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Retrato territorial de Angola e da província do Cuando Cubango

No documento Amarildo Maurício Lopes Alexandre (páginas 78-107)

PARTE II ANÁLISE DOS RECURSOS TURÍSTICOS E DA PERCEÇÃO DOS AGENTES DA

Capítulo 4 Retrato territorial de Angola e da província do Cuando Cubango

Para a persecução dos objetivos delineados torna-se fundamental o conhecimento da realidade territorial de Angola. Partindo do pressuposto de que a realidade do Cuando Cubango está quase toda ela enraizada na realidade de Angola, é imperioso debruçarmo- nos sobre este território e tecer algumas considerações gerais que permitam entender também a atividade turística existente.

Neste sentido, no primeiro momento abordamos alguns dados estatísticos referentes à população de Angola. Em seguida procuramos descrever a atividade económica de Angola e os seus impactes na província do Cuando Cubango. Na mesma lógica, procuramos analisar a questão da pobreza em Angola e como ela influencia a província do Cuando Cubango. Segue-se uma abordagem sobre o território do Cuando Cubango nas dinâmicas sociodemográficas, de produção, da atividade turística e da caraterização dos planos por nós consultados.

4.1 - Localização e população de Angola

A República de Angola localiza-se na costa ocidental de África, tendo como limites geográficos: a Norte o Congo Brazzaville e a República Democrática do Congo, a Este a República Democrática e a República da Zâmbia, a Sul a Namíbia e a Oeste o Oceano Atlântico (Figura 1).

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Figura 1 – Municípios, comunas e principais localidades em cada província de Angola

Fonte: INEA, 2016, p. 27.

Estende-se entre os paralelos 4º 22´ e 18º 02´ de latitude sul e localiza-se a 11º 21´e 24º 05´ de longitude Este de Greenwich. O território de Angola ocupa uma área de 1.246.700 km2, sendo que a fronteira angolana tem uma extensão de 6.487 km2, dos quais 4.837 são de fronteira terrestre e 1.650 de fronteira marítima (Raeymaeker, 2012).

No que se refere à sua população, Angola apresenta, de acordo com o Censo de 2014 realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), 25.789.024 habitantes (INE, 2016). Tal como ocorre atualmente em grande parte dos países, em Angola 63% da população residia, em 2014, em espaços urbanos e 37% em espaços rurais. Do conjunto das 18 províncias que compõem Angola, e tendo em conta a sua divisão administrativa, Luanda, que é a capital, apresentava 6.945.386 habitantes, correspondendo à província mais populosa (INE, 2016).

4.2 - O retrato da economia de Angola e a sua influência na província do Cuando Cubango

Depois da Independência, que ocorreu em 1975, Angola optou por um sistema centralizado de gestão económica e política que só em meados da década de 1980 começou a ser revisto. A transição para uma economia de mercado foi impulsionada por

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um ambicioso programa de reformas introduzido em 1987, assumindo-se como os primeiros passos para a consolidação da estabilidade macroeconómica do país (World Bank, 2007).

O governo adotou em 1987 o Programa de Saneamento Económico e Financeiro (SEF) que se circunscrevia a dois objetivos fundamentais (World Bank, 2007):

• Estabilização da situação financeira, reduzindo desequilíbrios internos e externos, que se refletiram em pressões inflacionárias, grandes défices orçamentais, perdas excessivas e endividamento de muitas empresas, grave deterioração da situação financeira do sistema bancário, acumulação de atrasos em moeda estrangeira, pagamentos e dificuldades no serviço da dívida externa; • Reforma do sistema económico, com a finalidade do aumento da produtividade,

melhoria da alocação de recursos e criação das condições para um mais rápido crescimento económico e desenvolvimento equitativo (World Bank, 2007). Portanto, pese embora as políticas adotadas, estas não colheram resultados a curto prazo, mas foram determinantes em 2002 quando se abriu um novo ciclo na economia de Angola.

