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1- O Cortiço-Aluísio de Azevedo Profª Sônia Targa

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OBRAS OBRIGATÓRIAS- FAMEMA-2011-2012- Profª SÔNIA

♦ Antologia poética - Vinicius de Moraes

♦ Capitães de Areia - Jorge Amado ♦ Dom Casmurro - Machado de Assis ♦ O cortiço - Aluísio de Azevedo ♦ Vidas secas - Graciliano Ramos

1- O Cortiço-Aluísio de Azevedo

Profª Sônia Targa

ANÁLISE DETALHADA

Neste livro, já não é mais a estória dos personagens que interessa tanto. Mais do que ela, salienta-se rivalidade entre o espaço de João Romão e do comendador Miranda, a simbolizarem todo um processo de transformação econômica em momento de expansão urbana.

João Romão, um ganancioso comerciante de origem portuguesa, possui uma pedreira, uma taverna e um terreno razoável, onde constrói casinholas de baixo custo para alugar. Secundando-o nas tarefas e com ele repartindo a cama, a figura da negra Bertoleza ex-escrava forte e também ambiciosa, supostamente alforriada.

A poucos metros da venda, havia um sobrado que veio a ser ocupado por Miranda, Estela e Zulmira, uma família economicamente segura, cujo chefe vendia pano por atacado.

A proximidade do cortiço incomodava Miranda que, por sua vez incomodava João Romão com seu ar de fidalguia e seu título de comendador.

A contratação de Jerônimo , um operário português ,para o trabalho na pedreira altera um pouco a competição do cortiço,para onde ele se muda em companhia da mulher, a Piedade e a filha Senhorinha.Essa alteração ganha intensidade, sobretudo a partir do momento em que nasce o interesse amoroso entre o operário e Rita Baiana ,beleza máxima daquele agrupamento.

Rita ,no entanto tinha compromisso com Firmo,mulato garboso e gabola, capoerista hábil ,morador de um cortiço vizinho, o “Cabeça de Gato”. No primeiro enfrentamento ,Firmo leva a melhor , e atinge Jerônimo com uma navalha.

Enquanto isso , Botelho, um agregado em casa de Miranda ,começa a estimular o interesse de João Romão por Zulmira ,a filha do atacadista de panos. Nesse projeto, evidentemente ,inclui-se um plano para dispensar Bertoleza.

A essa altura Rita e Jerônimo já vivem juntos , e a preocupação deste é vingar-se da navalhada que o atingira e , se possível eliminar seu rival de vez. Através de uma combinação prévia ,dois tipos escusos atraem Firmo para uma cilada e Jerônimo assassina-o a pauladas.

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Em conseqüência dessa morte , os”Cabeça-de-Gato” atacam os “ carapicus” do cortiço de João Romão e a luta só se interrompe por causa de um incêndio provocado( pela bruxa, a lavadeira Paula).

Na verdade.desse fogo arrasador renasce um cortiço novo e mais “próspero”. O fogo ajudara, indiretamente, os planos de João Romão que , agora já vinha mantendo boas relações com a família de Miranda .Só restava o empecilho de Bertoleza.Mas o providencial Botelho descobrira o dono daquela escrava , cujo dinheiro da alforria ,tão duramente economizado ,fora embolsado por João Romão.

Diante da ameaça de retorno ao cativeiro,Bertoleza estripa-se ,enquanto João Romão recebe um prêmio como amigo da Sociedade Abolicionista.

Vamos lá...

ESTRUTURA DA OBRA

A obra apresenta 23 capítulos não intitulados e não muito curtos.Presença constante de diálogos.

Foco Narrativo

Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional, por vezes no cortiço de João Romão, outras no sobrado de Miranda.Como o narrador exerce a onisciência, por vezes sua fala se confunde com a dos personagens,

principalmente com João Romão, por meio do discurso indireto livre

. Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das personagens.

ESPAÇO-

A narrativa transcorre em alguns bairros do Rio de Janeiro, mas seu foco de atenção se atém ao cortiço de João Romão, situado em Botafogo.

O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: "Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras ...o prazer animal de existir,... E naquela terra, ...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco."

TEMPO

A narrativa apresenta tempo cronológico, bem marcado, co inúmeras situações de horas, dias da semana etc...Porém em alguns capítulos o narrador conta em flashback acontecimentos passados, que orientam a narrativa. Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é o marco da literatura realista-naturalista brasileira. Uma história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo Império (período em que as estalagens coletivas proliferavam) que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a "gentalha", caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se entrelaçam e repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se

desenvolve e se transforma com João Romão.

O SEXO

O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de "patologia" sexual:

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"acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.

Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão (que é bastante inferior), a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio; interrogou lavadeiras, sapoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente, segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em tomo de um problema social que se tomava mais e mais grave, com a formação de grandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país.

O VISUAL

Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de representação

visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (Aluísio exerceu, em certa época, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou irando-se — e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas e

aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de sujeito, são as

que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha.

Veja exemplos de descrição realista e objetiva dos tipos humanos na obra:

PERSONAGENS

As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser vistas

preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir.

O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito

à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios nas pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de

homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa

para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.

João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para

a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas.

...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha.

Miranda- português, 35 anos, negociante de tecidos. Muda-se para um sobrado, ao lado do cortiço de J. Romão.Casa-se por interesRomão.Casa-se com Estela, que não o ama, Romão.Casa-sente-Romão.Casa-se humilhado e aos poucos irá invejar J. Romão que ascendeu sozinho, sem precisar se casar por conveniência

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Estela- esposa de Miranda, pretensiosa e com fumaças de nobreza.

Zulmira- suposta filha de Miranda e Estela- tinha de 12 para 13 anos, pálida, com pequeninas manchas roxas nas

narinas.- sardas pelo rosto- unhas moles e curtas, olhos grandes, vivos e maliciosos.

Bertoleza- quitandeira,, escrava que enganada por J. Romão crê que está alforriada.Trabalhadeira, humilde e servil Piedade- esposa de Jerônimo, não se adapta aos costumes do cortiço mantém seus hábitos portugueses, tanto na alimentação como em não tomar banho todos os dias.Abandonada pelo marido, vai se degradando até ser expulsa do cortiço.

Jerônimo-português de uns 35 a 40 anos,, alto, barba áspera,cabelos pretos e maltratados caindo-lhe sobre a testa, pescoço de touro e e cara de Hércules.,olhos que exprimiam bondade. A princípio mostra-se trabalhador, bom marido, bom pai. Ao se apaixonar por Rita Baiana passa por uma degradação muito grande-( chamamos abrasileiramento).No final da narrativa busca sua mulher e filha e abandona o cortiço, na esperança de voltar a ser o que era.

