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Os nexos entre água, energia e alimentos no contexto dos riscos globais em 2016: uma análise das interações entre as seguranças alimentar, hídrica e energética

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA WELLYNGTON SILVA DE AMORIM

OS NEXOS ENTRE ÁGUA, ENERGIA E ALIMENTOS NO CONTEXTO DOS RISCOS GLOBAIS EM 2016: UMA ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE AS

SEGURANÇAS ALIMENTAR, HÍDRICA E ENERGÉTICA

Florianópolis 2016

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OS NEXOS ENTRE ÁGUA, ENERGIA E ALIMENTOS NO CONTEXTO DOS RISCOS GLOBAIS EM 2016: UMA ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE AS

SEGURANÇAS ALIMENTAR, HÍDRICA E ENERGÉTICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Dr. José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra.

Florianópolis 2016

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OS NEXOS ENTRE ÁGUA, ENERGIA E ALIMENTOS NO CONTEXTO DOS RISCOS GLOBAIS EM 2016: UMA ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE AS

SEGURANÇAS ALIMENTAR, HÍDRICA E ENERGÉTICA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

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Dedico este trabalho, primeiramente, a toda a minha família, ao meu professor, orientador e amigo José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra, a todos aqueles que de alguma forma me inspiraram, e aqueles que talvez possam ser inspirados por este trabalho.

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Muito provavelmente estes parágrafos não serão suficientes para agradecer a todos que me apoiaram e auxiliaram durante mais esta etapa da minha trajetória acadêmica. De qualquer forma, tentarei ao menos descrever e demonstrar toda a gratidão que sinto por estas pessoas especiais em minha vida.

Primeiramente, agradeço aos meus amados pais, João Schorne de Amorim e Márcia Silva de Amorim. O apoio deles foi fundamental para a realização deste trabalho de conclusão de curso. Desde o início, os dois foram como pilares que me sustentaram de forma sólida nos momentos de tranquilidade e nos momentos onde tudo parecia começar a desandar. Este auxílio veio de todas as formas: nas simples conversas em casa, nos conselhos, no apoio, tanto emocional como financeiro, nas risadas e no carinho. Sem esses dois, a conclusão deste trabalho não seria possível. Agradeço eternamente por todo o apoio e amor. Serei sempre grato por isso.

Agradeço também a minha querida irmã mais velha Jullyana Silva de Amorim. Pude acompanhar de perto o trajeto dela e me inspirei muito em seus paços. Toda a sua dedicação e esforço foram como incentivos para mim, onde tentei me espelhar diariamente, o tempo todo. O carinho e o apoio dela foram essenciais para que eu pudesse completar mais esta etapa da minha vida. Muitíssimo obrigado, Ju, serás sempre um grande exemplo para mim.

Gostaria de agradecer também a toda a minha família em geral, tios e tias, avôs e avós, primos e primas. Família sempre será a base de tudo. São as nossas raízes, que transmitem tranquilidade, ensinam a partir de suas experiências de vida e nos norteiam para que possamos seguir nossos próprios caminhos.

Gostaria de agradecer também à outras pessoas de extrema importância para mim: primeiramente à Franciny Amorim Genol. Ela acompanhou diariamente o processo de “construção” deste trabalho. Apoiou-me sempre que precisei, foi compreensiva nos momentos onde, como num “bunker”, eu precisava me esconder de tudo e de todos para que eu pudesse gastar todas as minhas energias neste trabalho. Incentivou-me todos os dias, me deu forças para que eu desse sempre o meu melhor. Obrigado, do fundo do meu coração, Fran.

Ao meu amigo José Vinícius da Silva, eu agradeço pela parceria que temos e por toda a ajuda dada. Este apoio veio de muitas formas: nas gargalhadas, nos conselhos sinceros e nos momentos de distração, quando precisamos deixar de lado os nossos deveres e compromissos, nem que sejam por algumas poucas horas. Para que possamos concluir nossas

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Zé me ajudou nisso. Muito obrigado meu caro.

Agradeço também a Renata Ferreira. A Re me acompanhou desde a primeira fase do curso de Relações Internacionais. Foi minha “dupla fixa” nos diversos trabalhos, apresentações e provas nestes quatro últimos anos. Foi minha companheira no Centro Acadêmico de Relações Internacionais da Unisul Trajano (CARI UNISUL) e juntos, organizamos eventos, palestras, debates, conferências, simulações, encontros, entre outros. Sem dúvidas, ela foi importantíssima para a conclusão do meu trabalho e para todo o conhecimento e experiência que pude adquirir na universidade. Re, saiba que tenho muito carinho por ti e que admiro muito tudo o que tu fazes. Serás sempre um grande exemplo de pessoa com determinação, proatividade e garra. Obrigado pela companhia.

Devo agradecer também ao Prof. Dr. José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra. Este mestre se tornou mais que um amigo para mim. Abriu as portas do Grupo de Pesquisa em Eficiência Energética e Sustentabilidade (GREENS), onde fui tratado como um “membro da família” em pouco tempo. Graças a ele, eu pude participar de diversas conferências internacionais, pude viajar, conhecer professores renomados, pude escrever artigos e pude conhecer duas novas paixões: a sustentabilidade e a vida acadêmica (como pesquisador). Devo dizer também que seus ensinamentos e frases de inspiração ecoam diariamente na minha cabeça. Baltazar, sou muito grato por poder passar grande parte dos meus dias ao lado de um mestre como o senhor, é uma oportunidade que poucos possuem. E como o senhor sempre diz para mim, citando Isaac Newton, que “se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”. Um destes gigantes, sem dúvidas, é o senhor.

Agradeço também aos colegas do GREENS, em especial ao Issa Berchin, ao João Marcelo e ao Gabriel Zimmer que diariamente me deram “macetes” e diversos outros ensinamentos que me ajudaram muito na produção deste presente trabalho.

Agradeço ao Luciano Daudt da Rocha e à Tatyane Barbosa Philippi por todo o apoio, pelos conselhos, pelos esclarecimentos dados e por todas as orientações dadas nesta minha trajetória.

Por último, mas não menos importante, agradeço a Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) por me proporcionar um dos momentos de maior importância para a minha vida. Nunca aprendi tanto como nestes últimos quatro anos na universidade. Aos que sabem aproveitar, a universidade pode se tornar um ambiente incrível, onde ideias surgem através dos debates e ensinamentos, onde encontramos respostas para os problemas mais desafiadores da humanidade, onde tentamos tornar o mundo num lugar melhor. Neste país, a

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mais valor por tudo que vivi e aprendi neste ambiente. Obrigado.

Este trabalho foi produzido com o apoio do Grupo de Pesquisa em Eficiência Energética e Sustentabilidade (GREENS) da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), no âmbito do Projeto BRIDGE: Construindo Resiliência numa Economia Global Dinâmica: Complexidade no Nexo entre Alimentos Água e Energia no Brasil, com o fomento do Fundo de Newton e da FAPESC - Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina.

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“When we try to pick out anything by itself, we

find it hitched to everything else in the universe”.

(John Muir)

“Precisamos de toda a ajuda que conseguirmos de outras pessoas, porque nós somos os guardiões de um precioso pálido ponto azul em um vasto universo, um planeta com 50 milhões de séculos ainda para viver. Então, não vamos colocar esse futuro em risco”.

