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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SÁUDE MESTRADO ACADÊMICO. OLINDA TEREZA RUGENE. Qualidade da Construção dos Vínculos entre Filhas Cuidadoras e Mães Idosas Dependentes. São Bernardo do Campo - SP 2016.

(2) OLINDA TEREZA RUGENE. Qualidade da Construção dos Vínculos entre Filhas Cuidadoras e Mães Idosas Dependentes. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Psicologia da Saúde. Área de Concentração: Psicologia da Saúde. Orientadora: Prof.ª Dra.ª Marília Martins Vizzotto. São Bernardo do Campo - SP 2016.

(3) A dissertação de mestrado sob o título “ Qualidade da Construção dos Vínculos entre Filhas Cuidadoras e Mães Idosas Dependentes”, elaborada por Olinda Tereza Rugene foi apresentada e aprovada em 04 de março de 2016, perante banca examinadora composta por Prof.ª Dra.ª Marília Martins Vizzotto (Presidente /UMESP), Prof.ª Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia (Titular/UMESP) e Prof.ª Dra.ª Cláudia Aranha Gil (Titular/USJT).. __________________________________________ Prof.ª Dra.ª Marília Martins Vizzotto Orientadora e Presidente da Banca Examinadora. _____________________________________________ Prof.ª Dra.ª Maria do Carmo Fernandes Martins Coordenadora do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Psicologia da Saúde Área de Concentração: Psicologia da Saúde Linha de Pesquisa: Prevenção e Tratamento.

(4) A minha mãe Ercília (in memorian) E a minha filha Vitória..

(5) Agradecimentos. Gostaria de expressar a minha gratidão a todos que, de alguma forma, contribuíram para a execução e finalização deste trabalho.. À minha orientadora, Profa. Marília Martins Vizzotto por ter caminhado comigo nesta jornada. Obrigada pela compreensão, pela orientação, incentivo e amizade. Às Profas. Cláudia Gil Aranha e Hilda Rosa Capelão Avoglia pela presença e valiosas sugestões apresentadas em meu exame de qualificação.. Aos colegas de mestrado e Doutorado da Universidade Metodista pela parceria, pela troca de conhecimentos e amizade.. A todos os cuidadores familiares, especialmente aos que participaram deste estudo, pela confiança depositada, pela troca, pelas confidências, pela receptividade e pelo aprendizado, pois sem vocês, este trabalho não teria sido concretizado.. Aos diretores e à gerência do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia, pelo apoio e confiança em meu projeto.. Aos colegas de trabalho do Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia, principalmente a equipe multiprofissional, médica e de enfermagem pela confiança em meu trabalho com cuidadores, demonstrada pelos encaminhamentos.. À minha grande família, irmãos e sobrinhos, pelo apoio e incentivo.. E a minha querida filha Vitória pela compreensão e paciência, quanto eu estava voltada para o estudo e ao meu querido marido, Alcides, pelas palavras de carinho e motivação..

(6) Vou dobrar-me à regra nova de viver. Ser outro que não eu, até agora Musicalmente agasalhado Na voz de minha mãe, que cura doenças, escorado no bronze de meu pai, que afasta os raios.. Ou vou ser – talvez isso – apenas eu unicamente eu, a revelar-me Na sozinha aventura em terra estranha? Agora me retalha o canivete desta descoberta: eu não quero ser eu, prefiro continuar objeto de família.. “Fim da Casa Paterna” Carlos Drummond de Andrade (1979).

(7) RUGENE, O. T. Qualidade da construção dos vínculos entre filhas cuidadoras e Mães idosas dependentes. São Bernardo do Campo, 2016. Dissertação (Mestrado) Universidade Metodista de São Paulo.. RESUMO. Este estudo teve por objetivos: - descrever as dificuldades nas relações entre as filhascuidadoras e suas mães idosas dependentes de cuidados, a partir de relatos das filhas; investigar, a partir dos relatos da história familiar dessas filhas, a existência de conflitos prévios a necessidade de cuidar, relacionados à construção dos vínculos; identificar os principais desafios associados assistência ao cuidador familiar de idosos no que tange a resolução de conflitos com o idoso dependente. Método – tratou-se de um estudo qualitativo em que foram apresentados três casos clínicos de cuidadoras que haviam sido encaminhados para atendimento psicológico pela equipe multiprofissional de um Instituto de Geriatria e Gerontologia, unidade de atenção secundária da Secretaria de Estado da Saúde de S.P. Os resultados indicaram dificuldades relacionais entre ambas: cuidadoras filhas e mães idosas. As cuidadoras revelaram sobrecarga física e emocional e grande sofrimento. Todavia, a existência desses conflitos remontava às relações anteriores à atual situação de dependência; ficando bastante evidenciado, tanto pelas histórias de vida das cuidadoras, quanto pelo conteúdo trazido durante o processo terapêutico, a repetição das relações primeiras estabelecidas entre mãe-filha. O processo psicoterapêutico pôde permitir a essas cuidadoras a compreensão da necessidade em ter suas falhas ambientais supridas, na medida em que foi propiciado um ambiente favorável ao relacionamento humano. Assim, ao observarmos que ao longo do processo as pacientes apresentavam mudanças significativas, entendemos que a psicoterapia pode figurar como meio preventivo e preservação de equilíbrio psíquico.. Palavras Chave: Idoso fragilizado; Relações Familiares; Cuidadores; Desenvolvimento Emocional..

(8) RUGENE , O. T. Quality building ties between caregivers and elderly dependent Mothers daughters . São Bernardo do Campo, 2016. Thesis (MS) - Methodist University of São Paulo, Brazil.. ABSTRACT. This study aimed to: - describe the difficulties in relations between the daughters, caregivers and their dependent elderly nursing mothers, from reports of daughters; investigate, from the accounts of family history of these daughters, the existence of previous conflicts the need to care, related to the construction of the bonds; identify the main challenges associated assistance to family caregivers of elders with respect to conflict resolution with the dependent elderly. Method - treated is a qualitative study that were presented three cases of caregivers who had been referred for psychological care by the professional staff of the Institute of Geriatrics and Gerontology, secondary care unit of the State Secretariat SP Health Results They indicated relational difficulties between the two: caretakers daughters and elderly mother. Caregivers revealed physical and emotional burden and great suffering. However, the existence of these conflicts dating back to previous relations to the current situation of dependence; getting enough evidenced both by the life stories of caregivers, as the content brought during the therapeutic process, the repetition of the first relationships established between mother and daughter. The psychotherapeutic process could allow these caregivers to understand the need to have their environmental failures met, to the extent that propiciávamos an enabling environment for human relationship. Thus, to observe that throughout the process the patients had significant changes, we believe that psychotherapy may be included as a preventive means and preservation of mental balance.. Key Words: Frail Elderly; Family Relations; Caregivers; Emotional Development..

(9) SUMÁRIO. I. APRESENTAÇÃO. ......................................................................10 Objetivos. ........................................................................................14. II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................ 15 II.1 Sobre o envelhecimento e a necessidade de ser cuidado ..........15 II.2 Alguns pressupostos teóricos sobre as relações iniciais entre o bebê e sua mãe ...............................................................19 II.3 As Relações Objetais ...............................................................24 II.4 Sobre o surgimento da Culpa ..................................................31. III.. MÉTODO ..................................................................................35 III.1 Participantes.........................................................................37 III.2 Instrumentos.........................................................................37 III.3 Ambiente..............................................................................38 III.4 Procedimento.......................................................................38. IV.. RESULTADOS e DISCUSSÃO...............................................40. V.. CONSIDERAÇÔES FINAIS....................................................78. VI.. REFERÊNCIAS.........................................................................80. APÊNDICES...........................................................................................84. ANEXOS...................................................................................................99.

