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A história é uma metonímia

RESUMO RÁPIDO-

Capitães da Areia- romance de 37- foi escrito na primeira fase da carreira de Jorge Amado, e nota-se grandes preocupações sociais. Faz neste romance denúncia social que é vista como uma advertência : os meninos pobres do Brasil estão abandonados á própria sorte.

Jorge Amado, em Capitães da Areia tem como núcleo a cidade de Salvador, com seus tipos inesquecíveis, com seus heróis extraídos das classes menos favorecidas. O escritor dá destaque ao coletivo, procurando abarcar a história de uma comunidade, mais especificamente, a dos menores abandonados.O Foco Narrativo utilizado por ele é em 3ª pessoa, com o narrador se permitindo a onisciência, ou seja, narrando os fatos de fora, e ao mesmo tempo de dentro, quando penetra na interioridade de diferentes personagens.

É possível ler a obra dentro de duas vertentes temáticas: a primeira, confronto entre classe social que se antagonizam, levando a um desfecho mais ou menos previsível.O outro lado, temos os desprotegidos da sorte que se tornam senhor de um espaço vazio, a areia a que deu assim

o título metafórico: os menores são capitães da terra devoluta,em que se ergue um trapiche abandonado. O romance inicia-se com a descrição do trapiche, quase derruído, que servirá de contraste a construções suntuosas dentro do espaço da cidade propriamente dito, como é o caso da sede do Arcebispado, ou ainda casas em que moram os burgueses.

Jorge Amado- “Baiano, romântico

e sensual”, É um regionalista cujo

estilo despojado e coloquial trouxe para os livros que escreveu os tipos peculiares da Bahia, os coronéis da época do cacau, prostitutas, meninos abandonados de rua, bêbados inveterados, marinheiros, marginais e pescadores, dentre outros. Há em Jorge Amado muita descrição e tessitura narrativa, a sensualidade das cores e de ações.

Jorge Amado narra histórias inesquecíveis, como Capitães da Areia, na qual aborda temas extremamente importantes como a infância abandonada e meninos que se criam nas ruas á mercê de sua própria sorte.

O Trapiche- lugar onde os meninos infratores se amontoam para dormir e fugir da polícia.é uma metonímia do que hoje acontece nas grandes cidades brasileiras- casarões abandonados e debaixo dos viadutos, nas praças, desestabilizando a sociedade em que se inserem longe dos alcances das autoridades, e quando recolhidos sob a tutela do Estado, esquecidos nas casa que abrigam menores.

As autoridades e o clero são sempre retratados como opressores (Padre José Pedro é uma exceção, mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis e responsáveis pelos males. Os Capitães da Areia são tachados como heróis no estilo Robin Hood.

Não importa que linguagem falem, as autoridades é preciso olhar por eles, ensinar-lhes a existência e a alegria de viver, dar-lhes escolas, ampliando- lhes os horizontes futuros.

Nesse sentido o trapiche abandonado é um microcosmo povoado de criaturas tão diversas: reunidos ali,á margem de todo reconhecimento humano, há gente que guarda histórias, sofrimentos e que antes de mais nada acredita que a liberdade deve ser defendida a qualquer custo. Pedro Bala é o protagonista- filho de um grevista, atingido e morto por uma bala. Não fora abandonado, o pai morrera em torno de um ideal e ele descobre que a mãe , que era da cidade alta, de origem rica, tinha morrido seis meses antes do pai.Os outros personagens são coadjuvantes.- simbólicos- metonímia.

OBJETIVO DO ESCRITOR

Romance de denúncia- um alerta- um indício de que era preciso cuidar das crianças do Brasil, que havia meninos abandonados, a própria sorte, que não existia trapiche, só na Bahia- Salvador, mas também em outras

cidades havia Pedros,

Professores,Joões, Doras- criaturas do mundo e suas dificuldades.

O romance supervaloriza a humanidade das crianças e ironiza a ganância e o egoísmo das classes dominantes.

