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4. Resultados

4.2. Análise anatomopatológica e histopatológica

4.2.3. Rim posterior ou excretor

O rim nos exemplares do grupo controle apresentou, em geral, as características anatômicas descritas para a espécie. Em pacu, este órgão encontra-se fusionado em sua maior extensão, abrindo-se em duas partes na porção cefálica (Fig. 32B). Possui consistência gelatinosa, coloração avermelhada e está inserido entre as costelas, na região retroperitoneal dorsal, ocupando todo o comprimento da cavidade do corpo. O rim relaciona-se anatomicamente às costelas lateralmente, dorsalmente à coluna vertebral (Figs. 32A e 32C) e ventralmente à bexiga natatória.

Figura 32A. Exemplar de pacu do grupo controle onde nota-se posição anatômica do rim (seta).

Figura 32B. Observar o rim de alevino de pacu envolto pela musculatura esquelética da parede do corpo, com as porções caudal e média fusionadas (*) abrindo-se em porção cefálica (setas).

Histologicamente, o rim apresentou-se revestido por delicada cápsula de tecido conjuntivo frouxo, com o parênquima constituído de néfrons, túbulos coletores e ducto coletor, sendo estas estruturas envolvidas por tecido hematopoético.

O P. mesopotamicus apresentou o néfron dividido em corpúsculo e túbulos renais. O corpúsculo renal mostrou-se constituído pela cápsula de Bowman e pelo glomérulo (Fig. 33). Entre os túbulos renais foi possível distinguir quatro segmentos: istmo, túbulo contorcido proximal, túbulo intermediário e túbulo contorcido distal. Finalmente, no parênquima renal encontrou-se o túbulo coletor e o ducto coletor.

Figura 33. Fotomicrografia do corpúsculo renal do grupo T1 (0,71µgL-1) onde se notam glomérulo renal (G) e cápsula de Bowman, onde é possível notar o folheto parietal (seta). Coloração Picro-Sírius. Barra: 5µm.

A cápsula glomerular do corpúsculo renal constitui-se por dois folhetos, o parietal e o visceral (Fig. 34A). O folheto parietal apresentou-se formado por delgada camada de células epiteliais pavimentosas (Fig. 34A) e o folheto visceral formado por células modificadas, com prolongamentos primários e secundários quando observadas ao MET, conhecidas como podócitos (Figs. 34A e 34B). O glomérulo mostrou-se formado por um aglomerado de capilares enovelados que possuem endotélio fenestrado (Fig. 34B).

Figura 34. Eletromicrografias do corpúsculo renal de alevino do grupo controle.

Figura 34A. Notam-se folheto parietal (FP) e prolongamentos de podócitos (setas) do folheto visceral (FV). Barra: 2µm.

O primeiro segmento tubular, que emergiu do corpúsculo renal, foi o istmo, um segmento curto em extensão. Seu epitélio cúbico baixo apresentou células com núcleo grande e basal (Figs. 35A e 35B). À análise ultra-estrutural desse segmento observou-se grande quantidade de mitocôndrias, dispostas preferencialmente em posição supranuclear, presença de poucas vesículas elétron-lúcidas, retículo endoplasmático bem desenvolvido e lúmen preenchido por microvilos e poucos cílios (Fig. 35C).

Figura 35A. Fotomicrografia do rim do grupo T1 (0,71µgL-1) onde se observa o corpúsculo (CR) e o istmo (I). Coloração HE. Barra: 15µm.

Figura 35B. Eletromicrografia do istmo do rim de alevino de pacu do grupo T6 (4,29µgL-1)onde se notam células com grande quantidade mitocôndrias. Barra: 5µm.

Em continuidade com o istmo observou-se o túbulo contorcido proximal (Fig. 36A) que se mostrou formado por células colunares com núcleo arredondado e basal. O citoplasma supranuclear mostrou-se intensamente acidófilo e a porção apical apresentou densa borda em escova (Fig. 36B). Ao MET o citoplasma apresentou grande quantidade de mitocôndrias filamentosas, principalmente na porção perinuclear (Fig. 37A) e o lúmen mostrou-se preenchido por longos microvilos (Fig. 37B). Na porção baso-lateral ocorreu invaginação da membrana originando numerosos processos celulares, os quais se interdigitam. Esses processos continham longas mitocôndrias enfileiradas com orientação basal-apical. Túbulos apicais foram encontrados em grande quantidade próximos à borda em escova. Finalmente, vesículas envoltas por membrana contendo material pouco elétron-denso foram vistas com pouca frequência na porção apical dessas células (Fig. 37B).

Figura 36A. Fotomicrografia do rim do grupo T1 (0,71µgL-1) onde se observa a transição do corpúsculo renal (CR) para o istmo (I) e na sequência o túbulo proximal (TP). Coloração HE. Barra: 10µm.

Figura 36B. Fotomicrografia do rim do grupo T4 (2,86µgL-1) onde se observa o túbulo proximal com borda em escova evidente. Coloração HE. Barra: 5µm.

