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Riqueza e pobreza das nações e das classes em Smith, Polanyi e Mar

No documento Brasil e Chile : riquezas e pobrezas (páginas 41-89)

Já foi dito que a proposição de reconstruir analítica e sinteticamente as relações econômicas e políticas das vidas sociais no Brasil e no Chile no longo prazo se valerá de certos alvos cognitivos mais profundos e amplos. Este primeiro capítulo, que se pretende teórico-histórico, descreve com Adam Smith, Karl Polanyi e Karl Marx os por quês da produção e reprodução da riqueza e da pobreza das nações e de suas distintas classes sociais, ao passo em que apresenta a História, posteriormente atualizada com Eric Hobsbawn. Destas análises destacamos certas proposições desses mesmos autores sobre o que fazer e o que não fazer.

Veremos inicialmente na obra An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations, uma das mais profundas realizações intelectuais do liberalismo clássico, escrita por Adam Smith entre os anos de 1749 e 1776, suas considerações quanto à natureza das causas da riqueza das nações; os “estados” e “situação” de desenvolvimento que até então se encontravam as “nações civilizadas” (há também algumas poucas considerações sobre as chamadas “nações selvagens”); os caminhos “natural” e “antinatural” por elas seguido; ao que devem fazer para sair do estado de miséria e pobreza que porventura possam se encontrar; voltamos a sua prospecção do homem rico e pobre; a conformação da distribuição da riqueza entre as “três grandes categorias originais e constituintes” das sociedades evoluídas, e o conflito existente entre essas classes; a indicação das classes que defendem ou não o “interesse geral” da sociedade; a consciência de classe dos que vivem de lucros, renda da terra e salários; aos determinantes do comportamento dos salários; a distinção de trabalho produtivo e improdutivo; a indicação dos três deveres de “grande relevância” do soberano, bem como alguns conselhos aos governantes e legisladores, e suas críticas à Economia Política dos mercantilistas e fisiocratas; aos gastos que deveriam ser cobertos pela contribuição geral de toda a sociedade, e de quais deveriam ser cobertos apenas por determinados membros da sociedade; e suas considerações quanto aos efeitos perniciosos da dívida pública.

Posteriormente, apresentamos o clássico estudo de Karl Polanyi, escrito durante a Segunda Guerra Mundial, The great transformation, mais especificamente a sua tese sobre a “ascensão e queda da economia de mercado”. Registramos com ele o longo período em que os mercados não passavam de acessórios da vida econômica, e de como

42 a sociedade inconscientemente resistira à ofensiva de se ver transformada em mero apêndice do mercado. Também sua síntese da história social do século XIX, interpretada num “duplo movimento”: o movimento de difusão pelo globo das mercadorias fictícias (trabalho, terra e dinheiro); e o contra-movimento de autoproteção social, espontâneo, realista e bem estruturado numa rede de políticas e medidas que se integravam em sindicatos e leis fabris destinadas a cercear a organização do movimento relativo ao trabalho, a terra e ao dinheiro.

Partimos da exposição das concepções medievais da “categoria pobreza” – onde o “pobre” poderia causar certa admiração, solidariedade e compaixão aos olhos de quem o vê –, passando pelo aparecimento dos “pobres” na Inglaterra do século XVI e o seu julgamento por cavalheiros ingleses que então os associavam aos preguiçosos, aos vagabundos e aos criminosos, e pelo subsequente surgimento de uma nova “categorização geral dos pobres”, identificados desde fins do século XVIII com os indigentes fisicamente desamparados e os trabalhadores assalariados independentes, até a abolição desta categorização geral e o nascimento dos desempregados como a “nova categoria da pobreza”, que abandona a compaixão e a solidariedade humana em nome da “felicidade de um maior número de pessoas”. Partimos da incompreensão da “nova pobreza” (e nem tanto da “nova riqueza”) até a revelação do tormentoso “problema da pobreza” por William Townsend e outros, e a resposta de Polanyi. Das medidas de “manutenção dos pobres” aplicadas com a promulgação da Poor Law em princípios do século XVI, passando por uma ação preventiva de combate ao pauperismo garantido pela Speenhamland Law e a proclamação em fins do século XVIII do “direito de viver” de todos, e seu “resultado estarrecedor”, até as “atrocidades burocráticas” e a “tortura psicológica” cometidas pela New Poor Law em princípios do século XIX. Da motivação pela subsistência à obsessão pelo lucro. Dos longos entraves ao estabelecimento do mercado de trabalho livre, competitivo, de todo o sistema de organização do trabalho baseado nos princípios da regulamentação e do paternalismo, até a súbita ascensão da economia de mercado no após 1834. Da exposição dos pressupostos do “credo liberal” de uma economia de mercado até o acirramento das “tensões de classe” e a destruição desta utopia impraticável.