Entre os anos de 2002 e 2017, a economia de Angola, foi marcada por altos e baixos, devido a fatores internos e externos. O ano de 2002 foi marcado pelo fim da guerra civil em Angola através da assinatura do acordo de paz de 4 de abril. Com o advento da paz em Angola, surgiu um novo quadro no âmbito político e económico. Daí o facto de muitos economistas e outros especialistas (e.g., Rocha, 2014; Dala, 2018), ao caraterizarem a economia de Angola terem como referência o período pós-guerra.

O período entre o ano de 2003 e o de 2017 marcou a economia de Angola. Na realidade, o período de 2003 a 2008 é referenciado como sendo o espaço temporal em que a economia angolana mais cresceu. O crescimento do PIB foi impulsionado por alguns fatores, tais como as políticas económicas adotadas em 1987, a paz, a estabilização macroeconómica, as exportações do petróleo e os investimentos (Universidade Católica de Angola, 2016).

De acordo com o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (2016), entre 2002 e 2008 a taxa média anual de crescimento económico foi de 15,5%, sendo a mais elevada de África e das mais elevadas do mundo. Dala (2018)

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realça, em termos comparativos, que em 2000, o PIB por habitante foi de 635 dólares enquanto em 2008 passou para 4.671 dólares. Durante o período considerado verificou- se igualmente um crescimento a nível dos investimentos público e privado, que possibilitou a concretização de mais despesas por parte do governo em infraestruturas económicas e socias. O financiamento foi possível através de parcerias com a China, com o Brasil e com Portugal, envolvendo um dispêndio acumulado de 27,1 mil milhões de dólares correntes.

No entanto, a crise económica mundial desencadeada nos EUA em finais de 2007 foi um dos primeiros sinais do que viria a ocorrer à economia de Angola. Com uma economia ancorada no setor petrolífero, com o preço baixo do barril de petróleo no mercado internacional e fruto da má gestão dos anos em que Angola viveu o seu maior período de crescimento económico, perdeu-se uma grande oportunidade de se diversificar a economia e, deste modo, diminuir a dependência excessiva face à indústria petrolífera e apostar em outras fontes de produção (Dala, 2018). É de salientar que em períodos de crise não devem ser reduzidos os investimentos públicos nos setores fundamentais como a saúde e a educação. Este princípio não foi tido em conta e como resultado o quadro de investimentos públicos para o setor social começou, gradativamente, a mudar e os problemas sociais agudizaram-se (Universidade Católica de Angola, 2016).

Entre 2009 e 2013 o crescimento económico de Angola começou a desacelerar, tendo em 2008 começado a ocorrer os primeiros sinais da crise económica mundial, verificada pela redução do ritmo de crescimento do PIB mundial (apenas 2,5% em 2008) e pela quebra no índice de preços das commodities não-petrolíferas. Na realidade, foi no último trimestre de 2008 que se desencadeou a redução drástica do preço do barril de petróleo, agravado pela debilidade da estrutura económica. Angola sofreu os efeitos sobretudo em 2014, pese embora 2009 tenha sido o primeiro ano em que surgiram os primeiros sinais de desaceleração da economia (Universidade Católica de Angola, 2016). Na nossa perspetiva, perdeu-se uma grande oportunidade para a diversificação da economia, que poderia atenuar os impactes externos.

O indicador mais claro dos efeitos da crise económica mundial foi o da redução do ritmo de crescimento do PIB em 2009, tendo passado de 13,6% em 2008, para 2% em 2009. Entre 2014 e 2017 a crise agudizou-se. O ano de 2017 foi o ano em que a produção do petróleo atingiu em Angola os índices mais baixos desde a Independência de 1975 (Dala,

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2018). Deste modo, o repto lançado pelo governo tem sido cada vez mais direcionado para a diversificação económica, no sentido de aumentar a produção de setores não petrolíferos e impulsionar o crescimento económico, sendo o turismo um dos setores de relevo. A título de exemplo sobressaem os projetos referenciados no Plano Nacional de Desenvolvimento 2018-2022 e a realização do Fórum Mundial do Turismo que decorreu entre 23 e 25 de maio de 2010 em Luanda, onde o objetivo do Estado angolano foi o de promover o investimento e impulsionar o setor no país.