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O presente trabalho monográfico visa analisar as interações entre os aspectos que envolvem as seguranças alimentar, hídrica e energética - referenciado neste estudo como sendo os nexos entre água, energia e alimentos - e os impactos dos riscos globais, tendo como parâmetro de pesquisa o Global Risks Report de 2016. A pesquisa caracteriza-se como bibliográfica, de natureza básica e com uma abordagem qualitativa. Os dados levantados revelam que a água, a energia e os alimentos são recursos interdependentes e indispensáveis para a vida, exigindo uma gestão sustentável e inteligente. O risco a que esses recursos são submetidos são maximizados pelos eventos climáticos extremos, pelas migrações humanas involuntárias e por muitos outros riscos globais que, além de outros fenômenos, afetam principalmente as populações mais vulneráveis que vivem quase sempre em países menos desenvolvidos. Conclui-se que somente políticas públicas, alinhadas com o setor privado e com a sociedade civil, conduzidas pela comunidade internacional e pelos tomadores de decisão, poderão mitigar os riscos globais apresentados pelo Relatório de Riscos Globais de 2016 do Fórum Econômico Mundial.

Palavras-chave: Segurança alimentar. Segurança hídrica. Segurança energética. Desenvolvimento sustentável. Mudanças climáticas. Riscos globais.

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This monographic study aims to analyze the interactions among the aspects involving food, water and energy security - referenced in this study as the nexus between water, energy and food - as well as the impact of global risks, with the Global Risks Report 2016 as search parameter. The research is characterized as literature, basic in nature and with a qualitative approach. The data collected show that water, energy and food are interdependent and indispensable resources for life, demanding a sustainable and intelligent management. The risk that these resources are submitted to are maximized by extreme weather events, involuntary human migrations and many other global risks, which among other phenomena, affect particularly the most vulnerable populations living mostly in less developed countries. It was concluded that only public policies, aligned with the private sector and civil society, led by the international community and decision makers can mitigate the overall risks presented by the Global Risks Report 2016 of the World Economic Forum.

Keywords: Food security. Water security. Energy security. Sustainable development. Climate change. Global risks.

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Figura 1 - Os nexos entre segurança hídrica, energética e alimentar ... 25

Quadro 1 - As quatro principais reuniões do Fórum Econômico Mundial ... 31

Figura 2 - Riscos globais 2016 ... 34

Figura 3 - Os 10 principais riscos em termos de probabilidade e impacto ... 34

Figura 4 - Tipos de Riscos ... 35

Quadro 2 - Descrição dos riscos globais econômicos ... 35

Quadro 3 - Descrição dos riscos globais ambientais ... 36

Quadro 4 - Descrição dos riscos globais geopolíticos ... 36

Quadro 5 - Descrição dos riscos globais sociais... 37

Quadro 6 - Descrição dos riscos globais tecnológicos ... 37

Quadro 7 - Conceitos de Globalização ... 40

Quadro 8 - Emergências Alimentares ... 48

Quadro 9 - Conceitos de segurança hídrica ... 49

Figura 5- Água potável disponível ... 51

Figura 6 - Definindo Segurança Hídrica... 52

Figura 7 - Definindo segurança energética ... 55

Quadro 10 - Conceitos de Segurança Energética ... 55

Figura 8 - Anomalias de temperatura do ar global ... 57

Quadro 11 - Conferências relacionadas ao desenvolvimento sustentável ... 62

Figura 9 - Três pilares do desenvolvimento sustentável ... 63

Quadro 12 - Principais riscos globais para a segurança alimentar ... 64

Quadro 13 - Principais riscos globais para a segurança hídrica ... 81

Quadro 14 - Principais riscos globais para a segurança energética ... 92

Figura 10 - Riscos globais que impactam a segurança alimentar e a segurança hídrica ... 101

Figura 11 - Riscos globais que impactam a segurança alimentar e a segurança energética ... 103

Figura 12 - Riscos globais que impactam a segurança hídrica e a segurança energética ... 104

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CETEM Centro de Tecnologia Mineral

ERIA Economic Research Institute for ASEAN and East Asia FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

FEM Fórum Econômico Mundial

FMI Fundo Monetário Internacional

GATT General Agreement on Tariffs and Trade

ICLEI International Council for Local Environmental Initiatives IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

IRENA International Renewable Energy Agency

IWRMA Integrated Water Resource Management Association MEND Movement for the Emancipation of the Niger Delta

OECD Organisation for Economic Co-operation and Development UNDP United Nations Development Programme

UNEP United Nations Environment Programme

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UNFPA United Nations Population Fund

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

USAID United States Agency for International Development WFP The United Nations World Food Programme

WHO World Health Organization

WWAP United Nations World Water Assessment Programme

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1 INTRODUÇÃO... 12 1.1 TEMA ... 12 1.2 PROBLEMA ... 14 1.3 OBJETIVOS ... 14 1.3.1 Objetivo Geral ... 14 1.3.2 Objetivos Específicos... 14 1.4 JUSTIFICATIVA ... 15 1.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 16 1.6 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 18 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 19

2.1 NEXOS ENTRE ÁGUA, ENERGIA E ALIMENTOS ... 19

2.2 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ... 27

2.3 RISCOS GLOBAIS ... 30

2.3.1 Definição de “risco global” e o Fórum Econômico Mundial ... 31

2.3.2 O Relatório de Riscos Globais de 2016 ... 33

2.4 GLOBALIZAÇÃO ... 39

2.5 SEGURANÇA ALIMENTAR, HÍDRICA E ENERGÉTICA ... 45

2.5.1 Segurança Alimentar ... 45

2.5.2 Segurança Hídrica ... 48

2.5.3 Segurança Energética ... 53

2.6 MUDANÇAS CLIMÁTICAS ... 56

2.7 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 60

3 IMPACTOS DOS RISCOS GLOBAIS NA SEGURANÇA ALIMENTAR ... 64

3.1 RISCOS ECONÔMICOS ... 65

3.2 RISCOS AMBIENTAIS ... 69

3.3 RISCOS GEOPOLÍTICOS ... 73

3.4 RISCOS SOCIAIS ... 75

3.5 RISCO TECNOLÓGICO ... 79

4 IMPACTOS DOS RISCOS GLOBAIS NA SEGURANÇA HÍDRICA... 81

4.1 RISCO ECONÔMICO ... 81

4.2 RISCOS AMBIENTAIS ... 83

4.3 RISCOS GEOPOLÍTICOS ... 86

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5 IMPACTOS DOS RISCOS GLOBAIS NA SEGURANÇA ENERGÉTICA ... 92 5.1 RISCO ECONÔMICO ... 92 5.2 RISCOS AMBIENTAIS ... 94 5.3 RISCOS GEOPOLÍTICOS ... 95 5.4 RISCO SOCIAL ... 97 5.5 RISCOS TECNOLÓGICOS ... 98

6 ANÁLISE SISTÊMICA DOS RISCOS GLOBAIS E AS SEGURANÇAS HÍDRICA, ALIMENTAR E ENERGÉTICA ... 100

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 107

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa está organizada de forma que fiquem claros os aspectos que dão à mesma o necessário caráter da cientificidade. Para tanto, em um primeiro momento o

Tema está definido e delimitado; a seguir uma Pergunta de Pesquisa está elaborada com

vistas à descoberta que se pretende; ato contínuo os Objetivos (Geral e Específicos) estão traçados de forma a estruturar a pesquisa com a logicidade que a cientificidade exige; em seguida está a Justificativa para a pesquisa, notadamente quanto ao legado que esta deixará para a academia e para a sociedade em geral; contribuindo ainda mais para a cientificidade da pesquisa, inserem-se os Procedimentos Metodológicos que acreditarão o trabalho monográfico frente a comunidade científica; a Estrutura da pesquisa busca orientar o leitor durante a leitura do trabalho, traçando o raciocínio elaborado para chegar até os objetivos estabelecidos; a Fundamentação Teórica encontra-se alicerçada em extensa pesquisa bibliográfica, onde os temas foram estudados e desenvolvidos a partir dos objetivos específicos propostos e com vistas à responder ao propósito da pesquisa e; por fim, os objetivos e as considerações finais encerram o trabalho, respondendo à pergunta de pesquisa.