Rita Baiana- mulata muito sensual, amiga de todos no cortiço.”E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas.” Mulher independente, causadora da transformação de Jerônimo que fica fascinado por ela. Tudo começa quando ela lhe oferece um café.

Firmo- capoeirista, amante de Rita Baiana.Teria seus trinta e poucos anos,mas não parecia ter vinte e poucos.Pernas e braços finos, pescoço estreito,porém forte; não tinha músculos, tinha nervos.Não tinha barba, e sim um bigodinho crespo, petulante onde reluzia à brilhantina de barbeiro; grande cabeleira encaracolada, negra e bem negra, dividida ao meio na cabeça, estufando debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda derreado sobre a orelha esquerda.

João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o crítico literário

Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra "não se isolam em planos equidistantes. Ao contrário, o que existe [...] é um estado de permanente tensão e mútua agressão". Afirma, em outra ocasião, que dessas lutas ninguém sairá vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se tornam entrelaçados similarmente aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes, porém iguais sob olhar mais minucioso. Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D.Estela são, sob todas as óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação de complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e Miranda. Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro almeja os contatos, a nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor para dar andamento à história.

Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais claramente o princípio

naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo, são como Romão e Miranda, complementos um do outro. Um era "a força tranqüila ,o pulso de chumbo, em constante tensão com a força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no

sobressalto do primeiro instante". Mas, nas palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum deles pode fugir ao que lhes está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como tentativa de se tornar Firmo antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a beleza, os encantos da terra, a vida feliz do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou menos de acordo como suas características pessoais, notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos a conformação, a inércia. Com a morte de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do que era no passado, que a bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão sempre a sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza

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inevitável e irreversível.

Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das

filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida honesta não conseguem alcançar. Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D.Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não se havia tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para seguir num relacionamento homossexual com Léonie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade de Pombinha, fazendo com que ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de

acontecimentos que passam a independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento intelectual maior que a maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas de sexo e ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não conseguiu se adaptar à falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a comercialização do sexo

protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo pelos moradores do Cortiço enquanto esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se tornam mais senhoras de si através do desejo alheio. Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.

Alguns personagens secundários, usados por Azevedo principalmente como objetos de estudo da temática determinista:

As LAVADEIRAS- Leandra( a machona), Augusta Carne-Mole ( esposa de Alexandre, mãe de Juju),Leocádia ( esposa

de bruno), Paula ( a bruxa), Marciana e sua filha Florinda,D. Isabel ( mãe de Pombinha)

- Henrique: filho de um fazendeiro importante que se encontra aos cuidados de Miranda até o fim de seus estudos.

Cultivará um caso com D.Estela.

- Valentim: filho alforriado de uma escrava por quem D. Estela nutria afeição ilimitada. - Leonor: negrinha virgem, moradora do cortiço.

- Leandra (Machona): portuguesa feroz, habitante do cortiço. - Ana das Dores: filha desquitada de Machona.

- Neném: filha virgem de Machona, muito cobiçada.

- Agostinho: filho caçula de Machona que morre num acidente da pedreira.

- Augusta Carne-Mole: brasileira branca, honesta, casada com Alexandre e com muitos filhos. - Alexandre: mulato, militar, dava muito valor ao seu emprego.

- Juju: afilhada de Leónie.,

- Leocádia: portuguesa, esposa de Bruno, comete adultério com Henrique. - Bruno: ferreiro casado com Leocádia.

- Paula (a Bruxa): cabocla velha que exercia função de curandeira. Põe fogo no cortiço duas vezes após enlouquecer,

morrendo na segunda tentativa.

- Marciana: mulata velha, com mania de limpeza, mãe de Florinda, que perde o juízo quando a filha foge de casa. - Florinda: filha virgem de Marciana, que engravida de um dos vendeiros de Romão e foge de casa.

- Dona Isabel: mãe de Pombinha. Seu maior sonho é ver a filha casada.

- Albino: Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo cozido e com

um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole e fino.- lavadeiro homossexual, morador do cortiço.

- Delporto, Pompeo, Francesco e Andrea: imigrantes italianos que residiam no cortiço. Azevedo foi um dos primeiros

a caracterizar literariamente a figura do imigrante italiano no Brasil, mesmo que de forma preconceituosa, retratando-os como carcamanretratando-os imundretratando-os.

- Porfiro: mulato capoeira amigo de Firmo.

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escondida, da qual Romão irá se apoderar depois da morte de Libório no segundo incêndio provocado por Bruxa.

- Pataca: cúmplice de Jerônimo no assassinato de Firmo, torna-se um dos aproveitadores de Piedade depois que

Jerônimo vai morar com Rita.

Botelho: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro como escova,

barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-lhe ainda todos os dentes mas, tão gastos, que pareciam 1imados até ao meio. (...) Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina.

Pombinha- considerada “ a flor do cortiço”, bonita, loira,muito pálida, modos finos e educados, recebeu instrução até

em francês.Depois de violentada por Léonie, casa-se ,mas insatisfeita, separa-se e, juntamente com Léonie, dominam o meretrício da região.

João da Costa- noivo e depois marido de Pombinha- Traído pela mulher, depois a abandona.

Léonie- cocote de procedência francesa.Prostituta e lésbica era muito querida por todos no cortiço. Gosta de

Pombinha e a força numa experiência homossexual.Ao final ambas dominam o meretrício.

Enredo

O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro, o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico, mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade).

A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, para de pagar a escola da filha e matar o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos.

A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pão-duro comerciante português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este consegue se aliar a uma negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda. Para agradá-la, falsifica uma carta de alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza, começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar pequenas casas, o que leva a edificação de um grande cortiço: a "Estalagem São Romão." Logo se ergueriam novas pendências, como a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus artigos de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho.

Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre eles o negro Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de portugueses), e a sensual Rita Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num desses encontros feitos de música e gritos, Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta briga, e Firmo fere o jovem português com uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital.

Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de "Cabeça-de-gato" pelos moradores do cortiço de João Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de "Carapicus", o que já indica a competição e a rincha entre eles. Enquanto isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora morador do cortiço rival. Enquanto o jovem português larga a mulher para viver com Rita Baiana, o pessoal do "Cabeça-de-gato" entra em guerra com os moradores do cortiço de João Romão para vingar a morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e destrói grande parte do cortiço do velho comerciante português.

