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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 Contextualização Microssistemas

5.2.3 Resultados relativos ao conjunto das famílias

Nesta segunda parte dos resultados, destacar-se-á como o nascimento e a presença do bebê afetam as relações conjugais, as relações nas famílias ampliadas e entre os cônjuges e suas famílias de origem. Além disso, ressaltar-se-á a influência de tais efeitos sobre o desenvolvimento da criança e sobre a adaptação à parentalidade.

Dados relativos ao planejamento da gravidez, realização de pré-natal, hospitalização, tempo que os cônjuges se conheciam, ocorrência de problemas psicológicos ou de relacionamento, mudanças na estrutura e dinâmica da família após nascimento do bebê, entre outros, caracterizaram a fase de transição para a parentalidade. Tais resultados, semelhantes na maioria das famílias estudadas, são descritos a seguir.

Inicialmente, descrever-se-ão, de acordo com a cronologia, os dados obtidos durante a primeira etapa da coleta e, em seguida, descrever-se-ão os dados obtidos durante a confecção do Genograma familiar, referentes às características dinâmicas e estruturais das famílias e às mudanças ocorridas durante e após a gestação, como também planos para o futuro e questionamentos.

Na Tabela 3, expõem-se os dados referentes à gestação: características familiares anteriores a ela, seu planejamento e sua condução.

Tabela 3. Distribuição de dados relativos às características familiares, planejamento e condução da

gestação. Família

Tempo de conhecimento do

casal (em meses)

Planejamento da gravidez Idade da mãe ao engravidar (em anos) Idade do pai ao engravidar (em anos) Realização de pré-natal Número de consultas 0106M 72 Sim 23 24 Sim 8 0406M 192 Sim 32 33 Sim 10 0506F 132 Sim 31 31 Sim 12 0706F 54 Não 18 20 Não 2 0806M 168 Não* 31 30 Sim 9 0906F 120 Não* 31 28 Sim 8 1106M 4 Não 14 21 Sim 8 1206F 60 Sim 28 27 Sim 15 1506M 23 Não 14 18 Sim 5 1606M 60 Sim 30 31 Sim 12

Os dados relacionados às características familiares anteriores à gestação, planejamento e condução desta, visualizados na Tabela 3 acima, indicam que os casais participantes desta pesquisa se conheciam por um intervalo de tempo que variou entre

quatro meses e dezesseis anos, sendo os casais mais jovens aqueles que se conheciam há menos tempo. Além disto, também foram os casais mais jovens que declararam não terem feito o planejamento da gravidez, com exceção dos casais 0806M e 0906F. Esses dois casais se conheciam há mais de dez anos e, apesar de terem revelado não terem planejado a gravidez, em ambos os casos, durante o Genograma, afirmaram ter planejado a gravidez para o ano seguinte, sendo esta adiantada por descuido.

Segundo Parke (1988), a falta de planejamento da gravidez e conhecimento um do outro há relativamente pouco tempo são características comuns à parentalidade precoce. O autor ressalta que essas uniões tendem a ser instáveis, com mais chance de separação e de uma das avós assumir o cuidado da criança. Tais tendências parecem passíveis de ocorrer nas famílias mais jovens deste estudo, já tendo havido uma separação na família 0706F.

Quanto à presença de problemas psicológicos durante a gestação, apenas a família 0906F, cuja gravidez foi adiantada, relatou que a gestante ficou mais irritada e incomodada, o que tornou a relação entre os cônjuges vulnerável à presença de atritos constantes. Nenhuma das mulheres relatou sintomas de depressão durante a gestação tampouco a presença de internação psiquiátrica. Em nenhum dos casos foi necessária uma internação hospitalar durante a gravidez.

A Tabela 4 mostra dados relativos ao nascimento das crianças participantes desta pesquisa.

Tabela 4. Distribuição de dados relativos ao nascimento das crianças.

Família Tipo de parto Atendimento especial

Internação (em dias)

Alta com a mãe

0106M Normal Não 2 Sim

0406M Cesárea Eletiva Não 3 Sim 0506F Cesárea Não-eletiva Não 3 Sim

0706F Normal Não 2 Sim

0806M Cesárea Eletiva Não 3 Sim 0906F Cesárea Eletiva Sim 2 Sim

1106M Normal Não 2 Sim

1206F Cesárea Não-eletiva Não 2 Sim 1506M Cesárea Não-eletiva Não 3 Sim 1606M Cesárea Não-eletiva Não 3 Sim

Todas as dez crianças foram vacinadas contra as doenças indicadas para a idade e levadas ao pediatra regularmente. Quanto aos cuidadores, três crianças possuíam os pais como cuidadores principais e únicos; cinco (três meninas e dois meninos)

freqüentavam a creche em meio período; uma era cuidada pela babá e empregada, quando os pais estavam fora; e uma permanecia com a avó materna na ausência dos pais.

