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A rua 14 de Julho nos dias atuais e as novas manifestações de centralidade

CAMPO GRANDE: DEMONSTRATIVO DA DISTRIBUIÇÃO HIPOTÉTICA ENTRE OS USUÁRIOS DAS LINHAS INTEGRADAS QUE UTILIZAM AS LINHAS ALIMENTADORAS –

III. A RUA 14 DE JULHO E A ECONOMIA “Deixo em testamento

4. A rua 14 de Julho nos dias atuais e as novas manifestações de centralidade

O plano urbano ortogonal de Campo Grande, com ruas e calçadas largas e retas, permite um espalhamento das atividades comerciais, do trânsito de pessoas e automóveis e principalmente da circulação de mercadorias, pelos seus diversos logradouros, especialmente aqueles da área central. Mas, apesar desta característica, é possível identificar os três quarteirões da 14 de Julho, entre a avenida Afonso Pena e a rua Cândido Mariano, juntamente com o quarteirão da rua Dom Aquino, entre a 14 de Julho

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SANTOS, Milton. Espaço e Método... p. 61/62 30

e a avenida Calógeras, como os interstícios de maior movimentação de pedestres de todo o perímetro urbano campo-grandense (mapa 1).

Esse grande fluxo de pessoas, existente basicamente entre as 8 e 19 horas, indica a existência ainda hoje de uma centralização das atividades econômicas da cidade no seu quadrilátero central e a rua 14 de Julho é a via que melhor espelha esta concentração.

Retomando a já citada afirmação de Milton Santos de que o espaço geográfico é o resultado das articulações dialéticas entre o trabalho morto e o trabalho vivo, pode-se dizer que é nas cidades e nas suas áreas centrais, principalmente, que essas articulações acontecem com maior intensidade. Como já afirmei no item anterior, no modo capitalista de produção, a mercadoria, desde a sua produção até o seu consumo, passando pela circulação, é o principal elo das articulações entre os trabalhos referidos por Santos. Assim, nesse modo de produção, as ações do homem na transformação da natureza e conseqüente criação do espaço artificial, continuando com afirmações de Milton Santos31, são tão mais intensas quanto mais intensas forem a produção, a circulação e o consumo da mercadoria. Não existe, portanto, nenhuma heresia em afirmar que, numa cidade sem grande tradição em produzir mercadorias, como é o exemplo de Campo Grande, as maiores interações entre trabalho vivo e trabalho morto se dão nos locais onde acontece a maior concentração das atividades de consumo, no caso, o seu quadrilátero central.

Desta forma, a grande circulação de mercadorias provenientes da situação de entreposto comercial exercida por Campo Grande, após a chegada da ferrovia, estabeleceu uma dinâmica de fluxos de pessoas e dinheiro na região central da cidade que resultou numa valorização do lugar. Em outras palavras, a mercadoria carrega consigo uma quantidade de valor que, em parcelas, é incorporado aos lugares por onde circula. Por isso, onde houver maior circulação e consumo de mercadorias maior será a incorporação da parcela de valor que ela carrega, resultando na valorização do lugar. Em Campo Grande, isso acontece na sua área central e com mais intensidade na rua 14 de Julho.

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Como foi demonstrado até aqui, ao longo da história de Campo Grande a 14 de Julho foi a rua que aglutinou as principais atividades sociais e econômicas da cidade, criando um ambiente propício à maior circulação de mercadorias e conseqüente realização do consumo. Por esse motivo, analisarei as características econômicas atuais da rua 14 de Julho, principalmente no que se refere aos tipos de atividades desenvolvidas e aos seus reflexos na valorização do espaço. Para tanto, farei as análises considerando a divisão da 14 de Julho em três trechos distintos, como apresentado no primeiro item desta tese, sendo que nos quadros demonstrativos que se seguirão levarão as seguintes denominações: trecho

inicial – do Cemitério Santo Antônio até a rua 26 de Agosto; trecho central – da

rua 26 de Agosto até a travessa Themístocles Brasil, que dá acesso à estação ferroviária e trecho final – da travessa Themístocles Brasil até a avenida Mascarenha de Moraes. Devo salientar que os pontos de divisão dos trechos foram escolhidos por motivos metodológicos para facilitar didaticamente as argumentações e foram levados em consideração, prioritariamente, os aspectos históricos, mas as divisões reais, em relação aos aspectos econômicos, não são tão rígidas, havendo trechos intermediários onde os aspectos analisados se misturam.

Em pesquisa empírica, quando foram observados cada um dos prédios e lotes em toda a extensão da 14 de Julho, foi constatada a presença de 112 ramos diferentes de atividades, sejam eles de comércio, serviço ou indústria, formando um mosaico representativo da atual dinâmica desenvolvida pela economia campo-grandense na sua região central. São identificados ramos tão diferentes que vão desde funerárias até pequena empresa especializada em manutenção de máquinas de escrever, em plena era da informática, passando por grandes lojas de departamentos e agências bancárias. Ao mesmo tempo, a pesquisa identificou a presença de poucos prédios residenciais, observando-se em todo o percurso da 14 de Julho, a existência de apenas meia dúzia de edifícios com mais de quatro andares. Embora no seu trecho central é que estejam localizados todos esses prédios, sendo dois deles os mais antigos da cidade, somente um tem mais de dez pavimentos.

Esses números, representados nos quadros 1 e 2, demonstram que a 14 de Julho, em praticamente todo o seu percurso, ainda exerce um grande atrativo para as atividades comerciais e que as residências, assim como os lotes vagos, estão limitadas basicamente ao seu trecho final. Este, por sua vez, também apresenta uma área razoável de lotes vagos, principalmente no local onde a 14 de Julho cruza com a avenida Rachid Neder, que está em obras para a ligação com a avenida Ernesto Geisel, mais conhecida como Norte-sul.

QUADRO 1

CAMPO GRANDE: NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS POR TIPO DE ATIVIDADE DESENVOLVIDA