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(11) 10. I. APRESENTAÇÃO. A ideia de desenvolver uma pesquisa com o tema cuidadores de idosos, surgiu de minha vivência com esta demanda. Desde abril de 2005, venho trabalhando com pessoas idosas e seus cuidadores (as), em um Instituto de Geriatria e Gerontologia, da Secretaria de Estado da Saúde. Este Instituto foi inaugurado em outubro de 2001, inicialmente como Centro de Referência do Idoso (CRI), o primeiro equipamento de saúde voltado a assistência à saúde da pessoa idosa (60 anos ou mais), mantido pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Sua Criação foi resultado de várias reivindicações da população idosa das imediações do Bairro de São Miguel Paulista, localizado na zona leste da Cidade de São Paulo. Em 03 abril de 2009, tornou-se Instituto visando atender à necessidade de implementar políticas públicas capazes de oferecer suporte ao processo de envelhecimento e serviços de promoção à saúde e de recuperação de doenças; com enfoque no desempenho do cuidado e na atenção à manutenção da autonomia das pessoas idosas. O Instituto tem, também, como objetivo potencializar ações voltadas ao ensino e pesquisa, na área do envelhecimento e como missão incentivar o envelhecimento saudável. Oferece vários tipos de serviços, desde assistência médica em várias especialidades, assistência odontológica, exames diagnósticos e complementares, equipe multiprofissional, composta por psicólogas, nutricionistas, fonoaudiólogas, assistentes sociais, farmacêuticos, educadores físicos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, além do núcleo de convivência, que oferece várias atividades: aulas de alfabetização, artesanato, curso de informática, aulas de violão e canto, atividades físicas de alongamento, oficinas de bijuterias, e um espaço de beleza destinado para cuidar da aparência do idoso, com profissionais voluntários que prestam o serviço de estética, como cabeleireiras e manicures. Às sextas-feiras, período vespertino ocorre, baile para a 3ª idade..

(12) 11. Meu trabalho, como psicóloga e como membro da equipe multiprofissional, consiste em atendimentos em psicoterapia individual e de grupo, participação em grupos informativos e educativos, supervisão de estagiárias e aprimorandos, visita domiciliar, participação em reuniões de equipe e discussões de casos, dentre outros. Nesse instituto o atendimento à pessoa idosa, principalmente ao idoso fragilizado, é pensado vinculado à sua rede familiar e ao seu cuidador principal, com o objetivo de oferecer-lhes um trabalho integral, uma vez que, quando lidamos com o idoso dependente, dificilmente ele estará sozinho, mas sim acompanhado de seus cuidadores. Percebemos a importância de que este também fosse assistido, já que ele seria nosso elo com o paciente idoso, e a saúde de um dependia da saúde física e emocional do outro. Sendo assim o cuidador informal ou familiar, aquele que mais acompanha e cuida do idoso passou a receber um olhar diferenciado da equipe, pois muitas vezes percebemos que o êxito do atendimento dependia do vínculo que tínhamos com esta figura tão essencial na manutenção da qualidade de vida do idoso. Desta forma, o cuidador familiar passou a ser atendido em psicoterapia individual, em grupo ou grupos de apoio ao cuidador, além de grupos informativos, este último com o objetivo de levar conhecimento e esclarecimentos aos cuidadores sobre as implicações das patologias que acometem o idoso sob seus cuidados e como lidar com essas questões em seu dia-a-dia É importante destacar que, embora, por vezes, o cuidador seja alguém contratado para exercer esta função, o enfoque do presente estudo é o cuidador familiar, ou seja, o membro da família que assiste o idoso. Muitas vezes, outros profissionais contribuíam com o andamento do trabalho, sobretudo o grupo de apoio ao cuidador, de acordo com suas formações: terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, “aprimorandos” e estagiários do curso de graduação em psicologia. Atendíamo-los, também, por ocasião de visitas domiciliares, quando íamos assistir o idoso e assim otimizávamos o tempo disponível do cuidador, já que a falta de tempo era mais uma queixa; ou seja, havia dificuldades em dirigirem-se ao serviço, pois não tinham com quem deixar o idoso em suas ausências; lembrando que os idosos assistidos em domicílio são os mais dependentes e debilitados..

(13) 12. Em princípio, todos os cuidadores eram inseridos no grupo de apoio, o qual passou a ser coordenado por mim em 2005. Mas percebendo que alguns apresentavam outra demanda estes passaram a ser atendidos em psicoterapia individual. Quando a equipe de trabalho como um todo, abrangendo médicos, enfermeiros, percebem a necessidade de intervenção junto à família ou ao cuidador, envolvendo questões emocionais, encaminha-os para avaliação do setor de psicologia. Percebendo-se a necessidade o cuidador será inserido em algum tipo de atendimento. Em atividades de acompanhamento psicológico ao cuidador familiar do idoso, muitas vezes, percebia o quanto este cuidador despende um tempo imenso de seu cotidiano e um grande investimento afetivo-emocional, além de outras questões que podem gerar estresse, ansiedade e aumentar muito as suas preocupações. Associadas a essas preocupações estão o aumento de despesas com medicamentos, transporte; além de que, em geral, o cuidador suspende suas atividades laborais remuneradas para dedicar-se à tarefa de cuidar. Mas, também pude observar o surgimento ou o agravamento de conflitos familiares, pois os cuidados podem não ser divididos entre todos os membros da família e algum dos membros acaba por sentir-se sobrecarregado; dentre outros problemas. Muitas vezes, concluía que o cuidador necessitava mais do atendimento psicológico que o próprio idoso e, quando acolhido, este cuidado refletia-se no idoso. Com isto, os cuidadores passaram a ser encaminhados para atendimento psicológico por todos os profissionais da equipe, quando surgiam evidências da necessidade deste tipo de ajuda. Os cuidadores que chegavam à triagem de psicologia, com queixas diversas, após avaliação, eram encaminhados para atendimentos específicos, individual ou em grupo. Muitos se queixavam do estresse ocasionado por dedicarem-se aos cuidados diários de um ente querido, fosse marido, esposa, pai, mãe, irmão, sogros, tios. Apresentavam tais sintomas em decorrência da angústia de vê-los sofrer, pelo receio da morte, ou pela dificuldade em dividir as tarefas com outros familiares. Tudo isso representava a sobrecarga de ter de cuidar de si, da casa, do idoso, dentre outras queixas..

