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Em um mundo moderno e desenvolvido, muitas vezes as respostas para os diversos desastres naturais (inundações e secas, por exemplo) estão relacionadas à “domesticação” da natureza ao invés de soluções voltadas à mudanças nas tomadas de decisões ou de se repensarem políticas para a água. Por isso, barragens são erguidas e projetos de infraestrutura que redirecionam os fluxos de água para regiões com escassez de água são

feitos. Entretanto, tais ações geralmente mais prejudicam do que contribuem: sistemas ecológicos e sistemas naturais que purificam, armazenam e que garantem uma prestação de longo prazo da água doce para os ecossistemas e para as pessoas, são extremamente impactados (PALMER, 2010).

Entre os riscos globais econômicos, a falha/déficit de infraestruturas críticas é provavelmente o único e mais impactante risco para a segurança hídrica, isto porque a falta de investimentos canalizados para a criação de infraestruturas hídricas adequadas, principalmente nos países em desenvolvimento e menos desevolvidos, geram diversas consequências negativas, levando países a não se adaptarem ou mitigarem os desafios encontrados, agravando ainda mais as crises hídricas (VAN LEUVEN, 2011; ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2014b).

Para que ações eficazes sejam feitas, é importante que os tomadores de decisão entendam o funcionamento do financiamento das infraestruturas hídricas. Para que se possa financiar tais projetos, são necessários três tipos de fontes, cada um com seus papeis e limitações: as tarifas, impostos e transferências. Após as crises econômicas que afetaram o mundo, as receitas fiscais e os orçamentos públicos se tornaram fontes instáveis de finanças, especialmente naqueles países afetados pela consolidação fiscal. As transferências da comunidade internacional são opções interessantes para investimentos em grandes infraestruturas ou serviçoes de abastecimento de água e saneameno nos países em desenvolvimento, entretanto, elas são menos eficazes no financiamento da operação e na manutenção da infraestrutura existente. Já as receitas de tarifas são limitadas pela taxa de disposição para o limitado uso agrícola ou doméstico, e para questões de acessibilidade para os pobres (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2014b)

Conclui-se então que a falha das infraestruturas de uma nação, compostos por redes de milhares de gasodutos, redes de comunicação, estradas e condutos76, por exemplo, podem afetar em diversos outros sistemas críticos, impedindo o acesso de serviços essenciais (como a água) ao povo (VAN LEUVEN, 2011).

76 “Canal, tubo que serve para transportar um líquido, um gás ou um sólido pulverulento” (DICIONÁRIO

4.2 RISCOS AMBIENTAIS

Entre os riscos globais de categoria ambiental, cinco deles podem impactar na segurança hídrica. Todos estes riscos estão de alguma forma interrelacionados e aparecem como problemáticos para a busca da segurança hídrica.

Como pôde ser visto anteriormente, catástrofes ambientais causadas pelo

homem e o fracasso da mitigação e adaptação das mudanças climáticas abrem

oportunidades para que eventos climáticos extremos e grandes catástrofes naturais ocorram com maior frequência, gerando uma grande perda de importante biodiversidade e

colapso do ecossistema.

Todos estes riscos impactam negativamente na segurança hídrica de diversas formas. Entre as catástrofes ambientais causadas pelo homem, algumas delas aconteceram no Brasil e podem ser tomadas aqui como exemplo: no dia 05 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, pertencente ao complexo minerário de Germano, no município de Mariana/MG, trouxe diversos impactos em áreas de preservação permanente, ictiofauna, fauna, impactos socioeconômicos e, o mais importante para o tema deste capítulo em específico, a qualidade da água naquela região (INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE, 2015).

Com o rompimento da barragem, cerca de 34 milhões de metros cúbicos de rejeito (composto basicamente por óxido de ferro e sílica) foram liberados no meio ambiente. Os elementos ferro e manganês, mais os metais pesados, encontrados após o ocorrido, ao entrarem em contato com o sistema hídrico, apresentam grandes riscos, já que tais riscos não se degradam e permanecem solubilizados nas águas ou precipitados aos sedimentos de fundo (COSTA, 2001). Após o evento, a qualidade e quantidade da água na região foram alteradas, bem como a suspensão de seus usos para toda aquela população e fauna presente aos arredores (INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE, 2015).