Na Tabela 5 pode-se visualizar os dados concernentes aos resultados obtidos pelos instrumentos Abipeme, Teste de Denver e Inventário Home.

Tabela 5. Distribuição dos dados relativos aos resultados dos

instrumentos Abipeme, Teste de Denver e Inventário Home. Família Abipeme Denver Escore

Home

Classificação Home 0106M Classe C Risco 28 Médio Risco 0406M Classe B Normal 36 Médio Risco 0506F Classe B Normal 39 Baixo Risco 0706F Classe C Normal 35 Médio Risco 0806M Classe A Normal 41 Baixo Risco 0906F Classe B Normal 39 Baixo Risco 1106M Classe D Risco 25 Alto Risco

1206F Classe B Normal 34 Médio Risco 1506M Classe C Normal 27 Médio Risco 1606M Classe B Normal 35 Médio Risco

Das três famílias com baixo risco no Inventário Home, uma pertencia à classe A e duas, à classe B; em nenhuma delas as crianças estavam em risco segundo o Teste de Denver. Das famílias em médio risco segundo o Inventário Home, três se localizavam na classe B e suas crianças não se encontraram em risco de acordo com o Teste de Denver e três se encontraram na classe C, com a criança de uma dessas famílias em risco. A família cuja classificação do Inventário Home indicou alto risco ambiental e cuja criança estava em risco segundo Teste de Denver, pertencia à classe socioeconômica D.

A visualização dos dados apresentados possibilita inferir a correlação existente entre nível socioeconômico, risco ambiental e risco para o desenvolvimento, sendo maior o risco ambiental e o risco para o desenvolvimento infantil quanto mais baixa for a classe social à qual a família pertence. Tais dados vão ao encontro dos resultados obtidos por Zamberlan e Biasoli-Alves (1997a) e Halpern et al (2000) com referência ao baixo grau de estimulação, envolvimento parental e prevalência de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor em ambientes físicos e sociais restritos.

Com base na análise gráfica e clínica dos Genogramas e na análise do discurso das entrevistas realizadas, levantaram-se informações sobre as características familiares que concorrem ou não para a adaptabilidade na transição para a parentalidade.

Quadro 12. Apresentação das subcategorias e elementos referentes à categoria

estrutura.

No quadro 12, visualizam-se os dados ESTRUTURAIS das famílias participantes, nos quais incluíram-se as características objetivas das famílias, tais como dados demográficos, tamanho das famílias, tipo de famílias, quem eram as famílias, condições especiais presentes em familiares, uso de álcool ou drogas ilícitas e background étnico e cultural dos participantes. Tais dados caracterizaram as famílias participantes.

Nos dados demográficos, incluíram-se os nomes, idades, posição na fratria, escolaridade, ocupação, tipo de moradia e datas importantes para as famílias, como nascimentos, falecimentos, casamentos e divórcio.

Em tamanho da família, incluíram-se os dados referentes à quantidade de pessoas consideradas como família pelos informantes e citadas no Genograma. No Genograma dessas famílias, foram inclusos de 13 a 51 integrantes. As famílias maiores foram as que apresentaram maior possibilidade de encontrar, dentro da própria família, uma rede de apoio durante a transição. Isso, segundo Dessen & Braz (2000), Cerveny & Berthoud (2002), Rapoport (2003) e Silva (2003), é fundamental para a adaptação às novas circunstâncias impostas pela transição para a parentalidade.

Categoria Subcategorias Elementos Dados demográficos Nomes Idades Escolaridade Ocupação Datas Moradia Tamanho da

família Número de membros nas famílias Tipo de família Nuclear

Extensa

Quem é a família

Gerações Membros adotivos Família ampliada Parentes por afinidade

Condições especiais

Baby-blues Depressão

Anóxia

Uso de álcool ou drogas

ESTRUTURA

Background étnico/cultural

Descendência Locais de Origem

O tipo de família apontou a família nuclear e a família extensa como as duas principais configurações presentes nas famílias participantes. Ressalta-se que não se incluiu a família monoparental nos critérios de seleção dos participantes. Em assim sendo, todas as famílias eram compostas ao menos por pai, mãe e criança. A família extensa configurou o tipo de família na qual os pais ainda se encontravam no período da adolescência ou no final dessa fase.

