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RESULTADOS e DISCUSSÃO

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Quadro I. Descrição das participantes

Cuidadoras Idade (anos)

Estado Civil

Condição moradia Trabalho/renda

n. 1 (Sra. M.C.)

49 casada Vive em casa própria

Mãe idosa não vive na mesma casa que a cuidadora. Filha vai diariamente na casa cuidar da mãe. Cuida há 15 anos. Mãe nunca sai só.

Do lar. Não exerce atividade remunerada. Durante o processo de atendimento, realizou cursos técnicos e começou a exercer atividade remunerada. n. 2 (Sra. S.M.)

56 solteira Vive em apartamento próprio. Mãe idosa vive em casa da filha cuidadora há 2 anos. Mãe nunca sai só.

Aposentada como doméstica recebe dois salários mínimos. n. 3

(Sra. V.P.)

71 casada Vive em casa própria.

Mãe idosa vive em casa da filha cuidadora há 22 anos. Mãe nunca sai só.

Aposentada como vendedora. Recebe um salário mínimo

Quanto ao grau de dependência as três mães idosas dependiam das filhas para as atividades fora do ambiente doméstico e para os assuntos financeiros, administração dos medicamentos, assim como para o preparo das refeições e cuidados com o lar e o preparo das refeições. Ainda conseguiam fazer sua própria higiene, porém com auxílio e alimentavam-se sozinhas.

Nos resultados que serão expostos, as narrativas conterão os relatos das cuidadoras, as impressões que estas causaram na terapeuta inicialmente e a evolução do processo terapêutico. Não serão apontadas as falas da terapeuta. Serão transcritas duas sessões de uma das cuidadoras (MC), exemplificando o processo, sessões estas que ocorreram ao longo dos atendimentos. Os resumos de suas observações e intervenções serão expostos no final deste capítulo.

A seguir apresentamos os resultados de forma descritiva, de modo a relatar cada caso e após apresentamos as análises de forma aglutinada. É importante destacar

que os encontros não são relatados em ordem cronológica, mas sim expondo os relatos e a dinâmica considerados mais relevantes para a exposição dos casos.

Cuidadora 1: Sra. MC¹ OS PRIMEIROS ENCONTROS

A descrição a seguir trata-se de conteúdo coletado nesses primeiros contatos com a Sra. MC.

A Sra. M.C. é cuidadora da mãe idosa, Sra. Maria, que conta 79 anos de idade. A idosa é Viúva e teve 04 casamentos, sendo 01 legalizado e mais 03 uniões estáveis. Esta idosa, Sra. Maria teve 04 filhos, mas uma delas, a mais velha faleceu ainda criança

A Senhora Maria reside só, em sua casa que é própria, não pagando aluguel.

Com relação à saúde da sra. Maria, esta tem: osteoporose, artrose, hipertensão arterial sistêmica, diabetes e faz acompanhamento com psiquiatra, fazendo uso de Sertralina e Nortriptilina, antes tomava Lorax.

Com relação à Sra. MC, cuidadora de sua mãe, esta tem 49 anos de idade, é casada, vive com o esposo e tem 01filho de 15 anos.

Afirmou ter religião - Messiânica do Brasil e é praticante.

Quanto à escolaridade, a Sra. MC estudou até o ensino médio completo e o concluiu na idade adulta, após 30 anos de idade.

Quanto à sua profissão, é dona de casa e não exerce nenhuma outra atividade remunerada. Vivem com o salário do marido de R$ 3.600,00 (reais), e o mesmo é policial civil.

A Sra. MC veio encaminhada para a triagem do setor de psicologia por uma assistente social do Instituto e, paralelamente, por outra psicóloga, deste mesmo serviço que atendia a mãe de MC. Tais encaminhamentos ocorreram para que MC fosse inserida em grupos de apoio ao cuidador, os quais eu coordenava. As profissionais que a encaminharam perceberam a necessidade devido várias queixas apresentadas a elas por MC e devido seu estado de estresse e ansiedade.

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¹ Os nomes das idosas são fictícios e os nomes das cuidadoras são omitidos, e são tratadas com iniciais fictícias para preservar suas identidades.

