OBRAS OBRIGATÓRIAS- FAMEMA-2011-2012- Profª SÔNIA
♦ Antologia poética - Vinicius de Moraes♦ Capitães de Areia - Jorge Amado ♦ Dom Casmurro - Machado de Assis ♦ O cortiço - Aluísio de Azevedo ♦ Vidas secas - Graciliano Ramos
1- O Cortiço-Aluísio de Azevedo
Profª Sônia Targa
ANÁLISE DETALHADA
Neste livro, já não é mais a estória dos personagens que interessa tanto. Mais do que ela, salienta-se rivalidade entre o espaço de João Romão e do comendador Miranda, a simbolizarem todo um processo de transformação econômica em momento de expansão urbana.
João Romão, um ganancioso comerciante de origem portuguesa, possui uma pedreira, uma taverna e um terreno razoável, onde constrói casinholas de baixo custo para alugar. Secundando-o nas tarefas e com ele repartindo a cama, a figura da negra Bertoleza ex-escrava forte e também ambiciosa, supostamente alforriada.
A poucos metros da venda, havia um sobrado que veio a ser ocupado por Miranda, Estela e Zulmira, uma família economicamente segura, cujo chefe vendia pano por atacado.
A proximidade do cortiço incomodava Miranda que, por sua vez incomodava João Romão com seu ar de fidalguia e seu título de comendador.
A contratação de Jerônimo , um operário português ,para o trabalho na pedreira altera um pouco a competição do cortiço,para onde ele se muda em companhia da mulher, a Piedade e a filha Senhorinha.Essa alteração ganha intensidade, sobretudo a partir do momento em que nasce o interesse amoroso entre o operário e Rita Baiana ,beleza máxima daquele agrupamento.
Rita ,no entanto tinha compromisso com Firmo,mulato garboso e gabola, capoerista hábil ,morador de um cortiço vizinho, o “Cabeça de Gato”. No primeiro enfrentamento ,Firmo leva a melhor , e atinge Jerônimo com uma navalha.
Enquanto isso , Botelho, um agregado em casa de Miranda ,começa a estimular o interesse de João Romão por Zulmira ,a filha do atacadista de panos. Nesse projeto, evidentemente ,inclui-se um plano para dispensar Bertoleza.
A essa altura Rita e Jerônimo já vivem juntos , e a preocupação deste é vingar-se da navalhada que o atingira e , se possível eliminar seu rival de vez. Através de uma combinação prévia ,dois tipos escusos atraem Firmo para uma cilada e Jerônimo assassina-o a pauladas.
Em conseqüência dessa morte , os”Cabeça-de-Gato” atacam os “ carapicus” do cortiço de João Romão e a luta só se interrompe por causa de um incêndio provocado( pela bruxa, a lavadeira Paula).
Na verdade.desse fogo arrasador renasce um cortiço novo e mais “próspero”. O fogo ajudara, indiretamente, os planos de João Romão que , agora já vinha mantendo boas relações com a família de Miranda .Só restava o empecilho de Bertoleza.Mas o providencial Botelho descobrira o dono daquela escrava , cujo dinheiro da alforria ,tão duramente economizado ,fora embolsado por João Romão.
Diante da ameaça de retorno ao cativeiro,Bertoleza estripa-se ,enquanto João Romão recebe um prêmio como amigo da Sociedade Abolicionista.
Vamos lá...
ESTRUTURA DA OBRA
A obra apresenta 23 capítulos não intitulados e não muito curtos.Presença constante de diálogos.
Foco Narrativo
Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional, por vezes no cortiço de João Romão, outras no sobrado de Miranda.Como o narrador exerce a onisciência, por vezes sua fala se confunde com a dos personagens,
principalmente com João Romão, por meio do discurso indireto livre
. Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das personagens.
ESPAÇO-
A narrativa transcorre em alguns bairros do Rio de Janeiro, mas seu foco de atenção se atém ao cortiço de João Romão, situado em Botafogo.
O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: "Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras ...o prazer animal de existir,... E naquela terra, ...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco."
TEMPO
A narrativa apresenta tempo cronológico, bem marcado, co inúmeras situações de horas, dias da semana etc...Porém em alguns capítulos o narrador conta em flashback acontecimentos passados, que orientam a narrativa. Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é o marco da literatura realista-naturalista brasileira. Uma história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo Império (período em que as estalagens coletivas proliferavam) que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a "gentalha", caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se entrelaçam e repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se
desenvolve e se transforma com João Romão.