Em quem é a família, descreveram-se os membros considerados pelos informantes como parte da família e sua vinculação com a família nuclear. Nessas famílias, incluíram-se os membros adotivos, porém somente após ser feito o esclarecimento sobre a necessidade da inclusão. Possivelmente a necessidade de ser realizado esclarecimento sobre a utilização das relações no Genograma ocorreu tendo em vista a semelhança do Genograma com o heredograma, cuja finalidade é demonstrar a incidência das características genéticas e hereditárias nas famílias. Após esse esclarecimento, duas famílias que possuíam um membro adotivo na família o incluíram. Apenas uma família incluiu seus membros adotivos sem questionar anteriormente.

Os demais familiares sem consangüinidade, como, por exemplo, aqueles provenientes de casamentos e recasamentos também foram incluídos, assim como membros da terceira geração e, em seis famílias, também da quarta geração, como bisavós e tias-avós. O conhecimento das gerações anteriores e seus padrões relacionais podem se configurar como fator de proteção às famílias à medida que proporciona maior esclarecimento das transmissões multigeracionais dos padrões de relacionamento, mitos, crenças e valores que afetam as gerações seguintes. A esse respeito, Bronfenbrenner e Morris (1998) e Bowen (1991) se manifestam afirmando que quanto mais conhecidos maior a possibilidade de lidar com os mesmos e modificá-los.

As condições especiais que afetam os membros familiares formaram a quinta subcategoria da categoria estrutura. Constituem condições especiais as doenças físicas e mentais e deficiências físicas e mentais. Dentre as condições mencionadas, citam-se câncer, doenças cardíacas, problemas gastrointestinais, baby-blues, depressão, anóxia e uso de álcool ou drogas.

De acordo com Sameroff e Seifer (1983), Rutter (1987) e Lewis et al (1988), a presença de doenças tanto físicas como mentais configuraram-se como fatores de risco para o desenvolvimento da criança sempre que consideradas como possivelmente hereditárias. Considera-se como fator de risco para a adaptação à transição, tendo em vista o stress originário de estar doente ou de ter de conviver e/ou se responsabilizar por

alguém doente. As deficiências, segundo Bronfenbrenner & Morris (1998), constituem- se fator de risco tanto quando presentes nos atributos pessoais da criança quanto em seus cuidadores, pois cerceiam as possibilidades de ocorrência de processos proximais.

O uso de álcool ou drogas inclui os dados referentes à utilização excessiva de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas, tal como fora informado:

P5: E alguém aqui faz uso de álcool ou de drogas?

M: Não. O meu sogro antigamente ele era alcoólatra, mas isso já faz muito tempo, foi quando ele namorou com a minha sogra... Já faz muito tempo... e o meu vô Luis, ele também era alcoólatra... (Mãe – Família 0406M).

Em apenas uma família foi mencionada a utilização de bebidas alcoólicas e drogas (maconha) pelos pais da criança durante a gestação. Esta criança por sua vez, apresentou risco em seu desenvolvimento, o que vai ao encontro das afirmativas de Sameroff e Seifer (1983) e Lewis et al (1988) sobre a configuração do uso de álcool ou drogas, durante ou após a gestação, como risco para o desenvolvimento da criança.

A última subcategoria da categoria estrutura englobou o background étnico cultural das famílias e foi constituída pelos locais de origem dos membros familiares e descendência dos mesmos. Apesar de serem consideradas as influências destas características no desenvolvimento familiar e infantil, nesta pesquisa, não se discutiram as mesmas, tendo em vista a necessidade de modificar os dados para que não houvesse possibilidade de as famílias serem reconhecidas.

No Quadro 13, explicitam-se as características concernentes à DINÂMICA das famílias participantes deste estudo. Nesta categoria, abarcaram-se os aspectos que aludem aos padrões de relacionamento: nas famílias de origem dos casais, de cada cônjuge com sua respectiva família de origem, de cada cônjuge com a família de origem do parceiro e durante a formação do casal.