No primeiro encontro MC apresentou-se aparentemente muito ansiosa, com uma necessidade enorme de falar initerruptamente; queixou-se do comportamento de sua mãe. Disse que cuidava da mãe há 15 anos, mas que ultimamente seu estado de saúde piorou, o que aumentou seu grau de dependência; ela não sai só, faz acompanhamento com vários médicos e a filha sempre a acompanha. Ela e a mãe moram em casas separadas, mas em bairros vizinhos. A mãe mora só, mas não sai sozinha. A filha vai todos os dias à sua casa para auxiliá-la com os medicamentos e a arrumação da casa. A idosa consegue alimentar-se sozinha.

Desde o primeiro contato disse à MC que entendia o quanto cuidar diariamente de idosos era uma tarefa estressante e extenuante, e que seu estado físico e emocional era consequência disso; também lhe disse o que poderia agravar esta situação já tão delicada eram as dificuldades nas relações entre as duas. Por isso procurávamos ver sempre os dois lados na relação.

Passou a relatar que a mãe nunca segue as orientações dos profissionais; administra os medicamentos como ela própria acha que deve fazer. Alimenta-se inadequadamente, apesar de orientada por nutricionista. MC verbaliza que tenta, a todo o tempo, convencer a mãe a seguir as prescrições médicas, mas essa diz que vai morrer mesmo, então fará tudo o que quiser e do seu jeito.

Sra. MC conta sobre sua relação conflituosa com a mãe, pois essa desorganiza a casa, “bagunça” (sic), não aceita as orientações dos profissionais e muito menos da filha.

Quando a filha a contesta ela “joga praga” (sic) para a filha e diz que ela também vai ficar doente e dependente. Ela fala que seus filhos não valem nada. Fica muito nervosa quando contestada. Nunca agradece o que a filha faz. Quando ela chega em casa diz: você sumiu e diz faz as coisas para mim porque tem mais é que fazer mesmo (sic)

Percebo que Sra. MC sente culpa; considera que as coisas não dão certo para ela porque não gosta de sua mãe. Teme que seu filho sinta a mesma coisa por ela, que seu filho tenha o mesmo sentimento por ela e que repita com ele a relação que tem com sua mãe.

Mas MC diz que não desiste; diariamente discute com a mãe sobre seu comportamento e quanto à falta de higiene pessoal e do ambiente em que a mãe vive. A filha cuida da mãe, da casa, mas quando chega no dia seguinte, está tudo como antes, o que gera estresse e discussões. MC acredita que convencerá a mãe a ter hábitos adequados. Disse não entender porque a mãe age assim e porque não segue suas orientações. Por exemplo, MC evita comprar doces para a mãe, mas ela pede aos vizinhos que comprem e acaba consumindo.

Nesses primeiros encontros MC falava o tempo todo de sua mãe, como as atitudes dela a incomodavam. Em seu relato, dava a perceber que MC considerava que sua vida se resumia a esta rotina e tudo girava em torno disso e de sua mãe. Demonstrando sempre uma angústia em seus relatos e um desejo de expressar seus sentimentos, contar o que lhe incomodava. A princípio parecia pouco ouvir o que eu falava, limitava-se a responder as perguntar.

Foi possível observar que MC vinha aos primeiros encontros vestindo-se de forma muito simples e com os cabelos desarrumados; aparentando falta de cuidados consigo mesma. A pele de seu rosto continha muitas erupções, que soube por ela e pude observar posteriormente, que diminuíam ou aumentavam conforme a oscilação de seu estado emocional. Parecia ter pouca vaidade e que seus cuidados estavam direcionados a outras pessoas, menos a ela própria.

Sobre sua história de vida, relatou: tem dois irmãos, uma irmã com 46 anos de idade, casada, que não ajuda a cuidar da mãe. Alega que reside distante, na Cidade de Guarulhos. Tem, ainda, um irmão de 51 anos que, também, não a auxilia nos cuidados com a mãe. Inclusive o irmão apresenta problemas de comportamento, muito parecido com os da mãe. Algumas vezes, ele volta a residir com a idosa, mas o que, a princípio, pode parecer uma solução, acaba resultando em mais problemas, pois filho e mãe brigam o tempo todo e MC acaba intervindo e achando que é sua obrigação ajuda-los a resolver os conflitos e direcionar a vida de seu irmão. Acha que o irmão só procura a família quando precisa de algo ou quando não tem onde morar.

