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2.3 Qualidade da água para consumo humano 52 

2.3.3 Revisão da Portaria 60

Os guias para a qualidade da água para consumo humano da Organização Mundial da Saúde (Guidelines for Drinking-water Quality - GDWQ) têm sido a principal referência mundial para orientar os padrões e as legislações nacionais relativos à qualidade da água para consumo humano. Particularmente no Brasil, os guias têm exercido grande influência na periódica elaboração e atualização da legislação específica (HELLER et al., 2005).

O processo de revisão da Portaria MS n.º 518/2004 que estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências, foi iniciado em julho de 2009, o qual foi coordenado pelo Ministério da Saúde e teve a participação de Grupo de Trabalho (GT) e três subgrupos de especialistas. Esse processo atende ao artigo 4º da portaria, que determina sua revisão em um prazo máximo de cinco anos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

O GT foi criado em junho de 2009 pelo Ministro da Saúde no período, José Gomes Temporão, e conta com a participação de representantes do Ministério das Cidades, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Agência Nacional de Águas (ANA), da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe), da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas dos Serviços Públicos de Água e Esgoto (ABCON), do Conass, do Conassems, do Conselho Nacional dos Recursos Hídricos (CNRH), do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), do Conselho das Cidades e da Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde (Conjur) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

A Coordenação Geral de Vigilância Ambiental (CGVAM) do Ministério da Saúde contratou também instituições, especialistas e pesquisadores para a realização de estudos científicos para subsidiar as possíveis alterações no texto, pois são mais de 80 parâmetros de potabilidade e, para cada um, foram criados subgrupos de trabalho (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

O processo de revisão objetivou ser participativo e democrático. A sociedade civil podia enviar sugestões para o grupo de trabalho por meio de site específico como também por e-mail. Foi aberto inclusive um processo de consulta pública para revisão da Portaria MS nº 518/2004, cujas contribuições puderam ser enviadas até o dia 30 de novembro de 2010, por meio de endereço eletrônico disponibilizado para esse fim.

Este mecanismo tem sido o instrumento legal mais utilizado na legislação brasileira, como forma de atender a preceitos legais. O objetivo da consulta pública foi receber contribuições para concluir o processo de revisão, bem como, contribuir para a transparência e participação da sociedade e auxiliar o Ministério da Saúde na elaboração do texto final da Portaria, garantindo a participação da sociedade civil neste processo.

A nova Portaria nº 2.914/2011 foi publicada no dia 14 de dezembro de 2011, dispondo sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, bem como, revogando a Portaria 518/2004, em seu Art. 53.

Nesse contexto, merece um destaque especial o que está disposto no Art. 13 (BRASIL, 2011):

Art. 13. Compete ao responsável pelo sistema ou solução alternativa coletiva de abastecimento de água para consumo humano:

I - exercer o controle da qualidade da água;

II - garantir a operação e a manutenção das instalações destinadas ao abastecimento de água potável em conformidade com as normas técnicas

da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e das demais normas pertinentes;

III - manter e controlar a qualidade da água produzida e distribuída, nos termos desta Portaria, por meio de:

a) controle operacional do(s) ponto(s) de captação, adução, tratamento, reservação e distribuição, quando aplicável;

b) exigência, junto aos fornecedores, do laudo de atendimento dos requisitos de saúde estabelecidos em norma técnica da ABNT para o controle de qualidade dos produtos químicos utilizados no tratamento de água;

c) exigência, junto aos fornecedores, do laudo de inocuidade dos materiais utilizados na produção e distribuição que tenham contato com a água; d) capacitação e atualização técnica de todos os profissionais que atuam de forma direta no fornecimento e controle da qualidade da água para consumo humano; e

e) análises laboratoriais da água, em amostras provenientes das diversas partes dos sistemas e das soluções alternativas coletivas, conforme plano de amostragem estabelecido nesta Portaria;

IV - manter avaliação sistemática do sistema ou solução alternativa coletiva de abastecimento de água, sob a perspectiva dos riscos à saúde, com base nos seguintes critérios:

a) ocupação da bacia contribuinte ao manancial; b) histórico das características das águas; c) características físicas do sistema; d) práticas operacionais; e

e) na qualidade da água distribuída, conforme os princípios dos Planos de Segurança da Água (PSA) recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou definidos em diretrizes vigentes no País;

[...]