Ainda no final do romance encontramos os destinos marginalizados de alguns e a sorte de outros, tais como: Sem Perna se mata antes de ser capturado pela polícia, Gato- torna-se malandro de verdade; Volta Seca torna-se cangaceiro, mata mais de 60 soldados e ao se entregar se suicida. Professor vai para o Rio de Janeiro ser pintor; Pirulito vira frade; Padre José Pedro consegue sua paróquia; João Grande se torna marinheiro; Querido de Deus um grande capoeirista, mas não perde as traquinas de malandro. Dora, personagem do bando que trouxe carinho feminino (papel de mãe e irmã para alguns),ama Pedro Bala e graças a ela que sua vida muda totalmente, pois ao descobrir o amor, que não é só violência, e sim uma entrega afetiva ao próximo) Dora morre com muita febre depois de se entregar a Pedro Bala, que se lembrará dela como uma estrela- momento poético do romance.

Pedro Bala cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, deixa de ser líder do bando e passa a ser líder revolucionário comunista.Na época o comunismo é considerado algo bom.

Tempo - A obra apresenta tempo

meses, anos e horas

Foco Narrativo

A obra Capitães da Areia é

narrada na terceira

pessoa,onisciente- sendo o autor,

Jorge Amado, também narrador expectador. Ele se comporta, durante todo o desenvolvimento do tema, de maneira indiferente, criando e narrando os acontecimentos sem se envolver diretamente com eles. Capta a intensidade dramática daqueles que habitam o trapiche. A obra Capitães é poética, pois há transbordamento pela descrição.Descreve com muita luz, som e cor cada acontecimento, cada aspecto de viver dos meninos.

Espaço-

Espaço aberto- cidade onde os

meninos estão em todas as partes- conhecem todos os becos , ruas, morros:

Espaço Fechado- o trapiche- armazém abandonado próximo ao cais.( hoje o Museu da Arte Moderna

em Salvador)

As recorrências temáticas-

Romance típico da literatura urbana- interesse de mostrar o conjunto, a comunidade, o coletivo. Pedro Bala é só um herói- menino. Ele crescerá, tomará vulto e lidará grevista, assim como o pai. O mais gritante é o confronto entre as classes sociais: meninos infratores de um lado e os poderosos de outro (Polícia, Reformatório,Orfanato, Igreja Católica convencional)

A Estrutura do romance-

O livro é dividido em três partes.

Antes delas o Prefácio “Cartas Á

Redação”- A primeira parte em si,

"Sob a lua, num velho trapiche abandonado" conta algumas histórias quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da Areia (o grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas tinha líderes).

O apogeu da primeira parte é dividido em quando os meninos se envolvem com um carrossel mambembe que chegou à cidade, e exercendo sua meninez; e quando a varíola ataca a cidade, matando um deles, mesmo com Padre José Pedro tentando ajudá- los e se indo contra a lei por isso. Ainda,

A aventura de Ogun- Mãe de santo procura os meninos para pedir ajuda que em uma batida da polícia em seu terreiro, os policiais levaram seu santo do altar. Pedro Bala dá um jeito de armar um assalto e ir até a delegacia, é obrigado a ir à sala de detenção e lá coloca o santo debaixo da camisa e o devolve a mãe de santo. Encontramos outra parte Deus sorri como um negrinho- Pirulito fora a grande conquista de Padre José Pedro. Quando Bala assumiu os meninos acabou com o sexualismo entre eles, não porque condenasse, mas segundo o padre aquilo era coisa indigna num homem.Pirulito desde que ouvira falar de Deus não praticara mais a violência, nem brigas, mas um dia roubou uma imagem do menino Jesus e a Virgem Maria e correu para o trapiche com Ele encostado ao peito, tal como tinha feito João Grande quando o encontrara na rua e o levava para o armazém..Sua morrera de ataque fulminante no meio da rua e ele com apenas uns meses é levado por João Grande e o D Aninha cuidou dele.

Em Família- Sem Pernas simula ser pobre órfão e entra na casa de Dr Raul e D. Ester que perderam o filho único,Augusto, que morrera bem pequeno.Acolhe-o como um filho, levam-no ao cinema, tomam sorvete.Pela 1ª vez tem sensação de família.Dr. Raul viajou e os capitães entram na casa e fazem um rapa.Ele não quis o resultado do furto e chora....

