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ROTEIRO ORIGINAL 38 Composição colaborativa desenvolvida a partir de obras em arte e filosofia.

Experimento III: Quando olhei, era turvo o que se via 1 Fotos

ROTEIRO ORIGINAL 38 Composição colaborativa desenvolvida a partir de obras em arte e filosofia.

Importante:

O roteiro a seguir é uma bricolagem de textos, extratos e enxertos e tem como elemento norteador a conjugação de 4 pontos:

1 – A máxima de Afonso Cruz no livro Vamos comprar um poeta, que defende ser imprescindível à nossa condição de humanidade nunca abandonar a Poesia;

2 – O entendimento de Andrey Tarkovsky acerca do que seja Poesia, registrado no livro

Esculpir o Tempo (p. 18): “Quando falo de poesia, não penso nela como gênero. A poesia é

uma consciência do mundo, uma forma específica de relacionamento com a realidade”; 3 – O epigrama Educação, de Mário Quintana, publicado em O Caderno H: “O mais difícil, mesmo, é a arte de desler”;

4 – A afirmação de Blaise Pascal, em seu livro Pensamentos: “Não se diga que eu nada disse de novo: a maneira de dispor a matéria é nova. […] Preferiria que me dissessem haver-me eu utilizado palavras antigas. Assim como pensamentos iguais, se dispostos de formas distintas, constituem um corpo de discurso diferente, palavras iguais compõem pensamentos diversos, segundo o arranjo que recebam. Arrumadas de maneira diferente, as palavras ganham um sentido diferente; e os sentidos, arrumados de maneira diferente, provocam efeitos diferentes”.

E, de acordo com esta lógica, os textos que estruturam esta composição foram selecionados a partir de um levantamento primeiro que tinha como recorte a pergunta: Qual o seu testemunho de humanidade?

Nas próximas páginas, o roteiro do espetáculo traz os textos brutos, em blocos, esta formatação é anterior às devidas transformações que deverão ser realizadas pelos atores que os dizem. O trabalho de adaptação do texto escrito à fala é uma atividade particular e, necessariamente, precisa ser feito pelo ator que o vai dizer, pois deve levar em conta a prosódia, o ritmo de fala e as necessidades na cena de cada um dos 4

Este é o roteiro por mim desenvolvido a partir dos textos previamente selecionados pelos atores somados a outros por mim determinados. Tal roteiro

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foi proposto originalmente, no entanto, como um espetáculo de teatro é um organismo vivo, este roteiro original passa por constantes alterações que aconteceram ao longo dos ensaios, nas apresentações, nas reestruturações feitas a partir da resposta do público e nos ensaios de manutenção. Esta nova tessitura é cênica, não foi escrita como novo texto literário, mantém-se volátil e cada ator responde pelas suas modificações, bem como, a memória do grupo responde pela manutenção constante das alterações.

integrantes da encenação. Os textos não são fixos. Caso o ator descubra outro que melhor se encaixe em sua composição, pode e deve substituir o que abaixo segue.

As didascálias são, na medida do possível, a transcrição da tessitura cênica segundo a qual se desenvolve o espetáculo.

Cena 1 Início.

1º movimento - (Público e cena estão no mesmo plano. A área de representação conta com 4 frentes de arquibancadas formando uma “arena retangular” de 8X6, na qual será distribuída a plateia. Não há divisão ostensiva entre a área de cena e a audiência, o que delimita a divisão é a moldura de linóleo preto que vai das costas das 4 arquibancadas até a um pé depois da última linha de cadeiras. Como espectadores e atores estão num mesmo ambiente, para se acomodar, necessariamente, o público precisará passar pelo meio do espaço de representação. Geral em resistência – preferencialmente feita com filtros de correção de cor apricot – ilumina toda a área do palco, refletores colocados no chão – preferencialmente combinando filtros de correção de cor CTB com a luz da lâmpada sem filtro ou em verde – iluminam tangencialmente as arquibancadas e o centro do palco, onde estão os atores sentados e os objetos de cena amontoados. Os atores conversam entre si, quanto mais leve e tranquilo, melhor. Quando se acomodar o último espectador a luz da plateia vai caindo à medida que a luz indireta dos atores aumenta, no início desta transição de luz os 4 atores em cena olham para o “seu público” e ao longo da mudança na iluminação eles seguem cada um para a sua frente de plateia).

2º movimento - (A mudança na luz se conclui ao mesmo tempo em que os atores chegam aos

seus postos)

Rafael - Boa noite.