Quanto à irmã, diz que é muito impulsiva e briguenta e que não se relaciona bem com ninguém. Sabe de inúmeras vezes que a irmã discutiu com outras pessoas e sempre terminando com agressões físicas. MC a vê muito pouco e não tem muito contato com seus três sobrinhos, filhos de sua irmã. Portanto, não conta com a ajuda

de familiares para cuidar de sua mãe e não tem condições financeiras para contratar alguém.

Cuida da mãe há 15 anos. Fica com ela algumas horas por dia, mas passa 24 horas por dia pensando nos cuidados que tem de dedicar a ela. Já havia trabalhado como babá de crianças, mas nunca havia cuidado de pessoas idosas.

Ultimamente passou a chorar constantemente; percebeu que começou a adoecer, sentia-se no limite emocional e fisicamente. Foi diagnosticada com Hipertensão Arterial Sistêmica, zumbido nos ouvidos, Depressão, Bronquite Asmática, além das erupções de pele, quando relatou seus problemas para outros profissionais e foi encaminhada para atendimento psicológico destinado a cuidadores.

Não está realizando acompanhamento médico para tratar as patologias; mal vai às consultas, alega falta de tempo. Vai direto à casa da mãe, além de cuidar de sua própria casa, filho e marido. Achava que esta situação seria provisória, que a mãe iria melhorar, mas ficou cada vez mais envolvida com esta tarefa, praticamente desde que seu filho nasceu.

O pai faleceu quando ela tinha 12 anos de idade; ele tinha 60 anos. Mal conviveu com ele pois, desde pequena, passou a morar em outras casas em troca de alimentação e roupa. Morou em cinco residências até os 13 anos de idade. Na primeira casa residiu com uma tia distante e a filha desta, que era adulta por quem era cuidada. A prima era solteira, não tinha filhos. Sentia-se bem no local, pois a prima a tinha como filha e era carinhosa, embora lembra que apanhava quando urinava na cama.

Quando atingiu a idade de ingressar à escola, foi devolvida a seus pais, pois a prima alegou que não teria dinheiro para as despesas nem tempo para acompanhá-la, pois trabalhava fora. MC sofreu muito com o retorno, mas diz que hoje entende a atitude da prima. Em casa não foi matriculada na escola formal. Procurava cadernos e livros usados em lixos e usava-os em casa, pois sonhava em ir para a escola. Acabou sendo alfabetizada na adolescência.

Na última casa que morou sofreu abuso sexual por parte do patrão, que aproveitava da ausência de sua esposa para aproximar-se de MC. Na ocasião não contou para ninguém, porque ele a ameaçava e não tinha quem a apoiasse e a mãe não acreditaria. Saiu desta casa porque a patroa desconfiou e a dispensou.

Muitas vezes foi morar em outras casas com a promessa de que iriam matricula-la em escolas, mas acabava servindo como empregada doméstica. Em uma das casas o filho da patroa, um adolescente, dizia à mãe: “Uma neguinha burra deste jeito não precisa ir à escola, não vai conseguir aprender nada mesmo”! (sic)

Quanto ao pai, relata que este era alcoólatra; frequentava bares e ao retornar para casa era comum cair nas ruas e ficar. MC ia buscá-lo por conta própria, a mãe não se importava. Sentia pena do pai, pois ele era carinhoso com os filhos. O pai costumava dizer que não gostava de sua mulher. Lembrou que os pais brigavam muito e chegavam a se agredir com faca. O pai era submisso à sua mãe. Quando o pai adoeceu desejou que ele morresse logo porque não queria vê-lo sofrer.

MC disse que a mãe sempre foi muito difícil e que antes espancava os filhos quando estes não atendiam suas exigências, como não deixar as panelas brilhando. A mãe trabalhava como empregada doméstica e quando chegava do trabalho e caso não encontrasse as tarefas do jeito que ela queria, espancava os filhos. Ela e seu irmão apanhavam muito da mãe, a irmã nem tanto.

Moravam precariamente em um barraco próprio quando criança. Faltava alimento, não tinham luz e nem água encanada. Buscava brinquedos nos lixos. Em casa comia farinha, ou farinha com feijão que a mãe trazia do que sobrava das casas onde trabalhava. Citou: “...era muito triste acordar e não ter o que comer...”. (sic)

A mãe batia nos filhos até machucá-los e chegava a cortá-los com fios de ferro. Contou: ”...Certa vez bateu tanto em meu irmão que sua boca inchou e ele não conseguia falar”... (sic) . O pai não queira que a esposa agredisse os filhos, mas ela o fazia quando ele não estava presente e quando chegava do trabalho, estava tão bêbado que não percebia.