Ainda, outro fato importante é Alastrina, que é o mesmo que varíola (bexiga negra). O 1º a pegar varíola foi Almiro.Sem Pernas desesperado manda-o embora para que não pegasse nos demais.Resolve entregar Almiro á mãe, uma pobre lavadeira amigada com um agricultor.Almiro morre no lazareto(estabelecimento para controle sanitário).

A segunda parte, "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos", surge uma história de amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da Areia", e mesmo que inicialmente os garotos tentem tomá- la á força, ela se torna como mãe e irmã para todos.

Filha do bexiguento- Estevão e Margarida morrem no lazareto de recaída do alastrim. Deixa dois órfãos: Dora de 13 para 14 anos e Zé Fuinha com seis anos. Perambulavam pela cidade e foram achados por João Grande e pelo Professor e levados para o trapiche.

Dora, mãe- Dora se integra ao grupo e passa a exerce as funções de mãe dos meninos.Professor e Pedro Bala se apaixonam Dora e ela se apaixona por Pedro Bala.

Dora, irmã e noiva-Veste calças compridas e se junta ao bando e começa a mostrar serviço.Professor a olhava sempr4e com olhos doces.

Reformatório—durante um assalto a uma casa a polícia prende Pedro,Dora e João Grande,Sem Pernas e Gato e estes não revelam nada sobre o bando. Pedro Bala foi levado ao Reformatório e Dora para o orfanato.Sem Pernas assume o bando até Pedro voltar.Sem Pernas manda uma corda a Pedro e este foge do reformatório.

Orfanato- Dora ficou um mês no orfanato.Professor, João Grande Gato e Pedro buscam-na e ela ainda está com febre.

Noite de grande Paz- Don Aninha faz uma prece para a febre desaparecer,mas não adianta. Ela é olhada por todos como mãe , irmã, noiva e amada pelo Professor.

Dora, esposa –A febre continua.Dora diz a Pedro Bala que menstruou no orfanato e agora pode ser dele.Eles se amam pela primeira vez na praia e ela morre, marcando o começo do fim para os principais membros do grupo. A terceira parte "Canção da Bahia, Canção da Liberdade"-

Vocações- Professor olha o trapiche como uma moldura sem quadro. vai nos mostrando a desintegração dos líderes.O destino de cada um, como já foi comentado acima Tudo estava vazio.Professor se despede para estudar no Rio.Promete que um dia irá retratar a vida dos meninos: as desigualdades sociais,as barbaridades que fazem contra a pobreza.Pirulito parou de furtar e foi vender jornais e carregar bagagens de viajantes. O Padre José Pedro é chamado pelo arcebispo e ganha sua paróquia e traz Pirulito para estudar.Mais tarde será o Irmão Francisco da Sagrada Família.

Canção de amor da Vitalina – Havia na cidade uma solteirona, Joana, rica, feia e nervosa.Tinha 45 anos.Sem Pernas se aproxima dela e diz que é órfão.Ela necessitada de sexo quer brincar um pouco com o menino, mas não cede a ele.Ele com raiva rouba- lhe as jóias e cai fora.Mas mal sabe ela que Sem Pernas a desejou de verdade.

Como um trapezista de circo- Pedro Bala, João Grande e Barandão disparam numa corrida e se livram da prisão, no assalto a casa Rui Barbosa.Mas o Sem Pernas corre de um lado para outro , desesperado e se joga de costas no espaço do elevador, como se fosse um trapezista de circo. Terminava assim a vida de quem escolheu a liberdade á prisão .Neste momento, o narrador entra na intimidade da personagem e capta seus pensamentos mais intensos “...nuca fora amado pelo que era, menino abandonado, aleijado e triste .Os ataques ressoam como clarins de guerra- Acontece uma greve e quando termina o estudante Alberto continua a freqüentar o trapiche .Gato reaparece bem vestido.Dalva ficou em Ilhéus amigada com um coronel.Pedro Bala passa o comando para Barandão e vai cumprir o destino que seu pai deixou pela metade.