Todos - Se fosse eu a encenar esta peça

(A fala seguinte é direcionada à “plateia de cada ator”. Toda esta fala é uma conversa onde cada ator oferece ao “seu público” uma possibilidade de leitura para o que vai ali ser visto – esta é a regra master do espetáculo, cada ator funcionará como filtro para aquela perspectiva de onde está sendo vista a encenação – O texto que se segue é livre e pode ser improvisado a cada dia, no entanto, dentro desta estrutura improvisada 2 blocos são fixos: 1 – a descrição de uma cena

real da peça; 2 – um conceito de arte, tal como se fosse um manifesto sobre o porque de ele estar ali. Cada ator tem o seu próprio par de blocos fixos para dizer. À medida que falam, os atores vão arrumando a cena retirando as coisas do centro e colocando em seus lugares. Com exceção do bloco no qual contam a cena real, que deverá ser ouvido pelas 4 frentes, todo o resto do texto deve ser dito diretamente para uma plateia, é importante que esta cena seja uma conversa entre o ator e aquele grupo pequeno de pessoas à sua frente. Daniel é o último a

contar a cena real, ao longo de sua fala Rafael e Andrezza, sem perder o foco ou a fala com as

suas plateias, deslocam-se LENTAMENTE, andando de costas, em direção ao centro da área de

representação. enquanto Mariana dirige-se para as imediações da luminária. Ao final da

narração da cena feita por Daniel, todos dizem em cannon). Todos - Mas não é nada disso que vai acontecer.

Cena 2 - Preta!

1º movimento - (Todas as ações que se seguem acontecem em simultâneo: Ao final da fala

“Mas não é nada disso que vai acontecer.” Rafael e Andrezza viram-se rapidamente, quase

e esbarram um no outro, ao mesmo tempo que a luz muda com um corte seco, na velocidade do movimento – a geral em resistência muda – preferencialmente para uma combinação dos filtros de correção de cor apricot e CTB, o que deve resultar num tom de lavanda, voltam as luzes de chão em X e também em resistência o foco central, a pino perfeito, ilumina Rafael e Andrezza

que se contemplam “encantados” – IMPORTANTE: esta cena só funciona se for feita de

modo que se atinja uma dimensão de Encantamento, de outro modo fica piegas e

sem sentido. Os dois atores do centro ficam a poucos centímetros um do outro, mas sem se

tocar. Aqui acontece uma suspensão no tempo do centro da cena, depois do qual os dois se distanciam lentamente à medida que se contemplam. Daniel, com a carta/foto na mão circula a

área da cena. Depois da saída de Daniel, Mariana vasculha a mesa dele e descobre uma caixa,

de frente para o encontro entre as duas frentes de plateia que correspondem a ela e ao Daniel,

abre-a. A caixa está repleta de moedas. Ela derrama as moedas e começa a manipulá-las de modo a que, lentamente, o som se vá assemelhando ao de chuva. À medida que o som da chuva se faz presente, Rafael e Andrezza sentem-na (inserção do livro vamos comprar um poeta –

da hipótese de nos virmos a arrepender e pagarmos esta decisão com uma constipação/ gripe/pneumonia e despesas de farmácia, ou pior, com um aumento da prestação do seguro de saúde, ou pior, gastos com a agencia funerária, isso deixaria o pai furioso, com todas as dificuldades que já tínhamos em casa e na fábrica. O poeta tinha os olhos fechados, o rosto orientado para o céu. As gotas caiam-lhe na cara. Parecia que chorava muito. Devia ser a chuva que dava essa sensação.)

Faremos:

(Andrezza tenta fugir para se proteger da chuva, Rafael a segura pelo braço) Andrezza – Vem, vamos sair daqui.

Rafael – Não. (Sorri, solta-lhe o braço e fecha os olhos, volta lentamente o rosto para o céu

enquanto lhe solta o braço)

(IMPORTANTE: esta cena só funciona se for feita a lá comédia romântica, aquelas cenas típicas do casal conversando miolos de pote, correndo no parque, rolando na grama, caindo no lago. Ela é um pocket de outra que acontecerá mais à frente. Se não for assim fica uma MERDA!).

(Ambos sentem as gotas caírem no rosto. E a este ponto a cena é de total it's gonna be ok! Em dado momento do banho de chuva, as mãos se tocam ao acaso e Rafael tira Andrezza

para dançar).

Mariana - (Para sua plateia) Por muito que tenha andado, acho que se perdeu essa arte de chover que se exercia como um poder terrível e subtil na minha terra natal. Chovia meses inteiros, anos inteiros. A chuva caía em fios, como compridas agulhas de vidro que se partiam nos tetos, ou chegavam em ondas transparentes contra as janelas, e cada casa era uma nave que dificilmente chegava ao porto naquele oceano de inverno.

Daniel (Vai chegando de volta; à sua frente vê Mariana com as moedas) – Não mexas nisso! (na fala todos olham pra ele e quebram rapidamente mudança rápida de luz, torres laterais e