1.1 TEMA

A sociedade humana global necessita solucionar uma diversidade de problemas complexos e inter-relacionados que são fundamentais para que o desenvolvimento das nações transcorra. Grande parte destes problemas estão relacionados diretamente à administração dos recursos naturais (BAZILIAN et al., 2011). O aumento da demanda e do consumo de água, energia e alimentos, associado ao crescimento populacional e ao desenvolvimento e prosperidade econômica mundial, geram uma maior pressão sobre estes recursos escassos. Acredita-se que a população mundial chegue aos 8.5 bilhões em 2030, e aumente ainda mais para 9.7 bilhões de pessoas em 2050 e 11.2 bilhões no ano de 2100 (UNITED NATIONS, 2015). Para que se possa atender às necessidades humanas básicas, é necessária uma administração mais inteligente e sustentável dos recursos.

A ligação entre água, energia e alimento, também chamada de nexos entre água, energia e alimentos, pode ser considerada uma ferramenta que auxilie e guie para este desenvolvimento sustentável em escala global (INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2015).

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Um maior entendimento das complexas conexões entre água, energia e alimentos é traçado durante a Bonn 2011 Nexus Conference, realizada pelo Governo Federal Alemão como contribuição para a RIO +20 das Nações Unidas, trazendo à luz a necessidade de se discutir tais questões no âmbito internacional (GULATI et al., 2013). Desta forma, os nexos entre água, energia e alimentos surgem como um novo conceito para melhor compreender as interações entre o ambiente natural e as atividades humanas (COLUMBIA WATER CENTER, 2016).

Além disto, observa-se um mundo que vivencia profundas mudanças, onde os riscos globais se materializam de maneiras cada vez mais inesperadas, exigindo uma rápida adaptação a estas realidades e uma ágil mitigação frente às dificuldades, o que pressiona os tomadores de decisão e todos os stakeholders1 envolvidos a se informarem das trade-offs2 e sinergias entre desenvolvimento e gestão (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a).

Na busca por aprofundar os estudos relacionados aos riscos globais, o Global

Risks Report é produzido anualmente por quase 750 membros da comunidade global e demais

intervenientes do Fórum Econômico Mundial. Desde 2006, no seu início, ajuda a criar um entendimento comum das questões críticas enfrentadas pelo mundo, auxiliando também na criação de soluções e de novas estratégias de resiliência. Todos os insights3 expostos nos relatórios são resultados de diversas discussões, consultas e workshops que acontecem dentro das diversas comunidades existentes tanto no Fórum Econômico Mundial, quanto fora da organização, compilando informações de diversas redes de conhecimento que promovem uma investigação mais complexa do tema (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a).

Neste Trabalho de Conclusão de Curso, são abordados inicialmente os nexos entre água, energia e alimentos, à seguir, as organizações internacionais, o conceito de riscos globais, o Relatório de Riscos Globais de 2016, o Forum Econômico Mundial, o conceito de globalização, as seguranças alimentar, hídrica e energética, as mudaças climáticas e a definição de desenvolvimento sustentável. Após uma sólida análise destes temas, verifica-se também a relação e os impactos dos riscos globais nos nexos entre água-energia-alimento. Uma visão crítica e ampla destes objetos de estudo permite um maior entendimento dos

1 De acordo com o dicionário Cambridge, stakeholder “é uma pessoa, como um empregado, cliente ou cidadão

que está envolvido com uma organização, sociedade, etc, e, portanto, tem responsabilidades para com ele e um interesse em seu sucesso” (CAMBRIDGE DICTIONARY, 2016a).

2 Segundo o Dicionário Cambridge, Trade-off é uma expressão que define uma situação em que há conflito de

escolha entre situações ou qualidades opostas (CAMBRIDGE DICTIONARY, 2016b).

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desafios globais que são e serão enfrentados, auxiliando assim na assimilação das estratégias necessárias para que tais dificuldades sejam mitigadas.

1.2 PROBLEMA

Para a formulação do “Problema” vale-se dos ensinamentos dos autores Groppo e Martins (2007) que se baseiam em procedimentos básicos como: (a) Deve ser formulado como pergunta; (b) Deve estar situado no tempo e no espaço, buscando-se precisão e coerência lógica de raciocínio; (c) Deve ser uma pergunta cuja busca da resposta seja viável, ou seja, exequível; e (d) Deve manifestar uma dúvida com um mínimo de originalidade.

Diante dessas considerações, a Pergunta de Pesquisa é a seguinte:

Quais são os impactos dos Riscos Globais nos nexos entre água, energia e alimentos, tendo por base o “Global Risks Report” do ano de 2016?

1.3 OBJETIVOS

Aqui, busca-se o que se pretende com a investigação, avaliando-se de antemão as intensões da pesquisa.

Para o Objetivo Geral é proposto o que se pretende fazer de uma forma geral para obter as respostas ao problema de pesquisa.

Os Objetivos Específicos decorrem do desmembramento do Objetivo Geral, determinando aspectos que de fato contribuiam para a consecução da pesquisa, valendo-se de um desencadeamento com logicidade na linha do tempo e de raciocínio, constituindo-se verdadeiramente na “coluna dorsal” do trabalho monográfico (GROPPO; MARTINS, 2007).

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar os impactos dos riscos globais nos nexos entre água, energia e alimentos, tendo por base o “Global Risks Report” de 2016.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Conceituar os nexos entre água, energia e alimentos;

b) Conceituar riscos globais segundo o “Global Risks Report” de 2016; c) Analisar os impactos dos riscos globais na segurança alimentar;

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d) Analisar os impactos dos riscos globais na segurança hídrica; e) Analisar os impactos dos riscos globais na segurança energética; e

f) Analisar a interrelação dos riscos globais e das seguranças alimentar, hídrica e energética.

1.4 JUSTIFICATIVA

Diversos motivos levaram à escolha deste tema em específico para a realização do trabalho de conclusão de curso em Relações Internacionais. Inicialmente, por questões pessoais: desde cedo, no ambiente acadêmico, houve o despertar por parte deste pesquisador dos interesses pelas questões que tangiam o desenvolvimento sustentável e os assuntos voltados à sustentabilidade. Após a aproximação com o Grupo de Pesquisa em Eficiência Energética e Sustentabilidade – GREENS da Unisul, novos conhecimentos foram adquiridos e ampliados com referência ao tema, surgindo, então, a possibilidade de abordar a sustentabilidade sob o foco dos nexos entre água, energia e alimentos, relacionado diretamente ao Relatório dos Riscos Globais, lançado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. A junção dos temas tende a proporcionar uma jornada prazerosa de leituras das mais diversas bibliografias, oscilando diretamente no campo das relações internacionais e da sustentabilidade.

Para a academia, este trabalho mostra-se bastante relevante, pois acarreta em uma expansão de um assunto contemporâneo e essencial para as mais diversas áreas, servindo de contribuição para aqueles que se interessam pelo tema. Para o curso de Relações Internacionais, em especial, o tema abordado neste trabalho é imprescindível, levando em consideração que a sustentabilidade, a administração dos recursos e os possíveis riscos globais para o futuro, são temas centrais nas mais recentes conferências, comissões, agendas e organizações internacionais.