(14) 13. Mas, uma queixa em particular intrigava-me de uma forma peculiar; aparecia com frequência e ia além das queixas comuns. Tratava-se de filhas que cuidavam de suas mães e havia um diferencial em suas falas: elas não se queixavam dos cuidados diários e contínuos que tinham de praticar, mas expressavam uma angústia advinda da difícil relação com suas mães. Quando encaminhadas ao setor de psicologia por outros profissionais, esses o faziam por perceberem uma dificuldade dessas cuidadoras em seguirem as orientações prescritas, ou pela queixa de estresse causado pelas tarefas de cuidar. Diante de seus discursos pudemos observar com mais atenção várias questões que envolviam a relação de ambas, mãe e filha. Relação que revelava sofrimento em uma ou ambas as partes e que iam muito além do estresse advindo do cuidado diário e contínuo dessa idosa. Fosse aquela idosa que necessitava de auxílios múltiplos em suas atividades de vida diária, com maior dependência ou fosse aquela que necessitava. acompanhamento. em. atividades. externas,. como. marcação. e. acompanhamento em consultas médicas; todas, apresentavam angústia que ia além da tarefa em si, mas da relação estabelecida. Existia algo a mais nesses cuidados; algo que acabava por comprometer ou tornar o auxílio a essa idosa um fardo muito pesado para a cuidadora. E também acarretava prejuízos nos cuidados da idosa; além de que os discursos de algumas cuidadoras diferenciavam de outras e iam além do desgaste de cuidar de alguém continuadamente. Apontava para um sofrimento advindo da dificuldade da relação entre ambas e ia ao encontro a uma questão que se refere à qualidade das relações anteriores, ou seja, à situação de dependência, às dificuldades de estabelecimento de vínculos afetivos positivos e significativos entre a idosa (mãe) e sua cuidadora (filha). Porém, apesar de todo o desgaste emocional apresentado por estas filhas cuidadoras, elas continuavam cuidando, tentando uma inversão de papéis necessários a atual situação. Todavia, observávamos que permanecia uma evidente relação de poder por parte da mãe. Embora sempre criticadas pela mãe, procuravam melhorar, acreditando que as falhas eram delas, que talvez se fizessem de outra forma, conseguiriam a gratidão dessa mãe. Mas nada parecia agradar suas mães, que continuavam insatisfeitas e atribuíam a infelicidade às questões externas, e, sobretudo a esta filha, no momento a pessoa mais próxima a ela..

(15) 14. Ouvindo essas filhas cuidadoras despertou-me a necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre a razão de essas relações serem tão difíceis e sofridas. Essas filhas demonstravam uma necessidade imensa em serem aceitas por suas mães e demonstravam desapontamento e raiva de si mesmas quando não conseguiam satisfazê-las; mas, continuavam a tentar mais e mais, repetindo suas ações e emoções, o que as levava cada vez mais a um desgaste emocional. Pelos relatos de suas histórias de vida, em princípio, pareceu-me que havia indicativos de dificuldades relacionais anteriores à situação atual; apontava para vínculos fragilizados anteriores a atual realidade de necessidade de cuidados. De modo que passeis a querer compreender: - o que havia na formação desses vínculos? O que acontecia no desenvolvimento emocional dessas cuidadoras, ao ponto de que, até o presente, mesmo sendo mães e avós, permaneciam com um comportamento de submissão em relação às suas mães? Diante destas dúvidas, e por existir muitos casos que apresentam estas características, três casos foram escolhidos para compor este estudo. Busquei referenciais teóricos que me levassem a compreensão dessas relações conflituosas e que também pudessem auxiliar-me em minhas próprias intervenções. Ante a tais inquietações, o presente estudo tem por objetivos: a) - Descrever os aspectos da qualidade vincular nas relações entre as filhascuidadoras e suas mães idosas a partir de relatos das cuidadoras. b) - Investigar, a partir dos relatos da história familiar dessas cuidadoras, a existência de conflitos prévios a necessidade de cuidar, relacionados à construção dos vínculos. c) - Identificar os principais desafios associados à assistência ao cuidador familiar de idosos no que tange a resolução de conflitos com o idoso dependente.. Em cumprimento a tais objetivos, descreverei inicialmente os pressupostos teóricos em que me apoiei e em estudos sobre o tema em questão e, para tal, distribuí essa seção em tópicos. Em seguida descreverei o método que me conduziu e finalmente os resultados e discussão a que cheguei..

(16) 15. II. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. A realidade atual evidencia que as pessoas estão vivendo mais, sendo que, uma parcela dessas pessoas mantém boa saúde, permanece independente e consegue realizar as atividades necessárias para o seu bem-estar; outras podem apresentar limitações e enfermidades, necessitando de auxílio, que podem ir desde atividades básicas cotidianas, até atividades mais complexas.. II.1 SOBRE O ENVELHECIMENTO E A NECESSIDADE DE SER CUIDADO. De acordo com o censo brasileiro de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014), a população do Brasil, segundo projeções, duplicará em 2050, passando de 28,3 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade em 2020 para 64 milhões. Na esteira dos países desenvolvidos, o Brasil caminha para se tornar um País de população majoritariamente idosa. Segundo dados do IBGE (2014), o grupo de idosos de 60 anos ou mais será maior que o grupo de crianças com até 14 anos já em 2030 e, em 2055, a participação de idosos na população total será maior que a de crianças e jovens com até 29 anos. Embora o envelhecimento não seja sinônimo de doenças e incapacidades, é indiscutível que muitos idosos são acometidos por doenças e agravos crônicos em condição permanente ou de longa duração, e por essa razão, requerem cuidados e acompanhamento contínuos (BRASIL, 2006). Diante desta realidade surge a figura do cuidador, que pode ser um membro da família, um amigo, um vizinho, um voluntário ou alguém contratado. Segundo Born (2008), quem vive até uma idade avançada, quase sempre necessitará de ajuda em algum momento de sua vida. Quando o cuidador for um membro da família, geralmente será o que está mais próximo; aquele que se dispõe a assumir este papel, ou mesmo a única pessoa com quem o idoso pode contar neste momento de sua vida, como é o caso do filho (a) único (a), por exemplo. Neste trabalho, cuidador é definido como o principal membro da família que assistirá o idoso dependente (CAOVILLA, 2002)..

(17) 16. Na maioria das vezes este papel é assumido por uma mulher, filha, esposa, nora, sobrinha. De qualquer forma, não dá para pensar em cuidados em relação ao idoso, principalmente o mais frágil, se não considerarmos quem estará do seu lado, contribuindo para a manutenção de sua qualidade de vida. Algumas famílias conseguem dividir esta tarefa com alguns membros da família, mas na maioria das vezes, os maiores encargos acabam ficando com um familiar, que acaba sendo o cuidador principal, que nem sempre estará preparado para lidar com todas as implicações deste trabalho, o qual, muitas vezes, pode ser prolongado, contínuo e resultar em grandes mudanças na rotina do cuidador, tendo ele próprio de renunciar a muitas atividades atuais e projetos futuros. A qualidade da relação entre cuidador e familiar cuidado vai depender de vários fatores: das relações anteriores à situação de dependência, do apoio de outros familiares, da divisão de tarefas com os mesmos, da própria saúde física e emocional do cuidador; sua idade (neste sentido, há muitos idosos cuidando de idosos), da personalidade do idoso cuidado e de seu cuidador; dinâmica familiar e de problemas de comportamento que podem surgir em decorrência da doença (ZAGABRIA, 2001). Estas implicações nas relações pessoais, dificuldade em dividir tarefas, mudança repentina de papéis, o despreparado para exercer os cuidados, as dúvidas e o desconhecimento das ações que a própria evolução da doença exige, aumento das despesas, comprometendo o lado financeiro, são fatores que dificultarão ainda mais a tarefa de cuidar, sobrecarregando o cuidador, física e emocionalmente (NÉRI, 1993). Como consequência, verificamos prejuízo nos cuidados do idoso, do próprio cuidador, até violência ao idoso, pois cuidador estressado e sobrecarregado pode ser um fator de risco para violência contra o idoso dependente. Em muitos casos, de acordo com Machado e Queiroz (2002), não houve tempo suficiente para adaptar-se a essa nova rotina; a mudança na saúde no idoso, muitas vezes, ocorre bruscamente. Muitas vezes o cuidador não consegue conciliar os cuidados com o idoso, as idas às consultas com os profissionais de saúde, com as suas próprias necessidades, delegando sua saúde em segundo plano. Como resultado acaba ele próprio adoecendo, apresentando vários problemas de saúde, dentre eles, transtornos depressivos e ansiosos. Diante desta rotina estressante, os cuidadores familiares.

