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R EDE DE S AÚDE COMUNITÁRIA – A R EDE DE ATENDIMENTO DO SUS para a atenção a saúde integral dos usuários de álcool e drogas inclui os CAPS,

2.4 O M ÉTODO NA P RÁTICA E A P RÁTICA DO M ÉTODO : A E SCOLHA DOS P ROCEDIMENTOS DE I NVESTIGAÇÃO

2.4.2 O G RUPO DE D ISCUSSÃO : A E XPERIÊNCIA DA I NTERCESSÃO E A R EFLEXÃO S OBRE A P RÁXIS

O Grupo de Discussão foi utilizado como estratégia metodológica que utiliza o recurso da comunicação e expressão grupal para a construção do conhecimento da realidade que se deseja pesquisar. A prática grupal possibilita a criação de um campo dialético para o desenvolvimento das diversas formas de discussões e reflexões sobre a teoria e a prática existente.

Durante a realização dos grupos de discussão, foram feitas anotações, na maioria das vezes do conteúdo principal das discussões, porém, sempre pedíamos permissão e explicávamos que esse recurso evitava possíveis falhas de memória na transcrição posterior. Em nenhum momento, percebemos constrangimento ou inibições por parte dos participantes, diante do fato da transcrição necessária no procedimento da investigação. Notamos que quando se cria um campo dialético, essas questões são vistas pelo grupo também dialeticamente.

O horário e o dia da semana destinados ao encontro do grupo de pesquisa, fora o mesmo que antes estavam destinados às reuniões semanais dos profissionais. Acreditamos que esse fato foi importante para a facilitação dos encontros e adesão dos profissionais à pesquisa. As reuniões decorriam quase sempre dentro de uma condição amistosa, permeados por momentos de conflitos, contradições, desarmonias e questionamentos, que nos remetiam ao papel de investigadores e ao sentido dialético ao qual o grupo espontaneamente convocava. Outro fator importante, decorrente do primeiro foi à possibilidade de construção de um grupo com funcionamento e especificidade própria baseados na contradição de idéias, de conceitos estabelecidos previamente e reflexões dos conflitos surgidos durante as discussões. Saíamos de cada encontro com mais dúvidas de quando entravámos. Contudo, no decorrer dos oito meses de

encontro, as inquietações foram-se abrandando e dando lugar às reflexões, a constatações, aos fatos concretos da realidade institucional, seu movimento ou aquilo que a mantinha estática.

Durante o processo de construção de uma estratégia que utiliza o grupo e a pesquisadora como vivenciadores de uma relação dialética, os papeis foram se delineando. O conjunto dessas pessoas agrupadas por um objetivo assegurou-se como um Grupo de Discussão que, a partir do momento da entrada na pesquisa, dialogando com as instâncias de poder e saber ali revelados foi se encaminhando para ocupar o lugar da possível intercessão, da reflexão crítica, da transformação e da produção de sentido.

Resolvemos chamar Grupo de Intercessão porque o processo metodológico foi se aproximando do método descrito por Costa-Rosa como

método intercessor e, também, pautou-se pelas considerações sobre o Grupo Intercessor (COSTA-ROSA; STRINGHETA, 2006), este considerado como um

grupo que funciona como produtor de conhecimento, cuja prática construtiva será evidenciada pelo relatório dos dados e análises construídas na pesquisa.

O Grupo de Intercessão se tornou um instrumento de investigação valioso e apropriado para investigação qualitativa em um contexto dialético. A escolha dessa técnica favoreceu a comunicação dos sujeitos entre si, facilitou o livre curso do pensamento, a capacidade reflexiva do grupo e a investigação dos objetivos desta pesquisa.

A investigação por meio do grupo permitiu uma participação mais informal e democrática, de abrangências diversificadas, porém, muito enriquecedoras para a pesquisa, para a pesquisadora e acreditamos que para o grupo e para o CAPSad.

Com análise do documentário da instituição, representado pelo Projeto Institucional, obtemos as normas, os programas, seu objetivo como instituição de saúde que nos revelaram sua universalidade e a práxis institucional, reveladoras de particularidades e singularidades.

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De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece? Existem momentos na vida onde a questão de saber se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar e refletir (FOUCAULT apud MAGNO; AMARANTE, 2000, p. 41).

3.1 A INSTITUIÇÃO

Realizaremos neste momento da pesquisa, a leitura e a análise das configurações do CAPSad em estudo, a maneira segundo a qual ele se organiza como uma instituição pública de saúde e se funciona ou não em acordo com as novas diretrizes e propostas estabelecidas pela Política Nacional de Saúde Mental, pela Reforma Psiquiátrica e pelo Modo Psicossocial. Para tal definição e entendimento, recorremos inicialmente à análise dos documentos existentes sobre a instituição, que contém o fluxo histórico, o programa organizacional, os conceitos e as noções mais representativas do local. De posse dessas informações, procuramos configurar a expressão dominante da instituição CAPSad.

No tocante à metodologia, utilizamos, no trabalho de campo, a Observação Participante para apreensão do movimento do cotidiano institucional e Discussão em Grupo realizada com os profissionais e com os usuários, para conhecermos os conflitos, as contradições e as tensões que se movimentam em direção a pólos não dominante e dominantes e (conseqüentemente) constituem os saberes e fazeres do CAPSad. Esses dispositivos metodológicos possibilitaram a aquisição do conhecimento dos discursos e das práticas, como eles se produzem, reproduzem-se e se transformam no local, assim como o movimento dialético presente nestas ações.

Para Luz (1986, p. 33, 64) “o discurso institucional pode se exprimir em normas, mas nelas não se esgota. Ele é o saber que as suporta: conhecimento e técnica, ciência e arte, ideologia materializada em práticas específicas”. As instituições articulam saberes e práticas e expressam o “pólo dominante” e “hegemônico” e podem ocultar as contra-normas, as práticas

desviantes e normas paralelas, que se processam como oposições ou contradições ao discurso institucional dominante. Costa Rosa (2006, p. 3) refere que “um discurso pode manter uma universalidade institucional por muito tempo, sem, contudo, articular uma prática que possa se constituir por dispositivos capazes de intervir em determinados objetos”. Dessa forma, as instituições operam como lógicas, seguindo um discurso racional, universal e dominante. Porém, no momento em que se formam dispositivos, isto é, práticas ou ações, podem configurar particularidades e intervir nos objetos.

É neste campo de particularidades que esta pesquisa atua, com a proposta de conhecer, analisar e refletir sobre o CAPSad como um dispositivo público de atenção e cuidado clínico para os usuários de álcool e outras drogas.