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João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção de freqüentar rodas mais finas e elegantes e se casar com uma moça de boa educação. O verdadeiro intento do esperto comerciante é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só resta agora se livrar do incômodo de sua companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu esconderijo. Estes não demoram a aparecer no cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a traição, suicida-se com a mesma faca de limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João Romão e os clientes do seu armazém.

A homossexualidade retratada em O Cortiço

No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade é tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos marginalizados.

O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor denunciativo, rompimento com o romance convencional.

Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do ficcional o factual, como, por exemplo, a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie configura-se como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos

deterministas do cientificismo/ evolucionismo.Os furtos, estupros, homicídios ocorrem sem justificativa.

Léonie - Nos dias atuais poderíamos definir Léonie, como uma mulher forte, autêntica, a frente do seu tempo. Mais

por se tratar de um romance naturalista há controvérsia, já que no naturalismo Léonie seria definida como mulher pervertida, impura, aquela que tem que ser banida, pois é um "mal" que assola a sociedade e pode contaminar os que conviverem com ela.

A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se:

(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro. (AZEVEDO, 2009, p.105).

Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a constantemente:

O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda (...). (pag.108) Leónie entregou á Pombinha uma medalha de prata (...). (pag.109)

(...) tomou a mão de Pombinha e meteu-lhe um anel cercado de pérolas. (pag.139) Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda.

-Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...Estou louca por ti!(p.135)

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No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso sedutor:

Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. (p.137).

Pombinha - Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereótipo de fraca, nervosa, doente, enfermiça,

doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada.

A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dá em consequência de um estupro.Pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa, desigual, desumana. A moral cristã do naturalismo aniquila com os padrões qualquer possibilidade do "patólogico", defeituoso, se dar bem.

A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete suicídio. Talvez essa figura do pai é substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que conta muito segundo os estudiosos para a formação da personalidade de Pombinha.

Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha toma Léonie como espelho, modelo de vida a ser seguido.

Observemos à afilhada, antes da relação homoérotica:

"A folha era a flor do cortiço (...)". (p.37)

"As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo umaflor(...)orçando pelos dezoito anos, não tinha pago a natureza o cruento tributo da puberdade". (p.38).

Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando menstruou , todos ficaram sabendo, houve comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e um pássaro pudesse finalmente voar.

"E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e de um instinto temor (...)" (p.135)

A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua sagacidade, conquistava todos os homens.

Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie.

"A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina desamparada, que se fazia mulher" (p.236)

Você que vai prestar FUVEST-UNICAMP-FAMEMA- veja estas questões, resolva-as e, se quiser, traga para a professora olhar.

1. Caracterize o narrador em personagem ou observador-onisciente. Justifique com passagens do texto. 2. De que forma resume o narrador, no capítulo I, A RIVALIDADE ENTRE João Romão e Miranda? 3. Quem foi Bertoleza, descrita no capítulo I ? Relacione: João Romão > venda > cortiço >pedreira

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Como se apresenta , o casal Miranda e D. Estela? Sobrado > Miranda > Estela

4. Uma reflexão feita por Miranda, no cap. II,dá bem a medida do interesse crítico de Aluísio de Azevedo pelo

imigrante português.Localize a passagem e transcreva-a.

5. O cap. III inicia-se por uma longa descrição do amanhecer no cortiço. Redija um texto semelhante acerca de

outro tema , por exemplo, uma multidão aglomerada na porta de um estádio de futebol ou a entrada solene da noiva em casamento de gala.Observe que é indispensável, num quadro assim a ordem dos detalhes colhidos.Caracterize as lavadeiras - perspectiva naturalista: busque exemplos.

6. Durante todo o romance , Aluísio de Azevedo opõe o mundo dos brasileiros ao mundo dos portugueses, descrevendo-lhes os hábitos , as crenças, os gostos, etc,,,No capítulo VII, a polaridade inclui também a música pela contraposição da dolência do fado à sensualidade do samba .Comente o trecho em que essa cena acontece.

7. Quem era o suposto dono do cortiço “cabeça de gato”?( cap. XIII)

8. Quase no fim do capítulo III aparece em cena Jerônimo, cuja história será contada apenas no capítulo V. De

que forma é descrito?

9. Jerônimo x João Romão > consciência do valor do trabalho x interesse capitalista-Caracterize Jerônimo e

Piedade

10. Quem era Firmo? Caracterize- Caracterize também o velho Libório

11. O que acontece com Jerônimo? Piedade sente o perigo por instinto ou por inteligência? 12. Relacione: Henriquinho x Leocádia x Bruno

13. Ao longo e cínico diálogo entre João Romão e Botelho termina com o ditado:” O dente que já não presta

arranca-se fora” ( cap. XXI). Que sentido tem no contexto da conversa?

14. Jerônimo > processo de abrasileiramento > Rita > Firmo > Piedade-O que descobriu Marciana? Que proveito

tira João Romão da situação?

15. Caracterize Leonie e seu relacionamento com as pessoas do cortiço.

16. O que se comemora no sobrado de Miranda?A revolta de Marciana e suas conseqüências. Por que a bruxa

sorriu quando Miranda ameaçou João Romão?

17. Por que Firmo e Jerônimo brigaram? Quem representava a força? Quem representava a agilidade? O que

colocou fim na briga? Por que os moradores temiam a presença da policia?

18. O que o narrador revela sobre a visita de Pombinha a casa de Leonie? Como o narrador apresentou a

transformação de Pombinha em mulher? Os preparativos do casamento de Pombinha. Qual o efeito que o pedido de Bruno provocou em Pombinha?

19. O que era o Cabeça de Gato? Quem eram os Carapicus? Que transformações aconteceram com J. Romão? O

que as motivava? Ao final do cap. II ,qual recurso utiliza Botelho para aquietar a consciência do jovem Henrique, amante de D. Estela? Qual o acordo que fez com o Botelho?

20. Rita x Firmo x Jerônimo: o que os aproxima? O que os distancia? O que Aconteceu com o Firmo?

21. A descrição da chegada de Rita Baiana no Cortiço ( cap. VI) exemplifica a maestria de Azevedo na criação de

tipos populares, um dos segredos também de Camilo Castelo Branco( veja-se o João da Cruz de Amor de Perdição) Explique o trecho, anotando-o. Qual a reação do cortiço com a volta de Rita?