Figura 37A. Eletromicrografia do túbulo proximal do rim de alevino de pacu do grupo controle, onde nota- se grande quantidade de mitocôndria perinuclear. Barra: 5µm.

Figura 37B. Detalhe da porção apical do túbulo proximal de alevino de pacu do grupo T2, onde se notam microvilos preenchendo o lúmen e vesícula no citoplasma celular (seta). Barra: 0,5µm.

Em seguida ao túbulo contorcido proximal, observou-se o túbulo intermediário (Fig. 38), o qual apresentou epitélio cubóide com núcleo volumoso e central e citoplasma com intensa basofilia. A análise ultra-estrutural revelou seu lúmen repleto de microvilos e alguns cílios (Figs. 39A e 39B).

Figura 38. Fotomicrografia do rim do grupo T6 (4,29µgL-1) onde se observam o túbulo intermediário (TI) e o túbulo proximal (TP). Coloração HE. Barra: 10µm.

Figura 39B. Eletromicrografia do túbulo intermediário do rim de alevino de pacu do grupo T4 (2,86µgL-1). Observa-se célula de defesa (CD) – eosinófilo no tecido hematopoético. Barra: 2µm.

Figura 39C. Detalhe do lúmen do túbulo intermediário, marcado na figura anterior. Notar microvilos (MV) e cílios (*). Barra: 1µm.

O segmento contorcido distal apresentou-se bem distinto do proximal (Figs. 40A e 40B) por apresentar epitélio cúbico baixo, núcleo arredondado e basal (Figs. 40B e 40C) e por não apresentar borda em escova. À MET, frequentemente, vesículas envoltas por membrana apresentando esparso material granular foram notadas na porção apical dessas células (Fig. 40D). A porção basal mostrou-se semelhante à descrita para o túbulo proximal, onde, as mitocôndrias encontraram-se perpendiculares à membrana basal, entremeadas por pregueamentos da membrana plasmática (Fig. 41).

Figura 40A. Fotomicrografia do rim do grupo T1 (0,71µgL-1) onde se observa a transição do túbulo proximal (TP) para o túbulo intermediário (TI) e deste para o túbulo distal (TD). Coloração HE. Barra: 10µm.

Figura 40B. Fotomicrografia do rim do grupo T1 (0,71µgL-1) onde se observa túbulo distal (TD). Coloração HE. Barra: 5µm.

Figura 40C. Eletromicrografia do fígado de alevino do grupo controle onde se observa a nítida diferença entre os túbulos proximal (TP) e distal (TD). Notar lúmen do túbulo proximal preenchido por microvilos (MV) e a presença de melanomacrófagos (MM) no tecido hemocitopoético. Barra: 5µm.

Figura 41. Eletromicrografia da porção basal do túbulo distal do rim de alevino de pacu do grupo T2 (1,43µgL-1) onde se notam mitocôndrias alinhadas perpendicularmente à membrana basal e pregueamentos da membrana entremeados entre elas. Barra: 1µm.

Em sequência ao néfron, observaram-se os túbulos coletores que confluem para formar o ducto coletor. Os túbulos coletores apresentaram epitélio cúbico simples (Fig. 42) que se mostrou colunar simples ou pseudo-estratificado, com células de núcleo basal, no ducto coletor (Fig. 43). Camadas de músculo liso e tecido conjuntivo circundaram a membrana basal dos ductos coletores, estes elementos se encontraram em maior quantidade em proximidade ao ducto mesonéfrico.

Figura 42. Eletromicrografia do túbulo coletor do rim de alevino de pacu do grupo controle onde nota-se tecido conjuntivo (seta) ao redor das células epiteliais cúbicas. MM: Melanomacrófago. Barra: 5µm.

Figura 42. Fotomicrografia do rim do grupo T4 (2,86µgL-1) onde se observam ducto coletor (DC) com epitélio pseudo-estratificado, envolto por camadas de tecido conjuntivo e melanomacrófagos (*) presentes no tecido hemocitopoético e sobre o epitélio do ducto. Coloração HE. Barra: 15µm.

Em análise ultra-estrutural foram encontradas, entre as células epiteliais tubulares, RC (Figs. 44A e 44B) com morfologia semelhante a das RC descritas em brânquias.

Figura 44A. Eletromicrografia do túbulo proximal do rim de alevino de pacu do grupo T2 (1,43µgL-1), onde nota-se RC entre células epiteliais, microvilos (MV) e vesícula na porção apical do citoplasma celular (*). Barra: 2µm.

Figura 44B. Eletromicrografia de rim de alevino de pacu do grupo controle, onde nota-se RC entre as células e vesícula na porção apical do citoplasma celular (*). Barra: 2µm.

No rim, tanto em exemplares do grupo controle como do grupo tratado, foi observada infecção parasitária por Myxobolus sp, onde encontrou-se esporos livres (Fig. 45C) e, mais frequentemente, a formação de plasmódios em diferentes fases de desenvolvimento (Figs. 45A e 45B). Também foram observadas larvas de outros parasitos, cuja morfologia não permitiu identificação (Fig. 45D).

