• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I - DIETA DE MORCEGOS EM ÁREAS VERDES URBANAS DE SERGIPE

5. Resultados

Foram realizadas 472 capturas, dos quais foram analisadas 142 amostras de fezes de 10 espécies: Artibeus lituratus (Olfers, 1818; N=38), Artibeus obscurus (Schinz, 1821; N=8), Artibeus planirostris (Spix, 1823; N=23), Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758; N=12), Molossus molossus (Pallas, 1766; N=1), Myotis lavali (Moratelli, Peracchi, Dias & Oliveira, 2011; N=5), Phyllostomus discolor Wagner, 1843 (N=16), Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767;

N=1), Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810; N=22) e Sturnira lilium (E. Geoffroy, 1810;

N=16).

As espécies com amostras fecais mais frequentes foram A. lituratus (100%), A planirostris (83,3%), C. perspiscillata (66,6%), P. lineatus (100%), P. discolor (83,3%) e S.

lilium. (83,3%). Foram identificados 19 itens na dieta dos morcegos, sendo 15 correspondentes a componentes vegetais (frutos, flor e folha) e quatro referentes às ordens de Insecta (Tabela 1). Todas as sementes de frutos identificadas até o nível de espécie correspondem a plantas nativas (Figura 4). Todos os registros de Hymenoptera correspondem à representantes da família Formicidae.

Artibeus lituratus consumiu 11 itens, sendo C. pachystachya o mais frequente (21,1%).

Essa espécie também consumiu oito itens vegetais, como Ficus sp1 (10,5%), Philodendron acutatum Schott (7,9%), flores e folhas; além de insetos das ordens Hymenoptera e Hemiptera (2,6% cada) (Tabela 1). Formicidae foi mais frequente nas amostras fecais de Artibeus obscurus (25%), que também consumiu os itens vegetais C. pachystachya, Ficus sp1, Ficus sp2 e flor (12,5% cada). Artibeus planirostris e Carollia perspicillata consumiram apenas itens vegetais, com C. pachystachya sendo mais frequente para a primeira espécie (43,5%) e Piper sp1 (33,3%) para a segunda (Tabela 1).

Para três espécies houve o consumo apenas de insetos: Molossus molossus, Myotis lavali e Phyllostomus hastatus. Hemiptera e Lepidoptera foram consumidos por M. molossus, Hymenoptera para P. hastatus, enquanto Coleoptera e Lepidoptera (60% cada) foram mais frequentes para M. lavali (Tabela 1). Para Phyllostomus discolor, o item mais frequente foi Hemiptera (37,5%), seguido de Formicidae e Coleoptera (ambos 12,5%). Foi registrado o consumo também de C. pachystachya e Solanum caavurana Vell. (ambas 6,3%) (Tabela 1).

26 Tabela 1. Dieta das espécies de morcegos registradas em áreas verdes urbanas de Sergipe, nordeste do Brasil. Os valores estão em porcentagem (F.O.%) e entre parênteses a quantidade de amostras fecais de cada espécie.

Artibeus

27 Platyrrhinus lineatus e Sturnira lilium consumiram apenas itens vegetais, sendo C.

pachystachya (31,8%) e Cecropia sp.1 (31,8%) mais frequentes para a primeira espécie e Solanum paniculatum L. (25%) e S. caavurana (18,8%) para a segunda. Em P. lineatus, o item folha (13,6%) se mostrou mais frequente que nas demais espécies (Tabela 1).

Figura 4. Itens alimentares encontrados nas amostras fecais dos morcegos em áreas verdes urbanas de Sergipe, nordeste do Brasil. a. Cecropia pachystchya; b. Cecropia sp1; c. Ficus sp.2;

d. Ficus sp.1; e. Solanum caavurana; f. Solanum stipulaceum; g. Solanum paniculatum; h.

Passiflora silvestris; i. Philodendron acutatum; j. Piper sp.1; k. Piper sp.2; l. Vismia guianensis; m. Semente sp.1, n. Élitro; o. Botão floral.

Para todas as espécies mais frequentes, machos e fêmeas diferiram no consumo dos itens alimentares (p ≤ 0,0012). Artibeus lituratus exibiu diferença nos itens vegetais, com fêmeas apresentando mais itens na dieta do que os machos (Tabela 2). Fêmeas de A. planirostris apresentaram mais itens e uma maior proporção de C. pachystachya (52,9%) em sua dieta

28 (Tabela 2). Machos de C. perspicillata tiveram itens a mais na sua dieta enquanto fêmeas apresentaram uma maior frequência de Piper na dieta. Machos de P. discolor apresentaram Hymenoptera (Formicidae) na sua dieta e fêmeas não (Tabela 2). Fêmeas de P. lineatus tiveram mais itens na dieta, com registros de Solanum stipulaceum Roem & Schult e S. paniculatum.

Fêmeas de S. lilium apresentaram menor riqueza de itens na dieta que os machos, porém apresentaram maior consumo de S. paniculatum e S. caavurana (Tabela 2).

Artibeus lituratus (B = 5,53), C. perspicillata (B = 4,16) e S. lilium (B = 3,58) se caracterizaram como as espécies mais generalistas enquanto P. discolor (B = 3,14), P. lineatus (B = 2,85) e A. planirostris (B = 2,88) as menos generalistas.