Na subcategoria relacionamento na família de origem, incluíram-se os padrões de relacionamento mantidos entre os membros das famílias de origem dos cônjuges. Os principais padrões de relação entre os avós e tios das crianças estudadas foram: aliança, superenvolvimento, conflito, relacionamento distante, triangulação, coalizão e relacionamento vulnerável.

Ressalta-se o conflito entre os pais dos cônjuges e triangulação com um dos filhos como os principais padrões relacionais que concorrem para a não-adaptação e desorganização à parentalidade, além de se constituírem um importante fator de risco. Recorre-se, aqui, aos apontamentos de Belsky e Russel (1985) sobre a influência do conflito e da triangulação no ajustamento conjugal dos filhos e o mecanismo de transmissão multigeracional proposto por Bowen (1991) a partir do qual os mesmos padrões tendem a ser repetidos nas gerações seguintes. Um exemplo de relacionamento conflituoso entre os cônjuges (avós do bebê) pode ser observado no relato de um dos pais participantes desta pesquisa:

PAI: Eles já andaram se estranhando, até pensei, teve uma época que eles iam se separar, mas agora tá bem (...) Acho que foi há uns 4 anos, já teve vários assim. O último feio mesmo, eu acho que foi há uns três anos atrás,

Quadro 13. Apresentação das subcategorias e elementos referentes à

categoria dinâmica.

Categoria Subcategorias Elementos

Relacionamento na família de origem Aliança Superenvolvimento Conflito Relacionamento distante Triangulação Coalizão Relacionamento vulnerável Relacionamento com a família de origem Aliança Relacionamento distante Superenvolvimento Conflito Triangulação Relacionamento com a família do cônjuge Relacionamento distante Relacionamento vulnerável Aliança Relacionamento harmônico Conflito DINÂMICA

que meu pai deu umas crises aí... Foi em 2002, eu até fui me meter e achei que ia sair no braço com ele... (Pai - Família 0906F).

O relacionamento com a família de origem trata das relações existentes entre cada cônjuge com sua família de origem. Os padrões de relação manifestados no Genograma foram: alianças, relacionamento distante, superenvolvimento, conflito e triangulação. Destes padrões, a aliança com a família de origem foi conotada pelos informantes de forma positiva como fator de proteção que concorre para a adaptação à fase de transição para a parentalidade, tendo em vista o apoio e auxílio prático que os avós e tios proporcionavam aos novos pais quando aliançados a eles.

O superenvolvimento com a família de origem teve conotação positiva quando possibilitou o auxílio da mesma aos pais. Contudo, apresentou-se, também, como um padrão de risco à medida que desviava a atenção do cônjuge da atual família nuclear para a família de origem e, desse modo, gerava conflitos no subsistema conjugal e parental, tal como no relato abaixo:

P: O Mário com a mãe?...

M: É... ai! (faz uma careta e olha para cima) Agarradíssimo. (...) Uhhh! Até em relação a mim eu acho que se fosse ter que pôr numa balança a mãe dele pesava muito mais. Isso desde o início foi assim.

P: E isso gera algum conflito aqui?

M: Gera. Gera bastante conflito. Em função dela e da família em si, né. P: Tu achas que repercute aqui (na família nuclear)?

M: Repercute, mas mais a relação dele com ela é que prejudica a minha relação com ele. A nossa família, nós três, a gente é prejudicado pela ligação muito forte que ele tem com a mãe dele. Parece um carma. (Mãe – Família 0406M).

O superenvolvimento de um dos cônjuges com a família de origem configurou- se como fator de risco também para o desenvolvimento da criança, conforme mostra Bowen (1991) quando afirma que, por meio do processo de projeção familiar, o nível de diferenciação é transmitido aos filhos, o que tolhe o desenvolvimento da autonomia dos mesmos. Da mesma forma se observaram os padrões de relação distante, conflito e triangulação como um fator de risco ao desenvolvimento da criança e à adaptação à parentalidade, principalmente pela possibilidade de repetição desses padrões na família nuclear.

No relacionamento com a família do cônjuge, ressaltaram-se os relacionamentos distante, vulnerável e harmônico, a aliança e o conflito como os principais padrões entre genros com sogros e cunhados e noras com sogros e cunhados.

Dos relacionamentos com a família do cônjuge, aponta-se o relacionamento harmônico como o padrão que mais favorece a adaptação à parentalidade, pois proporciona um ambiente rico em processos proximais geradores de competência, principalmente para os novos pais, sem, no entanto, haver interferências indevidas da família de origem do cônjuge, motivo pelo qual ocorrem muitos conflitos nessa fase de transição. Também se ressalta que, na presença desse padrão relacional, o papel de avós, tios e primos são mais facilmente incluídos, cumprindo-se, dessa forma, uma das tarefas dessa fase do ciclo vital familiar.