Figura 45A. Fotomicrografia do rim do grupo T6 (4,29µgL-1) onde se observa um plasmódio de Myxobolus sp (seta amarela) entre os túbulos renais. Coloração HE. Barra: 20µm.

Figura 45B. Fotomicrografia do rim do grupo controle onde se observa um jovem plasmódio de Myxobolus sp. Coloração HE. Barra: 10µm.

Figura 45C. Fotomicrografia do rim do grupo controle onde se observam parasitárias Myxobolus sp. livres entre os túbulos renais e melanomacrófagos. Coloração HE. Barra: 5µm.

O rim dos exemplares do grupo controle apresentou frequentemente o aspecto descrito acima, no entanto, algumas células dos vários segmentos tubulares apresentaram alterações ultra- estruturais, como: mitocôndrias com morfologia variada e presença de inclusões elétron-densas no citoplasma, semelhantes às encontradas nos hepatócitos, porém menores e menos frequentes.

Nos exemplares expostos ao endosulfan, tanto o corpúsculo como os túbulos renais não apresentaram alteração à microscopia de luz.

À MET, o corpúsculo renal não apresentou alterações em nenhum grupo exposto ao inseticida. Contudo, os túbulos renais apresentaram mitocôndrias com morfologia variada (Figs. 46A e 46B) e inclusões citoplasmáticas elétron-densas (Fig. 47A), como as descritas para os exemplares com alteração no grupo controle. Ambas as características não apresentaram alteração na frequencia de ocorrência em relação ao grupo controle ou, ainda, em relação à concentração de exposição.

Além das alterações comentadas acima para os grupos tratados, o grupo T2, exposto à concentração 1,43µgL-1, apresentou grande quantidade de retículo endoplasmático liso, em arranjo concêntrico ou paralelo em proximidade ao pólo basolateral da célula (Figs. 48A e 48B).

Figura 46A. Eletromicrografia do túbulo renal de alevino de pacu do grupo T2 (1,43µgL-1), onde se notam mitocôndrias com forma alterada (setas). Barra: 1µm.

Figura 46B. Eletromicrografia do túbulo renal de alevino de pacu do grupo T3 (2,14µgL-1), onde nota-se alteração na forma mitocondrial. Barra: 1µm.

Figura 47. Eletromicrografias do rim de alevino de pacu do grupo T2 (1,43µgL-1).

Figura 47A. Túbulo proximal onde se notam: núcleo das células tubulares (N) as quais apresentam inclusão elétron-densa no citoplasma (*), pregueamento da membrana plasmática (seta) na porção basal entremeados às mitocôndrias. Barra: 2µm.

Figura 47B. Porção basal do túbulo renal onde se nota presença de inclusão elétron-densa no citoplasma (*). Barra: 2µm.

Figura 48. Eletromicrografias do rim de alevino de pacu do grupo T2 (1,43µgL-1).

Figura 48A. Notam-se modificações nas formas mitocondriais e proliferação do retículo endoplasmático liso disposto em circulo. Barra: 1µm.

No grupo T3 (2,14µgL-1), aumento de vesículas citoplasmáticas nos túbulos proximais (Fig. 49A) e espaçamento entre as células tubulares foram detectados em relação ao que se observou nos grupos tratados T1 – 0,71µgL-1, e T2 – 1,43µgL-1 (Figs. 49B e 50A).

Figura 49. Eletromicrografias do túbulo renal de alevino de pacu do grupo T3 (2,14µgL-1). Figura 49A. Notam-se vesículas (V) e inclusões elétron-densas no citoplasma (*). Barra: 2µm. Figura 49B. Nota-se espaço intercelular. Barra: 1µm.

Os exemplares tratados com as maiores concentrações T5, T6 e T7 - 3,57; 4,29 e 5µgL-1, respectivamente, apresentaram maior quantidade de vesículas apicais no túbulo distal (Fig. 50B).

Alterações e/ou perda de microvilos no lúmen tubular foram observadas nos grupos T5 (3,57µgL-1) e T7 (5µgL-1) (Figs. 51A e 51B).

Figura 50A. Eletromicrografia do túbulo renal de alevino de pacu do grupo T3 (2,14µgL-1), onde nota-se grande espaço intercelular. Barra: 0,5µm.

Figura 50B. Eletromicrografia da porção basal túbulo renal de alevino de pacu do grupo T5 (3,57µgL-1), onde nota-se grande quantidade de vesículas citoplasmáticas. Barra: 2µm.

Figura 51A. Eletromicrografia do ápice do túbulo proximal de alevino de pacu do grupo T7 (5µgL-1), onde se notam alterações nos microvilos. Barra: 1µm.

Figura 51B. Eletromicrografia da porção apical do túbulo proximal de alevino de pacu do grupo T5 (3,57µgL-1), onde nota-se perda de microvilos e estruturas vesiculares e tubulares no citoplasma. Barra: 1µm.

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