Quanto à sua relevância profissional, este trabalho de conclusão tem uma imensa importância para a formação e preparação deste pesquisador para o mercado de trabalho, seja no campo acadêmico, organizacional ou governamental. Para o mercado de trabalho em relações internacionais, este trabalho serve para expressar a necessidade de se discutir e aprofundar os estudos destes temas em um mundo cada vez mais complexo e interdependente. Para a sociedade, o trabalho contribui com a disseminação destes conhecimentos, alertando a sociedade civil, os governos, empresas privadas e tomadores de decisão

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(stakeholders) a pensarem e discutirem os temas ligados à sustentabilidade, à segurança hídrica, energética e alimentar, à adaptação e mitigação das mudanças climáticas, aos riscos que afetam o desenvolvimento da humanidade, entre outros.

De maneira geral, este trabalho visa a) analisar os impactos dos Riscos Globais nos nexos entre a água, energia e alimentos; b) destacar a necessidade urgente de uma visão holística da inter-relação entre a água, energia e alimentos e a necessidade de uma melhor administração destes recursos; c) advertir que sejam criadas estratégias de adaptação e mitigação dos possíveis riscos globais; e d) promover uma ampla discussão sobre o tema.

Espera-se, portanto, que este estudo possa expandir ainda mais o conhecimento disponível e que possa também contribuir para que os debates acadêmicos sejam ainda mais frequentes e proveitosos.

1.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Metodologia é a ciência que estuda os métodos, ou seja, os caminhos a serem percorridos durante uma investigação científica (VIEIRA, 2004). Em vista disso, a pesquisa está estruturada de acordo com os seguintes procedimentos metodológicos:

A forma de investigação quanto a sua natureza, parte de uma pesquisa pura (básica ou teórica), ou seja, é motivada por uma curiosidade intelectual em que a maior preocupação se dá com o desenvolvimento científico. Para Trujillo Ferrari (1982), este tipo de pesquisa procura melhorar o conhecimento do próprio pesquisador, contribuindo com a explicação e o entendimento dos fenômenos.

Apresenta-se como qualitativa ao buscar respostas às questões, refinando-as. beseia-se na coleta de dados por meio das descrições e observações, sem a necessidade da mediação numérica. Com isso, procura-se reconstruir a realidade tal qual como é observada nos sistemas que serão estudados envolvendo a água, energia e alimento. Essa refinação pretende compreender o fenômeno que é complexo, e não em medi-lo. Segundo Sampieri, Collado e Lucio (2006, p. 10), essa abordagem envolve a:

[...] coleta de dados utilizando técnicas que não pretendem medir nem associar as medições a números, tais como observação não estruturada, entrevistas abertas, revisão de documentos, discussão em grupo, avalição de experiências pessoais, inspeção da história, análise semântica [...].

Dessa forma, o pesquisador participa, compreende e interpreta. Diferente do modelo quantitativo, não há como adiantar casos paradigmáticos, justamente porque cada

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pesquisa se caracteriza como sendo única, livre de uma lei geral aplicável a qualquer outra pesquisa (UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA, 2016). Esse raciocínio contribui ainda para entender o método qualitativo como útil para compreender outros casos similares ou correlatos ao estudado, mas sempre de uma forma geral.

Em um primeiro momento a pesquisa é Exploratória, passando à Explicativa no decorrer das investigações.

Utiliza-se o tipo “Pesquisa Exploratória”, por se entender que o assunto a ser examinado é atual e, embora com farta bibliografia à disposição, é abordado de forma eclética entre os pesquisadores. Com isso, pretende-se pesquisar o tema com perspectivas diferentes das já existentes, ampliando-as (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006).

Com a imersão na pesquisa, ela torna-se “Explicativa” ao passo que se vai além da mera descrição de conceitos ou fenômenos. Busca-se, então, verificar não só a ralação entre conceitos e fenômenos, mas responder “porque ocorre um fenômeno e em quais condições ou por que duas ou mais variáveis estão relacionadas” (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006, p. 107,).

É bibliográfica, teórica e documental: busca-se as informações, que depois são analisadas, a partir da literatura disponível nas mais diversas e confiáveis bases de dados científicos na área do conhecimento em questão, ou seja, sobre a água, energia e alimento.

Portanto, vale-se de critérios que possam ser utilizados para uma busca eficaz, como as chamadas expressões booleanas4, por exemplo. Mas também atentar para as expressões de busca a serem evitadas e que deturpariam o foco da pesquisa (UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, 2013). A pesquisa é documental, pois os materiais utilizados ainda não receberam um tratamento analítico, podendo ser reelaborados de acordo com os objetos discutidos na pesquisa. Desta forma, documentos de arquivos, instituições e relatórios, por exemplo, são utilizados (GIL, 2008). Vale ressaltar que no presente trabalho, aborda-se estritamente o Relatório de Riscos Globais do Fórum Econômico Mundial do ano de 2016, para que se possa alcançar a pergunta de pesquisa desta obra.

4 Os operadores booleanos permitem chegar mais rapidamente ao que realmente pretende-se encontrar,

utilizando “OR”, “AND”, e “NOT” nos “motores de busca”, garantindo a criação de pesquisas mais complexas mediante a combinação de conceitos. É uma ferramenta fundamental para que se possam criar consultas direcionadas.

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1.6 ESTRUTURA DA PESQUISA

O presente trabalho está dividido em seis capítulos, os quais se apresentam da seguinte forma:

No primeiro capítulo estão expostos o tema, problema, objetivo geral, objetivos específicos, justificativa (expondo as motivações e relevâncias para a realização deste trabalho) e finalmente, os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa.

O segundo capítulo é composto pela fundamentação teórica, a qual contextualiza e esclarece, através de bases teóricas, os temas fundamentais deste trabalho, como: os nexos entre água, energia e alimentos, os riscos globais e o Fórum Econômico Mundial, globalização, as organizações internacionais, a segurança alimentar, hídrica e energética, as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável.

No terceiro, quarto e quinto capítulos, apresentam-se os impactos dos riscos globais (discutidos no subcapítulo 2.2.2) que de alguma forma, trazem grandes impactos para as seguranças alimentar, hídrica e energética.

O sexto capítulo apresenta uma análise sistêmica da interrelação existente entre os riscos globais referentes às seguranças alimentar, hídrica e energética.

Por último, são apresentadas as considerações finais como resposta da problemática proposta neste trabalho.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica do presente trabalho consiste em uma revisão de textos, artigos, livros, relatórios e periódicos, todos pertinentes a revisão de literatura utilizada para a elaboração do mesmo. A fundamentação teórica serve como base para que se possa analisar e interpretar os diversos dados e informações obtidos com o intuito de expor os aspectos teóricos do tema central desta pesquisa.

2.1 NEXOS ENTRE ÁGUA, ENERGIA E ALIMENTOS

Água, energia e alimentos são recursos inseparáveis (UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME, 2014; WOLFE et al., 2016) e são a base para a subsistência humana e as atividades econômicas (AUSTRIAN DEVELOPMENT COOPERATION, 2015). Para que se possa entender os impactos dos riscos globais nestes três recursos, e para que se possa dar continuidade na leitura deste trabalho, é indispensável o entendimento destas conexões, que são tratadas pelo termo “nexos entre água, energia e alimentos”.

O termo nexos entre água, energia e alimentos é utilizado para descrever as interdependências (que muitas vezes, competem entre si) entre o uso da água e a produção de energia e alimentos, resultando em desafios econômicos e sociais entre os inúmeros

stakeholders (WORLD ENERGY COUNCIL, 2016). Atualmente, diversas regiões do mundo

já experienciam os desafios da segurança alimentar, hídrica e energética, afetando de forma negativa o crescimento econômico sustentável das mesmas. Estes desafios se intensificam ainda mais com os efeitos das mudanças climáticas na disponibilidade e na demanda de recursos naturais (MIRALLES-WILHELM, 2016).