O SEXO
O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de "patologia" sexual:
"acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.
Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão (que é bastante inferior), a técnica naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio; interrogou lavadeiras, sapoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente, segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um estranho sentimento de classe que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em tomo de um problema social que se tomava mais e mais grave, com a formação de grandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos primórdios da industrialização do país.
O VISUAL
Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de representação
visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (Aluísio exerceu, em certa época, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou irando-se — e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da literatura brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas e
aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de sujeito, são as
que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha.
Veja exemplos de descrição realista e objetiva dos tipos humanos na obra:
PERSONAGENS
As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser vistas
preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir.
O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito
à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios nas pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de
homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa
para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.
João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para
a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se logo com as unhas.
...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha.
Miranda- português, 35 anos, negociante de tecidos. Muda-se para um sobrado, ao lado do cortiço de J. Romão.Casa-se por interesRomão.Casa-se com Estela, que não o ama, Romão.Casa-sente-Romão.Casa-se humilhado e aos poucos irá invejar J. Romão que ascendeu sozinho, sem precisar se casar por conveniência
Estela- esposa de Miranda, pretensiosa e com fumaças de nobreza.
Zulmira- suposta filha de Miranda e Estela- tinha de 12 para 13 anos, pálida, com pequeninas manchas roxas nas
narinas.- sardas pelo rosto- unhas moles e curtas, olhos grandes, vivos e maliciosos.
Bertoleza- quitandeira,, escrava que enganada por J. Romão crê que está alforriada.Trabalhadeira, humilde e servil Piedade- esposa de Jerônimo, não se adapta aos costumes do cortiço mantém seus hábitos portugueses, tanto na alimentação como em não tomar banho todos os dias.Abandonada pelo marido, vai se degradando até ser expulsa do cortiço.
Jerônimo-português de uns 35 a 40 anos,, alto, barba áspera,cabelos pretos e maltratados caindo-lhe sobre a testa, pescoço de touro e e cara de Hércules.,olhos que exprimiam bondade. A princípio mostra-se trabalhador, bom marido, bom pai. Ao se apaixonar por Rita Baiana passa por uma degradação muito grande-( chamamos abrasileiramento).No final da narrativa busca sua mulher e filha e abandona o cortiço, na esperança de voltar a ser o que era.
Rita Baiana- mulata muito sensual, amiga de todos no cortiço.”E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas.” Mulher independente, causadora da transformação de Jerônimo que fica fascinado por ela. Tudo começa quando ela lhe oferece um café.
Firmo- capoeirista, amante de Rita Baiana.Teria seus trinta e poucos anos,mas não parecia ter vinte e poucos.Pernas e braços finos, pescoço estreito,porém forte; não tinha músculos, tinha nervos.Não tinha barba, e sim um bigodinho crespo, petulante onde reluzia à brilhantina de barbeiro; grande cabeleira encaracolada, negra e bem negra, dividida ao meio na cabeça, estufando debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda derreado sobre a orelha esquerda.
João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o crítico literário
Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra "não se isolam em planos equidistantes. Ao contrário, o que existe [...] é um estado de permanente tensão e mútua agressão". Afirma, em outra ocasião, que dessas lutas ninguém sairá vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se tornam entrelaçados similarmente aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes, porém iguais sob olhar mais minucioso. Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D.Estela são, sob todas as óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação de complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e Miranda. Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro almeja os contatos, a nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor para dar andamento à história.
Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais claramente o princípio
naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo, são como Romão e Miranda, complementos um do outro. Um era "a força tranqüila ,o pulso de chumbo, em constante tensão com a força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no
sobressalto do primeiro instante". Mas, nas palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum deles pode fugir ao que lhes está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como tentativa de se tornar Firmo antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a beleza, os encantos da terra, a vida feliz do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou menos de acordo como suas características pessoais, notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos a conformação, a inércia. Com a morte de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do que era no passado, que a bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão sempre a sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza
inevitável e irreversível.
Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das
filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida honesta não conseguem alcançar. Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D.Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não se havia tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para seguir num relacionamento homossexual com Léonie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade de Pombinha, fazendo com que ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de
acontecimentos que passam a independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento intelectual maior que a maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas de sexo e ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não conseguiu se adaptar à falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a comercialização do sexo
protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo pelos moradores do Cortiço enquanto esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se tornam mais senhoras de si através do desejo alheio. Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.
Alguns personagens secundários, usados por Azevedo principalmente como objetos de estudo da temática determinista:
As LAVADEIRAS- Leandra( a machona), Augusta Carne-Mole ( esposa de Alexandre, mãe de Juju),Leocádia ( esposa
de bruno), Paula ( a bruxa), Marciana e sua filha Florinda,D. Isabel ( mãe de Pombinha)
- Henrique: filho de um fazendeiro importante que se encontra aos cuidados de Miranda até o fim de seus estudos.
Cultivará um caso com D.Estela.
- Valentim: filho alforriado de uma escrava por quem D. Estela nutria afeição ilimitada. - Leonor: negrinha virgem, moradora do cortiço.
- Leandra (Machona): portuguesa feroz, habitante do cortiço. - Ana das Dores: filha desquitada de Machona.
- Neném: filha virgem de Machona, muito cobiçada.
- Agostinho: filho caçula de Machona que morre num acidente da pedreira.
- Augusta Carne-Mole: brasileira branca, honesta, casada com Alexandre e com muitos filhos. - Alexandre: mulato, militar, dava muito valor ao seu emprego.
- Juju: afilhada de Leónie.,
- Leocádia: portuguesa, esposa de Bruno, comete adultério com Henrique. - Bruno: ferreiro casado com Leocádia.
- Paula (a Bruxa): cabocla velha que exercia função de curandeira. Põe fogo no cortiço duas vezes após enlouquecer,
morrendo na segunda tentativa.
- Marciana: mulata velha, com mania de limpeza, mãe de Florinda, que perde o juízo quando a filha foge de casa. - Florinda: filha virgem de Marciana, que engravida de um dos vendeiros de Romão e foge de casa.
- Dona Isabel: mãe de Pombinha. Seu maior sonho é ver a filha casada.
- Albino: Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo cozido e com
um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole e fino.- lavadeiro homossexual, morador do cortiço.
- Delporto, Pompeo, Francesco e Andrea: imigrantes italianos que residiam no cortiço. Azevedo foi um dos primeiros
a caracterizar literariamente a figura do imigrante italiano no Brasil, mesmo que de forma preconceituosa, retratando-os como carcamanretratando-os imundretratando-os.
- Porfiro: mulato capoeira amigo de Firmo.
escondida, da qual Romão irá se apoderar depois da morte de Libório no segundo incêndio provocado por Bruxa.
- Pataca: cúmplice de Jerônimo no assassinato de Firmo, torna-se um dos aproveitadores de Piedade depois que
Jerônimo vai morar com Rita.
Botelho: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro como escova,
barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua boca sem lábios: viam-lhe ainda todos os dentes mas, tão gastos, que pareciam 1imados até ao meio. (...) Atirou-se muito às especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina.
Pombinha- considerada “ a flor do cortiço”, bonita, loira,muito pálida, modos finos e educados, recebeu instrução até
em francês.Depois de violentada por Léonie, casa-se ,mas insatisfeita, separa-se e, juntamente com Léonie, dominam o meretrício da região.
João da Costa- noivo e depois marido de Pombinha- Traído pela mulher, depois a abandona.
Léonie- cocote de procedência francesa.Prostituta e lésbica era muito querida por todos no cortiço. Gosta de
Pombinha e a força numa experiência homossexual.Ao final ambas dominam o meretrício.
Enredo
O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro, o avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico, mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade).
A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, para de pagar a escola da filha e matar o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos.
A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pão-duro comerciante português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este consegue se aliar a uma negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda. Para agradá-la, falsifica uma carta de alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza, começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar pequenas casas, o que leva a edificação de um grande cortiço: a "Estalagem São Romão." Logo se ergueriam novas pendências, como a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus artigos de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho.
Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre eles o negro Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de portugueses), e a sensual Rita Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num desses encontros feitos de música e gritos, Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta briga, e Firmo fere o jovem português com uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital.
Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de "Cabeça-de-gato" pelos moradores do cortiço de João Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de "Carapicus", o que já indica a competição e a rincha entre eles. Enquanto isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora morador do cortiço rival. Enquanto o jovem português larga a mulher para viver com Rita Baiana, o pessoal do "Cabeça-de-gato" entra em guerra com os moradores do cortiço de João Romão para vingar a morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e destrói grande parte do cortiço do velho comerciante português.
João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção de freqüentar rodas mais finas e elegantes e se casar com uma moça de boa educação. O verdadeiro intento do esperto comerciante é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só resta agora se livrar do incômodo de sua companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu esconderijo. Estes não demoram a aparecer no cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a traição, suicida-se com a mesma faca de limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João Romão e os clientes do seu armazém.
A homossexualidade retratada em O Cortiço
No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade é tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos marginalizados.
O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor denunciativo, rompimento com o romance convencional.
Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do ficcional o factual, como, por exemplo, a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie configura-se como a pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos
deterministas do cientificismo/ evolucionismo.Os furtos, estupros, homicídios ocorrem sem justificativa.
Léonie - Nos dias atuais poderíamos definir Léonie, como uma mulher forte, autêntica, a frente do seu tempo. Mais
por se tratar de um romance naturalista há controvérsia, já que no naturalismo Léonie seria definida como mulher pervertida, impura, aquela que tem que ser banida, pois é um "mal" que assola a sociedade e pode contaminar os que conviverem com ela.
A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se:
(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro. (AZEVEDO, 2009, p.105).
Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a constantemente:
O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda (...). (pag.108) Leónie entregou á Pombinha uma medalha de prata (...). (pag.109)
(...) tomou a mão de Pombinha e meteu-lhe um anel cercado de pérolas. (pag.139) Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda.
-Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...Estou louca por ti!(p.135)
No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso sedutor:
Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde, adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. (p.137).
Pombinha - Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereótipo de fraca, nervosa, doente, enfermiça,
doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada.
A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dá em consequência de um estupro.Pombinha rompe drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa, desigual, desumana. A moral cristã do naturalismo aniquila com os padrões qualquer possibilidade do "patólogico", defeituoso, se dar bem.
A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete suicídio. Talvez essa figura do pai é substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que conta muito segundo os estudiosos para a formação da personalidade de Pombinha.
Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha toma Léonie como espelho, modelo de vida a ser seguido.
Observemos à afilhada, antes da relação homoérotica:
"A folha era a flor do cortiço (...)". (p.37)
"As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo umaflor(...)orçando pelos dezoito anos, não tinha pago a natureza o cruento tributo da puberdade". (p.38).
Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando menstruou , todos ficaram sabendo, houve comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e um pássaro pudesse finalmente voar.
"E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e de um instinto temor (...)" (p.135)
A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua sagacidade, conquistava todos os homens.
Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie.
"A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina desamparada, que se fazia mulher" (p.236)
Você que vai prestar FUVEST-UNICAMP-FAMEMA- veja estas questões, resolva-as e, se quiser, traga para a professora olhar.
1. Caracterize o narrador em personagem ou observador-onisciente. Justifique com passagens do texto. 2. De que forma resume o narrador, no capítulo I, A RIVALIDADE ENTRE João Romão e Miranda? 3. Quem foi Bertoleza, descrita no capítulo I ? Relacione: João Romão > venda > cortiço >pedreira
Como se apresenta , o casal Miranda e D. Estela? Sobrado > Miranda > Estela
4. Uma reflexão feita por Miranda, no cap. II,dá bem a medida do interesse crítico de Aluísio de Azevedo pelo
imigrante português.Localize a passagem e transcreva-a.
5. O cap. III inicia-se por uma longa descrição do amanhecer no cortiço. Redija um texto semelhante acerca de
outro tema , por exemplo, uma multidão aglomerada na porta de um estádio de futebol ou a entrada solene da noiva em casamento de gala.Observe que é indispensável, num quadro assim a ordem dos detalhes colhidos.Caracterize as lavadeiras - perspectiva naturalista: busque exemplos.
6. Durante todo o romance , Aluísio de Azevedo opõe o mundo dos brasileiros ao mundo dos portugueses, descrevendo-lhes os hábitos , as crenças, os gostos, etc,,,No capítulo VII, a polaridade inclui também a música pela contraposição da dolência do fado à sensualidade do samba .Comente o trecho em que essa cena acontece.