Uma pátria e uma família-Pedro Bala, militante,político,proletário está sendo perseguido pela polícia de cinco estados como organizador de greve, dirigente de partidos dos ilegais e perigoso inimigo da ordem estabelecida. Ao ser preso e levado para uma colônia, recebia dos lares pobres o apoio para continuar a luta. Entre as variedades de preconceito enumeradas a seguir, aponte aquelas que o grupo dos “capitães da areia”

(do romance homônimo) rejeita e aquelas que acata e reforça: Preconceito de raça e cor; De religião;

De gênero (homem e mulher); De orientação sexual.

Personagens Personagens:

Pedro Bala: Negro, mais alto e mais forte do bando. Cabelo crespo e baixo, músculos rígidos, tem 13 anos. Dora: Morreu de uma febre muito forte, depois de se tornar esposa de Pedro Bala*. Morreu como uma santa, pois havia sido boa. *Para ele, virara

uma estrela.

Sem-Pernas: Morrera, jogando-se de um penhasco (elevador), depois de muito correr fugindo da polícia após um roubo. Ele preferira morrer a se entregar.

Professor: Com seu dom de pintar, fora ao "Rio de Janeiro" tentar sucesso. Lá com os quadros dos Capitães da Areia ficou famoso. Boa-Vida: Era mais um malandro da cidade, que fazia sambas e cantava pelas ruas, nas calçadas, nos bares, a "vagabundar".

Querido-de-Deus: Ensinava os meninos a lutar capoeira. Todos no trapiche o admiravam. Era pescador. Dalva: Era uma mulher de uns trinta e cinco anos, o corpo forte, rosto cheio de sensualidade. Gato a desejou imediatamente.

Pirulito: Garoto magro e muito alto, olhos encovados e fundos. Tinha

Hábito de rezar.

Volta-Seca: Mulato sertanejo. Viera da caatinga. Tinha como ídolo o cangaceiro Lampião.era afilhado deste.

O Gato: Candidato a malandro do bando, era elegante, gostava de se vestir bem. Tinha um caso com a prostituta, Dalva, que lhe dava dinheiro, por isso, muitas vezes, não dormia no trapiche.

João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era

igualmente temido e amado em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala

soube de seu pai.

5-

- D.Casmurro,de Machado de Assis

-INTRODUÇÃO

Maior escritor brasileiro de todos os tempos, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) era um mestiço de origem humílima, filho de um mulato e de uma lavadeira portuguesa dos Açores. Moleque de morro, magro, franzino e doentio, o maior escritor brasileiro se fez sozinho, adquirindo a sua vasta e espantosa cultura de forma inteiramente autodidata.

Ao estudar a obra de Machado de Assis, a crítica divide-a em duas fases bem distintas cujo marco deliminatório é o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas publicado em 1881. Até essa data, a obra machadiana é marcante romântica, e nela sobressai poesia, conto e romances como Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Tais obras pertencem, pois, à chamada primeira fase.

A partir de 1881, com a publicação das Memórias, Machado de Assis muda de tal forma que Lúcia Miguel Pereira, biógrafa e estudiosa do escritor, chega a afirmar que "tal obra não poderia ter saído de tal homem", pois, "Machado de Assis liberou o demônio interior e começa uma nova aventura": a análise de caracteres, numa verdadeira dissecação da alma humana. É a Segunda fase, fase perpassada dos ingredientes do estilo realista.

Além de contos, poesia, teatro e crítica, integram essa fase os romances seguintes, entre os quais está o nosso Dom Casmurro (1900): Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), seu último livro, pois morre nesse mesmo ano. Toda essa obra está ligada ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um escritor da categoria ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um escritor da categoria de Machado de Assis não pode ficar preso às delimitações de um estilo de época.

Construído em flash-back, o protagonista masculino (Dom Casmurro), já cinqüentão e solitário, tenta "atar as duas pontas da vida" (infância e velhice), contando a história de sua vida ao lado de Capitu, a qual acaba tomando conta do romance, dada a sua força e o seu mistério.