22. No capítulo VIII, Piedade, mulher de Jerônimo, sente pela primeira vez, ciúmes de Rita Baiana. Assim o

expressa o narrador:’Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente o seu ninho exposto”. O que aconteceu com Rita e Piedade? Como reagiram os habitantes do cortiço diante da disputa das duas? O que voltou a unir os habitantes do cortiço?

23. Que fato importante da trajetória do cortiço é focalizado no 17º capitulo? Quem o provocou? O que os

fatos deste capítulo revelam sobre a solidariedade entre os menos favorecidos?

24. O capítulo II de Iracema(1865), de Alencar, começa pela descrição da heroína, aquela que ficou conhecida

como a “Virgem dos lábios de mel”.Curiosamente o parágrafo iniciado por “Naquela mulata estava o grande mistério...’(CAP.VII) faz uso do mesmo tipo de metáfora para dizer dos tormentos íntimos de Jerônimo. Comparar os dois textos é bom exercício de verificação de proximidades e das distâncias entre Romantismo e Realismo, vizinhança que se explica muito bem nas obras de Raul Pompeia Aluísio Azevedo ou Camilo C. Branco.

25. A quem Piedade culpa por ter sido abandonada pelo marido? Como Piedade passou a se comportar depois

que foi abandonada por ele ? Por que Senhorinha também foi atingida por esse fato?

26. Qual o problema que J. Romão tem de resolver para poder casar-se com Zulmira? Era um casamento por

amor? Justifique. Como J. Romão tentou resolver o problema? Qual foi a solução definitiva? Quanto ele pagou por ela?

(10)

27. O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no capítulo XIX, pode ser considerado um momento de romantismo,

dos tantos em que resvala o narrador ao longo da obra?

28. A última hora, às vésperas do casamento , os sonhos românticos de Pombinha com que se desfazem( cap.

XII). Por quê? O que aconteceu com Pombinha depois do casamento?

29. Por que no final de O Cortiço revela certo gosto de Aluísio pelo melodramático? 30. Que cenas marcaram o final da narrativa?

Leia, ainda, que é importante !!!!!!

O Protagonista do Cortiço é o próprio cortiço

Conjunto 1 – Cortiço São Romão Define-se por sua composição elementar .Seus elementos têm uma constituição

primária e estão ao nível da natureza do instinto .

O Conjunto 2- Casa do Miranda- mostra a vigência de certas regras mais definidas culturalmente.Existe entre seus

elementos uma coexistência baseada num maleável regime de trocas que indica a predominância de outros interesses que não o puramente instintivo.

Portanto ,ainda que correndo o risco de simplificar a questão se poderia dizer que o conjunto 1 está do lado da Natureza e o conjunto 2 está do lado da cultura.Toda a movimentação de Romão ,por exemplo , é para sair do solo puramente biológico e instintivo em que se agita o cortiço e entrar numa organização social regida por um sistema jurídico e político representativo da cultura.

O conjunto simples nivela-se em vários sentidos,porque sua dominante é a horizontalidade.De um ponto de vista racial sua grande maioria é de preto e mestiços e os elementos de outras raças que acabam por se comportar como a maioria.De um ponto de vista social todos são empregados e assalariados vivendo de pequenos misteres sendo , portanto , economicamente dependentes do regime imposto pelos elementos do conjunto 2. Nivelam-se por

baixo pela miséria e pobreza.Agrupam-se num coletivismo tribal e identificam-se mais pelas semelhanças do que pelas diferenças.

.O próprio nome CORTIÇO-marca a sua natureza.Num cortiço, metaforicamente falando também a grande quantidade de abelhas são as operárias com funções semelhantes, excetuando-se somente a abelha rainha.Não estranha, portanto, que o narrador insista numa seqüência de imagens de animais e insetos para caracterizar esse conjunto.Tome-se como exercício e pesquisa o campo III relatando o despertar do cortiço .Por aí através de um

processo de antropomorfização não se diferem objetos , homens,animais e vegetais.É tudo um bando de machos e

fêmeas, numa fermentação sanguínea,naquela gula viçosa de plantas rasteiras ,mostrando o prazer animal de existir.Há um verminar constante de formigueiro assanhado e destacam-se risos, sons de vozes que se alternavam,sem saber onde grasnar de marrecos,cantar de galos,cacarejar de galinhas.

Para ressaltar essa borda de seres primitivos, o narrador acentua a degradação tipos aproximando-os insistentemente de animais e conferindo-lhes apelidos.Leandra com “äncas de animal do campo“,Neném como uma “enguia”; Paula com “dente de cão “e Pombinha ,com esse nome no diminutivo ocultando seu verdadeiro nome ,significa a fusão do natural e do cultural,quando o narrador privilegia o apelido de caracterização zoomórfica.E assim, narrativa a dentro persiste um movimento de zoomorfização das criaturas , nivelando-as por baixo ,pelo que tem de mais elementar.Romão e Bertoleza trabalham como uma junta de bois, o cortiço exala um “fartum de besta no

coito “,os personagens se xingam de cão ,vaca , galinha, porco ; Jerônimo com suas “lascívias de macaco e cheiro sensual de bodes“;Piedade abandonada surge “ululante como um cão “,soltando um “mugido lúgubre ‘ como “ uma vaca chamando de longe ‘.

(11)

PERSONAGENS

Relação Bruno/Leocádia: quando Bruno descobre que Leocádia encontra-se com Henriquinho, a solução que

encontra é a destruição de sua casa e a expulsão da mulher sob ameaça de morte.

Relação Jerônimo/Firmo: a rivalidade por causa da mulata Rita configura-se por uma briga de porrete versus navalha,

e num outro ponto da narrativa pelo assassinato de Firmo.

Relação Romão/Bertoleza: ao se ver traída por Romão , Bertoleza comete violência contra si mesma e rasga a barriga

derramando as vísceras no chão da cozinha .

Relação Rita/Piedade: reduplicando o conflito Firmo/Jerônimo, brasileiro/ português , branco/mulato xingando-se as

personagens como os mais diferentes nomes de animais, reafirmando o primitivismo de seu conjunto.

Já o outro conjunto- o complexo, soluciona os conflitos efetivando trocas de objetos e dons. Na verdade, mais objetos do que dons, uma vez que o romance se esforça por cumprir os preceitos naturalistas ressaltando sempre o aspecto físico/objetivo das relações.

Relação Estela/Miranda: Apontada desde o príncipio da narrativa como uma associação de interesses em que a

mulher entrava com o capital e o homem com a sua gerência , destaca-se a função do dote, na formação dessa sociedade econômico - sentimental .