7. Quem era o suposto dono do cortiço “cabeça de gato”?( cap. XIII)
8. Quase no fim do capítulo III aparece em cena Jerônimo, cuja história será contada apenas no capítulo V. De
que forma é descrito?
9. Jerônimo x João Romão > consciência do valor do trabalho x interesse capitalista-Caracterize Jerônimo e
Piedade
10. Quem era Firmo? Caracterize- Caracterize também o velho Libório
11. O que acontece com Jerônimo? Piedade sente o perigo por instinto ou por inteligência? 12. Relacione: Henriquinho x Leocádia x Bruno
13. Ao longo e cínico diálogo entre João Romão e Botelho termina com o ditado:” O dente que já não presta
arranca-se fora” ( cap. XXI). Que sentido tem no contexto da conversa?
14. Jerônimo > processo de abrasileiramento > Rita > Firmo > Piedade-O que descobriu Marciana? Que proveito
tira João Romão da situação?
15. Caracterize Leonie e seu relacionamento com as pessoas do cortiço.
16. O que se comemora no sobrado de Miranda?A revolta de Marciana e suas conseqüências. Por que a bruxa
sorriu quando Miranda ameaçou João Romão?
17. Por que Firmo e Jerônimo brigaram? Quem representava a força? Quem representava a agilidade? O que
colocou fim na briga? Por que os moradores temiam a presença da policia?
18. O que o narrador revela sobre a visita de Pombinha a casa de Leonie? Como o narrador apresentou a
transformação de Pombinha em mulher? Os preparativos do casamento de Pombinha. Qual o efeito que o pedido de Bruno provocou em Pombinha?
19. O que era o Cabeça de Gato? Quem eram os Carapicus? Que transformações aconteceram com J. Romão? O
que as motivava? Ao final do cap. II ,qual recurso utiliza Botelho para aquietar a consciência do jovem Henrique, amante de D. Estela? Qual o acordo que fez com o Botelho?
20. Rita x Firmo x Jerônimo: o que os aproxima? O que os distancia? O que Aconteceu com o Firmo?
21. A descrição da chegada de Rita Baiana no Cortiço ( cap. VI) exemplifica a maestria de Azevedo na criação de
tipos populares, um dos segredos também de Camilo Castelo Branco( veja-se o João da Cruz de Amor de Perdição) Explique o trecho, anotando-o. Qual a reação do cortiço com a volta de Rita?
22. No capítulo VIII, Piedade, mulher de Jerônimo, sente pela primeira vez, ciúmes de Rita Baiana. Assim o
expressa o narrador:’Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente o seu ninho exposto”. O que aconteceu com Rita e Piedade? Como reagiram os habitantes do cortiço diante da disputa das duas? O que voltou a unir os habitantes do cortiço?
23. Que fato importante da trajetória do cortiço é focalizado no 17º capitulo? Quem o provocou? O que os
fatos deste capítulo revelam sobre a solidariedade entre os menos favorecidos?
24. O capítulo II de Iracema(1865), de Alencar, começa pela descrição da heroína, aquela que ficou conhecida
como a “Virgem dos lábios de mel”.Curiosamente o parágrafo iniciado por “Naquela mulata estava o grande mistério...’(CAP.VII) faz uso do mesmo tipo de metáfora para dizer dos tormentos íntimos de Jerônimo. Comparar os dois textos é bom exercício de verificação de proximidades e das distâncias entre Romantismo e Realismo, vizinhança que se explica muito bem nas obras de Raul Pompeia Aluísio Azevedo ou Camilo C. Branco.
25. A quem Piedade culpa por ter sido abandonada pelo marido? Como Piedade passou a se comportar depois
que foi abandonada por ele ? Por que Senhorinha também foi atingida por esse fato?
26. Qual o problema que J. Romão tem de resolver para poder casar-se com Zulmira? Era um casamento por
amor? Justifique. Como J. Romão tentou resolver o problema? Qual foi a solução definitiva? Quanto ele pagou por ela?
27. O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no capítulo XIX, pode ser considerado um momento de romantismo,
dos tantos em que resvala o narrador ao longo da obra?
