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Grande parte dos impactos para a segurança alimentar está relacionada aos riscos e preocupações ambientais, que têm estado com frequência nos últimos relatórios dos riscos globais, revelando que as ações tomadas para resolver estes problemas, estão sendo insuficientes (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a).

Primeiramente, observam-se os eventos climáticos extremos como riscos para a segurança alimentar. De acordo com Schmidhuber e Tubiello (2007), os efeitos das mudanças climáticas na agricultura e na produção de alimentos, ocorrem de formas bastante complexas. Elas afetam diretamente através de mudanças nas condições agro-ecológicas e indiretamente no crescimento e distribuição de renda, e, portanto, na demanda por produtos agrícolas. As mudanças de temperatura e precipitação estão associadas às emissões contínuas de gases de efeito estufa, trazendo mudanças na disposição de terra e na produção agrícola.

Com o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, como ciclones, inundações, tempestades de granizo e secas, previstos para os próximos anos (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2001; 2007c), os locais com maiores riscos de deslizamentos de terra e com danos causados pela erosão, poderão ser afetados negativamente em suas estabilidades de abastecimento de alimentos e consequetemente, na segurança alimentar (SCHMIDHUBER, TUBIELLO, 2007).

Eventos extremos de chuva poderão trazer aumento nos riscos de surtos de doenças transmitidas pela água, principalmente em localizações onde os sistemas de gestão de água tradicionais não são suficientes para lidar com chuvas em abundância (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007c). Inundações, por exemplo, serão mais sentidas naquelas áreas já ambientalmente degradadas, onde a infraestrutura pública básica, o saneamento e a higiene são precárias. Este cenário garante

uma maior exposição das pessoas, levando-as a contrairem doenças transmitidas pela água, como a cólera71 (SCHMIDHUBER; TUBIELLO, 2007).

Além destes impactos e mudanças no cenário de produção alimentar, os autores Schmidhuber e Tubiello (2007) concluem que todas as quatro dimensões/pilares da segurança alimentar (disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade, discutidos e apresentados no subcapítulo “segurança alimentar”) serão afetados. Estes impactos terão diferentes níveis de importância em diferentes regiões ao longo do tempo, isto porque alguns países terão atingido maiores status sócio-econômicos do que outros, até que os efeitos das mudanças climáticas se estabeleçam.

No Relatório de riscos globais de 2016, outro impacto de grande importância está relacionado às secas, que afetam negativamente as produções agrícolas e as pescas, propiciando a perda dos meios de subsistência de diversas pessoas, aumentando tensões entre grupos sociais e aumentando a probabilidade de violência nas comunidades, gerando, à nível global, um cenário de insegurança internacional. Em 2011, por exemplo, uma seca atingiu a África Oriental, desencadeando uma crise alimentar regional que afetou 13 milhões de pessoas. Somente na Somália, já devastada pela guerra, mais de um quarto de milhão de pessoas morreram de fome (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a).

Outro impacto dos eventos extremos climáticos está ligado ao desaceleramento do crescimento de rendimento agrícola global, já que altas temperaturas resultam em períodos de crescimento mais curtos e rendimentos ainda mais baixos. O mesmo acontece devido ao aumento das precipitações e da redução da humidade do solo (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a). Em 2015, nos Estados Unidos, 10 desastres e danos relacionados às questões climáticas excederam gastos de 1 bilhão de dólares cada (NATURAL RESOURCES DEFENSE COUNCIL, 2016).

Outro risco impactante para a segurança alimentar está relacionado ao possível

fracasso da mitigação e adaptação das mudanças climáticas. Entre os 10 riscos

potencialmente mais impactantes, este está na primeira posição, e está diretamente conectado à crise hídrica (risco que ocupa a terceira posição entre os riscos mais impactantes) e à

migração involuntária de grande escala (primeiro entre os 10 principais riscos, em termos

de probabilidade), afetando negativamente a estabilidade econômica e social (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a).

71 “A cólera geralmente surge em contextos que envolvem superlotação e acesso inadequado à água limpa, coleta

de lixo e banheiros. A doença causa diarreia profusa e vômitos, que podem levar à morte por desidratação intensa, por vezes, em questão de horas” (MÉDICOS SEM FRONTEIRAS, 2016).

Os impactos de um possível fracasso da mitigação e adaptação das mudanças climáticas na segurança alimentar são claros: o clima está impactando e mudando os costumes das sociedades, a escassez de água atingirá mais regiões, eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes, a agricultura será ainda mais afetada, trazendo riscos de segurança à nível global e resultando em migrações involuntárias (UNIVERSITY OF OXFORD, 2016; NATURE CLIMATE CHANGE, 2016). Quando governos e empresas não conseguem adotar as medidas necessárias para que se possa atenuar as mudanças climáticas, empresas são afetadas, populações ficam desprotegidas e a comunidade global é impactada negativamente (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a)

Segundo o relatório da Oxfam (2010) intitulado Climate Change Adaptation (Adaptação às Mudanças Climáticas), caso não haja uma mitigação das mudanças climáticas, os mais pobres e as mulheres serão os mais vulneráveis:

Pobreza, mais do que qualquer outro fator, é o que determina a vulnerabilidade e os limites da capacidade de adaptação às mudanças climáticas. O acesso e controle sobre a terra, dinheiro, crédito, informação, cuidados de saúde, mobilidade pessoal e educação se combinam para determinar a capacidade de sobreviver e de se recuperar de desastres e de fazer alterações em longo prazo e criar investimentos para se adaptarem. A existência de desigualdades de gênero, quando combinada com a pobreza, amplia a vulnerabilidade das mulheres sobre as mudanças climáticas e prejudicam as suas capacidades de se adaptar72 (OXFAM, 2010, p. 3, tradução

nossa).