E, por fim, aceitei o convite do professor Benício para estudar Karl Marx, mas aqui me ative apenas a algumas poucas páginas publicadas entre os anos de 1848 e 1867, mais precisamente Manifest der Kommunistischen Partei e dois fundamentais capítulos da obra Das Kapital. Iniciamos com este notável panfleto que sintetiza a

43 história de todas as sociedades existentes como produto de “luta de classes”; expomos o papel revolucionário desempenhado pela burguesia e as condições essenciais para a existência e supremacia desta classe burguesa; bem como a degeneração da sociedade burguesa, evidenciada pela revolta das forças produtivas contra as modernas relações de produção e de propriedade, e os meios pelos quais a burguesia supera suas crises; também os objetivos da Liga dos Comunistas e as medidas para serem postas em prática pela classe operária. Posteriormente, apresentamos com Das Kapital as circunstâncias mais ou menos favoráveis que o aumento do capital traz sobre a sorte da classe trabalhadora; o mecanismo da produção capitalista e da acumulação; os processos de concentração e centralização de capital; o próprio resultado da “lei geral da acumulação capitalista”; ainda enunciamos os principais acontecimentos do processo histórico criador do “modo de produção capitalista” e, por fim, a “tendência histórica da acumulação capitalista”.

Um dos que nos convidam a estudar Marx e Engels é o historiador Eric Hobsbawn. Foi precisamente com ele que sistematizei e ao final desse capítulo duas importantes observações: uma sobre Marx e o trabalhismo: o longo século; e outra sobre Marx, Engels e a política.

A riqueza das nações em Adam Smith

Adam Smith (1723-1790) escreveu na introdução e plano de A riqueza das nações que

o trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os bens necessários e os confortos materiais que consome anualmente. O mencionado fundo consiste sempre na produção imediata do referido trabalho ou naquilo que com essa produção é comprado de outras nações. Conforme, portanto, essa produção, ou o que com ela se compra, estiver numa proporção maior ou menor em relação ao número dos que a consumirão, a nação será mais ou menos bem suprida de todos os bens necessários e os confortos de que tem necessidade. (1996, p.59, livro primeiro [1776]). A proporção da produção interna e da importação em relação ao número de consumidores de cada nação é determinada, segundo Smith, sobretudo pela habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho é executado, e em menor medida pela proporção entre o número dos que executam um “trabalho produtivo” em relação aos que não executam tal trabalho. A abundância ou escassez do montante anual de bens de

44 que cada nação disporá, dependerá destas duas diferentes circunstâncias, independente de qual seja o solo, o clima ou a extensão territorial da nação.

Nas “nações selvagens de caçadores e pescadores” (considerado como o “estágio mais baixo e primitivo da sociedade”), os indivíduos aptos para o trabalho ocupam-se de um trabalho útil visando obter os bens necessários e os confortos materiais para si e para os demais membros da família ou tribo que são ou estão incapacitados de realizar tal trabalho. “... tais nações sofrem tanta pobreza e miséria que, somente por falta de bens, frequentemente são reduzidas (...) à necessidade de às vezes abandonar suas crianças, seus velhos e as pessoas que sofrem de doenças prolongadas, as quais perecem de fome ou são devoradas por animais selvagens” (idem).