28. A última hora, às vésperas do casamento , os sonhos românticos de Pombinha com que se desfazem( cap.
XII). Por quê? O que aconteceu com Pombinha depois do casamento?
29. Por que no final de O Cortiço revela certo gosto de Aluísio pelo melodramático? 30. Que cenas marcaram o final da narrativa?
Leia, ainda, que é importante !!!!!!
O Protagonista do Cortiço é o próprio cortiço
Conjunto 1 – Cortiço São Romão Define-se por sua composição elementar .Seus elementos têm uma constituição
primária e estão ao nível da natureza do instinto .
O Conjunto 2- Casa do Miranda- mostra a vigência de certas regras mais definidas culturalmente.Existe entre seus
elementos uma coexistência baseada num maleável regime de trocas que indica a predominância de outros interesses que não o puramente instintivo.
Portanto ,ainda que correndo o risco de simplificar a questão se poderia dizer que o conjunto 1 está do lado da Natureza e o conjunto 2 está do lado da cultura.Toda a movimentação de Romão ,por exemplo , é para sair do solo puramente biológico e instintivo em que se agita o cortiço e entrar numa organização social regida por um sistema jurídico e político representativo da cultura.
O conjunto simples nivela-se em vários sentidos,porque sua dominante é a horizontalidade.De um ponto de vista racial sua grande maioria é de preto e mestiços e os elementos de outras raças que acabam por se comportar como a maioria.De um ponto de vista social todos são empregados e assalariados vivendo de pequenos misteres sendo , portanto , economicamente dependentes do regime imposto pelos elementos do conjunto 2. Nivelam-se por
baixo pela miséria e pobreza.Agrupam-se num coletivismo tribal e identificam-se mais pelas semelhanças do que pelas diferenças.
.O próprio nome CORTIÇO-marca a sua natureza.Num cortiço, metaforicamente falando também a grande quantidade de abelhas são as operárias com funções semelhantes, excetuando-se somente a abelha rainha.Não estranha, portanto, que o narrador insista numa seqüência de imagens de animais e insetos para caracterizar esse conjunto.Tome-se como exercício e pesquisa o campo III relatando o despertar do cortiço .Por aí através de um
processo de antropomorfização não se diferem objetos , homens,animais e vegetais.É tudo um bando de machos e
fêmeas, numa fermentação sanguínea,naquela gula viçosa de plantas rasteiras ,mostrando o prazer animal de existir.Há um verminar constante de formigueiro assanhado e destacam-se risos, sons de vozes que se alternavam,sem saber onde grasnar de marrecos,cantar de galos,cacarejar de galinhas.
Para ressaltar essa borda de seres primitivos, o narrador acentua a degradação tipos aproximando-os insistentemente de animais e conferindo-lhes apelidos.Leandra com “äncas de animal do campo“,Neném como uma “enguia”; Paula com “dente de cão “e Pombinha ,com esse nome no diminutivo ocultando seu verdadeiro nome ,significa a fusão do natural e do cultural,quando o narrador privilegia o apelido de caracterização zoomórfica.E assim, narrativa a dentro persiste um movimento de zoomorfização das criaturas , nivelando-as por baixo ,pelo que tem de mais elementar.Romão e Bertoleza trabalham como uma junta de bois, o cortiço exala um “fartum de besta no
coito “,os personagens se xingam de cão ,vaca , galinha, porco ; Jerônimo com suas “lascívias de macaco e cheiro sensual de bodes“;Piedade abandonada surge “ululante como um cão “,soltando um “mugido lúgubre ‘ como “ uma vaca chamando de longe ‘.
PERSONAGENS
Relação Bruno/Leocádia: quando Bruno descobre que Leocádia encontra-se com Henriquinho, a solução que
encontra é a destruição de sua casa e a expulsão da mulher sob ameaça de morte.
Relação Jerônimo/Firmo: a rivalidade por causa da mulata Rita configura-se por uma briga de porrete versus navalha,
e num outro ponto da narrativa pelo assassinato de Firmo.
Relação Romão/Bertoleza: ao se ver traída por Romão , Bertoleza comete violência contra si mesma e rasga a barriga
derramando as vísceras no chão da cozinha .
Relação Rita/Piedade: reduplicando o conflito Firmo/Jerônimo, brasileiro/ português , branco/mulato xingando-se as
personagens como os mais diferentes nomes de animais, reafirmando o primitivismo de seu conjunto.