Outro risco global impactante para a segurança alimentar são as perdas de

importante biodiversidade73 e colapso do ecossistema. As principais causas do declínio da

biodiversidade estão diretamente relacionadas as mudanças no uso da terra, poluição, alterações nas concentrações de CO2 na atmosfera, mudanças no ciclo do nitrogênio e da chuva ácida, as mudanças climáticas e a introdução de espécies exóticas. Todos estes fatores estão conectados ao crescimento populacional humano (SALA, et al, 2000).

Com o declínio da biodiversidade, fazendas, terras agrícolas e áreas urbanas são afetadas. O crescimento populacional humano e a necessidade de se alimentar um número de pessoas cada vez maior, faz com que áreas naturais sejam convertidas em plantações, desvios

72 “Poverty, more than any other factor, determines vulnerability to climate change and limits adaptive capacity.

Access to and control over land, money, credit, information, health care, personal mobility, and education combine to determine the ability to survive and recover from disasters and to make long-term changes and investments to adapt. Existing gender inequalities combine with poverty to magnify women’s vulnerability to climate change and undermine their ability to adapt.”

73 “A diversidade biológica - ou biodiversidade - é o termo dado à variedade de vida na Terra e os padrões

naturais que ela forma. A biodiversidade que vemos hoje é fruto de milhares de milhões de anos de evolução, moldada por processos naturais e, cada vez mais, pela influência dos seres humanos. Ele forma a teia da vida da qual somos parte integrante e sobre a qual estamos tão plenamente dependente”. (UNITED NATIONS, 2016b; tradução nossa).

de rios, lagos e aquíferos sejam criados e poluídos, recursos hídricos e terrestres sejam contaminados com pesticidas, fertilizantes e resíduos animais, entre outros (RAINFOREST CONSERVATION FUND, 2016).

A biodiversidade é também importante para manter a produção agrícola. O fornecimento de uma variabilidade genética, por exemplo, pode ser crucial para superar surtos de pragas e patogênicos, evitando maiores desafios para a produtividade em longo prazo e garantindo a viabilidade dos recursos agrícolas (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005).

Dentre os diversos riscos ambientais, as grandes catástrofes naturais encaixam- se também como grandes riscos para a segurança alimentar. Segundo o relatório da Food And

Agriculture Organization of the United Nations (2015b) The Impact of Natural Hazards and Disasters on Agriculture and Food Security and Nutrition: A Call For Action to Build Resilient Livelihoods (O Impacto de Riscos Naturais e Desastres na Agricultura e Segurança

Alimentar e Nutricional: um apelo à ação para construir meios de subsistência resistentes), entre 2003 e 2013, desastres e catástrofes naturais em países em desenvolvimento afetaram mais de 1.9 bilhão de pessoas, causando danos de cerca de 494 bilhões de dólares.

Estes tipos de desastres destroem bens e infraestruturas agrícolas, causando inúmeras perdas na produção de culturas, pecuária e pescas. Consequentemente, fluxos comerciais agrícolas também podem ser afetados, trazendo prejuízos nos subsetores de produção agrícola, como indústrias de processamento de alimentos e têxteis. Além disso, os desastres são capazes de causar um retardamento no crescimento econômico daqueles países afetados que possuem um setor agrícola de importância, onde sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) seja relevante (países como Camboja, República Centro-Africana, Chade, Etiópia, Quênia, Mali e Moçambique, onde a agricultura contribui em mais de 30% do PIB nacional) (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2015b).

No sudeste da Ásia por exemplo, as Filipinas são um dos países mais atingidos por desastres naturais, principalmente por tufões, inundações e secas. O impacto negativo destes eventos é enorme, principalmente nas questões econômicas, já que seus recursos naturais e sua agricultura são extremamente vulneráveis e estão expostos continuamente aos desastres naturais e suas indesejáveis consequências (ECONOMIC RESEARCH INSTITUTE FOR ASEAN AND EAST ASIA, 2013).

Levando em considereção os pontos expostos acima, conclui-se que os desastres naturais trazem diversos impactos negativos para a busca da segurança alimentar. Portanto,

para que se tenha crescimento e produtividade agrícola, é importante que os sistemas de produção de alimentos sejam resilientes contra os choques e variações climáticas que causam danos à produção (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2015b).

As catástrofes ambientais causadas pelo homem geram impactos negativos semelhantes às catastrofes naturais. No Sudão do Sul, por exemplo, um conflito que teve início em dezembro de 2013 levou o país a uma das piores crises alimentares do mundo, onde mais de 2 milhões de pessoas estão enfrentando uma severa insegurança alimentar (OXFAM, 2014).

O desastre no Sudão do Sul é resultado de uma crise e disputa política, enraizado em tensões não resolvidas há mais de duas décadas de guerra civil. A falta de desenvolvimento e a proliferação de armas faz com que o país seja um dos mais pobres e inseguros do mundo, tirando a vida de entes queridos, pertences e os meios de subsistência das pessoas. Apesar da insegurança e dos conflitos, o país possui um enorme potencial: 70% da terra é adequada para a agricultura; e em 1980, o Sudão mais exportou do que importou alimentos, sendo que grande parte foi produzida no sul (região que hoje é chamada de Sudão do Sul). Para que a região torne-se pacífica e segura, mais ajuda internacional e ações diplomáticas, rápidas e vigorosas serão necessárias (OXFAM, 2014).