Portanto, com a redução do crescimento económico de Angola e com a redução dos investimentos públicos e privados, fica claro que todos os planos estratégicos, designadamente, o Plano Diretor do Turismo 2011-2020, o Plano de Desenvolvimento Estratégico 2013-2017 e outros planos, como o de combate à pobreza sofreram alterações ou não chegaram mesmo a ser implementados.

No caso da Província do Cuando Cubango, tendo por base a redução de crescimento económico de Angola, quase todos os projetos que constavam do Plano de Desenvolvimento Estratégicos provincial 2013-2017 não foram cumpridos. Ainda que não se tenha feito a avaliação final do Plano, para chegarmos a esta conclusão, tivemos como referência o Plano Nacional de Desenvolvimento 2018-2022, onde verificámos muitos dos projetos provinciais de 2013-2017. É neste sentido que nos propusemos aferir como o turismo pode contribuir para a diversificação económica e para o combate à pobreza na província do Cuando Cubango.

4.3 - O retrato da pobreza em Angola e os seus impactes na província do Cuando Cubango

No sentido de se avaliar como o turismo pode influenciar no combate à pobreza na província do Cuando Cubango torna-se crucial realizar uma breve abordagem sobre a pobreza em Angola.

A pobreza é caraterizada pela privação e falta de recursos (Costa et al., 2008). Relativamente, às causas de pobreza em Angola partilhamos das avançadas a seguir: o conflito armado, a excessiva intervenção do governo na economia como consequência de uma gestão administrativa centralizada, a baixa produtividade e competitividade económica que ocorreu em função da baixa qualidade das infraestruturas económicas e

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sociais, e o fraco nível de desenvolvimento (Ministério do Planeamento, 2003; Universidade Católica de Angola, 2016; Dala, 2018).

Para além dos fatores já referidos como causas de pobreza em Angola, somos de parecer que figuram igualmente outros fatores como: o funcionamento débil do sistema de ensino, bem como da saúde e proteção social, o débil sistema institucional, a quebra muito acentuada da oferta interna dos produtos fundamentais e a ineficácia das políticas macroeconómicas.

Oliveira (2012), no seu estudo sobre “Um olhar a pobreza em Angola: causas, consequências e estratégias para a sua erradicação”, além dos fatores já referenciados apresenta outros, tais como, a má governação e a dívida externa, que acentuaram cada vez mais a pobreza extrema em Angola.

Na realidade, o governo angolano elaborou planos ou estratégias de combate à pobreza, destacando-se duas estratégias nacionais de combate à pobreza entre 2004 e 2016. A primeira designada de Estratégia de Combate à Pobreza 2004-2010 e a segunda prendeu-se com o Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza PMIDRCP 2011-2016 (Fernandes, 2016). Os resultados das estratégias referenciadas foram, num primeiro momento, de uma redução da pobreza entre 2004 e 2009. Após este período ocorreu uma estagnação e até mesmo retrocessos (Fernandes, 2016).

De salientar que os Planos Estratégicos implementados surgiram num contexto difícil com o intuito de responder ao cenário sombrio de pobreza em Angola. Assim, tendo por base o Inquérito aos Agregados Familiares sobre Despesas e Receitas (IDAFR), em 2001, de acordo com a Estratégia de Combate à Pobreza (ECP), em 2003, os dados estatísticos revelavam que em Angola a pobreza atingia 68% da população e 15% dos agregados familiares viviam em pobreza extrema. O IDAFR de 2001 destacava uma variação entre as áreas urbanas (57%) e as rurais (94%). Estes dados justificam-se tendo como base as causas já referenciadas.

