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Essa revisão foi efetuada com a finalidade de se obter conhecimento das pesquisas empíricas já realizadas sobre a contabilização dos títulos e valores mobiliários. O assunto tem sido objeto de estudo de vários artigos, principalmente em publicações norte-americanas, porém, a maioria desses artigos não apresenta um estudo empírico da implantação da contabilização a valor justo dos títulos.

No Brasil, em função da implementação das normas de contabilização a valor de mercado dos TVMs ser relativamente recente (junho de 2002), existem poucas pesquisas sobre o assunto.

A seguir, destacam-se os trabalhos em que foram identificadas pesquisas empíricas.

O impacto que o SFAS 115 pode ter nas demonstrações financeiras é analisado por Ivancevich et al (1996). Para mostrar as diferenças que ocorrem nas demonstrações financeiras, os autores apresentaram uma ilustração simplificada, baseado num investimento em um único título de dívida.

A ilustração demonstra que, sob o SFAS 115, duas companhias com títulos idênticos podem parecer bem diferentes na apresentação das demonstrações financeiras, dependendo da forma como a administração decide classificar os títulos. Essas diferenças nas demonstrações financeiras podem

impactar nos índices de análise e, em conseqüência, afetar as decisões de investimento e de crédito.

Finalizando, os autores concluem que a administração pode utilizar as técnicas de “ganhos com negociação” e/ou “contabilização baseada na intenção” para atingir os objetivos de demonstrar um crescimento constante de lucros. A venda de títulos classificados como disponíveis para venda que tenham se valorizado de forma substancial pode propiciar o aumento dos lucros da companhia. A administração, também, pode se engajar na “contabilização baseada na intenção” para gerenciar as demonstrações financeiras e os índices, através da escolha de classificações de títulos que propiciem o objetivo desejado.

Beatty (1995) examinou a adoção do SFAS 115 pelos bancos para determinar se o desejo de influenciar os números das demonstrações financeiras, incluindo a volatilidade do patrimônio líquido, afetou a administração do portfólio de investimentos. Assim, o foco do artigo foi verificar se a administração do portfólio de investimentos foi alterada pela adoção do SFAS 115.

A autora concluiu que, baseado na resposta dos bancos à implementação do SFAS 115, o artigo fornece vários indicativos de que as preocupações dos bancos e reguladores, sobre o impacto do SFAS 115, têm fundamento. O decréscimo tanto na proporção, quanto na maturidade dos investimentos em títulos no trimestre em que o SFAS 115 foi adotado e a redução da proporção dos títulos classificados como disponíveis para venda à medida que o índice de endividamento médio e de rentabilidade do patrimônio médio pioram, indicam que as preocupações com a volatilidade no patrimônio líquido, causado pelo SFAS 115, acarretaram em mudanças na administração do portfólio de investimentos.

Jordan et al (1997/1998) pesquisaram o gerenciamento de resultados sob o SFAS 115. O reconhecimento dos ganhos e perdas não realizados com os títulos da categoria de disponíveis para venda no patrimônio líquido, sem transitar pelo resultado, cria oportunidades para ganhos com negociação e gerenciamento de resultados. Isto é, para atingir um nível desejado de lucro, a administração pode vender os títulos de forma seletiva de forma que os ganhos e perdas não realizados afetem o resultado.

O artigo apresenta uma pesquisa das companhias seguradoras para determinar se os títulos classificados como disponíveis para venda são utilizados para obter ganhos com negociação e gerenciamento de resultados. O estudo forneceu fortes evidências de que ganhos com negociação ocorrem sob o SFAS 115, pelo menos com relação às companhias de seguro.

Segundo os autores, as implicações das descobertas são importantes por dois motivos. Primeiro, os usuários das demonstrações financeiras devem estar cientes de que ganhos com negociação e gerenciamento de resultados existem sob o SFAS 115. Ganhos com negociação para atingir níveis de resultado desejados não necessariamente implicam em comportamento antiético dos administradores. Porém, ao avaliar a saúde financeira de uma entidade, os usuários precisam estar cientes da presença de ganhos com negociação. Segundo, as descobertas sugerem que as decisões dos administradores são afetadas, pelo menos em parte, pelos padrões contábeis. Os pronunciamentos do FASB não têm a intenção de afetar as decisões operacionais e não devem ser utilizados para moldar a condição financeira da companhia. Isso não obstante, aparentemente essas duas situações estão ocorrendo sob o SFAS 115. Modificar o SFAS 115 no sentido de exigir que ganhos e perdas não realizados sejam reconhecidos no resultado, pode efetivamente eliminar o potencial para ganhos com negociação, mas, ao fazê-lo, poderá aumentar de forma significativa a volatilidade dos resultados de ano para ano, pelo fato do lucro flutuar com base nas mudanças das taxas de juros.

No Brasil, existem dois trabalhos, escritos por Furlani, que abordam a contabilização dos títulos e valores mobiliários.

No primeiro trabalho - artigo apresentado no 17º Congresso Brasileiro de Contabilidade - Furlani (2004) pesquisou o nível de aderência das instituições financeiras brasileiras ao critério do valor justo para avaliação de suas carteiras de TVM, mediante uma comparação entre a forma como essas distribuíram aqueles ativos entre as categorias de TVM criadas pela nova regulamentação, em relação à maneira como suas congêneres dos EUA realizaram o mesmo procedimento. Segundo o autor, maiores proporções de TVM classificados nas categorias de títulos mantidos para negociação e disponíveis para venda

significam uma maior aderência ao critério de valor justo como forma de avaliação das carteiras e, conseqüentemente, maiores proporções de TVM classificados nas categorias de títulos mantidos até o vencimento, uma menor aderência ao valor justo.

O estudo inferiu que o nível de utilização do critério do valor justo como forma de avaliar a carteira de TVM é maior entre as instituições financeiras dos EUA, se comparadas às brasileiras, durante todo o período de pesquisa. Adicionalmente, o estudo concluiu que as instituições financeiras dos EUA apresentaram uma distribuição dos TVM, nas categorias de que trata a regulamentação, mais estável que as brasileiras, o que é uma evidência de que a utilização dos procedimentos de classificação já se encontra mais consolidada naquele país.

O segundo trabalho de Furlani (2005) foi a sua dissertação de mestrado e teve como objetivo apurar se a implementação do padrão contábil relativo à utilização do valor justo como critério de avaliação de títulos e valores mobiliários e instrumentos financeiros derivativos aumentou a volatilidade do Patrimônio de Referência (PR).

De acordo com o autor, os resultados obtidos pela pesquisa permitem afirmar que o risco de aumento de volatilidade no capital regulamentar ou PR, no caso das instituições financeiras brasileiras, não pode ser rejeitado, haja vista a constatação de alteração estatística relevante na evolução do PR real total e na forma como o PR dispersou-se em relação ao conjunto completo das entidades incluídas no trabalho.

A revisão dos estudos empíricos mostra que a implementação das novas normas de contabilização dos títulos e valores mobiliários tem o potencial de provocar algum impacto nos resultados apurados com títulos e valores mobiliários. Nesse contexto, são apresentados, a seguir, os procedimentos metodológicos adotados para buscar a resposta aos problemas de pesquisas propostos.