(18) 17. precisam receber apoio e suporte para os cuidados, a fim de que eles próprios não fiquem doentes. As emoções que serão desencadeadas no cuidador, durante essa fase geralmente são muito intensas e por vezes, contraditórias, podendo ir desde satisfação, de dever cumprido, a sentimento de culpa, piedade, raiva, impotência, vergonha, tristeza, solidão, medo de não conseguir enfrentar a situação, medo de perder o ente querido, emoções estas que refletirão na relação. As relações estabelecidas entre pais e filhos são um exemplo da necessidade de flexibilidade e adaptação ao longo do tempo. Modificam-se na medida em que as responsabilidades como provedores e cuidadores primários finalizam. A autoridade dos pais diminui, seja pela crescente independência dos filhos ou pela perda do poder econômico e da saúde. Diante disso, Erbolato (2002) ressalta que, por causa dessas dificuldades a relação pais-filhos se inverte e é a qualidade dos vínculos anteriores, a afeição e sentimento de dever dos filhos, que servirá de base para a retribuição de suporte e de um relacionamento percebido como simétrico. Além disso, nota-se que as leis existentes e criadas para proteger o idoso trazem a questão, também, da responsabilidade do cuidador familiar. O Estatuto do Idoso, sancionado em 2004, e criado com o objetivo de proteger e assegurar os direitos das pessoas idosas com idade igual ou superior a 60 anos, dispõe em seu artigo nº 3, p.2:. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, ao esporte, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e a convivência familiar e comunitária” (BRASIL, 2004) .. E mesmo considerando as leis existentes a relação entre a pessoa idosa e seu cuidador pode tornar-se muito difícil se não tiver o apoio da família, ou mesmo, em alguns casos da comunidade ou dos serviços de saúde ou do Estado. Outros fatores podem tornar ainda mais estressante a convivência, seja pelo isolamento social por parte do cuidador, quando este sofre de depressão ou problemas psiquiátricos, quando são frouxos os laços afetivos entre eles, ou quando o cuidador sofreu violência por parte do idoso em outro momento da vida..

(19) 18. E, de acordo com Hayar (2014), que aponta que a família é a principal instância de cuidados da pessoa idosa com dependência, assim, evidenciando necessidade de apoio e serviços disponíveis que possam auxiliar no sentido de diminuir a sobrecarga de trabalho e o estresse aos quais fica submetido o cuidador familiar. A mesma autora refere que várias pesquisas voltadas para a atividade de cuidar evidenciaram o forte impacto negativo nas relações familiares que uma doença degenerativa, como o Alzheimer, por exemplo, pode causar. Acrescenta que nestas patologias pode haver mudanças de comportamento, como surgimento ou aumento da agressividade por parte do idoso dependente e que o cuidador pode se tornar a vítima as agressões É uma relação delicada em que uma “contabilidade afetiva” pode acontecer e se desequilibrar e em que sofre aquele que for mais suscetível (p. 82).. Características próprias do envelhecimento, ou da patologia que acomete a pessoa idosa, podem contribuir para agravar ainda a relação com seu cuidador. Além disso, no envelhecimento ocorrem perdas (GAVIÃO; JACQUEMIN, 1997), tanto no plano físico quanto no psíquico, acrescentado a proximidade da morte que sobrecarrega o aparelho psíquico. Carvalho Filho, Papaléo Netto, M. (2006) E Papaléo Netto (1996), resume que a família é de primordial importância em três estágios da vida de uma pessoa: na infância, na adolescência e na velhice. Explica, ainda, que esse papel, dizendo que é dentro da família que a pessoa escreve a sua história de vida, que é única..

(20) 19 II.2 ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOBRE AS RELAÇÕES INICIAIS ENTRE O BEBÊ E SUA MÃE. O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado. Cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento de atenção. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro.. (LEONARDO BOFF, 1999). A abordagem psicanalítica tem apontado, nas últimas décadas, e dado uma importância essencial, às primeiras relações do bebê como experiências fundamentais no desenvolvimento emocional, e demonstrado o quanto essas primeiras experiências repercutiram ao longo da vida. Alguns autores, como Winnicott (2000), Bowlby (2002), Klein (1974), dentre outros, apresentaram estudos aprofundados da vida emocional primitiva, assim como uma visão psicodinâmica das relações iniciais. Cabe aqui apontar alguns desses autores que discorreram sobre a importância das primeiras relações do bebê com sua mãe ou cuidadora para a sua formação emocional e o significado desses contatos iniciais para a vida e relações futuras, para melhor compreensão das relações atuais como enfoca o presente estudo, cujos vínculos sempre foram fragilizados, como demonstram as filhas cuidadoras em seus relatos da situação atual e de suas histórias pregressa de vida. Considerando os vínculos anteriores vemos que John Bowlby (1990) considera que a relação precoce entre cuidador e bebê será a base para as relações futuras, sendo o apego não inerente, nem ao cuidador (neste caso a mãe), e nem ao bebê, mas uma construção de interação de ambos. Logo para se formar é necessário que esse cuidador (mãe), disponha da vontade de cuidar, e atender as solicitações do bebê, sendo este predisposto a reconhecer seu cuidador (mãe) como um protetor, um porto seguro; então, a segurança do apego na primeira infância, seria base para os aspectos de desenvolvimento emocional e social no futuro. Tanto o apego inseguro e o apego seguro, terão força para conduzir os resultados positivos e negativos no desenvolvimento. Essas experiências vivenciadas entre mãe-bebê serão o alicerce das características emocionais do adulto. Todas as memórias vivenciadas e gravadas tornam-se registros para a forma como o sujeito agirá, e se relacionará no futuro..

(21) 20. Podemos observar que grande parte do desenvolvimento da saúde mental da criança está inteiramente ligada à figura materna, conforme a criança for crescendo suas necessidades de interação se ampliam, tendo como base para seu processo o contato com outras pessoas, principalmente com o pai. O ambiente familiar deve ser um ambiente tranquilo, harmonioso e agradável, onde os pais vão proporcionar a criança condições para que desenvolvam suas potencialidades inatas de forma sadia e natural. Bowlby (2002) salientou que para que a criança tenha saúde mental é preciso essencialmente que ela vivencie uma relação calorosa, íntima com sua mãe, relação essa que deverá trazer satisfação e prazer para ambas. Ainda segundo Bowlby (2002), no processo de desenvolvimento da criança, o apego se fortalece nos contatos entre a criança e a mãe, através do cuidado ofertado pela mesma. Quando a mãe se dispõe aos cuidados físicos e emocionais de forma sadia e satisfatória, a criança percebe a importância que tem, e a dedicação dessa mãe gera o sentimento de segurança e bem-estar. As relações prévias serão, assim, a base para as relações que se estabelecerão ao longo da vida.Caso essa mãe, não disponha à criança às necessidades físicas e emocionais de forma equilibrada e sadia, da mesma forma, essa criança percebe-se com rejeitada, quebra-se o vínculo de afeto, ou não se cria, tornando essa criança desprotegida e insegura para o mundo e para outras relações. De acordo com Bowlby (2002) os cuidados que a criança recebe nos primeiros anos de vida, tem grande importância para a saúde mental futura, e é essencial que essa criança tenha a vivência de uma relação amorosa, íntima e contínua com a mãe; quando a criança não encontra esse tipo de relação ela vivencia situações de privação. Esta privação pode ser parcial quando a mãe convive na mesma casa que a criança e não proporciona os cuidados que a criança precisa:. Nossa posição é que as provas, hoje são de tal ordem que não deixam margem de dúvida quanto à proposição geral de que a privação prolongada dos cuidados maternos pode ter efeitos graves e de longo alcance sobre a personalidade de uma criança pequena e, consequentemente, sobre toda sua vida futura (BOWLBY, 200, p. 45).. Ainda de acordo com Bowlby (2002), se a carência afetiva sofrida pela criança ou a ruptura do vínculo familiar ocorrer muito precocemente, as consequências.