Nas “nações civilizadas e prósperas” a maior parte de seus cidadãos não se dedica ao trabalho produtivo, e chegam a consumir o correspondente a 10 ou até 100 vezes mais do que é consumido pelos que trabalham. A produção resultante de todo o trabalho nestas sociedades, fora por ele considerada “tão grande, que todos dispõem, muitas vezes, de suprimento abundante, e um trabalhador, se for frugal e laborioso, pode desfrutar de uma porção maior de bens necessários e confortos matérias, do que aquilo que qualquer selvagem pode adquirir”. (ibidem, p.59-60).

Em sua investigação sobre as causas do maior aprimoramento das forças produtivas do trabalho, da maior parte da habilidade, destreza e bom senso com os quais o trabalho é executado ou dirigido, Smith acreditou ser resultado da divisão do trabalho19. E que o princípio originário de tal divisão é a propensão à troca, própria da natureza humana. Sendo o poder de troca o propulsor da divisão do trabalho, sua extensão deveria estar sempre limitada pela extensão do mercado. Quando este é muito reduzido às pessoas acabam não se dedicando inteiramente a uma ocupação, dado a impossibilidade de trocar todo excedente de sua produção pela parcela de produção do trabalho alheio.

É certo que as transformações em curso durante a chamada Revolução Industrial influenciaram Smith em sua formulação sobre o que viria a ser a riqueza e a pobreza das nações. No momento em que apenas aflorava a divisão do trabalho, escreveu:

Todo homem é rico ou pobre, de acordo com o grau em que consegue desfrutar das coisas necessárias, das coisas convenientes e dos prazeres da vida. Todavia, uma vez

19

Braudel escreveu que “Adam Smith não descobriu a divisão do trabalho. Ele apenas elevou à dignidade de teoria de conjunto uma antiga noção já pressentida por Platão, Aristóteles, Xenofonte e assinalada, muito antes de Adam Smith, por William Petty (1623-1687), Ernst Ludwig Carl (1687-1743), Fergusson (1723-1816), Beccaria (1735-1793). Mas, depois de Smith, os economistas julgaram ter nela uma espécie de lei de gravitação universal, tão sólida quanto a de Newton” (1998b, p.550).

45 implantada plenamente a divisão do trabalho, são muito poucas as necessidades que o homem consegue atender com o produto de seu próprio trabalho. A maior parte delas deverá ser atendida com o produto do trabalho de outros, e o homem será então rico ou

pobre, conforme a quantidade de serviço alheio que está em condições de encomendar ou comprar. (Smith, 1996, p.87, livro primeiro, grifo nosso).

Acrescentou que o trabalho só pode ser cada vez mais subdividido apenas na proporção com a quantidade de capital empregado, isto é, na proporção em que certo estoque de bens de diversos tipos, suficiente para manter o trabalhador e provê-lo dos materiais e instrumentos necessários para o seu trabalho, for previamente cada vez mais acumulado. “O número dos que executam trabalho útil e produtivo (...) em toda parte está em proporção com a quantidade do capital empregado para dar-lhes trabalho e com a maneira específica de empregar esse capital” (idem, p.60).

Admitiu dois tipos de trabalhos: o trabalho produtivo que “acrescenta algo ao valor do objeto sobre o qual é aplicado”, este que “fixa-se e realiza-se em um objeto específico ou mercadoria vendável, a qual perdura, no mínimo, algum tempo depois de encerrado o trabalho”, que, em síntese, “acrescenta algo ao valor dos materiais com que trabalha: o de sua própria manutenção e o do lucro de seu patrão”; e o trabalho improdutivo que “não acrescenta valor algum a nada”, tais como o de todos os oficiais de justiça e de guerra, todo o exército e marinha, eclesiásticos, advogados, médicos, homens de letras de todos os tipos, atores, palhaços, músicos, cantores de ópera etc. “Seu serviço, por mais honroso, útil ou necessário que seja, não produz nada com o que igual quantidade de serviço possa posteriormente ser obtida”, “o trabalho de todos eles morre no próprio instante de sua produção”. Os que executam trabalho, produtivo ou improdutivo, ou mesmo os que não trabalham, são necessariamente mantidos pela produção anual da terra e da mão de obra do país. (ibidem, p.333-334, livro segundo).