IX - contribuir com os órgãos ambientais e gestores de recursos hídricos, por meio de ações cabíveis para proteção do(s) manancial(ais) de abastecimento(s) e das bacia(s) hidrográfica(s);

X - proporcionar mecanismos para recebimento de reclamações e manter registros atualizados sobre a qualidade da água distribuída, sistematizando- os de forma compreensível aos consumidores e disponibilizando-os para pronto acesso e consulta pública, em atendimento às legislações específicas de defesa do consumidor;

XI - comunicar imediatamente à autoridade de saúde pública municipal e informar adequadamente à população a detecção de qualquer risco à saúde, ocasionado por anomalia operacional no sistema e solução

alternativa coletiva de abastecimento de água para consumo humano ou por não conformidade na qualidade da água tratada, adotando-se as medidas previstas no art. 44 desta Portaria; e

XII - assegurar pontos de coleta de água na saída de tratamento e na rede de distribuição, para o controle e a vigilância da qualidade da água. (grifo nosso)

A Tabela 06 apresenta o padrão microbiológico da água para o consumo humano da Portaria MS nº 2.914/2011:

Tabela 06 – Padrão microbiológico da água para consumo humano, conforme Portaria MS 2.914/2011.

Tipo de Água Parâmetro VMP(1)

Água para consumo

humano Escherichia coli(2) Ausência em 100mL Água tratada

Na saída do tratamento Coliformes totais(3) Ausência em 100mL Água tratada

No sistema de distribuição

(reservatórios e rede)

Escherichia coli Ausência em 100mL

Coliformes totais(4)

- Sistemas ou soluções alternativas coletivas que abastecem menos de 20.000 habitantes: Apenas uma amostra, entre as amostras examinadas no mês, poderá

apresentar resultado positivo;

- Sistemas ou soluções alternativas coletivas que abastecem a partir de 20.000 habitantes: Ausência em 100 mL em 95% das amostras examinadas no mês NOTAS: (1) Valor máximo permitido.

(2) Indicador de contaminação fecal. (3) Indicador de eficiência de tratamento.

(4) Indicador de integridade do sistema de distribuição (reservatório e rede). Fonte: Adaptado de BRASIL, 2011.

Complementando, tem-se o padrão de turbidez para água pós-filtração ou pré-desinfecção que também deve ser observado, conforme definido na Tabela 07:

Tabela 07 – Padrão de turbidez para água pós-filtração ou pré-desinfecção, conforme Portaria MS 2.914/2011.

Tratamento da água VMP(1)

Desinfecção (água subterrânea) 1,0 uT(2) em 95% das amostras Filtração rápida (tratamento completo ou

filtração direta) 0,5

(3)

uT(2) em 95% das amostras

Filtração lenta 1,0(3)

uT(2) em 95% das amostras NOTAS: (1) Valor máximo permitido.

(2) Unidade de Turbidez.

(3) Este valor deve atender ao padrão de turbidez de acordo com o especificado no § 2º do art. 30 (ou seja, atingidos conforme as metas progressivas definidas no Anexo III à Portaria).

Fonte: Adaptado de BRASIL, 2011.

Ademais, ressalta-se ainda a Portaria Nº 177, de 21 de março de 2011, da FUNASA, que estabelece as diretrizes, competências e atribuições do Programa Nacional de Apoio ao Controle da Qualidade da Água para Consumo Humano e, em seu Art. 10, indica que esse Programa Nacional tem elencada entre suas ações estratégicas e prioritárias: “VII - apoiar tecnicamente os prestadores de serviços na implementação dos Planos de Segurança da Água - PSA, conforme os princípios recomendados pela Organização Mundial de Saúde – OMS ou diretriz vigente” (FUNASA, 2011).

Tudo isso mostra o fortalecimento do PSA como uma ferramenta importante, bem como, a tendência da sua utilização como instrumento a ser adotado e regulamentado nos próximos anos, não somente no Brasil.