Já o outro conjunto- o complexo, soluciona os conflitos efetivando trocas de objetos e dons. Na verdade, mais objetos do que dons, uma vez que o romance se esforça por cumprir os preceitos naturalistas ressaltando sempre o aspecto físico/objetivo das relações.
Relação Estela/Miranda: Apontada desde o príncipio da narrativa como uma associação de interesses em que a
mulher entrava com o capital e o homem com a sua gerência , destaca-se a função do dote, na formação dessa sociedade econômico - sentimental .
João Romão: Significa elemento vitorioso segundo uma seleção das espécies , valores tidos como positivos na cultura brasileira.
João Romão vendeiro
Miranda: sua posição de aristocrata com pequenas variações se mantém e ele atinge o baronato.
Jerônimo: depois de atingir o máximo de sua posição de assalariados, envolvido pelos elementos naturais do
conjunto 1 no interior do qual foi viver, entra em degenerescência.
Jerônimo: quando aparece na estalagem de Romão . A figura mitológica aí não é acidental ,mas ganha mais sentido
com a fisionomia da personagem depois que entra em decadência.Ele aí chega com ideais de ascensão,pois saíra da roça onde “tinha que se sujeitar a emparelhar com os negros escravos e viver com sem aspirações nem futuro , trabalhando eternamente para outro” [ cap. V ].Todo esse capítulo é uma exaltação das virtudes de Jerônimo como um tipo clássico-mitológico.
A- Mulher Objeto- Exemplifica-se inicialmente em Bertoleza, elemento feminino que se associa ao masculino(Romão)
para criação do cortiço. Macho e Fêmea trabalham dia e noite, e quanto mais o tempo passa, mais o macho se afasta da Fêmea , uma vez que ela era peça fundamental apenas no principio de carreira de Romão : “a medida que ela galgava posição social, a desgraça descia mais e mais, fazia-se mais escrava e rasteira”. Outro exemplo é Zulmira: vai ser outro degrau utilizado por Romão , agora não no conjunto 1,mas no conjunto 2. A passagem de um conjunto ao outro implica na presença de um elemento feminino no regime de troca Reafirmam-se certas regras da sociedade, daquilo que José de Alencar chamara de “mercado matrimonial”. As ligações entre ele e Bertoleza e ele e Zulmira são totalmente circunstanciais. As mulheres aí são elementos cambiáveis no comércio que ele opera.
B- A MULHER Sujeito - objeto . A relação Estela / Miranda coloca os dois em nível de igualdade.Ambos se
beneficiam. Essa relação ajusta o regime de trocas sexuais, que são a contrapartida das trocas econômicas e sociais. A dupla Rita/Jerônimo exemplifica o mesmo regime de trocas. O narrador vem ao nível do enunciado para dizer que entre eles se cumpria o ritual da atração racial. Rita é metonímia da natureza tropical enquanto Jerônimo é o símbolo daquilo que o autor chama de “raça superior”:
“mas desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com sua tranqüila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior.”(cap. 15)
Todas essas personagens têm a caracteriza-las ou permanência no mesmo status econômico e social ou a decadência. Nenhuma sai de seu conjunto, as transformações são endógenas e não exógenas como se dará com Leonie,
Pombinha, Senhorinha.
C) Mulher-sujeito. – O termo “sujeito” aqui implica numa interpretação dos valores ideológicos da comunidade
descrita. Assim como Romão consegue se impor afirmando-se enquanto indivíduo dentro dos padrões vigentes na sociedade, aquelas mulheres(Leonie, Pombinha, Senhorinha) também se destacam da dependência contínua ao macho e passam a exercer o poder através do sexo-luxúria. Como Romão , elas extrapolam de seu conjunto original e se realizam no conjunto complexo.
Léonie- Como protótipo da mulher do cortiço que saiu para a prostituição de elite, mantém trânsito livre entre um
conjunto e outro. Ela pode desfilar com os amantes pelas ruas e teatros com a mesma leveza com que regressa ao cortiço para ver sua afilhada. Sua ascensão social permite-lhe o trânsito. O modelo de Léonie repete-se em Pombinha, que é por ela seduzida, deixando de lado seu aspecto angelical para assumir a imagem da “serpente”, que o narrador maneja para classificar vigor do instinto e a ameaça sexual. Repete-se em termos onomásticos o determinismo: a pombinha vai ser devorada pela leoa através da iniciação homossexual: “a serpente vencia afinal: Pombinha foi, pelo próprio pé, atraída, meter-se-lhe na boca”. Pombinha, enfim, “desfere o vôo”
Fique Atento!