Em sua análise sobre a ordem segundo a qual cada produção é dividida entre as diferentes classes da sociedade, argumentou que a produção que sai do solo ou das mãos dos trabalhadores produtivos acaba por se dividir em duas partes: a maior delas que se destina a repor um capital ou renovar as provisões de mantimentos materiais e o trabalho acabado, retirados de um capital; e o restante se destina a constituir uma renda para o proprietário deste capital, como lucro de seu capital, e para outras pessoas, seja como rendas de suas terras ou como salários de seus trabalhos. A produção anual total da terra e do trabalho fora dividida em “três grandes categorias originais e constituintes de toda sociedade evoluída”: renda da terra; salários da mão de obra; e lucro do capital.

46 Para Smith eram contrastantes os interesses dessas categorias, sobretudo entre os que vivem da renda da terra e de salários em relação aos que vivem de lucros. Defendeu que somente os interesses das duas primeiras classes estão inseparavelmente ligados ao “interesse geral da sociedade”, isto porque o valor real da renda da terra e dos salários tende a se comportar tal como as oscilações econômicas, suas rendas crescem com a expansão econômica e decrescem com o declínio econômico. Já o interesse dos que vivem de lucro se choca com o interesse geral da sociedade, isto não tanto porque busquem a ampliação do mercado (o que considerou ser muitas vezes benéfico para o interesse público), mas pelo fato do estreitamento da competição estar sempre em seus planos, fato considerado maléfico ao interesse geral.

Argumentou que destas três classes sociais são os que vivem de lucro os que melhor sabem reconhecer e defender os seus próprios interesses. “Sua superioridade em relação aos senhores do campo não está tanto no conhecimento que têm do interesse público, mas antes no fato de conhecerem melhor seu interesse próprio do que os homens do campo conhecem o seu”. Estes últimos “são a única das três categorias cuja renda não lhes custa nem trabalho nem cuidado, pois esta renda lhes vem, por assim dizer, espontaneamente, independente de qualquer plano ou projeto deles”. Já a classe trabalhadora foi considerada incapaz de compreender não só o interesse geral da sociedade, mas também a vinculação deste interesse ao seu próprio interesse. “Sua condição não lhe deixa tempo para receber a necessária informação, e sua educação e hábitos costumam ser tais que o tornam inapto para discernir, mesmo que esteja plenamente informado”. (Smith, 1996, p.272-3, livro primeiro).

Reconheceu que a riqueza dos que vivem tanto de lucro como da renda da terra não é fruto de seu próprio trabalho, mas do trabalho dos que vivem de salários. “... embora o manufator tenha seus salários adiantados pelo seu patrão, na realidade ele não custa nenhuma despesa ao patrão, já que o valor dos salários geralmente é reposto juntamente com um lucro, na forma de um maior valor do objeto no qual seu trabalho é aplicado” (idem, p.333, livro segundo). Considerou o trabalho o único criador original de valor, e que os trabalhadores tinham que dividir o produto de seu trabalho com os que viviam da renda da terra e de lucros, cuja fonte de poder e cuja reivindicação de renda não decorriam da produção de mercadorias, mas por serem proprietários da terra e dos instrumentos de trabalho. A propriedade lhes garantia o direito de colher o que não tinham plantado, o que não tinham produzido. A proteção dos direitos de propriedade pelo governo consistia basicamente numa “defesa do rico contra o pobre”.

47 Smith foi tanto favorável à defesa da propriedade privada quanto à promoção do que entendeu ser o interesse social geral. Aconselhou legisladores a se contrapor e não ceder aos interesses e ao poder capitalista.

A proposta de qualquer nova lei ou regulamento comercial que provenha de sua categoria sempre deve ser examinada com grande precaução e cautela, não devendo nunca ser adotada antes de ser longa e cuidadosamente estudada, não somente com a atenção mais escrupulosa, mas também com a maior desconfiança. É proposta que advém de uma categoria de pessoas cujo interesse jamais coincide exatamente com o do povo, as quais geralmente têm interesse em enganá-lo e mesmo oprimi-lo e que, consequentemente, têm em muitas oportunidades tanto iludido quanto oprimido esse povo. (Smith,1996, p.273, livro primeiro).