Um outro estudo de referência, ou seja, o Inquérito de Bem-Estar à População (IBEP), realizado em 2008 e 2009 (que foi o primeiro inquérito social que cobriu todo o território) revelou que no período em referência grande parte da população angolana estava a viver em condições de pobreza (58,3% encontrava-se nas áreas rurais e 18,7% nas áreas urbanas) (INE, 2013). Ainda de acordo com o mesmo estudo existia, no

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período analisado, uma grande discrepância na distribuição da riqueza, uma vez que os 20% mais ricos arrecadavam 59% das receitas e despendiam 49% das despesas. Por outro lado, 20% dos mais pobres arrecadavam somente 3% das receitas e o valor das despesas eram superiores às receitas (INE, 2013).

A par dos dados estatísticos sobre a pobreza em Angola referenciados, outras instituições internacionais têm realizado estudos sobre a pobreza em Angola. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Iniciativa para a Pobreza e Desenvolvimento Humano de Oxford (OPHI) desenvolveram uma nova versão do Índice Multidimensional de Pobreza (MPI) global que se estende a 105 países, cobrindo 5,7 mil milhões de pessoas dentre as quais 1,3 mil milhões de pessoas são consideradas pobres em termos multidimensionais. De acordo com o relatório do Índice de Pobreza Multidimensional (MPI) global de 2018 para o caso de Angola destaca-se que 48% da população total era pobre, ou seja, em quase dois angolanos um era afetado pela pobreza multidimensional1. Dos dados analisados, os elementos que mais influenciavam

na pobreza eram: privações de anos de escolaridade (16%), a frequência escolar (15%) e a nutrição (11%). De acordo com os dados divulgados, todos os indicadores referenciados melhoraram comparativamente ao ano de 2001 (OPHI, 2018).

O INE de Angola realizou em 2019, com o apoio do PNUD e do OPHI, o primeiro estudo sobre “Índice de pobreza multidimensional por município” a nível dos 164 municípios de Angola. Foram analisadas quatro dimensões, designadamente, a saúde, a educação, a qualidade da habitação e o emprego. Tendo como referência os dados do censo populacional realizado em 2014, os resultados indicam que dos 164 municípios 60 apresentavam uma incidência de pobreza acima dos 90%. De acordo com o estudo, 9 em cada 10 pessoas são, nestes municípios, multidimensionalmente pobres. Do conjunto destes destacam-se 5 dos 9 municípios do Cuando Cubango: Cuito Cuanavale (97%), Cuchi (97%), Nancova (97%), Rivungo (94%) e com 92 % o município do Cuangar (INE, 2019).

Portanto, os dados estatísticos referenciados revelam uma redução da pobreza em Angola comparativamente com os dados apresentados em 2003, em que havia uma incidência de pobreza em 68% da população (de acordo com o INE) e os dados

1 Uma pessoa é multidimensionalmente pobre se em sua casa está em falta um terço ou mais dos indicadores ponderados (OPHI,

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referentes a 2018 em que 48% da população angolana era identificada como pobre em termos multidimensionais. Entretanto, esses dados apresentados recentemente, ainda não são animadores, uma vez que se pode fazer muito mais para a redução da pobreza. Tendo por base os dados económicos e os planos estratégicos implementados pelo governo, podemos chegar à seguinte conclusão relativamente aos resultados dessas duas estratégias implementadas: redução da pobreza (caraterizada pela fase de grande crescimento económico); estagnação ou retrocesso da redução da pobreza (esta fase é caraterizada pelo período de estagnação e decréscimo do crescimento económico). Esta conclusão justifica-se pela redução de investimentos públicos adotados pelo governo angolano no setor social face ao comportamento da economia, ou seja, a crise económica propiciou a redução dos investimentos no setor social conduzindo ao aumento do desemprego e ao empobrecimento de um número mais elevado de famílias.