(22) 21. incidirão sobre a capacidade intelectual e afetiva, se ocorrer após a estruturação de sua personalidade poderia ocorrer a delinquência. Os efeitos da privação parcial seriam a angústia, carências de amor, sentimento de vingança, culpa e depressão e no caso de privação afetiva total, ocorreria a incapacidade de estabelecer vínculos com outras pessoas. Outro autor da escola inglesa de psicanálise, Donald Winnicott (WINNICOTT 2006), vê a relação mãe e bebê, como sendo fator de grande importância para o desenvolvimento do afeto e através desse, a amamentação, como um primeiro cuidado; sendo um elemento de segurança, aconchego e tranquilidade para o bebê; salientando que quando esse processo não é natural e nem envolto de sentimentos positivos, essa criança sentirá a mecanização e a frieza, logo, o processo não se dará adequadamente. Ressalta que todo o processo físico funciona precisamente porque a relação emocional se está desenvolvendo naturalmente. Acrescenta Coelho Filho (1999), que, ao estudar Winnicott verifica que a função materna é de suma importância na transição (quando ela ocorre) da não-integração, fase inicial do bebê, para a integração, e para o ser no tempo e espaço. Caso a mãe não o “auxilie” nesta passagem, estará comprometendo a continuidade do seu existir e que não estará comprometendo o bebê, mas a continuidade do seu existir. O bebê diante da ausência do meio facilitador oferecido pela mãe estará impedido de existir. Ele precisa ter a ilusão de viver para viver para que possa viver estabelecer uma vinculação. As relações de afeto se permeiam através da interação. Para Winnicott (1962/1983) todo desenvolvimento de sentimentos, se dá através do cuidado, dado pela mãe, caso haja a falta desse cuidado, toda a extensão sentimental fica comprometida, tornando essa criança uma pessoa com dificuldades em lidar com sentimentos ou até mesmo com a ausência deles, como a culpa. De acordo com Winnicott (2006) o bebê deve ser alimentado pelo seio materno, em referência literal e metaforicamente quando se refere ao afeto dado por essa mãe; enfatizando que os assuntos humanos complexos só podem evoluir a partir dos mais simples. Portanto, a forma mais eficaz que a criança tem de criar vínculos de afeto, manter relações com outras pessoas é quando primeiro essa relação, mãe-bebê é bem estabelecida..

(23) 22. D.W.Winnicott (1987), em sua teoria do desenvolvimento, ressalta a importância do modo como o bebê é cuidado, e que a qualidade destes cuidados influenciará na formação do indivíduo, no seu desenvolvimento emocional. Coloca a questão principal na relação dual mãe-bebê. Ele, ainda, aponta para questões que enfatizam a importância dos primeiros anos de vida para a formação emocional do ser humano e sobre o impacto que a qualidade dos vínculos parentais, ou de seus substitutos, assim como os cuidados fornecidos à criança têm nas fases iniciais da vida para o desenvolvimento da personalidade humana. Em princípio, o bebê é completamente dependente da mãe nos cuidados físicos e emocionais, e o crescimento efetivo destes dois fatores depende de uma provisão ambiental (a mãe ou seu substituto). No início da vida, o bebê necessita de uma mãe que esteja completamente implicada com ele, para que possa sentir a sensação de onipotência e ser criativo. Winnicott (1987) considera que o ser humano necessita que alguém facilite os estágios de seu desenvolvimento emocional, psicossomático e de sua personalidade mais imatura e absolutamente dependente, sendo isto uma necessidade vital.. Caso ocorra falhas ou privação, seu desenvolvimento ficará. comprometido. Winnicott (1960/2005) acredita que o bebê já nasce com uma tendência hereditária ao desenvolvimento, ou seja, um impulso biológico para a vida. O ambiente (neste caso, representado quase que exclusivamente pela mãe ou um cuidador substituto, nessas fases iniciais), será o responsável ou o facilitador pela adaptação às necessidades originárias deste processo. O desenvolvimento é uma função da herança de um processo de maturação e da acumulação de experiências de vida. A existência de um ambiente propiciador é de fundamental importância para que este desenvolvimento ocorra de forma saudável. O processo de desenvolvimento pode ser descrito como inicialmente de dependência absoluta, passando para a dependência relativa e um caminhar rumo à independência, que nunca chega a ser total (WINNICOTT, 1960/2005). Este desenvolvimento depende dos cuidados que o bebê receberá deste ambiente, que inicialmente é a mãe. Preocupação materna primária é descrita por este autor como o estado psicológico que a mãe apresenta nas fases iniciais de vida de seu bebê..

(24) 23. Trata-se, pois, de uma sensibilidade aumentada, durante e principalmente o final da gravidez (WINNICOTT, 1956/2000). É comparado a um estado de retraimento ou dissociação, mas essa mãe precisa estar saudável para “adoecer”. A medida que o bebê se desenvolve, a mãe começa a se “recuperar” desse estado. Essa alteração do estado e emocional da mãe é necessário para que ela possa de adaptar às necessidades de seu filho. A mãe que consegue estar nesse estado fornece um ambiente para que o bebê possa experimentar movimentos espontâneos e manifestar sua tendência ao desenvolvimento. Quando a mãe não consegue atingir este estado ocorre a falha ambiental, ou seja, interrompem o continuar a ser do bebê, são ameaças à sua existência pessoal de seu eu. O ego do bebê está começando a se constituir e precisa ser amparado pelo ego da mãe, nesta fase de dependência absoluta (WINNICOTT, 1962/1983). A mãe, portanto, tem três funções básicas, segundo Winnicott (1960/2005), para propiciar este desenvolvimento do bebê: a primeira delas é o “holding”, compreendido não somente como segurar o bebê de forma segura e satisfatória, mas sustentá-lo, garantir todo o cuidado necessário, protegendo-o de agressões físicas e invasões ambientais. A segunda função é o “handling”, que significa manipular o bebê e é através desse manejo que a mãe oferece experiências afetivas ao seu filho. A partir disso, o bebê passa a ter uma noção de corpo. A terceira função da mãe é a “apresentação de objetos”, ou seja, garantir todos os cuidados necessários para o bebê possa se sentir seguro e caminhar em direção ao “mundo”. A partir dessas funções, a mãe suficientemente boa, denominada assim, por este mesmo autor, garantirá o desenvolvimento egóico do bebê, ou seja, a integração, a personalização e a apreciação de si mesmo no tempo e espaço. A integração permite que o bebê venha a constituir uma noção de eu e não-eu; a personalização, se dará a partir do contorno feito pela integração, preenchendo o interior do bebê e lhe assegurando a noção de “eu sou”, começando a se constituir como um ser independente, retendo suas qualidades e defeitos. Na apreciação de si no tempo e espaço a criança dilata a capacidade de se preocupar. A partir disso, começam as relações interpessoais entre pessoais totais e inteiras, pois a pessoa já está integrada, preenchida e apta a enxergar o outro em seus limites (WINNICOTT, 1960/2005). Porém, falhas insistentes e constantes em uma dessas fases bloquearão o desenvolvimento emocional do bebê e para que ele possa vir a se.