ENREDO DE DOM CASMURRO

Dom Casmurro foi publicado em 1900 e é um dos romances mais conhecidos de Machado. Narra em primeira pessoa à estória de Bentinho que, por

circunstâncias várias, vai se fechando em si mesmo e passa a ser conhecido como Dom Casmurro. Sua estória é a seguinte:

Órfão de pai, criado com desvelo pela mãe (D. Glória), protegido do mundo pelo círculo doméstico e familiar (tia Justina, tio Cosme, José Dias), Bentinho é destinado à vida sacerdotal, em cumprimento a uma antiga promessa de sua mãe. A vida do seminário, no entanto, não o atrai, já o namoro com Capitu, filha dos vizinhos. Apesar de comprometido pela promessa, também D. Glória sofre com a idéia de separar-se do filho único, interno no seminário. Por expediente de José Dias, o agregado da família, Bentinho abandona o seminário e, em seu lugar, ordena-se um escravo.

Correm os anos e com eles o amor de Bentinho e Capitu. Entre o namoro e o casamento, Bentinho se forma em Direito e estreita a sua amizade com um ex- colega de seminário, Escobar, que acaba se casando com Sancha, amiga de Capitu. Do casamento de Bentinho e Capitu nasce Ezequiel. Escobar morre e, durante seu enterro, Bentinho julga estranha a forma qual Capitu contempla o cadáver. A partir daí, os ciúmes vão aumentando e precipita-se a crise. Á medida que cresce, Ezequiel se torna cada vez mais parecido com Escobar. Bentinho muito ciumento chega a planejar o assassinato da esposa e do filho, seguido pelo seu suicídio, mas não tem coragem. A tragédia dilui-se na separação do casal. Capitu viaja com o filho para a Europa onde morre anos depois. Ezequiel, já mocó, volta ao Brasil para visitar o pai, que apenas constata a semelhança entre e antigo colega de seminário. Ezequiel volta a viajar e morre no estrangeiro. Bentinho, cada vez mais fechado em usas dúvidas, passa a ser chamado de casmurro pelos amigos e vizinhos e põe-se a escrever de sua vida (o romance).

ORGANIZAÇÃO / ESTRUTURA

1) Dom Casmurro é narrado em primeira pessoa pelo protagonista masculino que dá nome ao romance, já velho e solitário, desiludido e amargurado pela casmurrice, conforme lhe está no apelido.Conta que desgostou um rapaz de seu bairro ao dormir no trem da Central,durante a leitura que o moço fazia de uns versos de sua autoria. Aborrecido, o moço vingou-se, colocando-lhe o apelido de Dom Casmurro (teimoso, implicante, cabeçudo). A vizinhança que não gostava dos modos reclusos do narrador, fez com que o apelido pegasse.

2) O romance é construído a partir de um flash-back, por um cinqüentão solitário e casmurro,que faz dramatização ao narrar"à la recherche de temps perdu" ("à procura do tempo perdido"), o qual procura "atar as duas pontas da vida" ( infância e velhice). Perpassa, pois, no romance uma atmosfera memorialista, dando a impressão de autobiografia, a qual, com o se sabe, não tem nada a ver com Machado de Assis. É considerada uma pseudo-autobiografia, pois é a história de um narrador-personagem, reconstruindo sua vida. É fictício, pois o vemos narrando. Observando os capítulos iniciais, vemos que os mesmos são metalingüísticos, pois o primeiro, explica o título, o segundo, explica o porquê do livro, que é a reconstrução da casa de Matacavalos, mas não consegue reconstruí-la, pois faltam as pessoas, falta ele criança. Dessa forma, tentativa frustrada de recompor o passado. Decide, então, escrever o livro, pelo mesmo motivo, recuperar o tempo perdido

3) O romance se compõe de 148 capítulos curtos, com títulos bem precisos, que refletem o seu conteúdo. A narrativa vai lenta até o capítulo XCVII, a partir do qual se acelera como declara o próprio narrador, ao dar-se conta da sua

lentidão: "Agora não há mais que levá-la a grandes pernadas, capítulo sobre capítulo, pouca emenda, pouca reflexão, tudo em resumo. Já esta página vale por meses, outras valerão por anos, e assim chegares ao final" (Cap. XCVII).

4) Assim, pois, até o capítulo XCVII, quando o narrador sai do seminário, "com pouco mais de dezessete anos", focaliza-se, em câmera lenta, a infância e a adolescência, dada necessidade do narrador traçar o perfil dos protagonistas da estória (Bentinho e Capitu), revelando, desde as entranhas, o caráter e as tendências de cada um: afinal, o adulto sempre se assenta no pilar da infância,

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