Outro evento, menos atual, aconteceu 10 de janeiro de 2007, com rompimento de uma das barragens da mineradora Rio Pomba Cataguases, instalada no município de Miraí (MG). Cerca de 2.280.000 m³ de água e argila (lavagem de bauxita) vazaram, deixando mais de 6 mil moradores das cidades de Miraí e Patrocínio do Muriaé desalojados. A lama atingiu diversas casas, lojas, hospitais, igrejas e supermercados. Além da falta de água potável e do risco de disseminação de doenças, o acidente teve outros efeitos imediatos: a argila que chegou ao leito dos rios acabou contribuindo para intensificar o processo de assoreamento dos

cursos d´água, favorecendo a ocorrência de diversas inundações (CENTRO DE TECNOLOGIA MINERAL, 2012; SÁ, 2007).

Estes são apenas alguns exemplos de ações humanas e catástrofes ambientais causadas pelo homem que interferem e impactam na quantidade e qualidade da água, trazendo como consequência a falta do acesso de água para consumo humano e uma possível disseminação de doenças.

As grandes catástrofes naturais e os eventos climáticos extremos causam impactos semelhantes. Em geral, desastres naturais são causados por fenômenos de origem hidro- meteorológica, climatológica, geofísica ou biológica que de alguma forma degradam o ambiente natural e provocam severos danos materiais e físicos às pessoas, levando comunidades a não conseguirem uma autorrecuperação, sendo necessária a assistência externa (ALCÁNTARA-AYALA, 2002; NOY, 2010; GUHA-SAPIR et al., 2012). São as cheias, deslizamentos de terra, tempestades e terremotos que desencadeiam uma sequência de diversos impactos ambientais e socioeconômicos, afetando rios, aumentando a probabilidade de disseminação de doenças infecciosas devido à degradação das condições sanitárias e obstruindo o acesso de água às pessoas (MATA-LIMA et al., 2013).

Na Amércia do Sul e América Central, projeções já apontam para diversos riscos à segurança hídrica, impostos pelos eventos climáticos extremos. Com a redução das geleiras andinas, uma diminuição de chuvas e um aumento da evapotranspiração nas regiões semiáridas das Américas do Sul e Central, uma grande vulnerabilidade será sentida nas duas regiões, principalmente no abastecimento de água nas zonas semiáridas e nos Andes tropicais (MAGRIN et al., 2014).

Conclui-se que eventos climáticos extremos de fato afetarão a água e, consequentemente, todos aqueles outros setores que dependem dos recursos hídricos, como o setor agrícola e energético, trazendo consequências negativas para as sociedades e economias (MAGRIN et al., 2014; FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA E INOVAÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, 2014).

Em relação ao fracasso da mitigação e adaptação das mudanças climáticas, ele continua sendo um risco impactante, inclusive para a segurança hídrica, isto porque a água é altamente vulnerável às mudanças climáticas (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007d). De acordo com o relatório do Intergovernmental Panel on

Climate Change (2008), as mudanças no clima, previstas para os próximos anos, afetarão as

impactos sem precedents em todas as partes do mundo e em todos os setores conectados à água, como o agrícola e energético.

Enquanto as temperaturas aumentam, maior a evaporação e maior o número de secas. Os Estados Unidos, atualmente, são um dos países mais afetados pelas secas plurianuais, trazendo impatos negativos para o acesso à água e para a agricultura (GRACE, 2016). Para os países árabes, as projeções também não são positivas: a maioria dos países árabes dependem da quantidade hídrica internacional, já que estes países não possuem nenhuma fonte principal de energia para suportar e atender às suas exigências. Desta forma, eles dependem basicamente da precipitação natural e de técnicas de conservação de água (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 2004).

Ao redor do Rio Nilo, até 2004, dez das nações mais pobres do mundo se encontravam lá. Logo, percebe-se a dificuldade que esta região terá para se adaptar e adotar estratégias de gestão de água, pois não há investimento e capital suficientes. A bacia do rio Nilo, até aquele ano, era lar de cerca de 190 milhões de pessoas da Etiópia, Eritreia, Uganda, Ruanda, Burundi, Congo, Tanzânia, Kanya, Sudão e Egito. Hoje, com o aumento da temperatura e dos eventos climáticos extremos, espera-se que os impactos negativos sejam muito maiores para estes países dependentes dos recursos hídricos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA, 2004; WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a).