O conceito dos nexos entre água, energia e alimentos foi introduzido inicialmente pelo Integrated Water Resource Management Association (IWRMA), posteriormente pela

Bonn 2011 Nexus Conference e pelo Fórum Econômico Mundial; todos com o intuito de

promover um maior entendimento entre as inseparáveis ligações existentes na utilização de recursos naturais, para que houvesse, desta forma, o fornecimento dos direitos básicos e universais para a segurança alimentar, hídrica e energética (WORLD ECONOMIC FORUM, 2011a; ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2014a; MOHTAR; LAWFORD, 2016).

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Em contrapartida à célere necessidade de se alcançar o desenvolvimento sustentável, o mundo enfrenta os mais diversos desafios, como os riscos na segurança alimentar no contexto das mudanças climáticas, uma crise global de refugiados, migrações involuntárias em larga escala, grandes catástrofes naturais, uma possível falha na mitigação e adaptação às mudanças climáticas e os mais variados eventos climáticos extremos (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016a). Desta forma, o entendimento das interligações existentes nos nexos entre a água, energia e alimentos, são considerações essenciais para a formulação das estratégias e políticas de desenvolvimento sustentável dos países (INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2015) e para que alguns dos desafios enfrentados pela humanidade, sejam minimizados ou extinguidos (WORLD ECONOMIC FORUM, 2011b).

Conforme dito no início deste subcapítulo, a IWRMA, a Bonn 2011 Nexus

Conference e o Fórum Econômico Mundial foram essenciais para que houvesse uma maior

disseminação do conceito por trás dos nexos entre água, energia e alimentos. Inicialmente, a IWRMA foi formada em 1971 com o objetivo de melhorar e expandir a compreensão das questões da água através da educação, da investigação e da troca de informações e conhecimentos entre os países em diversas disciplinas (MOHTAR; LAWFORD, 2016). Pela primeira vez, a água foi considerada como um recurso chave e fundamental para o desenvolvimento econômico e social (UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, 2016), representando os primeiros passos para que água, energia e alimentos fossem vistos como peças interdependentes entre si.

Posteriormente, na Bonn 2011 Nexus Conference o intuito era de que o termo “nexos entre água, energia e alimentos” fossem “expostos” ao cenário internacional, atraindo uma maior atenção entre os círculos acadêmicos, políticos e de negócios (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2014a). Também chamada de “Bonn2011 Conference: The Water Energy and Food Security Nexus – Solutions for the

Green Economy”, a conferência foi realizada entre os dias 16 e 18 de novembro de 2011,

tendo o Governo Federal Alemão como organizador (junto ao Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, e ao Ministério Federal do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear), reunindo 550 pessoas e servindo como contribuição para a conferência em desenvolvimento sustentável “Rio2012” das Nações Unidas. A realização da Conferência Bonn 2011 também demonstrou que o Governo Alemão havia reconhecido a necessidade de se criarem novas abordagens para as interligações existentes entre a segurança hídrica, energética e alimentar (THE WATER INSTITUTE,

(24)

2016; BONN2011 NEXUS CONFERENCE, 2016; INTERNATIONAL FINANCE CORPORATION, 2016).

Segundo o Bonn2011 Nexus Conference (2016, tradução nossa), ao realizar a Conferência, o Governo Alemão possuía 3 objetivos:

a) desenvolver recomendações políticas com base em consultas aos múltiplos

stakeholders, tendo uma perspectiva dos nexos;5

b) posicionar a perspectiva dos nexos em segurança energética, hídrica e

alimentar como uma dimensão importante dentro do processo "Rio2012", bem como o conceito de economia verde6 (Green Economy) e o crescimento verde7 (Green

Growth);8

c) lançar iniciativas concretas para direcionar os nexos entre a segurança energetica, hídrica e alimentar de uma forma coerente e sustentável.9

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (2011), a conferência teve foco em três campos de ação do desenvolvimento sustentável:

a) A dimensão social: Acelerando o acesso, integrando a base da pirâmide b) A dimensão econômica: Criando mais com menos

c) A dimensão ecológica: Investindo para apoiar os serviços ecossistêmicos Outro importante passo para o entendimento dos nexos entre água, energia e alimentos, foi dado com a publicação do livro Water Security: The

Water-Food-Energy-Climate Nexus, lançado no World Economic Forum Annual Meeting 2011, que ocorreu em

Davos entre os dias 26 a 30 de janeiro de 2011. A obra contém diversas perspectivas de especialistas das mais variadas áreas do conhecimento em relação aos nexos entre água, energia e alimentos, e analisa os desafios a serem enfrentados para que a segurança hídrica seja alcançada. Questões como segurança nacional, agricultura e negócios, também são temas abordados no livro, mostrando a importância da boa administração da água doce para que as necessidades humanas sejam supridas (WORLD ECONOMIC FORUM, 2011a).

O estudo dos nexos entre água, energia e alimentos mostra-se ainda mais essencial na medida em que se analisam as projeções globais, que indicam um crescimento

5 a) “To develop policy recommendations based on multi-stakeholder consultations and taking a Nexus

perspective;”.

6 Economia verde é "aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e a igualdade social, enquanto reduz

significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. É de baixo carbono, eficiente em recursos e socialmente inclusiva" (UNITED NATIONS DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, 2012, p. 9, tradução nossa).

7 Crescimento verde significa a promoção do crescimento econômico e do desenvolvimento, sem afetar os

recursos e serviços ambientais provenientes dos recursos naturais, que promovem o nosso bem-estar (ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT, 2011).

8 b) “To position the water, energy and food security nexus perspective as an important dimension within the

‘Rio2012’ process as well as the Green Economy and Green Growth concept;”

9 c) “To launch concrete initiatives to address the water, energy, food security nexus in a coherent and

(25)

significante na demanda por água doce, energia e alimentos. Estes recursos estão a sofrer grande pressão em decorrência do crescimento populacional e da mobilidade, do desenvolvimento econômico, da urbanização, da diversificação das dietas, do comércio internacional e das mudanças climáticas e tecnológicas (HOFF, 2011).

Estes riscos relacionados à administração dos recursos naturais são notadamente expostos pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (2014, p. 3, tradução nossa):

A agricultura é responsável pelo uso de 70 por cento do total de água doce global, tornando-se a maior utilizadora de água. Água é utilizada para a produção de agricultura, silvicultura e pesca, ao longo de toda a cadeia de abastecimento agroalimentar, e é usada para produzir, transportar e utilizar todas as formas de energia. 10

Para a produção de alimentos e da cadeia de fornecimento, o consumo de energia total global chega a cerca de 30 por cento, e para produzir, distribuir e transportar alimentos, também é necessária a utilização desta energia. O mesmo vale para o extrato, a recolha, o tratamento e o transporte da água (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2014).

O cenário torna-se mais crítico e preocupante para os próximos anos, quando será necessário um aumento em 60 por cento na produção de alimentos para que se possa alimentar o mundo em 2050. Para o ano de 2035, o consumo global de energia está projetado para crescer em até 50 por cento (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, 2010). Ainda em 2050, projeções apontam para um aumento de 10 por cento na retirada de água do mundo para as irrigações (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2011a).

Com o aumento das demandas, os meios de subsistência e o meio ambiente podem sofrer imprevisíveis impactos em decorrência da crescente competição entre a água, energia, agricultura, pesca, pecuária, silvicultura, mineração, transporte e de diversos outros setores (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2011b). Segundo o Wide Found for Nature e SABMiller (2014, p. 04, tradução nossa) “a pressão sobre a terra e a disponibilidade de água continuará a crescer - e não apenas por meio

10 “Agriculture accounts for 70 percent of total global freshwater withdrawals, making it the largest user of

water. Water is used for agricultural production, forestry and fishery, along the entire agri-food supply chain, and it is used to produce or transport energy in different forms”.