Bertoleza se considera como pertencente a uma raça superior à negra, pois é cafuza e inferior à branca.Seu meio de origem é,evidentemente,inferior ao de João Romão, pois ela era escrava a ele provinha de um país europeu, embora fosse de classe baixa. Daí a admiração que a mulher tem pelo português e daí a sua total subserviência a ele.
As imagens que o autor emprega na descrição do desenvolvimento do cortiço são degradantes( lodo, lama,esterco) e reduzem as pessoas ao grau mais baixo e repulsivo da escala animal( larvas). Essa tendência ao rebaixamento e à animalização das pessoas é características do naturalismo.
Está implícita na obra que Miranda tem a ideia de que o Brasil é um paraíso para os espertos. O pais não é visto como um lugar de trabalho construtivo, mas sim um lugar para fazer a América., ou seja,enriquecer facilmente e aproveitar de tudo sem escrúpulos.
Apesar de ser mais feliz com Rita Baiana , em nova vida cercada de prazeres , Jerônimo perdeu com seu caráter português, sua antiga fibra moral, sua disciplina e seus projetos de enriquecimento.Agora, leva vida relaxada, endivida-se , embriaga-se.
Existe uma relação entre a mulata e a lua, a mulher é, nos dois textos associada ao brilho prateado da lua. .
O narrador diz que Rita Baiana era volúvel( leviana) como toda mestiça. Aqui temos a expressão de um preconceito determinista que era tomado como verdade científica pelos naturalistas.De que preconceito e determinismo se trata?Trata-se do determinismo da raça , que era tomado como verdade científica e que degenerou em simples preconceito racial.
Aluísio de Azevedo pertence ao Naturalismo , que tem como características principais o zoomorfismo e o descritivismo objetivo, que fixa elementos sensoriais.
O zoomorfismo aparece no aglomerado de” fêmeas e machos” ,”não molhar o pelo”,”fossando” ,” pomba no cio” e a análise objetiva voltada para elementos sensoriais, aprece em “ fio d´água que escorria da altura de uns cinco palmos”,”chão inundava-se”, dentre outras.
O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no cap.XIX, pode ser considerado um momento de romantismo, pois arrependidos , chorosos, cheios de melancolia e derrotada ternura um pelo outro, eles são vistos
comovidamente pelo narrador, que usa de sinais de pontuação subjetivos e de frases entrecortadas, à moda de balbucio, de voz embargada pela tristeza- embora volte quase que imediatamente a postura impessoal.
No final do capítulo II,Aluísio de Azevedo põe em boca de Botelho um discurso cuja ironia nos lembra O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós ( 1875) com os argumentos levantados pelos safados padres de Leiria para tornar lícito seu amasiamento ilegal com as devotas, para aquietar a consciência do jovem Henrique, amante de D. Estela, dizendo:”Fique então sabendo que não é só a ela que você faz o obséquio , mas também ao marido, quanto mais escovar-lhe você a mulher, mais macia ela fica para ele. Dessa forma ele ficará tranqüilo quando voltar do serviço, um pouco de descanso. Escove-a, escove-a! que a porá macia que nem veludo!”
Observe a prosopopeia ou personificação “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos,mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas”( cap. III).
FUVEST-2010- Considere o seguinte excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se pede.
(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes. Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam na composição de O cortiço, identifique e explique aquela que se manifesta no trecho a e a que se manifesta no trecho b, a seguir:
a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração”. b) “cedendo às imposições mesológicas”.
Resposta É do naturalismo -poética predominante na composição de Aluísio de Azevedo a concepção de que os comportamentos humanos, obedecem a determinismos “de raça”, ou seja genético, como se demonstraria, na propensão da mestiça determinada por seu “sangue”, para o “macho de raça superior”. B) As “imposições mesológicas” representam o determinismo “do meio”, ou seja do ambiente físico e social, sobre o comportamento humano.