(25) 24. desenvolver ou vir a ser, será necessário vivenciar uma relação satisfatória, uma experiência positiva. Portanto, para autores como Winnicott e Bowlby, os efeitos do abandono sobre uma criança, físicos ou emocionais ou privações por ela sofrida, acarretarão prejuízos em seu desenvolvimento emocional. Quanto mais precoce for a experiência de abandono, ou descontinuidade dos cuidados, maior a influência negativa que a criança sofrerá e piores suas consequências. Winnicott (19681987), foi um dos estudiosos que associou a carência afetiva à delinquência e a atitudes antissociais (roubo, enurese noturna, insônia, etc), estando vinculado a falhas ambientais no período de dependência relativa. A criança que sofre com a ausência materna, pode apresentar comportamentos desajustados e propensão à delinquência. Nesse caso, a privação ocorreu após o bebê ter experimentado um ambiente suficientemente bom na fase de dependência absoluta, mas que por algum motivo foi perdido. Então, o ato antissocial seria um sinal de esperança de que o indivíduo esteja tentando recuperar a experiência gratificante que vivenciou. Winnicott (l987) coloca o seguinte:. A criança antissocial procura, de um modo ou de outro, violenta ou gentilmente, fazer com que o mundo reconheça seu débito; ou tenta fazer o mundo reconstruir a moldura que foi quebrada (p, 132).. II.3. AS RELAÇÕES OBJETAIS. Por teoria das relações objetais entendem-se tratar a relação do sujeito com um objeto (outro), sendo uma organização da personalidade, organização esta complexa (LAPLANCHE; PONTALIS, 1996). Relacionamento interpessoal entre sujeito com seus objetos, tratando-se não apenas do relacionamento real, mas a maneira como este sujeito o apreende ou percebe, implicando num relacionamento inconsciente com os objetos - tanto internos como externos. A teoria das relações objetais se refere à formação da personalidade, buscando seus princípios nas fases iniciais da criança, integrando questões referentes a este período, e desta forma, apresentam seu enfoque na compreensão de que no desenvolvimento e formação da personalidade então envolvidos as interações da criança com seu objeto primário, sua mãe e a qualidade da vinculação com este. Este.

(26) 25. vínculo inicial influenciará as relações futuras e a compreensão de si próprio (SCHULTZ, 2011). Como pré-condição para compreendermos a personalidade adulta, é necessário investigarmos o passado do paciente, sua infância e seu inconsciente, conforme Klein (1957/1974), citando os achados de S. Freud e Abraham. É necessário a compreensão do funcionamento da mente do bebê para que entenda a complexidade da personalidade adulta. Atribui importância fundamental a primeira relação de objeto do bebê, a relação com o seio materno e à mãe, concluindo que para que haja um desenvolvimento satisfatório, este primeiro objeto introjetado deve se arraigar no ego com relativa segurança, sendo que fatores inatos colaboram para este vínculo. A proximidade com o seio, tanto física e mental (KLEIN, 1957/ 1974), fonte de nutrição e da própria vida, restaura a ligação pré-natal perdida com a mãe, assim como a sensação de segurança, embora esta condição possa variar dependendo do estado psicológico da mãe. Dependendo da capacidade simbólica do bebê a mãe é transformada no objeto amado. O bebê agora tem a mãe dentro de si. O nascimento reflete um estado de intensa ansiedade persecutória, contrapondo-se a segurança anterior, o que estaria implicada na relação dúbia com a mãe: o seio bom e o seio mau, um sendo gratificador e o outro frustrador. Outros fatores, ainda segundo esta autora, poderiam influenciar a capacidade do bebê de experimentar gratificações: a qualidade do parto e possíveis complicações relacionadas a ele, levando o bebê iniciar a relação com o seio em desvantagem. Acrescidos a esses fatos, outras questões podem interferir nesta relação, e influenciar como o bebê internalizará esse seio: a forma como será alimentada, os cuidados maternos, se a mãe é ansiosa ou se apresenta dificuldades com a amamentação. Desde o início, a relação com o objeto implica em uma interação baseada em introjeção e projeção do objeto e situações internas e externas (KLEIN, 1952/1982). Nessa mesma fase manifestam-se ansiedades que levam o ego, ainda primitivo, a desenvolver mecanismos de defesa, tais como: mecanismos de divisão do objeto e os impulsos, idealização, negação da realidade interna e externa e a repressão de emoções. Um medo que aparece é o persecutório resultantes dos impulsos sado-orais por privar, na fantasia, o corpo da mãe de seus conteúdos bons, quando ainda percebe a mãe como objeto parcial. Caso ocorra privação, a ansiedade persecutória pode ser.

(27) 26. intensificada, quando o bebê tem a sensação de ser privado, e de que o objeto retém para si os aspectos bons, como o amor e os cuidados associados ao seio bom. Com a introjeção do objeto como um todo, com seus aspectos bons e maus, leva-se aos sentimentos de pesar e culpa, os quais implicam em progressos na vida mental da criança, o que denomina a posição depressiva, tendo essa fase um papel central no desenvolvimento inicial. Assim, de acordo com Klein (1981), na posição esquizo-paranóide, o bebê se relaciona com objetos parciais, por exemplo, o seio bom, cindido do seio mau, onde há uma preparação posterior para a aceitação do objeto integrado, posição depressiva. Inicialmente o mundo do bebê está estruturado em objetos totalmente bons ou totalmente maus; ora o objeto é frustrador e persecutório, ora é idealizado; ainda não é possível perceber que se trata de partes de um mesmo objeto, não distingue, ainda o eu/-não-eu, mas esta divisão abre caminho para a atitude que conseguirá finalmente distingui-los. Caso não ultrapasse esta fase, o bebê continuará a utilizar as defesas primitivas contra a ansiedade típica desta posição. O processo de destacar as partes do eu e projetá-las em objetos, assim como o efeito da introjeção sobre as relações objetais, são de extrema importância para o desenvolvimento normal, dependendo do grau em que foi atingido o equilíbrio entre a projeção e a introjeção nestes estágios iniciais (KLEIN, 1952/1982). Os sentimentos da posição depressiva têm o efeito de ocasionar a integração do ego e a melhor percepção do mundo interno e externo, onde se introjeta um objeto completo. Meyer (l987), acrescenta outras questões que envolvem o desenvolvimento e a interação. Ressalta que, antes de nascer o bebê já faz parte da fantasia de seus pais. A maneira como o casal interage, a dinâmica do casal, se tornará a dinâmica familiar. A forma como se dará essa interação será determinada pela qualidade das relações objetais familiares que foram introjetadas no decorrer do processo de crescimento e desenvolvimento na e pela família de origem ou ancestral. Assim, constituída uma família, todos os membros, inconscientemente, contribuem para a elaboração de um sistema de fantasias que induz a todos instituírem mecanismos de defesa que se complementam entre si, e todos corroboram para tais fantasias. Será a qualidade destes mecanismos de defesas que determinará se a dinâmica desta família possibilitará o nível de interação familiar, que poderá permitir a existência de.