Relativamente aos impactes da pobreza na província do Cuando Cubango, tal como referenciámos nas causas internas que influenciam a pobreza, sobressaem as políticas microeconómicas e macroeconómicas. Verificamos que as políticas de desenvolvimento económico e social foram desenvolvidas sob uma estrutura centralizada, ou seja, os programas de combate à pobreza dependiam do governo central, logo, quer a estrutura provincial e quer a municipal e comunal dependiam da estrutura governamental central para materializar os seus planos de combate à pobreza. Deste modo, a pobreza existente em Angola tende a influenciar a pobreza na Província do Cuando Cubango, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista socioeconómico (INE, 2013).

Relativamente à província do Cuando Cubango, esta é uma das mais afetadas pela pobreza. Em 2013, de acordo com o Plano de Desenvolvimento provincial, a província foi das mais afetadas no período do conflito armado tendo influenciado o elevado índice de pobreza quando comparado com as demais províncias (Governo Provincial do Cuando Cubango, 2013).

As expetativas relativamente ao Plano de Desenvolvimento 2013-2017 foram frustradas com a desaceleração do crescimento económico que conduziu a uma crise económica e financeira e a cortes do governo nos investimentos públicos. Como resultado, quase nada se fez em termos de carências sociais e económicas (Ministério da Economia e Planeamento, 2018), conduzindo a que a província do Cuando Cubango assumisse um mais elevado índice de pobreza.

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Face a esta situação o elevado índice de pobreza na província do Cuando Cubango pode ser reduzido com uma aposta efetiva no desenvolvimento da atividade turística.

4.4 - O Retrato territorial do Cuando Cubango

4.4.1 - Localização e dinâmicas sociodemográficas

A província do Cuando Cubango está localizada no extremo Sudeste de Angola e possui uma superfície de 199.335 Km2 representando a segunda maior província de Angola. Os seus limites são: a Norte as províncias do Bié e do Moxico, a sul a República da Namíbia, a Oeste as províncias da Huíla e do Cunene, e a Leste a província do Moxico e a República da Zâmbia (Governo Provincial do Cuando Cubango, 2013).

Em termos de divisão administrativa a província do Cuando Cubango é constituída por nove municípios, designadamente: Calai, Cuangar, Cuchi, Cuito Cuanavale, Dirico, Menongue, Nancova e Rivungo. O município de Menongue é a capital provincial (Figura 4).

Figura 4 - Divisão administrativa do Cuando Cubango

Fonte: Governo provincial do Cuando Cubango, 2013, p. 11.

De acordo com o último Censo de 2014, a província do Cuando Cubango contava com uma população residente de 534.002 habitantes, dos quais 304.898 habitantes (58%)

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residiam em espaços urbanos e 229.104 habitantes em espaços rurais (42%) (INE, 2016). Neste sentido, assiste-se a uma dinâmica demográfica com maior incidência nos espaços urbanos, tal como ocorre em todas as províncias de Angola.

A assimetria a nível populacional é bem visível, verificando-se uma maior densidade populacional nos municípios que se localizam a Oeste, nomeadamente, Menongue, Cuchi, Cuito Cuanavale, Calai, Cuangar e Nancova, e uma menor densidade populacional nos municípios que se localizam a Este, como Mavinga, Rivungo e Dirico. Menongue assumia- se, em 2014, como o município do Cuando Cubango com mais elevada densidade populacional, ou seja, com cerca de 14 habitantes por quilómetro quadrado, cinco vezes mais do que a média provincial, com cerca de 3 habitantes por quilómetro quadrado (INE, 2016). Ainda assim, a densidade populacional era muito baixa e mesmo quando se considera a densidade populacional nacional o valor é muito baixo (20,7 habitantes por quilómetro quadrado), representando uma realidade muito diferente da realidade Europeia e revelando as dificuldades de acessibilidade das populações relativamente a inúmeros equipamentos e infraestruturas.

Luanda, a capital de Angola, possuía um valor 18 vezes superior à média nacional, seguindo-se as províncias de Benguela e de Huambo com 70 e 59 habitantes por quilómetro quadrado, respetivamente. As províncias do Cuando Cubango e de Moxico eram as menos densamente povoadas (INE, 2016).