Ao contrário das queixas de fabricantes e mercadores de seu tempo sobre o mau efeito dos salários elevados no aumento do preço das mercadorias, destacou que “a remuneração generosa do trabalho é o efeito da riqueza crescente, da mesma forma é a causa do aumento da população. Queixar-se disso equivalia a lamentar-se sobre a causa e o efeito necessário da prosperidade máxima da nação” (idem, p.131, livro primeiro).

Assim como a remuneração generosa do trabalho estimula a propagação da espécie, da mesma forma aumenta a laboriosidade. Os salários representam o estimulo da operosidade, a qual, como qualquer outra qualidade humana, melhora em proporção ao estimulo que recebe. Meios de subsistência abundantes aumentam a força física do trabalhador, é a esperança confortante de melhorar sua condição e talvez terminar seus dias em tranquilidade e abundância o anima a empenhar suas forças ao máximo. Portanto, onde os salários são altos, sempre veremos os empregados trabalhando mais ativamente, com maior diligencia e com mais rapidez do que onde são mais baixos. (Smith,1996, p.131, livro primeiro).

Quanto ao comportamento dos salários, fundamental na determinação da quantidade de bens necessários e confortos materiais de que a classe trabalhadora pode consumir, Smith acreditava que eram determinados nas lutas entre as classes sociais, nas quais os assalariados quase sempre levavam a pior. A elevação dos salários não se dava pela extensão da riqueza nacional, mas por seu contínuo incremento. Os mesmos não eram os mais altos nas nações mais ricas, mas naquelas que estavam se tornando rapidamente ricas, no que chamou de mais “progressistas”.

Já quanto à condição de miséria e fome dos trabalhadores é sintoma de que a nação está regredindo rapidamente. A manutenção deficiente dos trabalhadores pobres constitui o sintoma de que a nação encontra-se num estado “estacionário”. Já a “remuneração generosa do trabalho” é não somente o efeito necessário da riqueza nacional em expansão, mas também seu “sintoma natural”.

48 (...) a condição dos trabalhadores pobres parece ser a mais feliz e a mais tranquila no estado de progresso, em que a sociedade avança para maior riqueza, e não no estado em que já conseguiu sua plena riqueza. A condição dos trabalhadores é dura na situação estacionária e miserável quando há declínio econômico da nação. O estado de progresso é, na realidade, o estado desejável e favorável para todas as classes sociais, ao passo que a situação estacionária é a inércia, e o estado de declínio é a melancolia. (Smith, 1996, p.131, livro primeiro).

Vejamos em dois curtos parágrafos o que Smith tem a nos dizer sobre as “causas da prosperidade das novas colônias”, das nações que vinham perdendo sua condição de “selvagens”.

Os colonizadores de uma nação civilizada que toma posse de um país, seja este desabitado ou tão pouco habitado que os nativos facilmente dão lugar aos novos colonizadores, progridem no caminho da riqueza e da grandeza com rapidez maior do que qualquer outra sociedade humana. (Smith, 1996, p.64, livro quarto).

(...) nas Índias Ocidentais (...) devido à sua localização, estavam menos sob as visitas e o controle do poder da mãe-pátria. Ao perseguirem seus interesses a seu próprio modo, em muitas ocasiões sua conduta foi perdida de vista por não ser conhecida ou por não ser compreendida na Europa, sendo que a distância das colônias tornava difícil controlar tal conduta. Mesmo o governo violento e arbitrário da Espanha, em muitas ocasiões, foi obrigado a revogar ou a amenizar as ordens dadas para o governo de suas colônias, por temor a uma insurreição geral. Consequentemente, muito grande tem sido o progresso de todas as colônias europeias em riqueza, população e desenvolvimento. (idem, p.66 e 67, livro quarto).

O primeiro parágrafo vê entre as causas da “riqueza” e da “grandeza” de colônias desabitadas e pouco povoadas o fato de seus nativos facilmente “cederem lugar” aos novos colonizadores. Já o segundo vê entre as causas do maior “progresso” de todas as colônias europeias as circunstâncias de suas localizações, que ao colocarem sob o maior abrigo das vistas e do controle do poder da “mãe-pátria”, e por conta disto poderem perseguir seus próprios interesses. De seus escritos podemos deduzir que esta

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