(28) 27. individualização ou uma invasão recíproca, neste caso, pressupondo um desenvolvimento patológico do intercâmbio familiar. Ainda segundo Meyer (1987), é necessário que os membros de cada família tenham a liberdade de trazer seus mais profundos elementos do relacionamento objetal infantil, contudo, sem perder a identidade. Para tanto, depende da flexibilidade de cada um de tolerar as projeções sobre si sem a necessidade de as atuarem. A criança dependente que existe em cada um precisaria ser tolerada. A pessoa a que se destina a projeção, estará sendo pressionada a absorver o que lhe foi projetado. Se ela for capaz de digerir as necessidades imaturas de modo a devolver à pessoa um produto final para que esta possa elaborar de forma positiva, ela terá conseguido não concordar com as demandas nela projetada. Neste sentido, vemos uma dinâmica familiar em que é permitido caminhar para uma vivência própria. Um modelo de relacionamento entre os familiares, ao ser externalizado pode tornar-se através de relacionamentos interiores não-integrados. Se o objeto parcial projetado não puder ser digerido, será focado para outro alvo, ou pode tornar-se o modo de ser da pessoa a quem se projetou. Por exemplo: as vivências de cuidar/ser cuidado, apoiar/ser apoiado e confiar/receber confiança podem acabar perdidas dentro da família por medo de identificar-se com o objeto projetado, o que levar a uma retaliação contra ele. Cita este autor: Se, por exemplo, um bebê, projeta na mãe sua necessidade de dependência e a vê rejeitada, começa a ser tecido um modelo em que a dependência, enquanto objeto, é inconscientemente percebida como ameaça, para a qual deve aparecer um recipiente. Este recipiente pode tanto ser escolhido fora do círculo familiar quanto dentro dele, em termos de uma pessoa que irá corporifica-lo perante todos os demais familiares. A partir de então, a família poderá comportar-se como que aliviada das necessidades de dependência, e de prestar cuidados a objetos dependentes. O recipiente escolhido ou o objeto ameaçador fica encurralado nesta posição por força de um controle familiar. Porém, toda vez que se torna preciso manifestar necessidades de dependência, ou agir como mãe para um objeto dependente, ou mesmo quando o continente se revolta e tenta libertar-se da imposição desse papel, como consequência emergem ansiedades e conflitos na família. (MEYER, 1987. p. 25)..

(29) 28. Cabe ressaltar, que aquilo que se coloca como dificuldade no presente momento pode ser compreendido como uma fase pela qual deve passar o desenvolvimento da interação de qualquer pessoa, em uma família, mas se este estágio não evolui pode ressurgir novamente (MEYER, l987). Inicialmente há uma construção de objetos familiares envolvidos em experiências e estágios, até mesmo simbiótico, cedendo lugar, posteriormente, ao aparecimento de vínculos onde haja a individualização de cada um. A cada tipo de dinâmica familiar caberá “saber” quem será o recipiente de quem e que tipo de objeto (bom, mau, idealizado) será depositado. A patologia das interações pode ser verificada com a rigidez com estes papéis se estabelece. Meyer (l987) cita o conceito de “familidade”, que seria a parte da vida mental incessantemente estimulada e ativada pela experiência na interação familiar. E ao termo relação objetal, diz: A relação objetal dá ênfase ao fato de que cada elemento componente da díade ganha significado de seu par (ou do outro componente); a importância está no fato de ambos estarem vinculados [...]. Dessa forma, um objeto é sempre um objeto de alguém, ou um objeto para alguém. É a constelação de vínculos da qual participa o objeto que lhe dá significação e lhe revela as potencialidades. As relações objetais designam o modo que o sujeito tem de relacionar-se com seu mundo de objetos (internos e externos), ou seja, o modo pelo qual estes objetos são investidos, e as defesas mobilizadas nesse relacionamento. [...] A consequência final desse conceito de relação objetal, que atribui ao vínculo a função de conferir significado aos elementos que compõem o relacionamento, é impor o próprio vínculo como um objeto significativo (1987, p. 60).. E ao vínculo, Meyer (1987), define como: O vínculo pode ser entendido como o organizador básico das trocas que contribuirão para formar a parte da familidade, como o núcleo primitivo que atrai – como que os hipnotizando – os elementos que irão constituir o precipitado em discussão. É o elemento primordial de união que, uma vez introjetado no ego, irá dar origem ao conceito de interação (troca), ou seja, à representação intrapsíquica dos relacionamentos interobjetais ou interpessoais (p.60).. Os vínculos, com referência à sua qualidade e natureza, podem ser de forma esquizo-paranóide ou serem usados de forma depressiva, guiados por sentimentos que.

(30) 29. correspondem à uma ou outra posição. Quando os objetos se relacionam sob a posição esquizo-paranóide, são vinculados ou percebidos de forma que expressam falta de respeito pela integridade do outro, por identificações projetivas, de controle onipotente, de descargas recíprocas, de intenso sadismo (MEYER, 1987); as defesas criadas para enfrentar esta condição, modelarão a interação familiar. Na posição depressiva, há um ganho na qualidade do vínculo percebido, já que o objeto é apreendido na sua totalidade. Citando Pichon-Riviére (1988), denomina como vínculo, a maneira particular como pela qual cada indivíduo se relaciona com outro, criando uma condição única a cada caso e a cada momento. Acrescenta que existem vínculos normais e vínculos patológicos. Nenhum paciente apresenta um único tipo de vínculo, porque todas as relações de objeto e todas as relações interpessoais e as estabelecidas com o mundo são mistas. Dependerá do tipo de relação que esse paciente estabelece com seu grupo familiar, levando-se em conta o tipo de relação que ele estabelecerá com cada membro do grupo. Zimerman (1999) cita ainda Bion, falando da função de rêverie da mãe, que seria conter o conteúdo das angústias e necessidades da criança, relacionado com o que ele chamou de função alfa, que seria o processamento dessas angústias. Essa criança ficaria invadida por sentimentos de ódio em função das frustrações e de não ser compreendida e contida. Essa falha na transformação dos elementos alfa em beta, ou esse ódio não elaborado pela criança, prejudicará sua capacidade de pensar, simbolizar, etc. e a levará a aumentar o uso de identificações projetivas, num crescente círculo vicioso de esvaziamento, medo e desamparo. Melanie Klein (apud SEGAL 1964) descreve a identificação projetiva como parte dos processos de desenvolvimento que surgem nos primeiros meses de vida, como um mecanismo de defesa contra a ansiedade, através da cisão (divisão) das partes más ou destrutivas do self, e como uma influência fundamental, e complementando, Segal (l964) acrescenta que o objeto pode ser percebido com características do self e o self ser identificado com as características de suas projeções. A primeira de todas as relações é da do bebê e de sua mãe (MEYER,1987); a ajuda entre eles pode ser recíproca, apesar de suas necessidades serem diferentes, um servindo de continente para o outro. Passa a existir uma troca recíproca de objetos,.

(31) 30. junto ao estabelecimento de um vínculo entre esta díade, ou seja, a mãe recebe objetos que o bebê projeta nela, e esta por sua vez, transforma-os e os devolve à medida que o bebê consiga “digerir”. Pode ocorrer uma interação baseados nos aspectos adultos da familidade, neste caso, a identificação projetiva é utilizada como forma de comunicação e empatia e não como controle ou invasão, mais próprios da posição depressiva, onde as boas qualidades do objeto tornam-se parte de todos os familiares, enriquecendo o objeto. Já na interação do tipo intrusivo, a circulação pode transformar-se em conflitos interpessoais. Como resultado da identificação projetiva alguns aspectos da familidade são rejeitados e conferidos a outros membros da família. São colocados à força em uma pessoa, e exerce-se uma pressão contínua para mantê-lo lá, para que fique no continente escolhido, podendo tornar-se como próprio deste continente. Poderá circular entre os membros da família ou ser projetado em outro, mas normalmente circula em mão única, congelado. Não há a intenção de modificar a natureza do objeto, mas sim perpetuar suas características, em um padrão de interação esquizo-paranóide (MEYER, 1987). Meyer (1987) descreve a experiência de dependência entre o bebê e a mãe podendo ocorrer de duas maneiras: no primeiro modo a atitude de provedor facilita para o necessitado o reconhecimento e a aceitação de sua independência. O recebedor reconhece a função, a identidade e o seu valor, ao aceitar seu estado de carência. No segundo modo, o provedor manobra para forçar no recebedor uma atenção contínua a respeito de suas próprias necessidades. Há uma hierarquia estabelecida neste relacionamento, um membro fica como “sempre carente”, enquanto o outro fica como generoso. A relação é unilateral, onde o provedor passa a mensagem ao dependente que dele não precisa, nem reconhece qualquer contribuição. Estabelece uma relação tirânica, encobrindo-se o verdadeiro caráter desta relação de dependência, onde um permanece preso à posição de “carente-necessitado”. Esta situação de dependência pode ser usada para controlar e apropriar-se do objeto. As personalidades narcisistas controlam onipotentemente todas as partes valiosas, que se referem a objetos internos e externos, como partes de si mesma. Representa uma fuga para os objetos internos idealizados, exigindo um mundo completamente escindido, criando um mundo de objetos ideias e persecutórios. Enquanto isso, os aspectos indesejáveis escindidos e projetados num continente, torna-.