A estrutura etária da população é um dos aspetos de relevo quando se carateriza as dinâmicas de uma população permitindo analisar o passado, o presente e planificar o futuro. A província do Cuando Cubango apresentava em 2014 uma estrutura etária bastante jovem, revelando uma população progressiva, tendo em conta o peso dos diferentes grupos etários. A base larga da pirâmide (Figura 5) revela uma elevada taxa de natalidade e o topo estreito uma ainda baixa esperança de vida à nascença (apenas 2,8% da população tem 65 e mais anos de idade).

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Figura 5 - Estrutura etária da população do Cuando Cubango em 2014

Fonte: INE, 2016, p. 28.

O grupo dos jovens, ou seja, aqueles que têm menos de 15 anos (247.753 habitantes), representavam, em 2014, 47% da população residente no Cuando Cubango (Quadro 15).

Quadro 15 - População por grupo etário, segundo o sexo, em 2014

Província e grupos etários

Total Homens Mulheres

Nº % Nº % Nº % Cuando Cubango 534.002 100,0 260.585 100,0 273.417 100,0 0-14 anos 247.753 46,4 122.951 47,2 124.802 45,6 15-24 anos 105.208 19,7 50.386 19,3 54.822 20,1 25-64 anos 166.002 31,1 79.947 30,7 86.056 31,5 65 e mais anos 15.038 2,8 7.301 2,8 7.737 2,8

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Angola, INE, 2016.

Estes indicadores refletem a situação nacional. A população de Angola dos 0 aos 14 anos é de mais de 12 milhões de habitantes, ou seja, 47% da população. As 3 províncias que representam mais de metade da população total dos 0-14 anos são: Huambo, Bié e Moxico. Estas representam as províncias do interior e do lado oposto estão as províncias de Luanda, de Cabinda e de Lunda Norte. No caso da população idosa as províncias de

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Cunene e de Bengo possuem as percentagens mais significativas e as províncias de Luanda e de Cabinda as percentagens mais baixas (INE, 2016).

A projeção da evolução da população da província do Cuando Cubango para o período 2014-2050 realizada pelo INE em 2016, estimou que em 2019 apresentaria uma população de 619.757 habitantes e em 2050 1.361.466 habitantes (INE, 2016), estando deste modo, previsto um aumento significativo da sua população (Quadro 16). Atendendo a que não foram publicados dados mais recentes, ainda não é possível confirmarmos, à data da redação da presente dissertação, as estimativas que foram avançadas.

Quadro 16 - Estimativas da população tendo em conta as províncias do Cuando Cubango, Luanda, Benguela, Huíla e Huambo, em 2019, 2020, 2025, 2030, 2035, 2040, 2045 e 2050

Entidade Territorial 2019 2025 2030 2035 2040 2045 2050 Angola 30.175.55 3 36.170.96 1 41.777.194 47.870.396 54.343.997 61.079.991 67.927.825 Benguela 2.543.493 2.965.850 3.361.497 3.793.794 4.250.235 4.717.007 5.179.994 Cuando Cubango 619.757 738.518 3 849.591 4 969.408 1.096.109 1.227.697 1.361.466 Huambo 2.389.231 2.927.924 3.467.136 4.081.212 4.748.471 5.455.113 6.191.052 Huíla 2.906.791 3.486.668 4.054.938 4.705.412 5.418.796 6.178.867 6.976.918 Luanda 8.247.688 9.920.997 11.332.670 12.723.054 14.120.025 15.520.422 16.868.372 8

Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Angola, INE, 2016.

A formação da população é uma componente essencial para o desenvolvimento das sociedades (Severino, 2014), apresentando a província do Cuando Cubango um cenário preocupante.

Tendo como referência os dados do Censo da População de 2014, a taxa de alfabetismo

No documento Amarildo Maurício Lopes Alexandre (páginas 78-107)