Artibeus lituratus e A. planirostris apresentaram a maior sobreposição de nicho (Øjk = 0,88), relacionada ao consumo de C. pachystachya e as espécies de Ficus. A sobreposição entre A. planirostris e P. lineatus (Øjk = 0,72) esteve associada ao consumo de Cecropia e entre A.

lituratus e P. lineatus (Øjk = 0,59) com C. pachystchya mais frequente nas amostras (Tabelas 1 e 3).

A influência da precipitação na dieta só foi observada em P. lineatus para frutos de C.

pachystachya (p = 0,033), com um consumo maior no período de maior precipitação. Nesses meses (junho e agosto de 2020), esse foi o único item encontrado nas amostras fecais dessa espécie.

29 Tabela 2. Dieta de machos e fêmeas das espécies de morcegos mais frequentes nas áreas verdes urbanas de Sergipe, nordeste do Brasil. Os valores estão em porcentagem (F.O.%) e entre parênteses a quantidade de amostras fecais de cada espécie.

Artibeus lituratus Artibeus planirostris Carollia perspicillata Phyllostomus discolor Platyrrhinus lineatus Sturnira lilium

♀ (21) ♂ (17) ♀ (17) ♂ (6) ♀ (6) ♂ (6) ♀ (8) ♂ (8) ♀ (13) ♂ (9) ♀ (8) ♂ (8)

Cecropia pachystachya 19,0 23,5 52,9 16,7 - - 12,5 - 30,8 33,3 - 12,5

Cecropia sp1 - - 5,9 - - - - - 23,1 44,4 - -

Solanum paniculatum 4,8 5,9 - - - 16,7 - - 7,7 - 37,5 12,5

Solanum caavurana - - - - - - - 12,5 - - 25 12,5

Solanum stipulaceum - - - - - - - - 7,7 - - -

Piper sp1 - - - - 50,0 16,7 - - - - - 12,5

Piper sp2 - - - - 33,3 - - - - - - 12,5

Passiflora silvestris 4,8 - - - - 16,7 - - - - - -

Philodendron acutatum 4,8 11,8 - - 16,7 - - - - - - -

Ficus sp1 9,5 11,8 11,8 - - - - - - - - -

Ficus sp2 9,5 - 5,9 16,7 - - - - - - - -

Vismia guianensis - - - - - 16,7 - - - - - -

Semente sp1 4,8 5,9 11,8 33,3 - - - - - 11,1 - -

Flor 4,8 - 5,9 16,7 - - - - - - - -

Folha 4,8 5,9 11,8 - - - - - 15,4 11,1 - -

Coleoptera - - - - - - 12,5 12,5 - - - -

Hymenoptera (Formicidae)

4,8 -

- -

- - - 25 - - - -

Hemiptera - 5,9 - - - - 37,5 37,5 - - - -

Insetos n id. - - - - - - 12,5 12,5 - - - -

30 Tabela 3. Sobreposição de nicho trófico entre as espécies mais frequentes de morcegos nas áreas verdes urbanas de Sergipe, nordeste do Brasil. *Maiores valores de sobreposição de nicho.

Artibeus espécies de morcegos registradas nesse estudo já foram relatadas em áreas verdes urbanas no Brasil (e.g. LEAL et al., 2019; NUNES; ROCHA; CORDEIRO-ESTRELA, 2017).

Os itens vegetais mais consumidos pelas espécies de morcegos na região metropolitana de Aracaju foram Cecropia, Ficus, Solanum e Piper, comumente relatados na dieta de espécies frugívoras tanto em áreas urbanizadas (e.g. ALMEIDA; MORO; ZANON, 2005; MARTINS;

TORRES; ANJOS, 2014; PEREIRA et al., 2019) quanto preservadas (e.g. AGUIAR;

MARINHO-FILHO, 2007; BÔLLA et al., 2018; GNOCCHI; HUBER; SRBEK-ARAUJO, 2019; SILVEIRA et al., 2011). A maior parte desses frutos é rica em carboidratos, alguns com maiores concentrações de lipídeos (e.g. Ficus inspida Willd) e proteínas (e.g. C. pachystachya) (BATISTA; REIS; REZENDE, 2017).

Esses gêneros de plantas abrangem espécies pioneiras que ajudam na recuperação de ambientes perturbados e estão presentes em áreas verdes urbanas (LOBOVA et al. 2003;

MIKICH et al., 2015; SHANAHAN et al. 2001). Espécies dispersoras de sementes nesses ambientes, como os morcegos, contribuem para a regeneração de habitats degradados e a manutenção da população de plantas (GELMI-CANDUSSO; HÄMÄLÄINEN, 2019; MIKICH et al., 2015; NUNES; ROCHA; CORDEIRO-ESTRELA, 2017).

Espécies de Ficus e Cecropia estão presentes na arborização da região metropolitana de Aracaju (LIMA NETO; MELO E SOUZA, 2009; SANTOS et al., 2015; SOUZA et al., 2011) e no Campus da UFS (GOMES et al., 2017), sendo Ficus spp. as mais frequentes nos levantamentos em praças dessa cidade (LIMA NETO; MELO E SOUZA, 2009; SOUZA et al., 2011). Espécies de Ficus apresentam variadas concentrações de nutrientes, como uma maior

Documentos relacionados