João Romão: Significa elemento vitorioso segundo uma seleção das espécies , valores tidos como positivos na cultura brasileira.

João Romão vendeiro

Miranda: sua posição de aristocrata com pequenas variações se mantém e ele atinge o baronato.

Jerônimo: depois de atingir o máximo de sua posição de assalariados, envolvido pelos elementos naturais do

conjunto 1 no interior do qual foi viver, entra em degenerescência.

Jerônimo: quando aparece na estalagem de Romão . A figura mitológica aí não é acidental ,mas ganha mais sentido

com a fisionomia da personagem depois que entra em decadência.Ele aí chega com ideais de ascensão,pois saíra da roça onde “tinha que se sujeitar a emparelhar com os negros escravos e viver com sem aspirações nem futuro , trabalhando eternamente para outro” [ cap. V ].Todo esse capítulo é uma exaltação das virtudes de Jerônimo como um tipo clássico-mitológico.

A- Mulher Objeto- Exemplifica-se inicialmente em Bertoleza, elemento feminino que se associa ao masculino(Romão)

para criação do cortiço. Macho e Fêmea trabalham dia e noite, e quanto mais o tempo passa, mais o macho se afasta da Fêmea , uma vez que ela era peça fundamental apenas no principio de carreira de Romão : “a medida que ela galgava posição social, a desgraça descia mais e mais, fazia-se mais escrava e rasteira”. Outro exemplo é Zulmira: vai ser outro degrau utilizado por Romão , agora não no conjunto 1,mas no conjunto 2. A passagem de um conjunto ao outro implica na presença de um elemento feminino no regime de troca Reafirmam-se certas regras da sociedade, daquilo que José de Alencar chamara de “mercado matrimonial”. As ligações entre ele e Bertoleza e ele e Zulmira são totalmente circunstanciais. As mulheres aí são elementos cambiáveis no comércio que ele opera.

B- A MULHER Sujeito - objeto . A relação Estela / Miranda coloca os dois em nível de igualdade.Ambos se

beneficiam. Essa relação ajusta o regime de trocas sexuais, que são a contrapartida das trocas econômicas e sociais. A dupla Rita/Jerônimo exemplifica o mesmo regime de trocas. O narrador vem ao nível do enunciado para dizer que entre eles se cumpria o ritual da atração racial. Rita é metonímia da natureza tropical enquanto Jerônimo é o símbolo daquilo que o autor chama de “raça superior”:

(12)

“mas desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com sua tranqüila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior.”(cap. 15)

Todas essas personagens têm a caracteriza-las ou permanência no mesmo status econômico e social ou a decadência. Nenhuma sai de seu conjunto, as transformações são endógenas e não exógenas como se dará com Leonie,

Pombinha, Senhorinha.

C) Mulher-sujeito. – O termo “sujeito” aqui implica numa interpretação dos valores ideológicos da comunidade

descrita. Assim como Romão consegue se impor afirmando-se enquanto indivíduo dentro dos padrões vigentes na sociedade, aquelas mulheres(Leonie, Pombinha, Senhorinha) também se destacam da dependência contínua ao macho e passam a exercer o poder através do sexo-luxúria. Como Romão , elas extrapolam de seu conjunto original e se realizam no conjunto complexo.

Léonie- Como protótipo da mulher do cortiço que saiu para a prostituição de elite, mantém trânsito livre entre um

conjunto e outro. Ela pode desfilar com os amantes pelas ruas e teatros com a mesma leveza com que regressa ao cortiço para ver sua afilhada. Sua ascensão social permite-lhe o trânsito. O modelo de Léonie repete-se em Pombinha, que é por ela seduzida, deixando de lado seu aspecto angelical para assumir a imagem da “serpente”, que o narrador maneja para classificar vigor do instinto e a ameaça sexual. Repete-se em termos onomásticos o determinismo: a pombinha vai ser devorada pela leoa através da iniciação homossexual: “a serpente vencia afinal: Pombinha foi, pelo próprio pé, atraída, meter-se-lhe na boca”. Pombinha, enfim, “desfere o vôo”

Fique Atento!

 Bertoleza se considera como pertencente a uma raça superior à negra, pois é cafuza e inferior à branca.Seu meio de origem é,evidentemente,inferior ao de João Romão, pois ela era escrava a ele provinha de um país europeu, embora fosse de classe baixa. Daí a admiração que a mulher tem pelo português e daí a sua total subserviência a ele.

 As imagens que o autor emprega na descrição do desenvolvimento do cortiço são degradantes( lodo, lama,esterco) e reduzem as pessoas ao grau mais baixo e repulsivo da escala animal( larvas). Essa tendência ao rebaixamento e à animalização das pessoas é características do naturalismo.

 Está implícita na obra que Miranda tem a ideia de que o Brasil é um paraíso para os espertos. O pais não é visto como um lugar de trabalho construtivo, mas sim um lugar para fazer a América., ou seja,enriquecer facilmente e aproveitar de tudo sem escrúpulos.

 Apesar de ser mais feliz com Rita Baiana , em nova vida cercada de prazeres , Jerônimo perdeu com seu caráter português, sua antiga fibra moral, sua disciplina e seus projetos de enriquecimento.Agora, leva vida relaxada, endivida-se , embriaga-se.

 Existe uma relação entre a mulata e a lua, a mulher é, nos dois textos associada ao brilho prateado da lua. .

 O narrador diz que Rita Baiana era volúvel( leviana) como toda mestiça. Aqui temos a expressão de um preconceito determinista que era tomado como verdade científica pelos naturalistas.De que preconceito e determinismo se trata?Trata-se do determinismo da raça , que era tomado como verdade científica e que degenerou em simples preconceito racial.

 Aluísio de Azevedo pertence ao Naturalismo , que tem como características principais o zoomorfismo e o descritivismo objetivo, que fixa elementos sensoriais.

 O zoomorfismo aparece no aglomerado de” fêmeas e machos” ,”não molhar o pelo”,”fossando” ,” pomba no cio” e a análise objetiva voltada para elementos sensoriais, aprece em “ fio d´água que escorria da altura de uns cinco palmos”,”chão inundava-se”, dentre outras.

 O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no cap.XIX, pode ser considerado um momento de romantismo, pois arrependidos , chorosos, cheios de melancolia e derrotada ternura um pelo outro, eles são vistos

comovidamente pelo narrador, que usa de sinais de pontuação subjetivos e de frases entrecortadas, à moda de balbucio, de voz embargada pela tristeza- embora volte quase que imediatamente a postura impessoal.