Além disso, pode-se perceber, no relato de uma das mães, que a relação harmônica do cônjuge com a família de origem do parceiro aumenta o grau de satisfação conjugal deste devido à possibilidade de auxilio e divisão dos problemas relacionados à fase do desenvolvimento que os atuais avós estão iniciando.

P: E como é o relacionamento do Nilton com teus pais?

M: Ah, é ótimo também, sempre ajuda bastante, e agora nessa fase que a mãe teve que ficar aqui, e não é fácil né... porque muda a rotina da gente... Ele foi sempre bem compreensivo, sempre deu bastante apoio, foi bem tranqüilo, com a gente não tem aquela de que sogra não presta, é bem legal, ele gosta bastante da mãe, gosta do pai. (Mãe – Família 0506F).

A satisfação conjugal, conforme apontamentos de Cox et al (1985), Cowan et al (1991), Lindhal et al (1997), Menezes (2001) e Dessen e Braz (2005) concorre para a adaptação e reorganização da família à parentalidade e para o sucesso da mesma nas demais fases de desenvolvimento familiar.

O padrão de relacionamento conflituoso do cônjuge com a família de origem do parceiro configurou-se, por sua vez, como fator de risco para o desenvolvimento da criança, da família e adaptação à transição à medida que gerou ou ampliou dificuldades relacionais do parceiro com seus próprios pais e irmãos e, por vezes, pode ter impedido o desenvolvimento de uma relação harmônica destes com o bebê, tal como se verifica no seguinte relato:

PAI: E com relação ao meu pai com a Joice, eles não se bicam, a Joice não topa muito com as idéias dele, e até o fato da gente estar meio afastado é por causa disso. A Joice já deixou bem claro o ponto de vista dela. (Pai – Família 0906M)

Na formação do casal, incluíram-se as informações a respeito do namoro e noivado e do casamento e união dos pais do bebê. Em namoro e noivado, ressaltaram-se

dados sobre o tempo de conhecimento dos cônjuges e o tempo de duração de cada uma dessas fases; o motivo que levou os cônjuges a se unirem, a saber, a economia e praticidade, a gravidez e a vontade de estar junto; o modo como essa união se deu, a partir da insistência de um dos cônjuges, da torcida, bem como do boicote das famílias de origem; e os acontecimentos que permearam essas fases, como conflitos, traição, medo que a família descobrisse o relacionamento, dúvidas, amadurecimento, divertimento e curtição.

Ressalta-se que as famílias que informaram que o tempo de namoro e noivado foi suficiente para o amadurecimento dos cônjuges, para dissipação das dúvidas e criação de um relacionamento harmônico, no qual havia espaço para o prazer e o divertimento, foram as que afirmaram estar mais adaptadas à parentalidade, tal como revelam as palavras da mãe da Família 0806M:

M: ...começamos a namorar (...) de lá pra cá a gente nunca brigou, só brigamos uma vez, de ficar sem se falar nunca (...) É, bem legal.

P: E aí sempre foi tranqüilo? (concorda com a cabeça) Depois que casaram mudou alguma coisa?

M: Não, eu só acho que ficou melhor; se eu soubesse teria casado antes e teria tido filho antes. (Mãe - Família 0806M)

Com respeito ao casamento e à união estável, foram mencionadas as diferenças no relacionamento durante as fases de namoro, noivado e casamento, o aumento das responsabilidades, a interferência das famílias de origem, o conflito advindo das diferenças entre os cônjuges, os ajustes conjugais e o prazer de estar junto.

As famílias que relataram ter consciência das diferenças entre os cônjuges e preocupação em ajustá-las demonstraram a existência de relações mais harmônicas do que aquelas que apenas se queixaram das diferenças e relataram os conflitos delas provenientes. A possibilidade de lidar com as diferenças procurando ajustá-las faz referência à maior facilidade de suportar as situações estressantes da parentalidade, ao passo que a dificuldade de conviver com as diferenças aponta para maior dificuldade de reorganização durante a parentalidade.

Verificou-se que as famílias que relataram interferência invasiva, tanto positiva quanto negativa, da família de origem de um dos cônjuges antes do casamento, foram as