O último risco global de caráter ambiental é a perda de importante

biodiversidade e colapso do ecossistema. Com o aumento da demanda de água, a

quantidade, qualidade e regularidade de água disponível para os nossos ecossistemas estão sendo ameaçadas. O resultado disto, é a perda e degradação da biodiversidade em ecossistemas de todos os tipos, diminuindo a capacidade dos mesmos de fornecer aqueles serviços que são considerados essenciais, que mantêm as pessoas saudáveis e que levam inúmeras pessoas a saírem da pobreza (WETLANDS INTERNATIONAL, 2010).

Ratifica-se, então, que a influência das ações do homem é grande. Geralmente, com o crescimento econômico, a fragmentação de rios, o sobrepastoreio, a drenagem de pântanos e poluição se tornam mais frequentes, levando à perda da biodiversidade. Novamente, os países mais pobres são os mais afetados, já que não possuem investimentos suficientes para se adaptarem e criarem estratégias que mitiguem os impactos negativos (WETLANDS INTERNATIONAL, 2010).

A biodiversidade é composta por uma variedade de plantas, animais e microorganismos, onde mais de 1.75 milhões de espécies já foram identificadas até hoje, em um total de 13 milhões, segundo estimativas de cientistas. A importância da biodiversidade é clara: os recursos biológicos formaram importantes pilares para a construção de civilizações, envolvendo a agricultura, produtos farmacêuticos, cosméticos, papel celulose, horticultura e construção de tratamentos de resíduos. A biodiversidade foi e é a base para o desenvolvimento da humanidade. Logo, com a perda de biodiversidade e o colapso do ecossistema, o abastecimento de água e alimentos, por exemplo, serão vigorosamente ameaçados (UNITED NATIONS, 2016b).

4.3 RISCOS GEOPOLÍTICOS

Entre os riscos globais de caráter geopolíticos que podem impactar na segurança hídrica, a falha da governança nacional, o conflito interestatal com consequências

regionais e os ataques terroristas em larga escala são as maiores preocupações.

O fornecimento de água para aqueles que são os mais pobres no mundo, são temas “de topo” na agenda da comunidade internacional há décadas, trazendo diversas conferências a debaterem o tema (Conferência de Estocolmo [1972], a Conferência Habitat em Vancouver [1976] e a Conferência de Mar del Plata [1977], por exemplo) e diversas ajudas bilaterais e multilaterais de financiamento para projetos de abastecimento de água que também tiveram grandes atividades positivas para a busca da segurança hídrica (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1992; BAKKER et al., 2008).

Entretanto, os esforços não têm sido suficientes. A água deve ser tratada como uma questão de prioridade, criando-se e implementando-se leis e políticas que reconheçam a importância do direito à água, trazendo como consequência, melhores níveis de bem-estar humano. Este fracasso da governança nacional, quando relacionado à gestão da água, demonstra a imcapacidade de integrar a gestão da água com diferentes níveis de abordagens locais e regionais (BIGAS, 2012).

Segundo Bakker (2008), a falha do processo de decisão de gestão da água deixa de atender às necessidades de diversas famílias pelos seguintes motivos:

a) Ausência de direitos de consumo aos serviços básicos;

b) Privação de direitos políticos (por exemplo, a falta de “voz” por parte das famílias mais pobres, que não podem reverter a situação de crise e escassez);

c) A cultura de governo (pirâmide onde a elite está centrada no topo e as famílias mais pobres permanecem na base);

d) Desincentivos econômicos que conectam as famílias pobres

Para que o problema seja solucionado, novas alternativas de governança e de desenvolvimento deverão ser levadas em conta, garantindo o acesso equitativo, transparência e protecção da saúde pública. Novos modelos de negócios, de financiamento, de govenança e de tecnologias poderão ser explorados como opções para promover o abastecimento de água

urbano sustentável (TRAWICK, 2003; NARAIN, 2006; PUBLIC SERVICES

INTERNATIONAL RESEARCH UNIT, 2006).

Quanto aos conflitos interestatais e suas consequências regionais, entende-se que a água contribui para que hajam conflitos entre as nações, e sabe-se que a probabilidade de que conflitos relacionados a água ocorrerão e aumentarão drasticamente em um futuro próximo. Acredita-se que a guerra e disputa por acesso à água em algumas regiões do mundo ocorrerão com maior frequência e que os países usarão a água e o abastecimento dela como instrumentos de guerra. Isso porque muitos países, com elevado crescimento populacional e de desenvolvimento, demandarão e dependerão de mais recursos hídricos, recursos estes que poderão estar sob controle de outras nações, gerando conflitos e desentendimentos (GLEICK, 1993).