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da necessidade de alimentar mais pessoas, mas também pelas alterações dos seus padrões de consumo”.11

No cenário global, 0,9 bilhão de pessoas estão sem acesso adequado à água para garantir as suas necessidades básicas; cerca de 2,6 bilhões não possuem acesso ao saneamento básico; quase 1 milhão estão subnutridos; e ao menos 1,5 bilhão não têm acesso a formas modernas de energia (HOFF, 2011).

Desta forma, para que se possa apreender mais a fundo as interdependências entre os elementos dos nexos ora estudados, é de suma importância apresentar as mais variadas definições sobre o tema.

Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (2014), “os nexos entre Energia-Água-Alimentos surgiu como um conceito útil para descrever e abordar a natureza complexa e inter-relacionada dos nossos sistemas de recursos globais, dos quais dependemos para alcançar diferentes objetivos sociais, econômicos e ambientais”.12 Este

conceito é capaz de auxiliar na identificação e na administração das trade-offs, criando sinergias13 entre as respostas encontradas e garantindo que os monitoramentos, as avaliações,

implementações, decisões e planejamentos sejam mais integrados e tenham custos mais baixos (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2014).

Para o SABMiller e Wide Found for Nature (2014), em seu relatório intitulado “The Water Food Energy Nexus: Insights into Resilient Development”, a formulação de políticas baseadas nos nexos está relacionada à criação de novas estratégias de resiliência para os governos e para os negócios, levando em consideração as conexões e interdependências existentes entre os sistemas alimentares, hídricos e energéticos. Para a WWAP, através do relatório World Water Development Report - Water and Energy (UNITED NATIONS WORLD WATER ASSESSMENT PROGRAMME, 2014, p. 13, tradução nossa), os nexos se caracterizam quando “as escolhas feitas para a água e energia também podem afetar outros setores, e vice-versa”. De acordo com a International Renewable Energy Agency (IRENA) “os nexos já estão levantando um desafio significativo para melhoria da segurança hídrica,

11 “Pressure on land and water availability will continue to grow – not only through the need to feed more

people, but also from changes in their patterns of consumption”.

12 “Rhe Water-Energy-Food Nexus has emerged as a useful concept to describe and address the complex and

interrelated nature of our global resource systems, on which we depend to achieve different social, economic and environmental goals.”

13 Segundo o Minidicionário da Língua Portuguesa Sérgio Ximenes, Sinergia significa “condição gerada pela

ação simultânea de vários fatores ou agentes, e que produz um resultado maior que a soma das partes isoladas” (XIMENES, 2001, p. 862).

(27)

energética e alimentar, uma preocupação para os decisores políticos de hoje” (INTERNATIONAL RENEWABLE ENERGY AGENCY, 2015, p. 12, tradução nossa).

A interação entre os recursos existentes nos nexos é também definida pelo

Renewable Energy & Energy Efficiency Partnership e Food and Agriculture Organization

(2014, p. 11, tradução nossa) da seguinte forma:

Há muito se sabe que os sistemas de água, energia e alimentos estão inextricavelmente interligados. Água e energia são necessárias para produzir alimentos; água é necessária para quase todas as formas de geração de energia; e energia é necessária para o tratamento e transporte de água. As relações e compromissos dentro deste triângulo de recursos são conhecidos coletivamente como os nexos de água – energia – alimento.14

Para a iniciativa The Nexus Network (rede fundada pelo Economic and Social

Research Council (ESRC) e coordenada pela University of Sussex, University of East Anglia e Cambridge Institute for Sustainability Leadership), o conceito de nexos entre água, energia e

alimentos ganhou destaque internacional após a Rio+20 em 2012 e continua chamando a atenção dos atores internacionais da ciência, da política, da área empresarial e da sociedade civil. A rede entende que os nexos representam uma forma de pensar as interdependências, transições e trade-offs existentes entre a segurança alimentar, hídrica e energética no contexto mais amplo das mudanças ambientais (THE NEXUS NETWORK, 2015).

Para que as eventuais crises e dificuldades sejam mitigadas, será necessário que novas iniciativas sejam pensadas e colocadas em prática. Para a Food and Agriculture

Organization of the United Nations (2014, p. 3, tradução nossa),

Os nexos entre energia-água-alimentos surgiram como um útil conceito para descrever e abordar a complexa e interconectada natureza dos nossos sistemas de recursos globais, dos quais dependemos para alcançar diferentes objetivos sociais, econômicos e ambientais. Em termos práticos, apresenta uma conceitual abordagem para melhor compreender e analisar sistematicamente as interações entre o ambiente natural e as atividades humanas, e trabalhar para uma gestão mais coordenada e com a utilização dos recursos naturais em todos os setores e escalas.15

14 “It has long been known that water, energy and food systems are inextricably interconnected. Water and

energy are needed to produce food; water is needed for almost all forms of power generation; and energy is required to treat and transport water. The relationships and tradeoffs within this triangle of resources are known collectively as the water-energyfood nexus”.

15 “The Water-Energy-Food Nexus has emerged as a useful concept to describe and address the complex and

interrelated nature of our global resource systems, on which we depend to achieve different social, economic and environmental goals. In practical terms, it presents a conceptual approach to better understand and systematically analyse the interactions between the natural environment and human activities, and to work towards a more coordinated management and use of natural resources across sectors and scales”.

(28)

Segundo Biggs et al. (2015), alguns autores, em publicações posteriores ao relatório do World Economic Forum de 2011, abordaram as diversas outras facetas do conceito de nexos com componentes alternativos em foco, colocando os recursos hídricos como recurso central (HOFF, 2011), o uso da terra ligado à água e energia (HOWELLS et al., 2013) e alimentos como componente central junto às ligações entre a terra, água e energia (RINGLER; BHADURI; LAWFORD; 2013).

Importante salientar que na abordagem dos nexos estudados, é praticamente consenso que a água desempenha um papel central. Sua importância se dá justamente por ser um recurso insubstituível na produção de biomassa16, consequentemente, tornando-se o recurso central para a segurança alimentar e energética em uma economia verde (HOFF, 2011). A importância da água nos nexos entre os recursos naturais está exposta de forma mais clara na Figura 1 abaixo:

Figura 1 - Os nexos entre segurança hídrica, energética e alimentar

Fonte: HOFF, 2011, tradução nossa.

Conforme a Figura 1 acima, entende-se que são três os campos de ação que compõem a perspectiva dos nexos entre água, energia e alimentos, considerados como os

16 Segundo o Dicionário Aurélio (2016), biomassa é a “massa total dos seres vivos que subsistem em equilíbrio

(29)

princípios orientadores centrais desta abordagem: sociedade, economia e meio ambiente. Na sociedade, é importante a integração daquelas pessoas que se encontram na “base da pirâmide”, dando melhores condições de vida a todos. Pessoas que possuem acesso à água limpa, por exemplo, possuem mais saúde, e consequentemente, pessoas mais saudáveis produzem mais e contribuem mais para o desenvolvimento econômico (HOFF, 2011).

Na questão econômica, é importante que se produza mais com menos, aumentando o potencial de produtividade da água e da terra a partir de tecnologias e investimentos que não afetem negativamente a produtividade de energia (e emissões de gases de efeito estufa). Desta forma, reduzindo os desperdícios e aumentando a eficiência na cadeia de produção e abastecimento de alimentos, é provável que haja uma redução na pressão sobre os recursos naturais (HOFF, 2011).

Para o meio ambiente, é ressaltada a ideia de investir nos serviços ecossistêmicos. De acordo com a UN Environment Programme (UNEP), “serviços ecossistêmicos” são definidos como as contribuições dos ecossistemas para o bem-estar humano, dando uma maior importância para a garantia dos meios de subsistência dos mais pobres (BOELEE; CHIRAMBA; KHAKA, 2011). Ou seja, a partir de um investimento/pagamento por serviços ambientais, é possível fornecer incentivos econômicos para a gestão sustentável dos ecossistemas (envolvendo questões relacionadas a diversos outros recursos, como os alimentos, a água e os biocombustíveis) (HOFF, 2011).