(13)

 No final do capítulo II,Aluísio de Azevedo põe em boca de Botelho um discurso cuja ironia nos lembra O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós ( 1875) com os argumentos levantados pelos safados padres de Leiria para tornar lícito seu amasiamento ilegal com as devotas, para aquietar a consciência do jovem Henrique, amante de D. Estela, dizendo:”Fique então sabendo que não é só a ela que você faz o obséquio , mas também ao marido, quanto mais escovar-lhe você a mulher, mais macia ela fica para ele. Dessa forma ele ficará tranqüilo quando voltar do serviço, um pouco de descanso. Escove-a, escove-a! que a porá macia que nem veludo!”

 Observe a prosopopeia ou personificação “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos,mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas”( cap. III).

FUVEST-2010- Considere o seguinte excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se pede.

(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes. Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam na composição de O cortiço, identifique e explique aquela que se manifesta no trecho a e a que se manifesta no trecho b, a seguir:

a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração”. b) “cedendo às imposições mesológicas”.

Resposta É do naturalismo -poética predominante na composição de Aluísio de Azevedo a concepção de que os comportamentos humanos, obedecem a determinismos “de raça”, ou seja genético, como se demonstraria, na propensão da mestiça determinada por seu “sangue”, para o “macho de raça superior”. B) As “imposições mesológicas” representam o determinismo “do meio”, ou seja do ambiente físico e social, sobre o comportamento humano.

(14)

2- VIDAS SECAS- Graciliano Ramos Profª Sônia Targa

2ª geração do modernismo no Brasil

Em Literatura, o período de 1930 e 1945 caracteriza-se pela tendência do posicionamento

ideológico, político e social dos intelectuais brasileiros.A rebeldia estética da 1ª fase modernista cedeu

lugar à literatura socialmente comprometida, sobretudo no que diz respeito à prosa de ficção.A

revolução de 1930, o declínio e a dissolução das estruturas sociais e econômicas do Nordeste a imigração

nas estradas do Sul apareciam nos novos estilos de ficção, caracterizados pela observação real e direta

dos fatos.Euclides da Cunha e Lima Barreto, do Pré Romantismo não eram mais exceções, mas sim os

primeiros a abordar o elemento regional/social e, como tal ganharam sucessores.As elites urbanas e seus

intelectuais analisavam e procuravam compreender o país nos seus novos aspectos.

Diante de tal complexidade, a prosa passou a ser o gênero mais cultivado, principalmente na

vertente regionalista, com as produções de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Raquel de

Queirós José Américo de Almeida e José Lins do Rego.

Além do aspecto regional, usava-se o texto também para analisar ou denunciar injustiças

sociais como dificuldades com o trabalho, o meio, o abandono do cidadão por parte do Estado,

resumindo tudo na falta de perspectiva de uma vida minimamente decente para o cidadão anônimo,

modelo, aliás, ao qual se enquadra a temática de Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas.

A preocupação com essas realidades foi tão intensa nesses autores que a linguagem literária

evoluiu muito pouco, principalmente se considerarmos as propostas inovadoras da geração modernista

de 1922, isso porque preocupações com a linguagem foram relegadas a segundo plano, haja vista que a

essência do projeto artístico desses autores centrava-se nos planos social e histórico.

Vidas Secas – uma novela desmontável? Uma obra cíclica?

Romance novela ou uma coletânea de contos? O próprio Graciliano Ramos, em Alguns tipos

sem importância, uma das crônicas de seu livro Linhas tortas depõe:

Em 1937 escrevi algumas linhas sobre a morte de uma cachorra, um bicho que saiu

inteligente demais, creio eu, e por isso um pouco diferente dos meus bípedes.Dediquei em seguida

várias páginas aos donos do animal. Essas coisas foram vendidas, em retalho, a jornais e revistas. E como

José Olimpio (proprietário da Livraria José Olympio Editora) me pedisse um livro para o começo do ano

passado, arranjei outras narrações, que tanto podem ser contos como capítulos de romance.Assim

nasceram Fabiano, a mulher, os dois filhos e a cachorra Baleia, as últimas criaturas que pus em

circulação.

Portanto, Vidas Secas é a junção de treze contos formando uma novela ( ou romance como

disse o próprio autor) já que todos eles estão ligados entre si, sendo o primeiro ( agora capítulo ) uma

espécie de apresentação das personagens. Nos demais há capítulos especialmente feitos para cada

(15)

componente da família (aí se inclui a cachorra Baleia), em que os outros viventes não passam de

coadjuvantes, dando à obra um caráter novelístico.Obra neorrealista, mostra a denúncia social, a miséria

física e intelectual do homem do sertão nordestino.Esses treze capítulos demonstra a saga do vaqueiro

Fabiano, Sinhá Vitória, MMV, MMN e a cadela Baleia.

Os capítulos (ou contos) de Vidas Secas são: Mudança; Fabiano; Cadeia; Sinhá Vitória; O

menino mais novo; O menino mais velho; Inverno; Festa; Baleia; Contas; O soldado amarelo; O mundo

coberto de penas; Fuga.

Graciliano Ramos escreveu uma carta a coluna de João Conde da Revista “O Cruzeiro” em

1944, explicando a construção do livro.Primeiro escreveu Baleia, depois Sinhá Vitória e Cadeia. Aos

poucos, a partir das lembranças da sua própria vida escreveu o restante- cujo tema Nordeste e seus

problemas- A seca que transforma as pessoas em bichos esfomeados e sedentos.

A- Quanto às influências recebidas

Vidas Secas se enquadra na linha regionalista, introduzida na Literatura Brasileira, pelo

romancista romântico Franklin Távora ao publicar em 1876 O Cabeleira, obra cujo assunto gira em torno do

banditismo no Nordeste.Mas foi com romances regionalistas do Naturalismo que não só Vidas Secas, mas

vários romances da geração de 1930-como, por exemplo, A Bagaceira (José Américo de Almeida), O quinze

(Raquel de Queirós)-mais se identificaram.Estamos falando de Dona Guidinha do Poço, de Manuel Oliveira

Paiva e, principalmente Luzia Homem de Domingos Olimpio, obra em que a seca se faz presente.