Casou-se aos 24 anos de idade. No início o casal resolveu não ter filhos, pois a situação financeira era precária e ela não desejava destinar aos filhos o mesmo passado miserável que ela mesma teve. Incentivou o marido a estudar, a cursar o ensino superior, o que ele fez. Faziam economias extremas para alcançar este objetivo. Por fim, após a formatura do marido, incentivou-o a prestar concurso público, o que ele também fez.

Após a formatura do marido resolveram que seria o momento de terem filhos, e ela engravidou de seu único filho, hoje adolescente. Não quis mais ter filhos, queria poder dar mais conforto ao menino que já tinha nascido.

O PROCESSO PSICOTERAPÊUTICO

Após os encontros iniciais, MC demonstrou interesse em continuar os atendimentos comigo, após eu colocar esta possibilidade. MC, desde o primeiro encontro nunca faltou às sessões e não costumava se atrasar. Demonstrava uma necessidade de falar sobre suas aflições, suas angústias, mas de ser acolhida. Não tinha vergonha de falar sobre seus sentimentos. Parecia uma criança assustada necessitando de cuidados e se deixando cuidar. Nossa relação vincular desde o início foi positiva.

De início MC falava muito de sua relação com sua mãe, e com o passar das sessões foi trazendo outras relações significativas em sua vida, tais como com seu marido, com seu único filho e com outras pessoas importantes em sua vida. Começou a conciliar os cuidados com sua mãe com os seus próprios e começou a fazer cursos profissionalizantes de estética, pois queria desenvolver um trabalho remunerado.

Relata sobre todo o incentivo que ela dera ao marido para estudar e conseguir um emprego melhor, que agora estava direcionando para ela própria. Aquela voz que ela sempre lembrava lhe dizendo: ”...esta neguinha é burra e nunca vai aprender nada...”, agora havia superado e reconhecia seu potencial. À princípio teve de encarar a resistência do marido que não a apoiava e criticava, alegando que ela estava negligenciando os afazeres domésticos, lembrando as próprias críticas de sua mãe.

Ao término deste trabalho, MC ainda continuava em psicoterapia, mas apresentava mudanças significativas em seu comportamento. Sua mãe estava na casa de sua irmã, por tempo indeterminado, já que concluíram que deviam dividir o trabalho e MC já não tinha mais a antiga convicção de que só ela poderia cuidar de sua mãe e ao mesmo tempo de que ela não poderia mais morar sozinha.

Sua aparência física mudou drasticamente. Emagreceu, pois mudou hábitos alimentares ruins por mais saudáveis, e de acordo com ela, hábitos que aprenderá no curso de estética e conseguiu colocar em prática. Agora muito mais vaidosa, assumirá seus cabelos encaracolados, mas com cuidados visíveis. A pele de seu rosto melhorara,

mas por vezes, surge erupções, mas agora ela tem consciência de que são reflexos de seu estado emocional e procura resolver ou aceitar o problema ao invés de somente sofrer como antes.

Cuidadora 2: SM

OS PRIMEIROS ENCONTROS

A Sra. S.M. é cuidadora da mãe idosa, Sra. Maria de 79 anos de idade, viúva. A idosa teve 04 casamentos e também 04 filhos.

Com relação à saúde da mãe idosa, essa apresentava: problemas renais, cardíacos, diabetes, hipertensão arterial sistêmica e também havia tido um AVC - acidente vascular cerebral, além de um princípio de enfarto.

Após esse princípio de infarto, que ocorreu há 02 anos, a idosa passou a necessitar de cuidador. Assim, passou a morar no apartamento da cuidadora-filha, logo após a alta hospitalar que contou com 15 dias de internação.

Com relação à Sra. SM esta contava com 56 anos de idade, estado civil solteira, mas tinha 02 filhas, uma de 36 anos e outra com33 anos, de pais diferentes.

Sra. S.M. relata que sua religião é espírita e também é praticante. Sua escolaridade era de 7ª série do ensino fundamental.

Sua profissão era empregada doméstica, mas na ocasião dos atendimentos estava desempregada e acabou se aposentando. Quando começou a cuidar da mãe teve de deixar o trabalho.