No artigo “Rios partilhados e conflito interestatal” (Shared rivers and interstate

conflict) de Toset, Gleditsch e Hegre (2000, p. 971, tradução nossa), os autores apresentam a

seguinte frase: “A guerra anterior no Oriente Médio foi por petróleo, a próxima guerra será por água". Esta afirmação representa a preocupação que se tem com os conflitos do futuro, tendo em vista a atual realidade em que vivemos, que já se mostra bastante complexa e caótica.

Os impactos da guerra são alarmantes: civís são mortos ou obrigados a migrar (SKJELSBAEK; SMITH, 2001), países desenvolvidos e subdesenvolvidos são afetados negativamente em seus crescimentos econômicos (POLACHEK; SEVASTIANOVA, 2010) e o comércio é afetado, tanto nos países importadores quanto nos exportadores (MARANO; CUERVO-CAZURRA; KWOK, 2013). Logo, não restam dúvidas de que a segurança hídrica também seja impctada, em decorrência das interdependências existentes: água está presente na agricultura, na produção de energia e é essencial para manter o equilíbrio ambiental e das biodiversidades. Quando um setor é afetado, todos os outros também são impactados (POLACHEK; SEVASTIANOVA, 2010; WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a).

O terceiro e último risco geopolítico para a segurança hídrica está relacionado aos

ataques terroristas em larga escala. Um dano ou destruição de infraestruturas nacionais de

abastecimento de água poderiam interromper o fornecimento de serviços vitais para a população, ameaçando a vida humana e o meio ambiente (COPELAND, 2010).

A água é usada como ferramenta e alvo político e militar a muitos anos na história da humanidade (GLEICK, 2004), e costuma ser um recurso e sistema estratégico e atrativo, já que nada pode substituir a água. Com o aumento da demanda e da escassez deste recurso, seu valor e sua vulnerabilidade acabam tomando proporções ainda maiores (GLEICK, 2006).

Outra ameaça à segurança hídrica vem da grande vulnerabilidade das fontes de água que podem ser contaminadas por possíveis atos terroristas. Por isso, universidades e governos estudam cenários de ataques terroristas para que se possam criar estratégias que evitem tais atos. Um dos principais cenários criados, é aquele onde o terrorista, com o objetivo de causar mortes em massa, orquestra um evento de contaminação nos tubos e sistemas de distribuição de água em uma determinada região através de um ataque de refluxo, que ocorre quando uma bomba é utilizada para ultrapassar a diferença de pressão dentro dos sistemas de distribuição de água (WATER WORLD, 2016).

Além da contaminação da água através dos sistemas de distribuição, outros atos podem ser realizados por terroristas em importantes instalações de água, como barragens, reservatórios e tubulações, locais muitas vezes assecíveis ao público ou até muitas vezes expostos em locais de atração turística e de grande concetração de civís. A contaminação ou destruição destes pontos estratégicos poderia atingir um grande número de pessoas (GLEICK, 2006).

O típico cenário de ataques terroristas aos abastecimentos de água locais, estão ligados à contaminação de reservatórios através de agentes químicos ou biológicos, ou ao uso convencional de explosivos, capazes de destruir ou causar danos às infraestruturas, como tubulações, barragens e estações de tratamento de água. Apesar da pouca probabilidade de acontecerem, essas ameaças preocupam e preocuparão ainda mais as nações, na medida em que a água vai se tornando mais escassa é necessária. Até agora, sociedade, autoridades locais e governos não parecem estar suficientemente cientes dos impactos que estas ações terroristas podem causar à segurança hídrica e à segurança das pessoas (GLEICK, 2006).

4.4 RISCOS SOCIAIS

Entre os riscos sociais para a segurança hídrica, estão inclusos a falha de

planejamento urbano, a disseminação rápida e maciça de doenças infecciosas e as crises hídricas.

Primeiramente, abordar-se-á a crise hídrica, presente em ambos os rankings de riscos globais (9º em termos de probabilidade de acontecer e 3º em termos de impacto para países e indústrias) (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a).

Enquanto a demanda por água e a competição por este recurso em diversos setores cresce e se intensifica, a sua escassez se torna cada vez mais aparente e se manifesta de diversas fromas. Esta crise hídrica é vista relacionada às mudanças climáticas, à energia, à segurança alimentar, às turbulências financeiras e recessões econômicas (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2012). Sem um melhoramento da gestão dos recursos hídricos, da garantia de um acesso à água limpa e serviços sanitários, o mundo não conseguirá alcançar os desafios de desenvolvimento sustetável do século XXI (desenvolvimento humano, cidades habitáveis, mudanças climáticas, segurança alimentar e segurança energética) (THE WORLD BANK, 2016a).