Estes três princípios citados acima são componentes que se inserem na perspectiva dos nexos entre água, energia e alimentos, perspectiva esta que trata de segurança do abastecimento de água, segurança energética e alimentar, todos conectados diretamente à disponibilidade de recursos hídricos. Esta interdependência sofre uma grande pressão das chamadas “tendências globais”, que incluem a urbanização, o crescimento populacional e as mudanças climáticas, que juntos, promovem o aumento da demanda, do estresse e da vulnerabilidade dos recursos. Com o incentivo de fatores favoráveis como a finança, governança e inovação, é possível promover a segurança alimentar, hídrica e energética para todos, assim como a garantia do crescimento equitativo e sustentável e da promoção de um ambiente resiliente e produtivo (HOFF, 2011).

A partir destes esclarecimentos, compreende-se que a abordagem dos nexos permite um maior entendimento das mais complexas e dinâmicas inter-relações entre a água, energia e alimento. Esta “lente” nos conduz a pensar nos impactos que uma decisão em um determinado setor pode “ecoar” nos outros diversos setores (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATIONS, 2014). Assim, “antecipando potenciais

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trade-offs e sinergias, é possível projetar, avaliar e priorizar as opções de resposta que são viáveis

em diferentes setores17” (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATIONS, 2014, p. 4, tradução nossa).

Segundo o relatório da Conferência Bonn2011, Stockholm Environment Institute (2011, p. 05, tradução nossa),

Uma abordagem nexos pode apoiar uma transição para a sustentabilidade, reduzindo os trade-offs e gerando benefícios adicionais que compensam os custos de transação associados à integração mais forte entre os setores. Tais ganhos devem apelar para o interesse nacional e incentivar os governos, o setor privado e a sociedade civil para se envolver.18

Conclui-se, então, que o estudo e o entendimento dos nexos, por parte da academia, da área dos negócios, dos tomadores de decisão e da sociedade civil, poderá ajudar no processo de desenvolvimento sustentável, mitigando as consequências e impactos das mudanças climáticas e criando políticas para a administração da energia, agricultura e da água. De maneira geral, as definições de nexos entre água-energia-alimentos, dadas pelos mais diversos autores, convergem-se e chegam a um consenso, comprovando a complexidade das interdependências existentes entre os três recursos.

A seguir, as organizações internacionais serão elucidadas, visto que grande parte deste trabalho baseou-se em relatórios e estudos produzidos por grandes organizações internacionais, como o FEM, a FAO, ONU e WHO.

2.2 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

As organizações internacionais exercem uma grande participação nos debates e na busca por soluções para os problemas enfrentados pela humanidade. Neste trabalho, percebe-se que as organizações internacionais aparecem como “fundadoras” de diversos conceitos e participam de um processo de “ampliação” destes conceitos. Muitos dos temas abordados nesta pesquisas, foram levantados por grandes organizações internacionais. Portanto, para dar continuidade no trabalho, é importante entender o surgimento e a função das organizações internacionais no cenário global.

17 “Anticipating potential trade-offs and synergies, we can then design, appraise and prioritise response options

that are viable across different sectors”.

18 “A nexus approach can support a transition to sustainability, by reducing trade-offs and generating additional

benefits that outweigh the transaction costs associated with stronger integration across sectors. Such gains should appeal to national interest and encourage governments, the private sector and civil society to engage”.

(31)

O estudo das organizações internacionais como disciplina nas universidades surge durante os anos 50 no continente Europeu, dividindo-se entre duas importantes correntes: a “institucional”, que examinava as organizações internacionais através da história diplomática e do direito internacional público, e a “constitucional” estudando os problemas constitucionais que envolviam as organizações internacionais (SEITENFUS, 2012). No presente trabalho, o estudo das organizações internacionais e o seu entendimento são essenciais, haja vista que grande parte dos conceitos e definições aqui citados, são oriundos de grandes organizações internacionais como o Fórum Econômico Mundial (FEM), a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Food and Agriculture Organization of the

United Nations (FAO). Além disto, o Relatório de Riscos Globais (um dos temas centrais

desta pesquisa) é criado por uma organização internacional (FEM).

A busca por uma definição de organização internacional revela-se uma tarefa difícil. O termo tornou-se confuso e dividido em dois significados que são intrínsecos. Há anos atrás, estudiosos da área se interessavam mais pelos aspectos de governança das instituições internacionais do que pelas suas próprias características internas, o que acabou separando e tornando o conceito em algo confuso (MARTIN; SIMMONS, 1998). Na obra

Constructing The Nation-State (Construindo o Estado-Nação) de McNeely (1995, p. 5,

tradução nossa), o autor define a diferença dos dois sentidos da seguinte forma:

Por um lado (...) refere-se à organização real, ou estrutura e ordem institucional, do próprio sistema internacional. O termo "estrutura" aqui refere-se a um complexo de regras e recursos que moldam atores e ações (...); o segundo, mais óbvio, uso do termo (...) refere-se aqui às organizações ou agências, que operam a um nível além do nacional.

Organizações internacionais são uniões ou associações de Estados, ou de empresas ou de outras entidades nacionais, criadas através das fronteiras nacionais. Nas organizações de Estados, destacam-se a ONU e a União Europeia (EU). Nas uniões de empresas, destacam-se empresas transnacionais como a Coca-Cola Company, a Sony, Nintendo, entre outras. Por último, existem as outras organizações de outras entidades nacionais, como a Interpol, Greenpeace e Médicos Sem Fronteiras. A primeira categoria (Organizações de Estados) representa as organizações intergovernamentais. As duas últimas categorias incluem as organizações não governamentais, e sem fins lucrativos respectivamente (FISCHER, 2012).

Primeiramente, entende-se que a organização internacional é um sujeito de personalidade jurídica derivada. Sua existência e suas competências no cenário internacional

(32)

são resultados de tratados internacionais, onde os Estados pactuantes decidem as competências deste novo ator e os seus instrumentos necessários para que se possa desempenhar suas delimitadas tarefas (SHAWN, 2003).

De acordo com Archer (2001, p. 37, tradução nossa), na quarta edição da obra intitulada “International Organizations”, organizações internacionais são definidas como: “estruturas contínuas e formais estabelecidas por acordo entre os membros (...) a partir de dois ou mais Estados soberanos com o objetivo de prosseguir com o interesse comum de adesão”19. Já para John Duffield (2007, p. 2, tradução nossa), organizações internacionais são: “conjuntos relativamente estáveis de regras e normas legislativas, reguladoras e processuais que dizem respeito ao sistema internacional, os atores do sistema (incluindo membros, bem como entidades não estatais), e suas atividades”20. Ambos concordam que as organizações internacionais são compostas por atores que visam alcançar um mesmo objetivo.

As pesquisas sobre as organizações internacionais fazem parte de uma complexa área, onde os estudos estão diretamente relacionados às formas para se entender como o sistema internacional se governa. O estudo destes atores toma grande impulso após o final da Segunda Guerra Mundial, junto ao crescimento das OIGs e o otimismo da comunidade internacional após a criação do sistema ONU (HERZ; HOFFMANN, 2004). Após aquele longo período de conflitos entre guerras, percebe-se o surgimento de um sistema mundial caracterizado pela participação mais igualitária dos Estados a uma rede de organizações permanentes e universais; o aumento das trocas econômicas no mercado mundial; a informação e comunicação tornam-se mais instantâneas; e a abertura de um campo estratégico mais unificado (MERLE, 1981).