Sra. SM aposentou-se e não tem outro trabalho atualmente. Dedica-se à mãe. Relata que sua renda mensal é composta pela pensão que a mãe recebe, somado à sua aposentadoria e um rendimento de aluguel do apartamento da mãe; esse total representa R$. 3.000,00.

Reside na mesma casa que a idosa há 02 anos. A participante conta ainda que possui mais 03 irmãos; entretanto, ninguém a auxilia nos cuidados.

Cuida da mãe há 02 anos, e faz isso 24 horas por dia. Sra, SM não é cuidadora de outras pessoas.

Não participa de grupos de cuidadores

Quanto aos seus problemas de saúde, relatou: arritmia cardíaca, outros problemas cardíacos; teve câncer de mama em 2006 e está em acompanhamento até a data presente; problemas renais. Todos esses sintomas e doenças são acompanhados por médicos.

O primeiro contato da cuidadora se deu devido eu ter sido chamada para auxiliar, por uma farmacêutica, em uma consulta que estava sendo realizada por ela a uma idosa e sua cuidadora e filha. Antes de entrarmos na sala, a colega de trabalho relatou que não estava conseguindo fazer as devidas orientações devido mãe e filha discutirem todo o tempo; enquanto a filha tentava falar o que acontecia no dia a dia referente ao uso e manuseio dos medicamentos, a mãe idosa a interrompia com falas agressivas, o que inviabilizava qualquer contato.

Fui apresentada às duas, demos continuidade à consulta. Enquanto a mãe estava sentada próxima à mesa, a filha estava sentava a um metro atrás e quando tentava responder a qualquer pergunta feita pela farmacêutica, era agressivamente cortada pela mãe. Após algumas intervenções conseguimos concluir a consulta e conversei com as duas separadamente. Coloquei para a filha que havia percebido o quanto a relação entre ela e sua mãe era difícil e sofrida. Sugeri a cuidadora que ela viesse para uma avaliação comigo, o que ela aceitou e na mesma data fiz o agendamento. Ela compareceu neste e nos outros encontros pontualmente. Se precisasse faltar, ligava para a recepção e deixava recado para mim, o que não ocorreu muitas vezes.

No início pareceu sempre sentir-se à vontade para contar sobre suas queixas, sua relação difícil com a mãe e sua história de vida. Sempre sorridente, procurando distanciar-se do sofrimento de alguma forma, mas não era aquela reação de quem aprendeu a rir de certas questões constrangedoras, talvez uma espécie de fuga.

Começou queixando-se da difícil relação com sua mãe; uma relação conflituosa. A mãe costumava acusar a filha de lhe roubar. Passou a esconder objetos que considerava valiosos por temer que a filha a roubasse. Caso não os encontrasse acusava SM de tê-los furtado. Importante ressaltar que a idosa não sofria do Mal de Alzheimer, ou outro tipo de Demência, onde este comportamento é comum e justificável pela patologia.

Criticava a filha para todas as pessoas que encontrava, sejam vizinhos, parentes, profissionais onde se consultava, etc. Durante as discussões que aconteciam no apartamento (Conjunto popular) da filha onde ambas moravam, a mãe alterava o tom de voz e chamava a polícia aos gritos para impressionar os vizinhos e envergonhar a filha. Antes de cuidar da mãe, SM morava sozinha em seu próprio

apartamento), mas levou a mãe para morar com ela e alugou o apartamento da mãe para ajudar nas despesas e parou de trabalhar, pois esta não poderia mais morar sozinha devido ao agravamento de seu estado de saúde.

SM sentia-se injustiçada, pois alegava que largara tudo para cuidar da mãe, mas esta não reconhecia seus esforços e atribuía todo o seu sofrimento à própria filha. Acusava-a de que ela queira matá-la para ficar com seus bens, apesar de seus bens limitar-se a dois salários mínimos, aposentadoria e pensão, um apartamento comprado pelo CDHU (Companhia Desenvolvimento Habitacional Urbano), destinado à população de baixa renda e alguns poucos móveis usados.

A idosa era muito apegada aos seus bens materiais, segundo a filha, e contava com empréstimos que vinham descontados em seu salário, o que tornava a situação financeira mais precária.

Passou a residir com a mãe, após esta mãe sofrer um infarto. Antes a mãe queixava aos vizinhos de que estava abandonada e que iria denunciar os filhos por abandono. No entanto ela havia expulsado os filhos, cada vez que ia morar com um novo companheiro. A cuidadora aceitou este encargo porque estava sozinha, era

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