(32) 31. se um campo de batalha cheio de elementos perigosos e vingativos. Uma interação familiar pode tornar-se totalmente polarizada, governada pelo princípio do tudo ou nada, próprio do funcionamento esquizo-paranóide.. II.4. SOBRE O SURGIMENTO DA CULPA. Sobre a culpa cita Melanie Klein (1957/1974): Parece que uma das consequências da inveja excessiva é a culpa. Se a culpa prematura for experimentada por um ego ainda não capaz de suportá-la, ela é sentida como perseguição e o objeto que desperta a culpa se transforma em perseguidor. O bebê, então, não pode elaborar, seja a ansiedade depressiva ou a persecutória, porque elas se confundem uma com a outra. Alguns meses mais tarde, quando surge a posição depressiva, o ego mais integrado e fortalecido tem maior capacidade de suportar o sofrimento da culpa e de desenvolver defesas correspondentes, principalmente a tendência a efetuar reparação (p.59).. Essa culpa que a autor menciona, estaria relacionada a inveja do seio que alimenta e a sensação de ser despojado de sua bondade por meio de ataques invejosos. A inveja exagerada pode interferir na gratificação oral. Se, ainda nos primeiros estágios do desenvolvimento, o objeto primário for estabelecido com relativo equilíbrio, a culpa despertada por tais sentimentos pode ser enfrentada com mais êxito porque a inveja é transitória e menos suscetível de prejudicar a relação com o objeto bom. Para Grinberg (2000) a culpa, quando excessiva e ilógica, estaria relacionada com a depressão grave ou melancolia, como sintoma. E seguindo os teóricos da escola psicanalítica inglesa, como Melanie Klein, que estudaram os primeiros estágios da vida prossegue: na criança, suas fantasias inconscientes estão relacionadas ao corpo e representam fins instintivos dirigidos ao objeto, pois ainda não distingue fantasia da realidade. Este fato pode levá-la a crer que danificou ou destruiu realmente à mãe, ao expressar o seu amor ou ódio através de mecanismos de incorporação ou expulsão. Essa fantasia de que destruiu a mãe provoca culpa e o sentimento de que será perseguida pela própria agressão projetada ao objeto..

(33) 32. O autor coloca que, se esta condição ocorrer com persistência no inconsciente ocasionara o aparecimento de angústia e culpa, que levarão, em diferentes graus, a processos defensivos patológicos, que comprometerão as possibilidades de uma vida normal e feliz. Em uma fase posterior, como efeito, vemos muitas pessoas incapacitadas para batalhar pelos seus direitos ou lutar pelos seus interesses: “O inconsciente de um acusado pode desejar o mesmo que conscientemente recusa com todas as suas forças” (p. 43). O conflito entre amor e ódio para com os objetos queridos cria a dor, que terá como consequência o sentimento de culpa, uma vez que a bondade se choca com a maldade. O sentimento de culpa (GRINBERG, 2000) pode manifestar-se como irritabilidade, mau-humor, apatia, depressão, perturbações psicossomáticas, etc., quando se encontra num plano inconsciente, recalcado, porque nem sempre aparece no plano da consciência. Pode aparecer, também, através de um sofrimento contínuo, depressão e a sensação de uma catástrofe iminente, ou seja, através de uma tensão intrapsíquica. Neste caso, associados a uma necessidade de castigo, com um sentimento de não ser uma boa pessoa, mas sim fraca e pouco eficiente. Associado a isto, um comportamento de submissão, um sentimento de inferioridade, podendo levar a atitudes criminosas ou agressivas, criando um círculo vicioso pelo efeito dinâmico antitético destes sentimentos. Segundo Rickman (apud GRINBERG, 2000), a culpa tem uma importância essencial no desenvolvimento da estabilidade da personalidade, no que concerne as vivências nos primeiros anos de vida, envolvendo a descoberta dos sentimentos de amor e ódio em relação aos pais. Esta culpa pode levar aos sucessos e as realizações na vida futura, mas também, a doença mental, a instabilidade emocional e ao crime. Grinberg cita um verso de Goethe, e sugere aos pais a culpa suscitada nos filhos, e a responsabilidade em expiá-las:. À vida nos lançais, Deixando que o pobre incorra em culpa; Logo o deixais sofrer Pois toda a culpa tem de ser expiada (p. 68).

(34) 33. Grinberg, referindo-se a Freud, coloca que uma pessoa se sente culpada quando faz algo que julga errado ou mesmo quando tem a intenção de fazê-lo, neste último caso culpa estaria relacionada à fantasia inconsciente. Levanta duas origens do sentimento de culpa, sendo a primeira relacionada à autoridade, e a segunda o medo do supereu. O sentimento de culpa dominaria toda a vida pulsional porque impede a satisfação das pulsões e, também, porque aumenta o masoquismo. Por medo de perder o carinho e proteção, e sob a influência do sentimento de culpa, o Eu se submete às ordens do Supereu., renunciando as satisfação das pulsões. Após esta renúncia, ficam saldadas as dívidas com esta autoridade, eliminaria o sentimento de culpa. Em relação ao Supereu não ocorre o mesmo, não sendo a renúncia satisfatório, resultando em sentimento de culpa e a necessidade de castigo. Acrescenta:. Para a formação do Supereu e o desenvolvimento da consciência moral concorrem vários fatores constitucionais inatos e ainda a influência do meio envolvente. Não deve estranhar-se esta dualidade uma vez que ela representa a condição etiológica de todos os processos (2000, p. 71).. O autor explica que Melanie Klein encontrou na análise de crianças muito pequenas, de 2 a 4 anos, um Supereu severo e cruel, que não era compatível com a imagem dos pais reais. Isso se deveu em parte, à projeção dos próprios impulsos sádicos da criança. Alguns autores alegam que toda forma de privação, toda a satisfação pulsional desfalcada, poderia ter como consequência um sentimento de culpa. Esta autora levantou uma distinção entre duas formas principais de angústia: a angústia persecutória e a depressiva, O sentimento de aniquilamento de Self estaria relacionado com a primeira e a segunda com a fantasia do dano imposto aos objetos internos e externos pelos impulsos destrutivos. Chegou à conclusão que a ansiedade depressiva estaria ligada ao sentimento de culpa e a tendência a reparação e que estaria relacionado a introjeção do objeto como um todo. Inicialmente ela defendeu esta ideia, mas, posteriormente, afirmou que poderia, também, estar conexos com objetos parciais, e que, portanto, podiam aparecer durante a posição esquizoparanóide. Como pode ser visto a qualidade das relações iniciais entre mãe-bebê será fundamental para o desenvolvimento emocional do indivíduo e suas interações.

(35) 34. com outras pessoas em uma fase posterior, quando adulto, como foi apontado por vários autores e que pode ser constatado na prática clínica. Portanto, a mãe (ou seu substituto) constitui-se como o primordial fator do desenvolvimento para seu filho, assim como as falhas da função materna incorrerá para a desestruturação de seu psiquismo..

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