De acordo com Marcel Merle (1981), com o fim da Primeira Guerra Mundial e a instituição da Sociedade das Nações21, marcou-se a passagem de um estado de anarquia para um período de sociabilidade quase que utopista, acreditando-se que o estado de natureza hobbesiano havia sido abolido e que fosse surgir uma sociedade de fato organizada.

19 “formal, continuous structures established by agreement between members… from two or more sovereign

states with the aim of pursuing the common interest of membership.”

20 “relatively stable sets of related constitutive, regulative, and procedural norms and rules that pertain to the

international system, the actors in the system (including states as well as nonstate entities), and their activities.”

21 A Liga das Nações (ou Sociedade das Nações), foi fundada logo após o término da Primeira Guerra Mundial

(1914-1918), tendo sua sede em Genebra, na Suíça. Foi a primeira organização internacional de escopo universal com bases permanentes, voluntariamente integrada por Estados que são soberanos e com o principal objetivo de promover um sistema de segurança coletiva, a cooperação e assegurar a paz futura (NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE COOPERAÇÃO E CONFLITOS INTERNACIONAIS, 2011).

(33)

Entretanto, já em períodos anteriores à segunda metade do século XX (época em que a maior parte das organizações internacionais com as quais convivemos no período atual foram criadas), ocorreram importantes passos que foram essenciais para a criação das modernas organizações internacionais. Dentre estes importantes passos, estão a Liga de Delos (478 a.C.-338 a.C.) que serviu como facilitadora na cooperação militar entre as cidades-Estado gregas; a Liga Hanseática, uma associação composta por cidades do norte da Europa que promoveu a cooperação no campo comercial entre os séculos XI e XVII; e as propostas de transformação do sistema internacional criadas por Emeric Crucé, Immanuel Kant e Abbé de Saint Pierre entre os séculos XVIII e XX (HERZ; HOFFMANN, 2004).

Importante salientar que a literatura tradicional das relações internacionais, no início, teve foco no Estado como detentor do poder, das questões militares e econômicas. Aos poucos, as organizações internacionais e outras forças da globalização passaram a ganhar atenção por parte dos cientistas políticos, e apesar de estas instituições não substituírem os Estados soberanos como principais agentes/atores da governança global, elas tiveram impacto e foram fundamentais nas mudanças na forma em que as relações internacionais funcionam (BARKIN, 2006).

A seguir, após uma introdução, um histórico e a apresentação de conceitos e estudos que tangem as organizações internacionais, serão expostos os riscos globais e o FEM, pontos chave para o entendimento dos riscos globais na segurança alimentar, energética e hídrica.

2.3 RISCOS GLOBAIS

Após um aprofundamento e entendimento das questões que tangem os nexos entre água, energia e alimentos, e as organizações internacionais, é necessário discorrer sobre os riscos globais. Este subcapítulo será dividido em duas partes: na primeira, será abordada a organização internacional Fórum Econômico Mundial, sua origem, seus objetivos, sua estruturação, e as definições de riscos globais. Na segunda parte, o Relatório de Riscos Globais de 2016 (produzido pelo Fórum Econômico Mundial) será exposto e elucidado, dando continuidade ao trabalho.

(34)

2.3.1 Definição de “risco global” e o Fórum Econômico Mundial

Segundo o World Economic Forum (2014a, tradução nossa), “um risco global é definido como uma ocorrência que causa impacto negativo significativo para diversos países e indústrias num período de tempo de 10 anos”22. Uma importante característica destes riscos

globais é a sua natureza sistêmica potencial (também chamada de “risco sistêmico”). Para Kaufman (2003, p. 371, tradução nossa), “O risco sistémico refere-se ao risco ou a probabilidade de avarias em todo um sistema, em oposição a avarias nas peças ou componentes individuais, e é evidenciado pela correlação entre a maioria ou entre todas as peças“23.

Os Relatórios de Riscos Globais (Global Risks Report) são produzidos anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, que é uma organização internacional para a Cooperação Público-Privada. Seu objetivo, como organização internacional, é a de melhorar o estado em que o mundo se encontra, envolvendo e promovendo o diálogo entre os mais importantes CEOs do mundo, chefes de estado, ministros, acadêmicos, policy-makers,

experts, a juventude, organizações internacionais, inovadores tecnológicos e representantes da

sociedade civil com o intuito de estruturar as agendas globais, regionais e industriais (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016d).

O Fórum não organiza conferências, mas sim, reuniões. A organização acredita que com reuniões, é possível garantir uma interação de longo prazo e de forma mais fluída, dando mais oportunidades de engajamento para cada participante. Em cada reunião, os pontos de ação e os resultados obtidos são entregues, o que garante um maior impacto dos esforços realizados (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016d). As quatro principais reuniões do Fórum Econômico Mundial estão expostas no Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 - As quatro principais reuniões do Fórum Econômico Mundial

Reunião Local Foco

The World Economic Forum Annual Meeting

Davos-Klosters, Suíça Molda as agendas globais, regionais e das indústrias no início do ano civil.

The Annual Meeting of the New Champions

República Popular da China

Reunião anual do Fórum sobre a inovação, ciência e tecnologia.

22 “A global risk is defined as an occurrence that causes significant negative impact for several countries and

industries over a time frame of up to 10 years”.

23 “Systemic risk refers to the risk or probability of breakdowns in an entire system, as opposed to breakdowns in

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The Summit on the Global Agenda Emirados Árabes Unidos Reúne a mais importante comunidade de conhecimento do mundo para compartilhar ideias sobre os grandes desafios que o mundo enfrenta na atualidade.

The Industry Strategy Meeting (Não definido) Reúne Oficiais de estratégias da Indústria para estruturar agendas industriais e para que se possa entender como as indústrias estão moldando seus futuros em um contexto de rápidas mudanças.

Fonte: Adaptado de World Economic Forum (2016e).

Além das reuniões, o Fórum conta com um portfólio composto por cerca de 50 projetos que se alinham aos desafios globais de maior importância e às diversas outras questões regionais ao redor do globo. Todos os projetos e iniciativas estão alinhados e projetados para fazerem mudanças significativas e sustentáveis (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016e).

Dentre os pontos de atuação do Fórum Econômico Mundial, três são consideradas as principais áreas de foco: a) dominando a Quarta Revolução Industrial; b) resolvendo os problemas comuns globais; e c) abordando questões de segurança global. Na primeira área de foco, o objetivo da organização é o de abordar as formas como as rápidas mudanças na economia global afetarão, mudarão e impactarão nas atuais e futuras gerações. Na segunda área, o Fórum busca encontrar soluções para os diversos desafios e problemas globais que devem ser resolvidos através do consenso. Na última área, a organização visa desenvolver estratégias para os lideres internacionais, para que respostas sejam dadas aos diversos problemas ligados à segurança global, como as crises de refugiados, os atos terroristas de extremistas e o crescimento da competição geoestratégica (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016f).

Os princípios que orientam o Fórum são representados pela legitimidade, prestação de contas, ações em conjunto e transparência. É uma organização imparcial, global, holística e voltada para o futuro. Em 1971 foi estabelecida como uma organização sem fins lucrativos em Genebra, Suíça. Por ser uma organização independente, o FEM é imparcial e não se vincula a qualquer tipo de interesse (WORLD ECONOMIC FORUM, 2016b; 2016d).

O Fórum é formado e guiado por um conselho de curadores (Board of Trustees) que supervisiona o trabalho do Fórum. Esta equipe é formada por diversos líderes das áreas empresariais, políticas, acadêmicas e da sociedade civil. Para que a diversidade destes variados stakeholders seja mantida no Conselho de Administração, todos os seus membros

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