando através do fornecimento de novas tecnologias e plataformas, ciberataques e práticas de disseminação. Acreditamos que o Hacktivismo, através do Anonymous, apresentou temas importantes à sociedade para que as pessoas pudessem entender o que acontecia, além de se motivarem a lutar por seus direitos, através de tecnologias e plataformas que permitem a disseminação de informações.

Na revisão sistemática, nós não encontramos nenhum documento em que jornalismo investigativo tivesse relação com o Movimento Cypherpunk ou cypherpunks. Porém, encontramos um que descreve sobre como a criptografia pode proteger a vida do usuário de Internet nessa Era de Vigilância em Massa. O autor Lee (2013) faz uma publicação pela Freedom Of The Press Foundation (Fundação da Liberdade de Imprensa) e alerta para as ações da NSA (Agência de Segurança Nacional), que gastam bilhões e bilhões de dólares por ano fazendo tudo o que podem para extrair a comunicação digital da maior parte dos humanos nesse planeta que possuem acesso à Internet e à rede telefônica. A publicação também apresenta os riscos que usuários sofrem na rede e formas que existem de se proteger. Apesar dessa publicação não abordar uma relação entre jornalismo investigativo e cypherpunk, ela foi considerada porque existe uma relação com o jornalismo, visto que foi publicada pela Freedom Of The Press Foundation e direciona a leitura para cypherpunks. Vale ressaltar que essa publicação poderia também ter sido relacionada com os tipos de ferramentas que protegem a comunicação entre fontes e jornalistas, porém, o fato de ter sido utilizada aqui se justifica pela ligação com cypherpunks.

Sobre o modo de jornalistas e fontes se comunicarem, se eles usam alguma ferramenta digital para se protegem de espionagem ou garantir seu anonimato, não foram encontrados documentos científicos na revisão sistemática realizada neste trabalho. Porém, na literatura como um todo foi possível encontrar documentos que falassem sobre esse tipo de ferramentas, como funcionam e como podem ajudar na segurança do usuário, bem como de jornalistas e fontes que precisem se proteger de ataques na Internet. No entanto, por não terem sido encontrados através da revisão sistemática, esses documentos não foram considerados nesta etapa deste trabalho. Mas eles foram considerados para construção dos conceitos básicos (Seção 2.6 ) e do padrão que identificamos para o processo de construção da reportagem investigativa (Seção 4.4 ).

Quanto ao futuro do jornalismo, parece que o grande aliado também é a tecnologia. Para a jornalista Sandra Crucianelli, especializada em jornalismo em bases de dados, “as condições atuais exigem que jornalistas adotem seus próprios meios de verificação de informação e se consorciem a programadores de sistemas e especialistas em informática. Os repórteres precisam voltar a estudar matemática, disciplina de base para dar mais precisão e fidelidade aos relatos

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