B-Quanto à linguagem

Linguagem direta, concisa, direta ,objetiva, frases curtas e diretas.Entanto há momentos de

reflexão,no momento em que faz repetições de palavras e expressões. Até mesmo em Vidas Secas, em que

tudo é minguado –água, comida, dinheiro, diálogos, adjetivos, podemos encontrar algumas figuras de

linguagem que quebram a seca narrativa de personagens secos vivendo em terra seca: símiles e

onomatopéias são as mais utilizadas, isto porque as personagens são a todo o momento comparadas a

animais e, por vezes a vegetação da região, além de balbuciarem, grunhirem rugirem imitando cabras,

bois, ventos em sons omomatopaicos.Usa o discurso indireto livre, em abundância, para mostrar

intimidade entre narrador e personagem .Capta a emoção e o pensamento mais interior das personagens

protagonistas.Aproximações psicológicas, sonhos, lembranças. Tipo de simbiose:’Estava direito aquilo.”

“...era bruto.”

Debaixo dos couros, Fabiano andava banzeiro, pesado, direitinho um urubu.

Há na história momentos narrativo-descritivo. Faz uso de verbos no Pretérito Perfeito que

indicam as ações pontuais e, no Pretérito Imperfeito, indicando ações habituais. Os substantivos são

concretos. Ainda, Baleia representa os sonhos e desejos das pessoas.O enredo é quase surreal, para isso o

uso do Futuro do Pretérito.”Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás”.

(16)

C-Quanto ao foco narrativo

Narrador em 3ª pessoa – onisciente- único romance escrito em 3ª pessoa. Graciliano deixa de

lado a impessoalidade, passando a sofrer com a família (inclusive Baleia),aí não seria exagero dizermos que

o narrador é o próprio Graciliano Ramos. Ao narrador interessa registrar além da tragédia a opressão social

que recai sobre Fabiano que evita o olhar dos filhos. Fabiano tenta compreender o mundo, mas devido ao

conflito interno, rebela-se contra seu destino.

Como as personagens, principalmente Fabiano, são monossilábicas, pouco se expressam pela

fala, os autores lança mão do discurso indireto livre. (mistura da fala do narrador e personagem)

D- Quanto aos temas;

Observa-se nos nomes de Sinhá Vitória e Baleia uma oposição em relação á realidade, pois

Vitória significa realização de ideais e Baleia gorda que vive nas águas.

Podemos citar outros temas em Vidas secas:

- a miséria física e mental- a penúria em que vive a família,

-

a arbitrariedade ou o abuso da figura do soldado amarelo,

-

a exploração no trabalho- a figura do fazendeiro explorador e do empregado –

explorado,

-

a corrupção governamental- a figura do cobrador de impostos da prefeitura,

-

a falta de perspectiva de vida – na figura do próprio narrador,

-

a marginalização do sertanejo submisso,

-

sujeição do homem pelo homem,

-

impotência diante da natureza,

-

revolta interior,

-

(in)consciência do existir,

-

ZOOMORFIZAÇÃO.

-

E-.Comentário

Até certo ponto os capítulos podem ser lidos separadamente. No entanto, ligam-se pela

temática: família de nordestinos- problemática- desigusldade- desgraças cotidianas- medos- sonhos-

sofrimentos e privações.

Primeira Visão-

Parece ser fácil de ler, mas engano.É difícil, escrito como protesto para que os brasileiros,

políticos em geram voltassem os olhos para os dramas dos nordestinos.-Tema de reflexão e

denúncia..Vidas Secas é um canto de amor ao homem cheio de coragem e teimosia.É uma

metonímia do sertão.

(17)

A história acontece entre duas secas. 1ª Seca- Família de sertanejos migram á procura de um

lugar para recomeçar a vida,vem para a fazenda abandonada- juazeiros.

Fabiano apresenta-se ao patrão como vaqueiro- marcador de gado- símbolo de marcar-se a si

mesmo .Seres animalizados, perdidos dentro de si mesmos.

2ª Seca- Família parte para o Sul, pois os meninos precisam se alfabetizar- busca de novas

possibilidades. O capítulo Fuga fecha à narrativa. Não sabemos para onde vão..O restante é

psicológico.

G- Espaço-

Sertão do Nordeste- qualquer lugar que tem seca

H- Comentário

Vidas Secas é a história de uma família de retirantes, que, paradoxalmente, não chega a

constituir propriamente uma história. A dura andança, sob a implacabilidade da seca, de certa forma

justifica a inutilidade da comunicação ente os membros da família, o fato dos meninos não

apresentarem, as dificuldades lingüísticas de Fabiano, a inquietação constante. E também o sacrifício

do papagaio, que tinha acompanhado a família, e que veio a transformar-se em alimento

providencial. O papagaio ao ser comido representa a ruptura da linguagem.

Fabiano é considerado um anti-herói- duro como a própria terra que nunca cria raízes.. É

branco, de olhos claros, mas como ele mesmo se compara “ um bicho”

Como se não bastasse tal infortúnio, Fabiano vem a ser preso pelo soldado amarelo, símbolo

do autoritarismo local. Ao contrário de Fabiano, que se mostra matuto em tudo, Sinhá Vitória

apresenta sinais de ter vindo de um meio social menos duro. Baleia, a cachorra, consegue sentir e

reagir com inteligência superior à media dos animais. Sua humanização progressiva acompanha a

também progressiva animalização dos membros da família.

Fabiano teve de sacrificar a cachorra, por suspeitar que ela estivesse padecendo de raiva.

Embora se revolte contra as coisas do patrão, Fabiano tem de aceitá-las, para não perder o

emprego.

Seu reencontro com o soldado amarelo, depois, em plena caatinga, faz-lhe reconhecer sua

própria superioridade. Acaba perdoando, ensinando ao soldado o caminho de volta. Mas a temida

seca enfim está chegando.

As árvores se enchem de aves de arribação.

Fabiano recomeça a analisar sua vida. Quem lhe dá ânimo é Sinhá Vitória. Os retirantes deixam

à casa da fazenda, e retornam o caminho de sempre. No pensamento de Fabiano brilha certa

esperança, materializada pelas promessas de chegar ao sul do país. Mas a perspectiva que vem do

narrador é a da contínua andança, sem definição e sem destino certo.

(18)

A FUGA DA SECA

Este primeiro capítulo já supõe toda uma narrativa anterior, sobre a qual para o silêncio, e

cujas características podemos adivinhar:

“Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados famintos”. Vinham tocados

pela seca. Chegam ao pátio de uma fazenda abandonada. Fabiano arruma uma fogueira. Baleia traz

no dentes um preá.

“Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras afastando

pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava

ensangüentado, lábia o sangue e tirava proveito do beijo”.Fabiano enche-se de alegria com a

promessa de chuvas no poente. Já se anuncia neste capítulo a compreensível rudeza de Fabiano com

os filhos, resultado da incomunicabilidade. Podemos dizer que este primeiro capítulo apresenta as

“regras sérias do jogo”, ou seja, o conjunto de princípios e situações que não se vão mudar

substancialmente.

É desse tabuleiro inicial que se podem escolher alguma peça para dar-lhes desenvolvimento

particular m cada um dos capítulos seguintes.

Dos treze capítulos do livro, apenas três fogem um pouco a esse esquema e trazem à cena

alguma coisa inesperada: “Caldeira”, “Festa” e “O soldado amarelo”. Não nos deve admirar o fato de

que esses três capítulos são os que estabelecem uma mínima relação da família com a periferia da

sociedade, e denunciam, por isso mesmo, uma crise da comunicação e da receptibilidade.

VOCÊ É UM BICHO, FABIANO!

Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto passara uns dias mastigando raiz de

imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano

fizera-se de desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos,

sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe a marca de ferro.

Fabiano trabalha como um negro.

Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera com um bicho, entocara-se

como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Contente, dizia a si mesmo: “Você é um bicho,

Fabiano.”

Sua vida era com os brutos, sua linguagem era deficiente: “Admirava as palavras compridas e

difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e

talvez perigosas”. Lembrava-se sempre do seu Tomás da bolandeira (máquina de descaroçar

algodão). Aquele sim é que falava bem. Seu Tomás “lia demais”

O patrão mostra autoridade. Fabiano obedece, pois se preocupa com o futuro, com a

educação dos filhos.

(19)

Nota-se que a presença do patrão obedece a um movimento circular. Ele já despedira Fabiano

antes. Reencontra Fabiano, e a pedido deste, deixa-o ficar. Depois o despede de novo. A família

então teve de retomar o ciclo da andança

CADEIA vs FABIANO

Na feira da cidade, Fabiano é convidado por um soldado amarelo para jogar trinta e um.

Perde, e sai. O soldado o insulta por ter saído sem se despedir. Fabiano é levado para cadeia e

apanha.

Obviamente o soldado não prende Fabiano por uma antipatia pessoal,que o vaqueiro lhe

inspirasse.

Prende-o, porque, afinal, com alguém ele deve exercer a autoridade. Para o soldado amarelo,

Fabiano é apenas um tipo, o tipo social contra quem ele pode exercer sua discriminação e seu

autoritarismo. (intertextualidade com M.Sargento de Milícias- Major Vidigal)

SINHÁ VITÓRIA

Sinhá Vitória que já há mais de um ano uma cama de lastro e couro, igual à do seu Tomás da

bolandeira. Vêm-lhe as recordações da viagem, a morte do papagaio. Tem medo da seção. Mas a

presença do marido a deixa segura.

A figura de seu Tomás da bolandeira funciona como um modelo um paradigma de gente culta,

que a família pôde conhecer. Mas, aqui, sobretudo é importante verificar como Graciliano, atento

Talvez à lição machadiana, faz a mulher ocupar um plano psicologicamente distinto do plano

masculino. Dizem alguns antropólogos que a mulher te uma reação mais íntima com a natureza que

o homem. Entretanto, Graciliano parece inverter esse princípio, pois Sinhá Vitória está mais próxima

da cultura do que Fabiano. Portanto, sua “animalização” é menor.

O MENINO MAIS NOVO (MMN)

Quer ser igual ao pai, e por isso deseja realizar algo notável, para despertar a admiração do

irmão e da cachorra. Queria amansar uma égua e montá-la, como o pai fizera. Por isso, ele tentar

montar o bode, e cai sob risadas do irmão, e a desaprovação e Baleia.

Aqui também notamos uma resistência a brutalização, pois o menino continua com seus

sonhos de menino, tal como sua mãe, que continua a sonhar com uma cama de lastro de couro.

(20)

Sente imensa curiosidade pela palavra inferno. Não obtendo explicação do pai, recorre à mãe,

que fala em espetos quentes e fogueiras. Ao perguntar à mãe se ela tinha visto tudo isso, Sinhá

Vitória lhe dá um cocorote. Indignado, o menino se esconde. Fica abraçado com a cachorrinha. Seu

ideal é ter um amigo.

“Todos o abandonavam, a cadelinha era o único vivente que lhe mostrava simpatia.”

Ao contrário de seu irmão, o menino mais velho já começa a apresenta sinais de mais efetiva

(e mais dolorosa) imitação paterna. O desejo de saber o que significava inferno, a, e a lição recebida

da mãe, já constituem, por si sós, maneiras de evidenciar como a linguagem não tem boa qualidade

no contexto dos retirantes.

Isso também explicaria um pouco as dificuldades lingüísticas de Fabiano, que não parecem de

origem patológica, mas resultam de inadaptação cultural. E, por outro lado, no plano do narrador, o

desejo de saber o que é inferno não passa de uma discreta (mas intensa) ironia, pois todos estavam,

afinal, submetidos ao inferno do sol.

INVERNO RIGOROSO

O inverno também é rigoroso. A família se reúne ao pé do fogo.

Fabiano inventa uma história, mas a família não entende, nem ele a sabe exprimir direito.

Todos temem a violência ameaçadora da chuva. Também tem a seca, que virá depois.

Esta imagem da família reunida, a ouvir uma história contada pelo pai, pode, de certa forma,

parecer-nos excessiva. Porque nós, leitores, colocados num plano existencialmente superior ao das

personagens, estranhamos que elas ainda tenham tempo para se preocupar com algo supérfluo,

tanto mais que a situação delas era de completa abertura. Mas este modo de ler seria incorreto

porque as situações de angústia prolongada conhecem bem um movimento de vai-e-vem, entre a

angústia e a distração. Graciliano conhecia muito bem esse fenômeno

FESTA NA CIDADE

Festa de natal na cidade. As roupas da família ficaram apertadas. Os meninos estranham tudo

em volta.

“Comparando-se ao tipo da cidade, Fabiano reconhecia-se inferior.”

Depois da missa, convida a mulher e filhos para os cavalinhos. Quer ir às barracas de jogo, mas

sinhá Vitória desaprova. Bebe em demasia, fica valente. Mas acaba pegando no sono na calçada.

Fabiano sonha com soldados amarelos que lhe pisavam os pés e ameaçavam com facões terríveis.

Referências

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