Em 2007, a Avaliação Compreensiva do Gerenciamento de Água em Agricultura (Comprehensive Assessment of Water Management in Agriculture) apresenta a seguinte questão: existe terra, água e recursos humanos suficientes para produzir alimentos necessários para alimentar uma população que cresce cada vez mais durante os próximos 50 anos, ou faltará água? Para os organizadores do relatório, sim, é possível alimentar tamanha população; entretanto, se os problemas de produção alimentar e ambientais continuarem, crises serão desencadeadas em diversas partes do mundo (COMPREHENSIVE ASSESSMENT OF WATER MANAGEMENT IN AGRICULTURE, 2007). Percebe-se assim a importância da mitigação das crises hídricas para que se possa manter a segurança dos outros setores.

Os mais afetados pela crise hídrica e pela ausência do acesso à água, são geralmente os países menos desenvolvidos, que precisam de estradas, tubulações, estações de tratamento, e poços para trazer água limpa (MASSACHUSETTS INSTITUTE OF TECHNOLOGY, 2016). Isto se torna um problema ainda maior, levando em consideração que 80% das pessoas no mundo que vivem com a falta de acesso a água, moram em áreas rurais (THE WORLD BANK, 2016b).

Conclui-se então que a crise hídrica impacta desfavoralmente na segurança hídrica, limitando o acesso de àgua às pessoas, interferindo na utilização da água para questões voltadas à alimentação, saúde e necessidades básicas humanas.

Grande parte da disseminação rápida e maciça de doenças infecciosas são tidas através da água. Caso nenhuma ação seja tomada para garantir a segurança das necessidades hídricas básicas para o ser humano, é possivel que cerca de 135 milhões de pessoas morram por causa de doenças transmitidas pela água até 2020 (GLEICK, 2002).

Existem, segundo Gleick (2002), quatro tipos de doenças relacionadas à água: a) Doenças transmitidas pela água: causadas pela ingestão de água contaminada por

fezes ou urina que contém bactérias patogênicas ou vírus humanos ou animais; incluem a cólera, a febre tifóide, amebíase e disenteria bacilar e outras doenças diarreicas.

b) Doenças através de “lavados em água”: causadas pela falta de higiene pessoal e do contato da pele ou olhos com a água contaminada; incluem sarna, tracoma, pulgas, piolhos e doenças transmitidas por carrapatos.

c) Doenças baseadas na água: causadas por parasitas encontrados em organismos intermediários que vivem em água contaminada; incluem dracunculose, esquistossomose e outros helmintos.

d) Doenças relacionadas com a água: causadas por insetos vetores, especialmente mosquitos que se criam na água; incluem dengue, filariose, malária, oncocercose, tripanossomíase e febre amarela.

A relação entre disseminação de doenças e a segurança hídrica, é mutua. Isso porque a escassez de água e a falta de uma instrutura decente para a população mais pobre, faz com que estas pessoas recorram a fontes de água não potável, aumentando os riscos de transmissão de doenças pela água, como a cólera, disenteria e a febre tifóide. A situação piora em períodos de secas, quando o abastecimento de água torna-se mais limitado, aumentando a concentração de organismos patogênicos e alargando a chance de surtos de doenças transmitidas pela água (INTELLIGENCE COMMUNITY ASSESSMENT, 2012). Este cenário é o oposto do que se deveria presenciar em países com segurança hídrica, onde a qualidade e quantidade de água devem ser boas e suficientes para o consumo humano (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2013a).

Este risco, consequentemente, se conecta à falha de planejamento urbano. Globalmente, grande parte da população vive nas áreas urbanas (em 2014, 54% da população

mundial vivia em áreas urbanas), população esta que demanda recursos hídricos para realizar suas necessidades básicas. Para isso, é necessario que uma quantidade e qualidade suficientes de água chegue até essas pessoas através de uma administração urbana inteligente (GLOBAL WATER PARTNERSHIP, 2015).

A segurança hídrica, de maneira geral, encontra-se sob intensa pressão em muitas das áreas urbanas, resultante do crescimento populacional, da má gestão das águas residuais e